sábado, 22 de agosto de 2009

Fragmentos do cotidiano (1) e (2)

... Às vezes acho que minha mãe só quer saber do meu dinheiro, sabe? Ela fica ali, de espreita, de olhos miúdos e fixos enquanto conto as cédulas que recebo quinzenalmente. Acho muito estranho essa atitude dela. E, pensando bem, acho que ela sempre fez isso, desde quando comecei a trabalhar regularmente, desde o primeiro registro em carteira, entende? Não sei por que só agora reparei nisso... Bem, quando ela me pede um pouco pra fazer umas compras básicas no mercadinho, até que lhe dou o pouco e, sabe, ela fica tão satisfeita... tão contente... Também acho muito estranho essa atitude dela. Admito, meu caro, ultimamente desconfio muito de minha mamãezinha. Sinto que ela não me vê mais como ‘o filho’ e sim como ‘a garantia’. Como se eu fosse um Fundo Monetário Familiar, só que sem agiotagem e com possibilidades de bônus adicional ilimitado! (gargalhadas) Não, não tenho seguro de vida. Fique tranqüilo, colega des-con-FIADO, acho que ela não planeja matar o único filho, ou seja, EU, afinal, pelo que parece, sou mais valioso vivo e trabalhando, né?! (risinhos) Enfim, talvez seja só impressão distorcida minha, estou ficando mais velho e as responsabilidades adúlteras (sorrisinho sarcástico, meio que de lado) começam a cutucar o ego... Mas, uma hipótese surge na minha cachola neste instante... E se eu ficar desempregado?! Será que ela continuaria com a mesma atitude atípica apercebida? Hum... Eh, curioso pensar nisso neste século vinte e um... nesta alcova universal...

...

Sabe aquele cara do subsolo? Pois então, simpatizo-me tanto com ele! Sei mui bem como é ser escravo da própria consciência moral e social. Também sou um mentiroso e um indecente. Também sofro com essa dualidade que esmigalha, torce e sacode o cerebelo. Eh, também, quando escrevo, sou inverossímil, porque é bem mais decente e vital. Enfim, sou um belo (de metido mesmo) calhorda que contradiz os próprios anseios e sem perspectiva estratosférica. Tenho dúvidas constantes! Estou nessa inanição faz é tempo!... O ócio recente é um problema (será mesmo um problema?) que não consigo administrar. Não dou conta mais da minha própria vida. Aliás, acho que nunca dei conta realmente. Creio (agora) que ninguém dê. Sempre vivi assim, a esmo e a tropeços... Tenho que ter um rumo prefixado? Rumo é obrigatório?! Ficar aí à toa não é uma escolha? Posso realmente escolher?... Posso...

Mas, contudo, se finalmente me topar com a miserável, com a minha cara metade feminina (sim, acredito que seja fêmea. Não tolero homens, acho-os repulsivo demais, e, não sou homofóbico, deixo já avisado. Tento ser politicamente correto ainda, sabe?), enfim, continuando, se encontra-la não a humilharei tanto, que nem aquele cara do subsolo, não a afastarei de mim definitivamente. Sou carente, confesso. Sou covarde também, irmão! Sou romântico (espécie mui rara ultimamente) (e tenho orgulho danado disso). Eu a possuirei de imediato (minha futura e a definitiva guria), a comerei viva todos os dias, até ficar enjoado, até que doa os cornos, até que a gula libidinosa me enfarte!!! (suspiros asmáticos)