quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma questão de tempo

Ah, o tempo!... Saber de sua existência já nos toma tempo precioso. Aliás, o tempo é algo supervalorizado hoje em dia. Quem diz que o tem, sem dúvida, é alguém que conhece o bem-estar, o bem-viver; é alguém que tem, além dele, a tal da qualidade de vida. E quem não tem tempo? Ou seja, como vivem esta grande maioria que diz, grita não ter tempo pra nada? Bem, esse nada, sabemos bem, é tudo fora do trabalho, é o tal do lazer, do ócio. Eh, esses, vivem atarefados, estressados, conseqüência direta deste mundo globalizado, informatizado, conectado. Mas será mesmo que não temos mais tempo? Credo! Essa pergunta soou apocalíptica. Reformulando: o tempo anda escasso? Sabe, dizem por aí que ele, o tempo, passa muito rápido, passa cada vez mais e mais rápido. Será?... Será que não estamos nos ocupando com atividades ordinárias? Tudo que fazemos é realmente essencial? Será que não estamos desperdiçando tempo? O que é realmente importante? Isso é subjetivo, certo. Bem, por exemplo, tenho tara por livros. Eh, às vezes até pareço uma mulher diante de uma vitrine de sapatos e sandálias. É algo curioso de se ver. Enfim, voltando, dou um duro danado no meu trampo e, em vez de gastar parte do meu suado salário com os amigos, com bebida ou com mulheres oferecidas, gasto-o com livros. Prefiro os literários, mas se eu ler um título instigante ou uma sinopse idem, em alguma das prateleiras da livraria, compro-o, assim, no impulso. Entretanto, ultimamente, ando vislumbrando um problema (mais um!): minha leitura não acompanha a quantidade de livros adquiridos. Ainda estou lendo os livros que eu comprei na Bienal deste ano! E o impulsivo aqui, pra completar, ainda comprou, recentemente e à vista, uma coleção de livros imprescindíveis de um jornal aí. A pilha de leituras pendentes só cresce, cresce, daqui a pouco, eles, os meus queridos livros, bloquearam o meu acesso à minha própria residência, que nem um conto aí exemplifica. Desculpe-me, caro e ávido leitor, mas não me lembro do título e nem do autor do conto. Ou seria uma crônica?... Puxa, estou cercado de livros! Minha casa ficou pequena para eles e eu. Ou eu tenho que me mudar, para uma casa maior, ou me livrar duns livros aí. Quê?!? O que estou dizendo? Livrar-me dos meus queridos e únicos amigos? Jamais! Que insanidade estou a dizer. Cruzes! Mas, assim, bem que poderíamos comprar junto com os livros, ou qualquer outra coisa aí que nos dá prazer, um bocadinho de tempo, né não? Pense bem: tempo-livre como brinde, ou como amostra grátis, por que não? Hummm... Pensando mais um bocadinho, talvez nossas remunerações profissionais devessem levar em consideração o tempo no qual dedicamos ao trabalho trabalhado. Tá. Bem sei que existem as tais cargas horárias e os tais bancos de horas. Pois então, se o tempo vale ouro e se até as horas têm banco, por que não um salário mais atraente, mais condizente com o nosso tempo contemporâneo pra gente? Eh, isso tiraria o tal do prestígio de certas profissões, de certas funções aí em voga, mas a utopia que defendo aqui é realmente uma utopia? Tempo... Tempo... Tudo é uma questão de tempo, e espaço. Perdi o meu tempo (e o meu espaço) escrevendo o presente texto? Bem, caro tempo, só tu me dirás. Desembucha!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando não sobram mais pétalas

- Estou farta. Já não agüento mais. Insisti em um relacionamento que eu suspeitava ser promissor, mas se revelou decepcionante. Não vi reciprocidade. Não vi o mesmo carinho que eu lhe dedicava diariamente de sua parte. Quando estávamos sós, lindinho, era tudo ma-ra-vi-lho-so, perfeito. Quando você estava ao meu lado, sentia que a Felicidade existia, era real, palpável e de face apaixonante. Você era apaixonante, especial, até te pedi de presente de Natal. Eu ti adorava, e muito! Mas você se revelou egoísta, sombrio... Você foi negligente com meus sentimentos, com o meu coração. E daí que eu ti ligava três vezes ao dia? E daí que eu sempre ficava esperando você sair de casa primeiro, do seu apartamento, pra depois eu sair do meu e ti encontrar no corredor? Sentia sua falta. Queria você a todo instante, e você não demonstrava o mesmo. Parecia até que eu estava ti aborrecendo, ti atrapalhando, ti enchendo o saco. Não sou carente! Vai à merda. Não sou possessiva ou paranóica, como você maliciosamente, e de certa forma até que infantil, me dizia que eu era. Palhaço. Desgraçado! Só estava expondo meus reais sentimentos a você. Eu aqui com o coração sangrando e você aí fazendo piadinha! Faz favor, foda-se, querido. Você persistia em uma aventura e eu torcia por um final feliz. Você dizia que toda aventura é imprevisível, e por isso mesmo instigante e apreciável, concordei, mas agora lhe dou uma definição: acabou. Chega de ilusões contigo. Quero sentir borboletas em meu estômago, e você não me faz sentir isso. Com outro sim, sem dúvida. E com você não, sem dúvida. Você me fez sofrer muito com esse seu jeito desencanado de ser. Às vezes, lindinho, a gente tem que ser firme, entende? Não veja aqui uma indireta ao seu desempenho sexual. Sei bem o quão dramático você é. Quero dizer apenas que planos você deve fazer. Planos concretos, tá? Possíveis. Chega de sonhar, rapaz! E de chorar. Siga em frente. Levante essa cabecinha tonta e doida. Caia na real, homem! Isso tudo me dá uma gastura, um siricutico cá no peito, sabe? Por isso, estou ti dispensando. Escafeda! Arreda! Cai fora! Vou pros braços de outro e você aí vai ficar chupando o dedo, literalmente. Você mereceu, você se merece. Volte pro colo frio da Solidão e não dê noticias. Não me ligue. Não quero nada contigo. Não banque o choramingas. Calhorda! Pulha! Filho-da-puta! Sai da minha vida, e não volte nem como fantasma de alcova. Tchau! Passe bem. Cuide-se. Adeus!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Imprescindíveis e reles certas mulheres com estresse!

O que anda acontecendo com estas mulheres de hoje? Ultimamente elas estão tão estressadas! Estão ficando cada vez mais parecidas com nós, homens. Por que será? Um exemplo: umas aí andam falando mais e mais de futebol! Isso é muito estranho... Brigam e fazem piadinhas por seus times do coração. Não que eu seja machista, veja bem, cara leitora feminista, só acho essa tendência meio que incomum, uma espécie de novidade curiosa, entende? Mas, o caso sério é o seguinte, pra ser direto: dias desses presenciei duas cenas impressionantes, quatro mulheres brigando, e feio, duas no trem, Expresso Leste, e mais duas no Metrô, da Linha 2-Verde! A primeira dupla foi assim, por volta das 19h, horário de retorno ao lar doce lar, entre as estações Tatuapé e Corinthians-Itaquera da CPTM, duas mulheres maduras, na faixa dos quarenta anos, discutiram entre si, lado a lado. Cada uma empunhava um guarda-chuva, entretanto uma mantinha, em suas delicadas mãos, uma sombrinha florida, dessas que cabe direitinho na bolsa, sabe? Já a outra sustentava um negro guarda-chuva, desses pontiagudos, enormes, praticamente um guarda-sol portátil. Se ouvi bem, as duas começaram o duelo após uma cochilar, isso mesmo, sem querer, no ombro da outra – as duas estavam de pé na composição. Uma era baixinha e a outra de estatura mediana, digamos, visualmente maior que a outra, entende? E, assim, começaram a discutir, a trocar comentários ácidos entre si. Foi lamentavelmente curioso. Ao sacarem respectivamente suas “espadas”, o pessoal ao redor, gritava, gritava, entoando comentários de ordem e chacota. Caos! As duas até partiram pro corpo-a-corpo, mas não durou muito, o pessoal conseguiu separa-las, com dificuldade, é verdade, mas sem mortos ou feridos graves, nenhum guarda-chuva saiu danificado. Quando desci, na estação José Bonifácio, as duas pareciam mais calmas, ou igualmente feridas no ego feminino, caladas, um cadinho envergonhadas, acho, e ainda uma do lado da outra! Surreal. Já o atrito entre as duas fêmeas no Metrô, foi mais um debate de plenário. Foi assim: ao adentrarem o metrô recém estacionado na estação Paraíso sentido Vila Madalena, por volta das 7h30, parece, não vi bem, pois eu já tinha entrado na composição, uma empurrou violentamente a outra. Do corredor donde estava, pude ver que uma estava de costas para a outra e, enquanto batiam boca, todas as brigas começam assim, a que estava na frete nem sequer se virou pra encarar sua “agressora”. Não houve arranhões, puxões de cabelo ou qualquer agressão física direta, o embate foi no gogó mesmo, foi entre línguas. E essas, muito bem afiadas, posso lhes dizer. Cada coisa suja e loquaz que se ouviu ali antes das oito horas da manhã... Não reproduzirei nada do que ouvi lá aqui, digo isso desde já para meus leitores mais pervertidos – meus caros amigos! Digo apenas que, ambas aparentavam ter uns vinte e poucos anos. Jovens, sem dúvida, e lindas, mui atraentes! Uma loira e a outra morena. Uma de vestido colorido e a outra de terninho sóbrio, acho que é assim que se diz. Umas graças. Umas grossas. E não gritaram, mantiveram foi mais um diálogo, um tom mordaz entre si. Uma desceu na estação Brigadeiro, a outra na Consolação. E o pessoal ao derredor nem meteram colher, só ficaram olhando, olhando, apreciando o espetáculo gratuito e meio que fantástico assim de camarote. Curioso isso tudo. Outro caso, que agora me alembro, não presenciei, apenas ouvi falar, foi duma colega de trabalho, recém contratada, e novata nesse negócio de transporte público. Na Linha 3-Vermelha do Metrô, estação Sé, horário de pico, ela deu uma bela bocetada - relativo à bolsa e não à outra coisa chula que tu aí, amigo pervertido, estás pensando - num cabra que relou o cotovelo áspero no braço nu e viçoso dela. Coisa espantosa essa! Até mesmo pro cara agredido. Não sei se foi intencional ou sem querer, não estava lá pra averiguar, não fui testemunha, mas achei tamanha atitude bocetória dela um puta exagero. Ela tem gênio forte, percebi, mas não precisava partir pra porrada peremptória. Ai, ai, essas mulheres estressadas...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ponto de convergência

- Não sei ao certo o que anda acontecendo comigo ultimamente. Só sei que não me sinto bem, não como antes. Estou diferente, isso é certo. Estou mais pensativo, mais melancólico; ando sofrendo de pequenos lapsos de saudosismos. Espero que, ao ti revelar certas coisas, caro amigo, eu finalmente possa me sentir melhor e resignado. Vamos lá então. Bem, sabe, ando pensando em como eu vim parar aqui, ou seja, em como sobrevivi até este presente momento. Como cheguei até aqui? O que fiz ou deixei de fazer até agora? Por que sou quem sou? Ou por quem sou que sou? Às vezes me pego pensando em quando eu era garoto e Mamãe me arrastava pelo braço, pelas lojas do centro da cidade. Sou filho único, tu sabes, e não é nada fácil de criar um quando se é mãe-solteira. Mamãe deve de ter sofrido horrores. E, percebo hoje, que eu sofri também. Eu não gostava nada de ser arrastado, de ser obrigado a ir com ela pra tudo quanto é lugar. Ela entrava numa loja e eu tinha que segui-la, pra cima e pra baixo, até próximo aos provadores (!), só pra não me perder dela. E eu carregava sacolas, e entrava em outras lojas, e ficava de canto, esperando até que ela voltasse. Era um saco. Ou eu era um saco. Na escola até que eu era um bom aluno. Desses quietinhos, sabe, que toda professora adora e que todo colega acha inteligente, ou um puta dum CDF. Eu freqüentava a escola por freqüentar mesmo, cresci indo pra lá, então, não achava estranho acordar cedo pra ir pra lá. Apesar dos pesares, agüentei. Duro mesmo foi quando eu fazia o Ensino Médio. Cara, de repente você começa a ouvir que tem que ir à escola pra arranjar um trabalho bom, um emprego decente – o que seria isso? -, pois um bom salário mensal é o que importa, mas, claro, sem esquecer que tu deves fazer o que gosta. Pergunto: quê?! Como? Se nem eu mesmo sei ao certo o que gosto. Então, qualquer coisa aí que pague bem serve, né? Certo. Aí me vi procurando emprego. Estudava e consultava classificados, imprimia currículos e mais currículos apáticos, pois não tinha a tal da “experiência profissional”. Preenchia fichas de cadastro esdrúxulas. Participava de entrevistas e dinâmicas desconfortáveis, vexatórias, estranhíssimas... Os trabalhos feitos na escola não serviam – têm coisa errada aí, dizia a mim mesmo. Mas era obrigado a procurar, Mamãe exigia isso de mim. Consegui uns aí, mas não foram lá muito duradouros não, um que fiquei mesmo um bom tempo foi quando eu já estava na faculdade. Sim, consegui fazer uma. Uma licenciatura, é verdade, mas não deixa de ser um Ensino Superior, né? Entrei numa universidade particular graças há um programa social – posso dizer isso? – do Governo Federal. Antes fiz um cursinho comunitário, durante um ano (2004), prestei vestibulinhos e vestibulares públicos, mas não passei em nenhum... Ah, o curso universitário que fiz não era a minha primeira opção, era a quinta e última (!), mas foi o único em que passei, então, resolvi faze-lo mesmo assim. Não me arrependi, até curti o curso. Logo em seguida emendei uma pós, mas até hoje, quase dois anos depois, não produzi a tal da Monografia. Estou com ela cá empacada. Mó vergonhoso isso, né? Por que fiz essa pós? Por que tinha que fazer uma ou, sei lá, vi seu currículo e gostei, taí, vou fazê-la? Ou por que muitos colegas de graduação já estavam fazendo uma? Não sei bem... Também não me arrependi, curti igualmente. Enfim, naquele emprego fiquei mais de quatro anos – um bom tempo mesmo, vai. Não cresci lá profissionalmente, hierarquicamente, não tinha isso lá. Depois fiquei uns meses desempregado, fazendo a pós e mais nada, ou melhor, procurando também trabalho na minha área de formação. Tentei, tentei, tentei, mas não deu certo. Não consegui nada atraente, só experiências estranhas e suspeitas. Hoje, faz quase sete meses, estou trabalhando numa pequena empresa. Ganho bem, um pouco a mais do que na anterior, tenho vários benefícios, fiz alguns colegas, mas, sei lá, sabe, não estou empolgado, entusiasmado. Estou lá só de passagem, por necessidade, digo isso a mim mesmo sempre. Não sei bem até quando ficarei lá. Uns dois anos? Talvez. Mas e depois? E agora? Fazer o quê da minha vida? Gosto de ler, de escrever, de curtir programas culturais, do tipo cinema, teatro, exposição, essas coisas, não sou lá de baladas mais frenéticas, mas as freqüento, quando há convites e disponibilidade. Sei bem hoje em dia o que me faz bem. Contudo, ando negligente. Minha leitura anda atrasada. Meus textos, cada vez mais, ou melhor, menos. E os tais programas culturais, mais raros. Ando cansado. O trabalho obrigatório diário me cansa, me desgasta e o transporte público de ida e de volta também. Sinto que estou perdendo tempo, sei lá. É estranho, meio que incômodo isso tudo. Quero ficar sozinho, mas não posso, não consigo. Quero companhia, mas não a tenho, não a encontro mesmo insistindo inconsequentemente. Sozinho na multidão? Eh, vai ver é isso mesmo. Preciso definir certas coisas, ser mais descarado, sem esquecer o respeito, claro, ser mais espontâneo, mais atraente, mais eloqüente, mais misterioso, mais sereno, mais e mais eu mesmo, mesmo não sabendo muito bem quem eu sou deveras. Preciso de planos. Preciso de um rumo! Careço de sonhos... Agradecido por me ouvir, meu velho, mais uma vez.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Carência

Eu poderia falar sobre um domingo ensolarado e romântico no Parque do Ibirapuera, eu poderia descrever uma noitada boa lá no Bar Lisboa do Tatuapé, ou, até mesmo, comentar minha própria impossibilidade crônica e obrigatória de beber bebida alcoólica, mas não, não vou escrever nada dessas coisas. Por quê? Não sei bem. Não quero, talvez. Eu poderia deixar aqui registrado o meu desejo libidinoso em ver, apreciar os desenhos do Manara que estão descaradamente expostos na Oficina Oswald de Andrade? Eu poderia revelar o quão quero almoçar lá no Bom Retiro? Faz tempo que não bato perna por lá... Aquele restaurante de esquina, na Rua José Paulino com a Júlio Conceição, ainda existe? Os funcionários de antes, de quando eu trabalhava naquele bairro, ainda trabalham lá? E aquelas senhoras, simpáticas senhoras, da Casa do Pão de Queijo, da Rua dos Italianos, ainda servem quentes cafés por lá? Como estará o Bom Retiro que eu deixei? Estará ainda sujo e mui movimentado? A bomboniere que eu freqüentava quase que diariamente, da Rua Anhaia, ainda tá em plena atividade ou se fechou? E o Liceu Coração de Jesus, onde fiz meus estágios obrigatórios, como estará? O SESC que estavam construindo ao seu lado estará quase concluído? Ainda há moradores de rua adjacentes? Vícios e viciados perambulando pelas vielas? E a Doce Graça continuará doce quase de graça? E a Rua Prof. Cesare Lombroso, rua em que trabalhei, como estará? As mulheres lindas ainda desfilam por lá após às 13h? Sinto saudades dessas coisas. Careço de inspiração. Eh, definitivamente preciso revisitar o bairro do Bom Retiro. Quem sabe assim, colhendo lembranças por lá, dou de cara com as Ninfas. Essas me andam tão em falta ultimamente... Eh, tá decidido! Vou lá, neste sábado, dia 11/12. Quem quer ir comigo?!?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lady Laura

Ela, uma senhora simpática. Ela, uma van velha de guerra. Elas, Ladies. Elas, Laura. Lady Laura. Uma, frágil e muito de bem com a vida. A outra, forte e muito avariada ao longo dessa vida. Aquela curte se arrumar, se produzir até quando vai votar. A outra é quem garante a produção, seja musical ou qualquer uma aí que aparecer à mão. Essa, sabe de tudo que seu dono fez dentro dela, e poucos casos curiosos não foram! Aquela, sabe conquistar, adora paquerar, seja conhecido ou desconhecido que vai encontrando por aí. Uma agüenta o tranco. A outra já nem tanto. Essa, passeia pelo bairro, faz caminhada, anda até sobre o asfalto. Aquela, viaja muito por aí afora, tá sempre com pressa, corre, cruza retas sem fim; o asfalto já é um velho companheiro. Uma ainda tem cabelo, loiro, quase branco. A outra tá quase careca, vezes quatro, mas esbanja, no aro, tons prateados. Ela tem um companheiro? Não sei, acho que não. Ela tem um dono. Espécie de companheiro deve de ser. Segredos ambas têm? Claro! Mui provavelmente. Mas uma não os esconde, diz tudo pra todo mundo. Já a outra, como eu já disse, de tudo sabe, mas de nada pode dizer. Um segredo de ambas, eu vou lhe contar. Uma com uma mulher já fugiu, antes dos filhos, antes dos netos. A outra com várias mulheres ali se viu, depois vieram os filhos, depois vieram até netos. Ela fuma ou já fumou um? Não sei, mas é bem provável, sabe? E a outra? Bem, já fumaram muito nela. E por que ambas aqui são tratadas como ladies? Porque cada uma têm algo nobre e requintado, possuem um mistério que não pode ser aqui revelado, talvez, apenas, esboçado. Atenção: um segredo de cada foi comentado, e o presente narrador, ausente em breve se declarará. Ela está vendo. Ela está vindo. Essa me atropelará. Aquela, no asfalto, se debruçará, me beijará e envolto à aromas florais expirarei. E o que é isso?! Não sei. O texto degringolou, acabou!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fragmentos do cotidiano (6)

Não é todo dia que temos o privilégio de pôr os olhos sobre uma beleza áurea e rara, ainda mais numa lotação lotada. Pois bem, ontem à noite ganhei essa graça. Lá estava eu, entre uma senhora de vestido juvenil e alegre e uma pré-adolescente de trajes soturnos, quando ela apareceu. Foi se aproximando de ladinho, o corredor da condução estava cheio, e parou frente à porta de saída traseira, eu estava no fundão da lotação. Ficou lá de pé olhando para o nada, distraída e aparentemente triste. Pensavas em que, meu bem? Fiquei de lá do meu canto admirando-a, da cintura pra cima, é verdade, não podia ver seus membros inferiores. O que vi, aqui comento: vestia um vestido todo estampado, colorido, desses que estão na moda, algo deveras agradável de se ver, percebia-se que ela estava fresquinha. Seus seios estavam muito bem alojados, simétricos, e tinham um generoso volume, o seu pulsar me causava um casto frenesi. Braços delicados ela tinha, e o tom de pele, levemente tostado, davam-lhes uma maciez saudável e sincera. O pescocinho era convidativo, lisinho, lisinho, notava-se que sua respiração estava um pouquinho acelerada. Seus lábios carnudos e rosados não se contorciam, estavam quietos, sérios, aguardando os meus talvez. O narizinho era uma graça, as narinas não eram largas e a ponta não era fina, era arredondada, digamos. Os olhos, ah, os olhos, bem, castanhos eram, mas de um castanho bem claro e brilhante, graças, eu acho, à iluminação artificial da lotação. As sobrancelhas não eram muito finas, mas bem feitas eram e negras, dum negro quase que grafite. A testa dava pra ver bem, lisinha, lisinha, sem intervenções cirúrgicas ou orgânicas. Bochechas coradas e salientes, dois outros convites. E as orelhinhas ora se escondiam entre aquela cabeleira loira e lisa. Era de um loiro escuro muito sedutor, lembrou-me logo um café-com-leite do bom e requintado. Bem, não era uma loira natural, mas era uma loira, uma bela loira, um loirão. Lá do meu canto, pude ver tudo isso, sentado e mui admirado, encantado. Só me espantei quando ela olhou direto pra mim. Eh, as mulheres percebem quando estão sendo vistas. Depois, num segundo olhar, olhou-me com mais calma, pra ver com mais detalhes o cara, eu, que a estava observando. Acho que queria me avaliar, ver se eu valia a pena ou não. Nisso ela sorriu, aí eu pude ver aquele sorriso metálico e ofuscante. Será que eu fui aprovado? Terá ela gostado de seu olheiro inusitado? Enfim, não sei, só sei que ela, logo após me lançar aquele sorrisinho sapeca, enfiou o dedo indicador esquerdo na narina esquerda! E o ficou enfiando, girando um bom tempo... Seu rostinho agora fazia umas caretas medonhas. Os olhos se fechavam, se espremiam. A boca e o nariz se contorciam. A testa apresentou-se cheia de dobras. Até o cabelo, aquela linda moldura de outrora, ficou um pouco bagunçado, descabelado, pude ver, juro, pontas duplas! Ela estava em gozo, óbvio. Eh, nem tudo nessa vida dá pra romantizar. Decepção, cadê a Ilusão?!?

sábado, 20 de novembro de 2010

Abstinência

Meu corpo treme constantemente, mesmo fazendo um puta sol lá fora. Sinto-me fraco, apático; não consigo pensar em outra coisa. Preciso dela. Meu corpo a chama, ela me é vital. Até minha voz não é mais a mesma, ficou quase inaudível, fraca, triste; não tenho mais aquele tom agradável e límpido de antes, de antes da minha sina sinistra. Meus olhos não brilham mais de entusiasmo, parecem mortos de tão exaustos que estão de verter lágrimas. Olhos vermelhos. A dor é muito forte. E a Solidão, velha companheira, cada vez mais presente, mais fixa e persistente. Com ela eu não me sentia só. Sentia-me acolhido, quase que num ninho, abrigado, protegido e bem, muito bem, entende? Sinto-me perdido, deslocado, desamparado. As coisas que eu fazia antes não têm mais graça, agora não fazem mais sentido. E essa dor cá dentro de mim, que amola minhas entranhas. Sinto que a Solidão me acaricia com duas facas bem afiadas. Estas não chegam a me ferir gravemente, mas a cada passada delas na minha pele, um filete de sangue surge, e não estanca, continua escorrendo copiosamente sem indícios de cessar; ferida aberta dói. Preciso tanto dela! Somente com ela me sinto bem, bem melhor. Só ela me acalenta. Onde ela está? Por que a arrancaram de mim, assim, tão repentinamente? Vocês, os outros, não sabem o que é bom para mim! Só eu sei. Só eu. Eu só estou. Estou eu só. Eu estou só. E quem é ela? Quem é essa que me é tão essencial, tão vital?? Ora, é a Ilusão. Arrancaram-na de mim. Você a viu por aí?...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SSMS (38)

Ñ gosto desta Primavera atípica. Parece até Inverno! Cadê as borboletas?? Sumiram. Ñ as vejo mais. Ah, sim, eu as sinto. Estão cá no meu estomago se decompondo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Caixa de saída (5)

“Amanda”

Amanda,

Fico profundamente triste, chateado deveras por saber que você não gosta de mim e nem tem interesse sincero em manter contato comigo. Se insisti em ter, foi mais pra alimentar a amizade entre a gente, pois, a amizade, esse sentimento cada vez mais raro, é essencial a todos os seres humanos. Não tive e nem tenho segundas intenções para com sua ilustre pessoa. Só queria mesmo tua estima e teu respeito.

Bem, sinceramente, espero que você esteja com pessoas de seu agrado. Espero que estes seus eleitos, estes seus escolhidos a dedo estejam ti fazendo muito feliz. Espero mesmo que eles também gozem de seu amor e bom-humor, pois, se estão contigo, se você as tem próximas, pessoas maravilhosas e de profunda confiança devem de ser.

Você é um pouco mais jovem do que eu, por isso, também espero que, quando ficar um pouquinho mais velha, perceba que na verdade, na dura realidade, estamos sós nesta vida. Eu queria mesmo era dividir um bocadinho da minha contigo, sem libido, mas você deixou bem claro que não quer e nem deseja isso. Sendo assim, vou respeitar essa sua vontade aparentemente sincera.

Cuide-se bem então, pois ninguém, acredite, ninguém cuidará de você, só você mesma.

É isso.

Este é o último e-mail que envio a você. Não vou mais ti aborrecer.

E não aguardo resposta.

Cordialmente e consciente,

BRO

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Apenas um Beijo de Boa-Noite

Passou pela portaria sem problema, o porteiro noturno de plantão o conhecia. Enquanto atravessava o pátio de carros populares sacou do bolso esquerdo da jaqueta jeans o aparelho portátil. Não precisou digitar as pequenas teclas correspondentes à seqüência numérica desejada. O número dela já estava salvo, há pouco tempo. Após dois toques atenderam, ele disse, Oi! Sei que está muito tarde, mas eu poderia passar aí pra ti dar apenas um beijo de boa-noite? O sorriso largo em seus lábios denunciava que seu pedido foi aceito. O indivíduo acelerou o passo. Este morava no quinto andar do bloco F, a outra no quarto andar do mesmo bloco. Conforme o indivíduo subia as escadas, as luzes iam se acendendo automaticamente. Percebia-se que o indivíduo se tratava de um corado rapaz. Devia ter seus vinte e poucos anos. Jovem e afoito. No quarto andar parou. Aqui a luz externa não acendeu. Bateu três batidinhas quase inaudíveis. A porta foi aberta segundos depois. Uma luz branca, um perfume almiscarado penetrante e um sorrisinho malicioso e convidativo na face parda causaram-no uma espécie de paralisia. Só cruzou a porta quando ouviu, Oi, meu lindo! Entre. Enquanto a porta era fechada à chave, os dois ficaram se olhando, apenas exibiam os dentes perolados um para o outro. Porta trancada, a luz branca se apagou. O som que se ouvia na penumbra do apartamento quarenta e quatro era o do fluxo contínuo e circular das salivas e dos estalos labiais cortados. Dava pra ouvir os cochichos dos dois, Saudades de você. A temperatura dos dois corpos aumentou ligeiramente. Ambos os corações estavam se acelerando. A mulher emparedou o jovem. Movimentos pélvicos eram perceptíveis. Gemidos contidos agora eram ouvidos nitidamente, deliciosamente. Mais cochichos se ouvia, Se continuar assim... Tira isso... Vêm... Ai... Aí... Não... Assim não... Tem preservativo?... Melhor sem... Melhor com... Doido... Você é estranha... Vou pegar... Você põe então... A mulher pôs, ao contrário. O jovem endireitou. A mulher o agarrou pela jaqueta jeans e disse, Vem logo! Aqui. E os dois deitaram-se num colchão ali já estendido. Ele sobre ela. E fornicaram. E gemeram. E disseram-se, Assim eu gozo logo... Assim mesmo, não pára... Não grita... Não grita... Levanta a minha perna (esquerda)... Isso... Assim... Vai... Gostoso... Não é gostoso?... Assim?... É... Muito... E gozaram, juntos, aparentemente. Beijaram-se, amavelmente, longamente. O jovem foi ao banheiro cambaleante, no escuro. A mulher dedou o canto dos olhos e revestiu a calcinha preta. O jovem a beijou, novamente, quando do banheiro saiu, sorridente. A mulher já estava de pé, esperando-o. Abraçaram-se, amavelmente, longamente. O perfume corpóreo de cada um foi-se transferido, transmitido ao outro. Olhos brilhantes se despediram, demoradamente. Não se olharam mais enquanto a porta era destrancada, aberta lentamente. A mulher antes de fechar a porta ainda fitou as costas do jovem. O jovem encarou a escuridão do corredor, olhou para trás, e sorriu, ainda podia ver sua algoz na penumbra particular. O indivíduo subiu o restante das escadas até seu próprio apartamento de número cinqüenta e dois. A cada passo que ele dava, o sorriso satisfeito e sincero em seus lábios foi-se desmanchando, tornando-se triste, um sorriso triste. Quando adentrou seu recinto, trancou negligentemente sua própria porta. Cambaleou direto a seu quarto de solteiro. E desabou duro de roupa e tudo. O coração parou, finalmente.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma desvantagem de emagrecer

Não estranhe o título. Sei mui bem que as bancas de revistas e os programas vespertinos da tevê pregam periodicamente as inúmeras vantagens de perder peso, mas eu não quero falar disso, pois, como é óbvio, já se fala por aí afora, e muito! Cansei de ler e ouvir papo sobre alimentação saudável, sobre prática amadora de alguma atividade física e sobre todo tipo de excesso que deve ser evitado. Já absorvi essas coisas. Já mudei minha educação alimentar e física. Já não pratico os tais maus-hábitos. E, por ser bom aluno, solidário com esses preceitos doutrinários, acabei me arranjando um probleminha, uma desvantagem de emagrecer. E qual seria esse probleminha, essa desvantagem?? Bem, o problema é a calça, ou melhor, são as calças jeans. Bem, eu vestia o fatídico número quarenta e quatro. Eh, eu era grande. Hoje em dia visto o raro número trinta e oito. Digo raro porque é mui difícil comprar esse número. Caro leitor, se tu encontrares tamanho achado, considere-se com uma baita sorte e, se possível, guarde-o para mim, sim? Depois acertamos o envio e o pagamento. Mas se quiseres dar-me de presente. Agradeço-lhe desde já. Além dessa dificuldade, há outra, a mais grave: as calças antigas. O que fazer com elas? Infelizmente as calças não emagrecem junto com a gente. Ainda usá-las? Sim, eu ainda as uso e passo mó aperto, quer dizer, passo mó folga com elas. Estão sempre caindo. E tenho que levantá-las sempre. Muito constrangedor isso. Tenho que ficar sempre com uma mão no bolso, segurando a calça de forma discreta, entende? Meu receio de ficar apenas de cueca no meio da rua é eminente. E teve vezes que isso quase aconteceu. Baita susto. Já mandei pregar umas calças aí, mas não adiantou muito, não. Ou eu continuo emagrecendo (de forma crônica), ou as calças é que estão engordando silenciosamente no meu guarda-roupa. Devo comprar uns suspensórios? Isso ainda existe?! Não sei. Talvez. Será que eu ficaria menos desengonçado com os suspensórios? Bem, ao menos minhas mãos ficariam livres, né? Vou pensar mais nessa possibilidade, nesses acessórios excêntricos. Bem, o leitor, sem dúvida, estará se perguntando agora: - Por que esse cara doido não usa um cinto logo? Veja bem, meu caro, sou alérgico às fivelas. Minha pele não se dá com o metal. Feridas horríveis surgem do contato direto entre os dois, por isso recorro a outros métodos pra assegurar a altura ideal das minhas calças. Eh, nós, ex-gordinhos, ou nós, novos magros, tentamos nos adaptar perante a segunda década do século vinte e um.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desmaio

E de repente senti que minhas forças estavam se esvaindo... Minha consciência estava me abandonando... Não sei se era eu, minha pressão poderia estar baixa ou alta, não tinha bebido água ainda. E não tinha ido dormir cedo, eu estava acordado e com sono, cansado. Não sei se foi por causa do tempo, fazia mais de trinta graus Celsius lá fora, e onde eu estava, lugar pequeno e fechado, só havia uma janelinha, bem que poderia estar com uma temperatura acima da externa... Enfim, caí. Não sei quanto tempo se passou. Acho que poucos segundos, pois percebi que estava de quatro no chão, não sei bem como, e não sei bem como de pé fiquei. O lugar onde eu estava parecia conhecido, mas não familiar. Sentia-me perdido. Entrei em pânico – não conseguia distinguir direito o que estava vendo. Sentia-me cego duma cegueira branca. Lembro-me bem dum clarão. Eu estava com medo. Instantes se passaram e finalmente reconheci onde estava. Senti alívio e desespero. Nossa, eu desmaiei. Desmaiei no banheiro. Caí do vaso-sanitário. O lado esquerdo do meu rosto doía. Percebi que meu joelho direito também estava dolorido, acho que, quando despenquei, bati-o na parede à frente do vaso. De pé, e com as calças arriadas, limpei-me, mas ainda estava meio tonto, não rasgava o papel-higiênico com facilidade. Eu estava suado. Minhas pernas finas tremiam. Percebi isso enquanto levantava as calças. Dei descarga e saí dali, a passos lentos, eu estava confuso e preocupado, nunca em toda a minha vida, nunca eu tinha desmaiado. Sentia-me estranho, sentia um certo mal-estar enquanto lavava as mãos. No espelho, pude ver que meu rosto tinha perdido o tom corado habitual: estava branco e meus olhos estavam fundos, negros. Vi, finalmente, a minha fraqueza, a minha fragilidade humana. E por não entender nada do que me aconteceu me desespero.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Charm da Augusta

Não adianta, ainda tenho a pachorra de ficar observando as pessoas ao meu redor. Vício desgraçado esse, mas inocente, meio insano, e até que idílico. Ultimamente, sabe, ando reparando numas pessoas da rua Augusta. Bem, tá certo que essa rua daria, dá mote inesgotável para diversas produções literárias. Crônicas, Contos, Poesias, Romances incontáveis, impagáveis poderiam, podem ser escritos inspirados nessa rua tão instigante de São Paulo, mas vou me contentar, me expressar apenas com este post mesmo. Trabalho nessa rua há poucos meses, e bem próximo donde labuto há um estabelecimento, um restaurante-lanchonete-bar. Ou seria bar-lanchonete-restaurante? Bem, algo assim, sabe. O nome do recinto num preciso nem dizer, tá na cara. O paulista já sacou. E você, que não sabe, depois me pergunta, certo? Pois bem, estou nesse estabelecimento de segunda a sexta-feira, entre às 7h30 e às 8h. Pode conferir. Tô lá no balcão saboreando meu gostinho matutino de felicidade: cappuccino médio e um pão francês na chapa no capricho. Coisa essa de verdadeiro paulista: tomar café-da-manhã fora de casa em lousas brancas. E sempre a mesma coisa. Todos os dias. Enfim, é um bocadinho da nossa própria singularidade. E lá, sentado no balcão, fico bisbilhotando de soslaio os demais fregueses. Por lá aparece, quase sempre, o Casal de Motoqueiros. Os dois adentram o estabelecimento trajando preto, sempre, e com os capacetes pendurados no antebraço esquerdo de cada um. Capacetes estes estilizados, multicolores, lembram os típicos de competição na lama. Costumam sentar na mesma mesa, sempre. Pedem dois expressos e dois na chapa. Assim mesmo, desse jeito, antes de se sentarem. E quando sentam, próximos à televisão de tela plana, ficam papeando, de olho no aparelho e de olhos sonolentos entre si. É um casal jovem e que curte conversar sobre os problemas de seus respectivos trabalhos ali mesmo. Cada um parece realmente interessado no que acontece com o outro quando estão separados. E quando o café-da-manhã é servido, os dois começam a se animar. Ganham um vigor avermelhado em suas faces. Sorrisos cúmplices surgem. Dá gosto vê-los. Outra figura curiosa e o Cara da Coca. Cara, o cara toma uma latinha de Coca-Cola logo de manhã! E, pra acompanhar, uma esfiha gorda de carne, daquelas fechadas, sabe, regada afoitamente com catchup. Mostarda nem pensar! O Cara da Coca detesta. Pimenta idem. Apenas o molho vermelho e mais nada. Café-da-manhã encorpado, né não? Outro típico paulistano. Eh, São Paulo é assim mesmo: surpreendente. Mas o melhor, ou a melhor, deixei cá pro final. O verdadeiro Charme da Augusta é a Negra Fashion. Às vezes quando chego, ela já está lá, às vezes não, chega pouco depois de mim. O que ela toma de manhã? Surpreenda-se: Toddynho gelado e um pãozinho na chapa amassado. E todo dia. Ela eu não olho de soslaio, não. Eu olho pra ela descaradamente e, sendo deusa, isso ela é, sem dúvida, não me dá bola. Totalmente indiferente fica. Prefere tomar seu café-da-manhã com a mão direita, e com a esquerda fuça seu aparelhinho celular. Deve ter dezenas de admiradores lá salvos no aparelho portátil. É uma deusa fashion! O corpão negro dela é coberto por roupas descoladas, dá última moda, entende? Tendências ela segue. E meus olhos a devora. Uma graça. Não entendo de moda, por isso não vou entrar em detalhes quanto à vestimenta dela, ok? Mas acho que você aí, leitor camarada, já a visualizou. Não? Bem, aí vai umas informações adicionais: ela mede quase um metro e oitenta, sempre usa bota ou sapato com salto médio, raramente a vi de tênis, mas os tem e os usa, pode crer. Pele negra, dum negro mais pro chocolate ao leite do que pro chocolate amargo. Cabelos lisos, compridos até mais ou menos no meio das costas largas, não muito largas, mas atlética. O cabelo ela sempre o prende, feito rabo empinadinho de cavalo, sabe. Quanto ao rabo mesmo, quanto ao bumbum, ai, ai, como eu posso lhe dizer? Uau!!! Empinado, redondinho, um pouquinho largo e muito, mais muito atraente. E fica mais atraente quando ela o cobre com aquelas calças legging! Puta-que-o-pariu!! Essas calças me fazem sofrer diariamente. É uma louca tentação. Mas, enfim, onde eu estava mesmo? Ah, então, ela, essa deusa, pra mim, é o verdadeiro Charm da Augusta, pois, tamanha divindade, mesmo se apresentando voluptuosa, pomposa, cheia de garbo em suas vestis citadinas, tem a santidade, a peculiaridade de alimentar-se simploriamente, infantilmente, digamos. É um tipo de charme, vai, admita. Encantador e instigante como a rua Augusta é.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cara-a-cara

- O que você está me dizendo?! O que é isso que você está falando? Quem você pensa que é pra me julgar assim? Quem você pensa que é pra me dizer o que devo ou não fazer? Por acaso você gosta de me ver infeliz? Gosta que eu fique aqui trancado, enfurnado à sua inteira e única disposição? Não sou um garoto, não sou um garotinho medroso, receoso do que você pensa a respeito do que faço ou deixo de fazer, não mais. Sou homem. Tenho liberdade de fazer o que bem entendo. Não estou prejudicando ninguém, nem eu mesmo dessa vez. Aliás, estou é fazendo bem, estou agradando, e saber disso já é maravilhoso. Vizinhos? Não me importo e nunca me importei com eles. Nem sei quem são e nem quero saber. A vida deles não me interessa. Prezo a minha própria. O que é tudo isso afinal?!? Está com ciúmes, é? Tá se sentindo rejeitada, é? Problema seu. Sempre estive aqui. Sempre te disse que poderia contar comigo pra qualquer coisa. Sempre me apresentei, e me apresento, disponível. Nunca faltei com ninguém nesta minha vida. Foi você e os outros aí que faltaram; aliás, sempre faltam. Cansei! A vida é minha. Faço o que eu quiser e como eu quero. Não tenho que lhe dar satisfações. Odeio isso. Odeio você. A responsabilidade é minha. Tudo que me acontece de bom ou de ruim é por causa direta ou indireta de mim mesmo. De mim! A Felicidade tá aqui, ó, cá na palma da minha mão! Vê? Em mim. Eu a espremo até do pâncreas, até do apêndice, este órgão inútil. Não me venha com aporrinhações. Basta! Não agüento mais isso aqui. Vou-me embora. Teu egoísmo me dilacera a paciência. Sai da minha frente! Me solta. Escafeda. Pare de chorar. Tuas lágrimas não fazem de você a pessoa com razão aqui. Você é a única aqui que não a tem. Você está desequilibrada. Você está perdendo a noção das coisas. Sabe, pra quem assiste à MTV diariamente, tua visão de mundo é muito limitada, estreitinha. Tenho pena de você. Você é uma puta-machista. Essas suas atitudes não condizem com a tua idade. Tô aqui, diante de ti ainda, e só vejo um ser desprezível, que não entende e nem tenta entender o que está se passando, o que é realmente importante. Tu achas que estou desperdiçando minha vida, é? Engana-se. Eu a estaria desperdiçando se eu continuasse aqui, com você, somente com você. Não dá mais. Liberte-me. Deixe-me viver a minha vida do meu jeito. Deixe-me em paz. Deixe-me! Você me atormenta, me aborrece, me enfada. Estou cansado, cansado de você e de suas opiniões, de seus julgamentos sem sentido, sem provas, sem fundamentos empíricos, sem nada relevante. Tu não tens credibilidade, não tens moral, mesmo sendo minha mãe. Adeus.

domingo, 31 de outubro de 2010

SSMS (37)

Se eu continuar nesta UTI, meu óbito é garantido, e soh sairei daqui pro IML. Careço urgentemente de um leito, da tua alcova! Hoje à noite tem vaga?! Salve-me!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

SSMS (36)

Pro Paraná tu ñ devias ter ido, pra cá pra casa tu devias ter vindo. Pra lá tá sempre frio, pra cá tá sempre quente. Contente ñ fiquei, e tu ficaste? Riu? Buei.

Caixa de saída (4)

“Antônia”

Olá, cara Antônia!

E aí, mulher, comé que tu tá?

Puxa, faz mó tempão que a gente não se fala, que nós não nos correspondemos, não é mesmo? Deixamos de freqüentar a mesma academia, deixamos de transpirar juntinhos (desculpe-me desde já a gracinha) faz é meses e, ainda assim, mantivemos contato. Um contato tímido, é verdade, mesmo assim, um contato honesto, simpático e agradável. Entretanto, não trocamos recadinhos há uns bons meses. Tá certo que há uns bons meses eu não acesso o ORKUT. Praticamente abandonei-o. Mas você bem que poderia ter me enviado um e-mail ao menos, né não? Pôxa vida, mó saudade de tu. Sério. Apreciava pra caramba os nossos papos curtos, ligeiramente insanos até. Temos que voltar à atividade, à pro-atividade, minha filha!

Você anda muito ocupada? Será mesmo que não dá pra dar uma saidinha? Bem que poderíamos combinar pra bater um papo, bebermos um chope, ou uma cervejinha, ou uma água com gás mesmo, depois dos nossos expedientes, que tal? Por que não? Garanto o bom-humor. Pense bem a respeito, sim? Prezo tua amizade e tua presença física também, claro.

Eh isso. Fico no aguardo então das tuas respostas.

Beijo na bochecha direita e um forte abraço aí procê.

BRO

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tentações sobre a mesa

Ah, a rotina no escritório! Coisa vulgar, torpe, mas ao mesmo tempo instigante e até deliciosa. Coisa curiosa é perceber o que cada colega de sala, o que cada colega ao lado põe, deposita sobre sua mesinha de trabalho diário. Além, é claro, da papelada obrigatória, do trabalhinho burocrático, há coisinhas particulares que merecem uns minutinhos de boa observação. Cada colega têm um porta-treco diferente, e cada um o enfeita a seu gosto. Marcação de território, talvez. Exposição da própria identidade. Fora os adesivos e os recadinhos pra si mesmos que eles colam em derredor do monitor led. Cá pra nós, tem umas telas aí que mais parecem girassóis de tantos papeizinhos aí colados. E, ao longo do dia, a pobre “flor” é desfolhada, mutilada paulatinamente pra no dia seguinte ser recomposta, logo de manhãzinha; e assim é todo o dia, toda semana, todo mês, todo ano. Fotografias ainda são comuns ver sobre as mesas de escritório, é clássico, algo saudosista, digamos, pois, nesta Era do Cristal-Líquido, onde fotos são vistas graças à energia elétrica, porta-retratos de madeira (ou mesmo de acrílico) são artigos antigos, praticamente coisa pra colecionadores esquisitos. Geralmente são fotos da família – da(o) esposa / esposo e dos filhos, ou da filha, ou do filho. Raro é ver fotos da namorada ou do namorado, dependendo do caso, ou do acaso. Por que será? O dono ou dona da mesa não quer olhos cobiçosos sobre o que lhe é tão estimado, querido e imprescindível? Talvez. Provavelmente. Mas, tais olhos, são inevitáveis. Ainda mais inevitáveis quando há, sobre a mesa de trabalho, um singelo e transparente potinho cheio de balas coloridas. Quem, em sã consciência, é capaz de tamanha maldade? Bem, o meu colega do cubículo ao lado é. E por que ele é mau? Veja bem, entenda, a porra do potinho é transparente! Comé que o cara tem a moral de colocar cá ao meu lado um potinho transparente cheio de balas?! É uma tentação constante. E se eu fosse diabético, hein? Seria uma tortura diária. E o pior é que todo dia quando chego, e todo dia quando vou-me embora, o potinho tá cheio! O desgraçado o reabastece todo dia. Assim num dá. E ele, o cara cá do meu lado, nunca, nesses cinco anos, nunca ofereceu as balinhas a mim. Pra ninguém, pô! E o potinho fica lá, sobre a mesa, e sempre no mesmo lugar, entre a caixa dos documentos pra dar entrada e a caixa dos documentos pra dar saída. E como brilha aquele recipiente! É de cristal, sem dúvida. E tal material manufaturado certamente intensifica as cores das guloseimas lá abrigadas. Consigo, à boa distância, vislumbrar aquele brilho doce. Parece até um farol. De perto é possível focar o granulado alvo, os torrões cristalizados do açúcar usado naquelas bolotas aglutinativas... Vou pegar aquele potinho. Agora. Já! Não tem ninguém aqui na sala. Os cubículos estão vazios. Todos foram almoçar. Fui mais cedo. Acabei de chegar. E o potinho lá brilhando, reluzindo doces possibilidades... Peguei-o. É meu! Meu precioso. Desrosqueio a tampa lentamente; não faço barulho. O silêncio da sala é prazeroso e frio – o ar-condicionado, meu cúmplice, me refrigera os nervos. O pote está aberto, finalmente. Aromas almiscarados são, enfim, libertados. Tremo discretamente de ansiedade. Respiração agitada. Gemo de prazer, mesmo tentando contê-lo. Delicadamente apanho uma bala vermelha. Sua maciez é delirante, sua porosidade sacarídea me lembra o meu toque gentil dado recentemente nas coxas da estagiária novata... Delícia! Prazer concretizado. Sabor saboroso na minha saliva. Ah, como é bom atender minhas vontades. Ah, como é bom sair da rotina!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Super-borboleta!

Beleza diurna da primavera, também vagueia serelepe por aí nas noites boêmias de veraneio. Porém, poucos têm o privilégio de percebê-la. Ela é dada, mas não de graça! Há a necessidade, quase subordinativa, de exibir-lhe a arcada dentária. Ela aprecia dentes perolados, sorrisos sinceros. Preza dotes raros – virtudes masculinas de séculos passados. Adora rociar-se meigamente nas orelhas alheias, mantendo o pudor, claro, dando a dica sutil do que realmente tá querendo. E assim vai batendo suas asinhas no batente, após o expediente, até que suas curvas sinuosas, até que suas cores agulhadamente impressas penetrem a pupila dos olhos brilhantes de seus ditos algozes, amoitados na penumbra delirante. Borboleta curte mangar de suas vítimas, brincar, fazer cócegas. Diverte-se facilmente. Dança pelo ar até o dia clarear, até o sol resplandecer. O cóccix é a sua casucha, e somente quando o algodão negro a encobre completamente é que ela finalmente repousa suas pequenas asas. Bem, isso lá não dura muito tempo, pois a borboleta, a borboletinha, pra voar foi feita, a danadinha. E provoca: - Vem me pegar, mané!

sábado, 9 de outubro de 2010

Fragmentos do cotidiano (5)

- Mano, essa mina não larga do meu pé! Me liga todo dia, às vezes até à cobrar a desgraçada me liga. Não sei mais o que fazer com esse carrapato carente. Sério. Trato-a mui bem, sou mui cordial, simpático, bom ouvinte, e já deixei bem claro que não tô afim dela do mesmo jeito que ela tá afim de mim. Já disse-lhe: - Oh, fia, não dá. Não rola. Mas a danada é persistente, carente e determinada ao extremo! Ela é dois anos mais jovem que eu e, mesmo assim, suas atitudes se parecem mais com uma adolescente passional. Me disse que tem a Lua como sua ouvinte de cabeceira, diz tudo pra ela, abre-lhe o coraçãozinho ensangüentado. E eu cá indiferente, quase. Enquanto ela me diz, me confessa essas coisas, minha paciência diminui, minha preocupação cresce. Fico sem palavras. Temo por minha própria vida. Sério. Sei mui bem o que esse tipo de pessoa é capaz de fazer... Só que, diferentemente da Ismália do Alphonsus Guimarães, poema este que está lá grandiosamente exposto na estação Paraíso do Metrô (doce ironia macabra) ela, a perdidamente apaixonada, vai é me matar! Isso é óbvio. Tô lascado. Ela é vingativa, dá pra perceber só pelo jeito que ela fala. Ela muda de tom frequentemente numa conversa mais informal. Ela é bipolar! Isso mesmo. Por isso tenho fortes receios quanto a ela. O que devo fazer, meu chapa? Ser grosso? Ofendê-la diretamente? Já lhe dei umas indiretas, e ela as percebeu de cara, fiquei até sem graça. Ou será que devo ser cruel? Usar aquele corpinho rechonchudo, bronzeado, e de olhos castanhos nada castos pra satisfazer minha lascividade pulsante? Devo estuprar sua pachorra como se fosse uma cachorra no cio?!? Não sei se sou realmente capaz dessa atitude anti-heróica. Não sei... Ela não mora cá próximo, sabe, mora em outra cidade – ainda bem! E, na última vez que ela me ligou, disse-me que passará cá na minha cidade, cá no meu bairro, só pra me ver! Disse que está morrendo de saudades de mim. Acho que vou matá-la. Sério.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu sou mesário

Tenho a pachorra de fazer experiências, de pôr em prática idéias doidas que me vêem ao acaso. Por isso, quando vi o cartaz ‘Seja um Mesário Voluntário’, anos atrás, pensei: - Por que não? Essa última eleição foi a minha quinta, e haverá segundo turno, né (?), legal... Já trabalhei em duas sessões diferentes, mas numa só zona. O trabalho é tranqüilo, sem grandes desafios físicos ou intelectuais, os que dão dor de cabeça mesmo são os fiscais das coligações que lá pousam, querendo mostrar serviço e autoridade irreal. Alguns eleitores também dão dor de cabeça, aparece cada figura. Uns dizendo que votam naquela sessão, insistem, gritam e depois se tocam, vêem que estão enganados e saem bufando do recinto. Têm uns engraçadinhos querendo ‘causar’, pois estão com seus amiguinhos, e como todo dia de eleição é domingo, feriado, querem zoar o quanto puderem. E têm os bêbados. Sim, nessa última, por exemplo, pintou por lá, na minha sessão, uns três. O primeiro foi o mais extrovertido, cumprimentava todo mundo e soltava piadinhas sem-graça toda hora – um saco. Os outros dois se portaram com mais discrição, exalavam álcool, verdade, mas não mexiam com ninguém, ficaram na deles. Há também os analfabetos. O que dizer sobre isso? Eles são minoria, sim. Mas me causam preocupação, reflexões. Parecem tão frágeis, tão afoitos e tão fortes por estarem lá, diante da urna-eletrônica. Curioso: uns são tão carrancudos, outros tão maleáveis. E o que dizer então das digníssimas senhoras? Umas dão beijos em todo mundo, ti chamam de rapaz bonito, gato e tiram uma casquinha de você descaradamente. E tu ainda sorris, satisfeito e vexado. E outras, sobreviventes de um derrame recente, vão lá, na sessão, e te abraçam, logo que votam, auxiliadas por uma parenta sorridente. Isso é sensacional! Coisa que amanteiga cá a alma imortal, sabe?... Encontrar amigos, conhecidos da época do colégio é saudosismo puro! Revejo uns aí, sempre. E isso é mó legal. Batemos um papo rápido, agradabilíssimo e nos despedimos quase satisfeitos. Já quanto aos outros componentes da mesa receptora, os colegas de trabalho, o negócio é mais paliativo. Dependendo de você e da turma, dá até pra surgir uma amizade honesta, uma cumplicidade passageira dali. Mas tem vezes que não dá, não rola. Nessa última fui o Presidente, fui simpático, cúmplice, mas também banquei o chato, admito. Não adianta, eu sou assim, exigente eu sou, pois o trabalho que nós, mesários, realizamos lá é um trabalho sério. Garantimos a ordem, o sigilo do voto, exercemos a democracia afinal, não é mesmo? Pois então, aproveitando o ensejo, companheiras de trabalho (só tinha eu de homem na mesa e mais quatro mulheres!) aceitem minhas sinceras desculpas. Perdoem-me! Se eu as chateei, se eu as aborreci, não foi intencional, juro. Só quis ser competente, fazer tudo certinho, sem erros grosseiros. E a nossa mesa foi dez, convenhamos! Agilizamos tudo. Nossa sessão não teve filas por muito tempo, não. Só elogios, só elogios... Ah, quanto ao voto, o voto de mesário, bem, digamos que é uma rapidinha. Durante essa grande festa da democracia, é só o que dá pra fazer, entende?

sábado, 2 de outubro de 2010

Campanha de Castração

- Sei lá, meu velho, a campanha eleitoral de hoje tá uma zona só, entende? Os candidatos tão mui parecidos uns cos outros, não sei quem é o melhor, e se existe um melhor. Acho que vou votar no menos pior que tiver aí. Mas tão todos tão iguaizinhos, tão maçantes, tão assessorados, sabe? Eles não nos apresentaram algo autêntico nos debates televisivos aí vistos. Deu pra perceber que eles se planejaram bem, mas não vi espontaneidade, não vi serenidade, tampouco simpatia, que, hoje em dia se sabe, é essencial, quase coisa de decisão de turno, um candidato ter. Admito que estava otimista quanto a esta eleição. O país tá bem, tá se desenvolvendo, a economia cresce, dizem por aí. O nosso país é, finalmente, um país sério. E ainda será sede de grandes eventos esportivos e políticos daqui uns anos. Mas, o que ouvimos por aí nesses debates sem embates? As mesmas ladainhas, as mesmas coisas de sempre, e do mesmo jeitinho. Não sei você, mas eu queria ouvir novidades, queria ver criatividade, eu queria sentir serenidade quanto às questões atuais, mundiais. Não ouvi, não vi, nem senti nada assim. A política do nosso querido país virou um circo gratuito de péssima qualidade. Por isso foi tão indigesto acompanhar as eleições deste ano. E, agora, quando eu estiver frente a frente com a bendita urna-eletrônica, nem eu mesmo sei o que poderei fazer. Sinto-me perdido, decepcionado, desiludido. Parece até que arrancaram algo de mim aos poucos, pra não doer muito, algo que me mantinha otimista, animadinho, sabe? Perdi o ânimo. Será que esse era o plano deles, acabar com o nosso gosto pela Política?? Ou será que a Democracia virou um meio de consumo, um meio pelo qual uns ganham visibilidade (feroz), outros dinheiro (muito dinheiro) e nós, humildes cidadãos, mais e mais aporrinhações??? Tão é castrando a gente, isso sim! Tão castrando a nossa moralidade em nome da economia alheia. Eh isso, meu velho. E tu, o que achas?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O livro e suas múltiplas utilidades!

Realmente é fascinante o quanto um códice pode ser capaz de inúmeras funções. Por exemplo, dia desses presenciei duas cenas curiosas no metrô. Vamos à primeira. Sempre vi Bíblias de capa preta e letras douradas – BÍBLIA SAGRADA. Mas de capa rosa (choque) e de letras pretas, nunca! Fiquei perplexo. E a capa não era lisa, não. Era toda felpuda. Até fiquei em dúvida se o que a moça, era uma moça, linda moça, tinha no colo um livro ou um bichinho de pelúcia. E, o mais curioso, era que a capa combinava com a vestimenta dela! O livro (sagrado) virou acessório da moda. Visualize: tênis rosa, cinto rosa, livro rosa e tiara rosa. Um espetáculo! Imagino que ela deve ter um livro pra cada ocasião. Um livro certo pra festas, um bem básico, outro pra jantares, um bem provocante, outro pro dia-a-dia frenético da cidade grande, etc, etc. Agora, vamos à outra cena, a segunda, também testemunhada por mim no metrô. Já é de praxe ver leitores nesse transporte público. Tem sempre alguém lendo um livro ou algum impresso dentro da composição, sentado ou em pé mesmo. Vale mencionar também que têm uns doidos que lêem na escada-rolante e até enquanto andam pela rua! Na Avenida Paulista têm muitos. Já esbarrei em vários! Mas, voltando pro que vi recentemente. O que era? Bem, digamos que foi algo bem incomum mesmo. Nunca pensei em utilizar o livrinho que trago comigo como um aliviador de coceira. Nunca, em sã consciência, por mais incômoda que fosse a maldita coceira repentina, saquei do livrinho a mão pra me coçar. Pois bem, caro leitor, foi justamente o que vi, atônito. A moça - era outra moça - simplesmente suspendeu a leitura, acho que era um livro de auto-ajuda; bem, fechou-o com o marca página, claro, inclinou levemente o tronco pra frente e coçou-se freneticamente com o códice. Coçou a região traseira; as costas, pra ser mais claro e pra que o leitor mais malicioso não entenda errado. Eh, meu velho leitor, o livro de auto-ajuda realmente é de auto-ajuda! Fascinante. Coisas assim só por aqui mesmo. Testemunha também se diverte.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ociosidade

Diante dela ficamos perdidos, sem saber ao certo o que fazer. Repouso. Marasmo desgraçado. Perda de tempo. No desespero, tentamos imaginar algo que pode ser feito, que deve ser feito, mas está tudo bem, tudo em dia, no prazo, nada pendente. Competência demais tem conseqüências. Planejamento resolve tudo; bem, quase tudo, imprevistos acontecem – ainda bem! Mas e quando nem eles surgem, o que fazer então? Ler um jornalzinho gratuito? Legal, mas não há nenhum a mão – e são tantos por aí. Ler um bom livro? Bacana, mas todos estão em casa, você não trouxe um contigo hoje. Bater-papo? Não dá, os demais estão trabalhando e os chefes tão aí rondando, de olho no que você está fazendo e se você está realmente fazendo. Escrever? Sim! Tanto no micro quanto num caderninho, ou folha de papel por aí disponível, afinal, faz-se necessário manter o cérebro em atividade, e escrever é uma excelente! Tu aproveitas pra treinar tua caligrafia, que anda péssima. Ou desenvolver idéias, por mais insanas que elas possam parecer a princípio. Escrever ajuda a pensar, é fato. E é por isso que eu cá estou escrevendo, ou melhor, que eu escrevi o presente texto. Estou cá com a ociosidade no trabalho. Preferia estar com ela em casa, lá ela é produtiva, aqui, no trampo, é martírio, tédio. Entretanto, banco o otimista, estou tentando tornar a ociosidade produtiva cá no ambiente profissional também. Essa idéia soa empreendedora, mas já está ultrapassada, acho. Enfim, escrevo, escrevo, buscando idéias, diálogos comigo mesmo, e o que eu encontrei? Encontrei algo que me faz bem, encontrei a possibilidade imprevista, mas espontânea e por isso mesmo autêntica, de criar! E isso é saudável, pra mim e pra ti, caro leitor transeunte!

sábado, 25 de setembro de 2010

Bancando o Rubem Fonseca (ou parafraseando o Mário Bortolotto)

Abro os olhos lentamente. Percebo que já amanheceu – tá um puta sol lá fora. O lençol velho, que chamo de cortina, não consegue bloquear satisfatoriamente os raios ultravioletas, mas é o único troço que tenho pra usar como tal e, sabe, dá até um charme cá pro ambiente. Ah, estou só. Certamente a puta já escafedeu. Não a sinto cá no quarto. Não ouço aquele ronco desgraçado que só ela dá. Não sinto aquele odor azedo que ela insiste em me dizer que é “afrodisíaco”. Puta engraçadinha. Foi embora e levou consigo suas essências, além do meu dinheiro, claro. Puta mesquinha. Sento na lateral da cama, com dificuldade, meu corpo jovem dói, meus pés tocam o chão frio. Acendo um cigarro, o primeiro do dia. Trago-o com calma, com prazer, cada pitada é um deleite. Bem diferente quando traço aquela puta. Sou agressivo, ela gosta, toda mulher gosta, e tenho muito gosto em fazer desse jeito, em trepar desse jeito, com força e avidez. A boceta dela fica quente. A boceta dela é quente. Esse quarto tá quente. Merda! Tô suado. O pano de cama tá úmido, sujo, amarelado. A puta não lavou a porra dos cabelos. Desgraçada. Os travesseiros tão zoados, tão cheios de fiapos loiros ensebados. Eh, ela deixou provas, evidências de sua presença. Ah, foda-se. Amasso a bituca no cinzeiro velho da cômoda. Levanto. Vou ao banheiro. Merda! Puta-merda! A desgraçada defecou dessa vez. Merda! E não deu descarga. Merda! Comé que pode um cuzinho daquele expelir esses troços grossos?! Até a boceta dela é apertadinha, porra! Comé que pode?!? Pego aquela escovinha, aquele bagulho utilizado pra limpar o vaso. Amasso o monte de merda. Amasso... Quebro, esmigalho em pedacinhos... Amasso... Dou uma, duas, três descargas seguidas, mas aquela massa escura não desce, não some. Meu receio é: o troço entupir. Merda! A escovinha quebrou. Merda! Vou ter que enfiar a mão lá dentro. Olho fixamente pro vaso quase transbordando de fezes, urina, pêlos pubianos e pêlos plásticos – algumas cerdas da escovinha se soltaram. Olho praquilo uns bons minutos. Pego outro cigarro – em cada cômodo do apê há um maço à mão. Acendo-o. Trago-o lentamente, pachorradamente, cá mesmo no banheiro. Cheiro familiar. Curioso. Dou um sorrisinho. Cuspo a bituca no vaso fétido. E a observo. Ela fica lá boiando, rodopiando... até fixar-se num montinho de merda. Aquela bituca sou eu, ou parte de mim, algo assim. Eh, o jeito é enfiar a mão lá dentro mesmo. Empurrar com os dedos a merda dura da puta. E enfio quase o antebraço direito inteiro, duma vez, com o rosto de lado, claro. Retiro a metade da escovinha, assim que minha mão a sente, jogo-a pro lado do chuveiro. Mergulho a mão imunda no vaso novamente. Forço a merda naquele buraquinho. Tudo flui, enfim. Tudo quase limpo. Dou descarga. Tudo flui; só que, a bituca não. Ela some-se no buraco e depois volta, emerge, e fica lá boiando, rodopiando... e suja. E fico olhando aquela bituca suja boiando, rodopiando... em meio a brancura do vaso sanitário... e a minha mão direita cá suja, pingando merda alheia...

sábado, 18 de setembro de 2010

Protopoema

Quem pode me amparar? Ninguém.
Estou sozinho; e para sempre estarei.
Não há alguém para caminhar
ao meu lado. Sozinho. Rejeitado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

SSMS (35)

Humm... Veremos se antes do teu casório a gente se vê. Quem sabe na Despedida de Solteira, né verdade?! Mas, oh, ñ vou surgir de tanguinha preta dum bolo, hein!

SSMS (34)

Oi! Hoje, o clima resolveu se exibir segundo seu gosto sazonal predileto. Mas, se quiseres uma presença mais cálida, mais carnal, dê-me cá uma previsão!!! Bjos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Memórias, notas e idéias

- Eh, veja bem, se escrevo é mais para acalmar o meu espírito. Estou sempre irritado, incomodado com alguma coisa ou alguém; daí o adjetivo “perturbada” do subtítulo. Se escrevo é mais como uma terapia pautada, sabe? Quando escrevo, consigo me livrar das coisas que me atormentam e, assim, me acalmo, sossego o facho, e percebo melhor o que passa na minha cabeça inquieta. Escrever é um ato de redenção. Escrever me ajuda a descobrir coisas ocultas, me ajuda a tornar nítidas idéias imprecisas, vagas, embaçadas... Ao projetar minhas frustrações nas laudas pálidas desvendo o mistério que me cerca. E isso é muito prazeroso! É uma descoberta linear a cada palavra invocada. Assim, publico aqui tudo que me vem espontaneamente. E se qualifico minha mente de “tarada”, por favor, não me leve a mal, o “tarada” aqui é sinônimo de interessada, que denota atenção mesmo; significa também amalucada, anormal, desequilibrada, lunática. Me identifico com esses adjetivos, não sei bem porquê. O sentido vulgar, jocoso é mais um acidente semântico; não foi intencional, juro. Blog é assim mesmo. Expomos o que pensamos e esperamos que nossas idéias tenham ressonância, eco por aí afora. Na maioria das vezes só recebemos silêncio. Comentários são raros, pelo menos no meu é, e isso me incomoda. Careço de comentários. Quando há um fico em êxtase! Aprecio críticas e elogios. Devoro-os com avidez. É gratificante quando outro ser humanóide ti escreve, ti responde, afinal, tal prática, tal forma de carinho, demanda tempo, e de tempo, ultimamente, pouquíssimos usufruem. Daí o alto valor que lhe atribuo. Agora, voltando ao título deste post – Memórias, notas e idéias. Aqui, no blog, misturo minhas memórias com o presente que vivo. Quando a Inspiração surge por acaso ou quando caso a invoco desesperado, mesclo ficção com fatos. Todos os textos cá publicados são híbridos. Têm um pouco de mim mesmo e de outros por mim presenciados. É tudo inventado, mas com referências palpáveis, entende? Quanto às notas, tenho o hábito de ler – leio muito – e, acho bacana fazer referência a alguns textos que andei lendo. Publico trechos que acho interessantes para meus leitores vindouros. Por que trechos? Ora, hoje em dia se lê textos curtos, curtíssimos. Veja aí os microcontos e os textos do microblog fenômeno. O poder de síntese é algo essencial atualmente. Trabalha-se com limitações, o tempo à leitura ficou mais curto. O tempo é destinado a outras tarefas de cunho mais financeiro. Por isso publico trechos, por isso publico mensagens instantâneas (torpedos) que envio via aparelho portátil. Há um mundo de sentidos, de possibilidades por traz dessa literatura contemporânea! E eu estou acompanhando essa tendência, ou, ao menos, tentando acompanhar. Seguidores? Bem, no momento tenho três, não sei ao certo se eles me lêem com freqüência, mas, suas fotos estão aí, e tenho profunda estima por eles. Os que têm blog, eu os sigo. E tento comentar suas publicações semanalmente. Eh, comentar em blog alheio também é uma boa maneira de se promover e de se fazer boas descobertas, claro. Sigo poucos blogs, é verdade, mas leio todos! E só sigo blogs que me estimulam, me inspiram. Sou muito exigente quanto as minhas leituras periódicas. Aprecio bons textos, boas idéias. Tu tens aí uns e umas pra me recomendar?? –

sábado, 28 de agosto de 2010

Aquele C

Aquele C me atormenta.

Ele surge do nada enquanto eu leio. Ativa minha memória doída de propósito! Não tem pudor perante meu presente. Insiste em trazer mais ele meu primeiro grande arrependimento, dos tempos áureos e de monogamias admiráveis. Tive que romper. Era é o melhor a fazer. Não dava mais. Manigâncias demais. Muito egoísmo, nenhuma solidariedade, nenhuma empatia. E, agora, aquele C teimoso, atrevido, persistente... Fazer o quê então? Render-me? Retirá-lo de todos os tablados? Impossível!

Em cem ciclos celestes ele incidirá sobre mim, feito lua crescente. E minguarei. Enquanto cá cresce, cá infla até cheio ficar e me explodir! Carência nova é martírio. Carência é foda.

Caixa de saída (3)

“Fabíola”

Ora, ora, ora, mas se num é a saudosa Fabíola que surge de repente do nimbo do passado! Há quanto tempo, minha cara. Tudo bem contigo?

Bem, bem sei que o convite (Facebook) que tu me mandou é automático, coisa essa do automatismo atual, entretanto, aceito tal convite pra tentar reatar contato contigo. Lembra-se que nos conhecemos num chat? Acho que foi num da Globo.com... Lembra-se que trocamos e-mails depois? Lembra-se que trocamos telefones também? Conversávamos via e-mail e por telefone toda semana. Aliás, tu ainda moras próximo ao PARQUE IBIRAPUERA? Ainda passeia com o teu poodle? Ainda tens um irmão?

Puxa, mó saudade de tu! Há muito tempo perdemos contato. Há muitos anos, quer dizer. Precisamos voltar a papear. Seria bom saber como você tá. Saber o que andas aprontando... Teu estado civil não importa (muito)! O que prezo mesmo é a amizade, a estima, o interesse genuíno e casto, dependendo do caso.

Ah, nunca nos vimos pessoalmente, é verdade. Não sei quanto a ti, mas eu adoraria ti ver! Sentir tua presença física. Saber que tu és real, não ficção virtual, sabe? E pode ficar sossegada, não sou um tarado. Não vou ti agarrar feito afoito farrista. Um abraço bem apertado pode? E um beijo na bochecha direita, tá autorizado?

Fico no aguardo então.

Inté breve.

BRO

domingo, 22 de agosto de 2010

SSMS (33)

Oi... Sabe, hoje passei pela Av. Rebouças e bem em frente ao Shopp. Eldorado. E me lembrei de ti. Boas lembranças... Me liga, sim? Bjos!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Entre a Antônio Carlos e a Haddock Lobo

Sempre tive o hábito de reparar nas pessoas ao meu redor que degustam a digna refeição do meio dia. E, neste humilde restaurante, não poderia ser diferente. O ambiente tá cheio! O horário atrai os famintos por bons pratos e fartura. Foi difícil arranjar lugar pra um, pra mim. Enquanto cá me alimento e me hidrato, observo os demais almoçantes. Só vejo assalariados, funcionários das empresas adjacentes aproveitando a uma hora obrigatória para almoçar. Não vislumbro casais, apenas pequenos grupos mastigando apressadamente a comida escolhida. O papo deles é animado! E o movimento dos funcionários, que aqui trabalham, os garçons e as garçonetes, é frenético! Só param pra anotar o pedido do freguês. Somem-se na cozinha e só aparecem novamente com o prato fumegando aromas caseiros em suas mãos. É quase a visão do paraíso. Enquanto mastigo bem o meu pedido, o prato do dia, bife à role (delicioso!), vou bisbilhotando discretamente, às vezes descaradamente, essa gente. E, de repente, uma figura masculina ganha meu foco. É um senhor. Deve ter lá seu quase meio século. E está sozinho, como eu. Curioso. Curioso o jeito como ele come. Tá quase com a cara enfiada no prato, como Mamãe costuma dizer. E seus antebraços apoiados sobre a mesa; com a mão esquerda segura o prato, pela borda, e com a direita segura o garfo. Enquanto realiza o movimento do garfo pro prato, do prato o garfo cheio pra boca, fica olhando para os lados, assim, meio que desconfiado. Será que ele acha que tomar-lhe-ão a comida? Que a retirarão bem antes dele dar cabo dela? Estranho, mas os garçons e as garçonetes de cá costumam retirar a louça assim que a vêem vazia. Com isso parecem dizer, indiretamente (ou descaradamente?), pra tu ir embora logo, afinal, há mais gente faminta por aí que pode pagar pra se alimentar, e que necessitam se sentar. Não sei bem ao certo se é isso mesmo, contudo, continuo de olho no senhor, pois ele é mui parecido comigo! Como do mesmo jeito. Só que mantenho a postura, às vezes, pra não ficar com dor nas costas após a refeição, e não olho os demais com desconfiança não, e sim com curiosidade, interesse discreto e inocente. Continuo focado no figura, pois é quase como se estivesse olhando pra mim mesmo num futuro próximo, e possível. Ele é meio gordinho e simpático. Todo gordinho é simpático. E como já fui gordinho, mas mantive a simpatia intacta, suspeito que, mais velho, beirando o meio século, minha barriga recuperará destaque; infelizmente, é natural. Enquanto retorno de mais esse devaneio, percebo que o figura tá com os olhos fixos em mim. Ele não está mais mastigando, parece que já terminou. Fico surpreso e até um pouco desconcertado, pois ele tá me encarando; ninguém, até hoje, me encarou do jeito que ele está me encarando. Não quero confusão; assim, desvio meu olhar, mas, antes disso, percebo que seu olhar vai de desconfiado pra surpreso, de espantado pra enternecido em poucos segundos. Muito estranho. Tento me concentrar no meu prato. Contudo, tenho a impressão que ele se levantou, e vem em minha direção! Tento manter a calma. Expresso em meu rosto a serenidade forçada. De pé, bem à minha frente, ele pára. Olho-o de baixo, afinal, estou sentado. Enquanto levanto minha cabeça, lentamente, pra questioná-lo, fica perceptível um sorriso amigável em seus lábios. E ele diz, com voz grave e límpida: - Oi, meu filho. Baque.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Saramago para sempre

Bem sei que faz quase dois meses que o grande escritor português faleceu, contudo, nunca é tarde demais pra prestar, e deixar aqui registrado, uma singela homenagem a ele, não é verdade? Pois bem, ele conseguiu a proeza de ser (e ainda é) o meu escritor predileto. Todos têm um ou mais, assim como eu tenho mais uns, mas, por ele, e só por ele, sinto certa estima, sabe? E isso não foi logo de cara não! Lembro-me que o primeiro livro que li dele foi História do Cerco de Lisboa. Leitura da adolescência. Leitura difícil, a princípio. Todos acham isso quando o lêem, acho. Curioso. Seu estilo é inconfundivelmente confuso na primeira passadela de olhos. Um estilo mais apegado à oralidade do que à sintaxe. Por isso, depois de certo tempo dedicado às suas páginas, consegui, conseguimos compreende-lo muito bem! Aliás, taí um livro que merece ser relido. Não me alembro direito das duas estórias que nele há... Enfim, o segundo livro que li foi Memorial do Convento. Leitura de amadurecimento. Leitura acadêmica - li na faculdade. Leitura obrigatória, mas de particular deleite, e de fôlego! Às vezes inda vislumbro Blimunda mi bisbilhotando... Depois me caiu na mão As Intermitências da Morte. Livrinho de uma poética sinistra, mas graciosa. Foi a porta de entrada para sua suma característica literária: a alegoria. E esse é, segundo o amigo que o me recomendou, segundo o livreiro que o me vendeu, segundo outros leitores aí e segundo críticos acolá, o seu melhor livro. Dá pra acreditar? Considero o Ensaio Sobre a Cegueira um dos melhores. Saramago só tem bons livros! Saramago não tem o melhor livro, tem os melhores. Nesse, tive até que pausar, várias vezes, a minha leitura voraz. A cena das mulheres, em fila indiana, seguindo rumo a seus algozes, pra conseguir comida pra si e seus maridos, doía-me constantemente cá nas entranhas... Até hoje nenhum livro me provocou tamanho mal-estar. Li Ensaio Sobre a Lucidez, continuação desse, e também fiquei incomodado, mas mais com o final. Pobre mulher. Daí li A Viagem do Elefante. Livro engraçadinho. E triste: temos o nosso auge, mas acabamos sendo esquecidos, acabamos sozinhos a passos curtos rumo ao cemitério - a derradeira viagem. Depois vieram as leituras, seguidas, d’O Evangelho Segundo Jesus Cristo e do Caim. Jesus é outro cara pra mim! Tenho mais apreço por ele, e por Caim também, graças a Saramago! Um ateu convertendo outro!! Curioso. Deus e o Diabo são faces da mesma moeda. E, por fim, li O Conto da Ilha Desconhecida... O que dizer? Alegorias, humor, amor, Amor, tudo concentrado. Leitura de poucos minutos. Leitura prazerosa que fica pra vida inteira. Logo, para sempre Saramago.

Eh, tomei gosto pelo estilo e pela temática do Saramago. Devo ler os outros livros dele que ainda não li? Devo comprar esses livros? Devo agir feito aproveitador afoito, que nem umas bibliotecas e livrarias aí?!? Sim. Sim. Não. Devo manifestar aqui a minha admiração, o meu respeito; devo recomendá-lo sempre, como fiz e faço, e não devido à sua morte, pois Saramago é.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Rabinhos luminosos!

- O que é isso? Me larguem! Qual é a acusação? Lascividade, ora essa. Admirar a beleza alheia não é crime, é gosto, apreço pelo estético. Não sou tarado, sou esteta. Sou inocente e bem intencionado. Não tenho segundas intenções, vejam bem, e vejam aí afora, pô! São elas que provocam. São elas que sinalizam atenção constante. Ora, meus caros, vejam lá aquele rabinho. Vejam! Está protegido num jeans justo, apertadíssimo. Confessem, não dá uma baita vontade de apalpar? De dar umas palmadinhas? E vejam como brilha! Conforme o rabo rabeia parece até que pisca-pisca só pra gente; tipo, vaga-lumeando maliciosamente símbolos do infinito no ar, tanto de dia quanto à noite – uma loucura! Ficamos hipnotizados, admitam. Me larguem, vai, faz favor... Somos as vítimas. Elas são os nossos algozes. E quando calçam saltos, aí é pra nos torturar sem dó. Elas não têm misericórdia. Gostam, gozam-nos via provocação direta. E reagimos feitos patetas, feitos moscas-mortas, moscas-varejeiras atraídas pela luz. E, se encostamos naquelas bandas carnais, naturais, mas de luminosidade suspeita, artificial e acessória, não dá outra: perecemos instantaneamente. E com um sorriso satisfeito, sacana nos lábios. Quê?!? Não estou me contradizendo, apenas.. Ei!

domingo, 1 de agosto de 2010

Saudade(s) do Sol

Já faz um bom tempo que estou cá em resguardo nesta alcova úmida. Ainda estamos em pleno inverno, e o frio típico dessa estação ainda não se apresentou devidamente. Sei disso graças aos ecos dos demais que aqui se abrigaram. Eles estão mais próximos da superfície; preferem a luminosidade à vista, enquanto eu aprecio mesmo a escuridão total – é mais aconchegante, acho. Parece que o Sol anda se exibindo plenamente em pleno inverno. A sazonalidade anda irregular, segundo seus cochichos recentes. E, de repente, sinto um aperto cá no peito. Não é devido a minha enfermidade, ao contrário, é algo mais provocado por mim mesmo, é mais uma perfurada no passado áureo, é saudade, é saudade do Sol. Mas não de qualquer sol. Há muitos sóis lá fora. Sinto falta daquele de manhãzinha, que surge junto aos pássaros e daquele robusto, que chega agredindo-nos à tarde e daquele agonizante, choramingas, mas poético, que se rende toda à noite. Contudo, o Sol do qual sinto saudade demasiada é daquele que está sobre o Mar. Sol com sal: saudade(s). Ou simplesmente praia, como os outros o chamam. Sinto falta dos raios invisíveis tostando meus pelos, minha pele. Sinto falta do granulado pastoso sob meus pés... Sinto falta daquele som constante, oceânico, que quebra e junta a minha alma altaneira, aluada. Mas de qual praia sinto falta? Do Guarujá? Não. Lá quase me afoguei ainda pequenino. Da Praia do Náutico? Talvez, pois lá tomei vários caixotes e descobri que meu sotaque era engraçado, segundo moradores locais. Da Praia Grande? Talvez também, afinal, lá pude nadar à vontade e pude admirar as ondas turvas e as curvas adiposas que lá há em abundância. Eh, eu sinto falta dos prazeres que somente o Sol pode me mostrar, sem pudor e com descaramento justificável, admitido socialmente. Sinto falta das marquinhas alvas que poucos têm o privilégio de ver... Careço de bolinagem, de calor corpóreo, de calor celeste!!! Ah, é verdade, não agüento mais esta quarentena auto-imposta, este exílio forçado. Preciso sair daqui! Minha vida, minha saúde mental dependem disso. Cadê a luz, a radioatividade?!? Cadê os demais refugiados? Por que este silêncio derrepente? Outrora até os seus cochichos se amplificavam em ecos, agora só o silêncio se faz audível. Isso é assustador. Não é mais aconchegante, é atordoante. Serei o último sobrevivente? O que é isso que sinto escorrendo quente sobre minhas bochechas? É alcalino... São, são lágrimas! Sim... Sinto-me mais calmo, relaxado. Minha respiração se suavizou, sazonou-me. Sinto uma brisa. Estranho paradoxo: um refrigério interno, um calor externo. Uma salubridade... É o Sol cá no meu peito, crescente! É o Mar, envolvente! É a convalescença. É a minha ressurreição, finalmente.

domingo, 25 de julho de 2010

Citações avulsas (5)

“Mas, enfim, soou a hora em que as provações terrenas do Sr. Earnshaw terminaram. Morreu serenamente, numa tarde de outubro, em sua cadeira, junto ao fogo. Forte ventania soprava em redor da casa e rugia na chaminé, fazendo um barulho selvagem de tempestade. Não estava frio, porém.” p. 47

“(...) Os pobrezinhos consolavam-se mùtuamente com palavras que eu não seria capaz de encontrar. Nenhum pastor do mundo jamais pintou o céu tão belo como êles o faziam, na sua inocente tagarelice. E, enquanto escutava, soluçando, não podia deixar de desejar que todos nós um dia lá estivéssemos salvos e reunidos.” p. 48

“(...) Heathcliff levantou-se cedo e, como era dia feriado, foi matar seu mau humor passeando pelos pântanos. Só reapareceu quando a família partiu para a igreja. O jejum e a reflexão pareciam tê-lo deixado mais sereno.” p. 58

“(...) Assim êle nunca saberá como eu o amo. E isso não porque seja belo, Nelly, mas porque êle é mais eu do que eu mesma. Seja de que forem feitas nossas almas, a dêle e a minha são as mesmas e a de Linton é tão diferente como um raio de lua de um clarão, ou como a geada do fogo.” p. 81

“(...) Tentou pronunciar a palavra, mas não o conseguiu. De lábios cerrados, lutava em silêncio contra a angústia que o constrangia, desafiando ao mesmo tempo minha simpatia com um olhar fixo e feroz.” p. 159

“(...) E seus esforços redobravam à medida que a morte ameaçava com uma iminente derrota seus planos interesseiros e implacáveis.” p. 242

“Depois não se moveu, nem falou mais. Continuou, porém, a pousar sôbre ela aquêle olhar encantado e luminoso, até o momento em que seu pulso parou insensìvelmente e sua alma se evolou. Ninguém teria podido precisar a minuto exato de sua morte, tal a suavidade com que ela se deu.” p. 264

“Demorei-me entre elas, sob aquêle céu tão suave, olhando as mariposas que volitavam por entre as urzes e as campânulas, escutando a brisa ligeira que agitava a relva, e pensando como poderia alguém imaginar que tivessem um sono perturbado aquêles que dormiam naquela terra tranqüila.”p. 313

“O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë. São Paulo: Abril Cultural, 1971, 2ª ed. Tradução de Oscar Mendes.

terça-feira, 13 de julho de 2010

SSMS (32)

Bom dia! Mai tá difícil de falar contigo, hein?! Ti liguei o fds inteiro, e nada. Teu cel soh dava caixa postal, pô! Tu tá aprontando alguma... Bjos!

SSMS (31)

Oi! Espero q até o fim desta semana possamos ver 'Brilho de uma Paixão' ou 'Quincas Berro D'Água'. E, mais importante, q eu possa ti rever, finalmente!... Bjos.

domingo, 11 de julho de 2010

As quedas

Quem pega o EXPRESSO LESTE diariamente sabe: desmaios são comuns. Mas, se você, caro leitor leigo, não sabe, vou desde já informá-lo sobre uns casos. Tais fatos ocorrem na parte da manhã, no primeiro horário de pico (entre às seis e oito horas), quando a peãozada dos bairros dormitórios vão cansados e abatidos ao trabalho. As principais vítimas são as mulheres. Até a conclusão do presente texto, não tive conhecimento do mesmo envolvendo homens. Caso tu, leitor amigo, saibas de algum caso, por favor, comente cá abaixo. Voltando: as mulheres desmaiam e, curiosamente, são as mulheres de baixa estatura, popularmente, as baixinhas, que mais sofrem desse mal. E vou esboçar aqui a minha teoria desenvolvida in loco. Os vagões vêm e vão sempre abarrotados de gente. Lá as leis da física não se manifestam: bem mais de dois corpos ocupam o mesmo espaço (paráfrase de piada infame ouvida no local). Lá, a presença carnal alheia não só é sentida tactilmente, como também, certo asco e repugnância são desenvolvidos entre os usuários do transporte coletivo. O corpo de outrem, por mais delineado ou robusto que seja, é considerado uma carcaça incômoda, desprezível. Lá, tu ficas íntimo de alguém sem querer. E os baixinhos, as baixinhas, como já disse, são os que mais sofrem. Explico: dada a pressão forçada entre os corpos e a necessidade indispensável de se segurarem assim que adentram a composição, quase em desespero, pois, precisam garantir a própria integridade física e a pontualidade exemplar no trampo, os corpos de baixa estatura são obliterados pelos de porte médio e alto. Os baixos batem, mais ou menos, no peito desses. E como no trem, e em outros transportes públicos, há a necessidade de se segurar em algo, as axilas alheias são fatidicamente “a vista” diária dos baixinhos, das baixinhas. E, juntando a substância sudorípara que daí secreta, mais um agravante físico da vítima de baixa estatura, pressão baixa, por exemplo, ela, conseqüentemente, capota, cai envolta pelos gigantes assalariados... Carência de alimento também pode ser um agravante, afinal, muitas dessas vítimas madrugam e não se alimentam adequadamente. Outras nem sequer ingerem alimento algum; saem de suas casas em jejum para chegarem pontualmente ao trabalho. E, quando desmoronam entre a massa trabalhista, o que se deve fazer? Como agir?! Tu sabes? Aqui entramos num ponto delicado. Já presenciei muitos desmaios, infelizmente. E, confesso, não dá pra se fazer muito perante esses casos. No máximo, erguemos o corpinho inerte rapidamente e exigimos, desesperados, o assento mais próximo – só assim para a massa homogenia se mexer. Nós abanamos a desmaiada com o que tivermos em mãos; revista, livro, bíblia, boné... Outros dão pequenos tapinhas nas bochechas, com o intuito de fazer com que a vítima recupere a consciência logo. Outros, mais cívicos, gritam por ajuda aos funcionários da CPTM. Esses, teoricamente, pouco mais habilidosos, e com rádios em mãos, socorrem “melhor” tais vítimas. Aquelas cadeiras de rodas, espalhadas pelas plataformas das estações, são utilizadas especialmente para esses casos. Pena que o atendimento às vítimas demore um bocado... É um que fala com outro, que fala com outro até que um outro acolha a vítima desmaiada. Há exceções, claro. Mas são tão raras... E assim a desmaiada sai do caos, do vagão lotado, amparada por um de fora. Não sabemos pronde vai. E a que fica, amparada pelos seus iguais, também não sabemos como ficará, se estabelecerá, pois, nós, a massa, precisamos chegar ao trabalho no horário. Quem será a vítima de amanhã? Somos todos vítimas. Desmaiaremos algum dia. Amanhã talvez, de manhã.

sábado, 10 de julho de 2010

Mais um dia

Mais um dia. Já cá estou no escritório, sentado, esperando os despachos do dia, de mais um dia. Já superei o desrespeito do trem matutino, a impaciência do primeiro metrô e o comodismo do segundo. Todos os dias, de segunda à sexta-feira, pego esses transportes públicos. Todos os dias faço duas baldeações. Todos os dias desço, desembarco na Consolação, no Metrô Consolação, minha estação terminal. E todos os dias há pessoas lá sentadas, na estação, ouvindo música, lendo revista ou um bom livro – muitos preferem livros. Você já os viu, caro leitor? Se tu vieres do Paraíso, do Metrô Paraíso, dará de cara com esses seres assim que desceres da composição. Verás que eles estarão quase absortos em seus deleites pessoais. Digo quase, pois não dá pra não dar uma boa olhadela toda vez que um metrô pára na plataforma. Sempre vale a pena ver as pessoas que de lá descem. Cada tipo curioso... Enfim, esses seres, os que estão sentados, desembarcam lá muito cedo, é óbvio. Afinal, quem em sã consciência acordaria de madrugada para apenas ler um bom livro na estação do Metrô?Eles estão lá é aproveitando melhor o tempinho que sobra entre suas casas e o trabalho. Isso, é claro, não é algo cotidiano, é paliativo. Transporte público não é cem por cento garantido. Muitas vezes atrasa, dá problema, quebra no meio do caminho, raramente se adianta, tampouco supre nossas necessidades citadinas. Tu sabes bem. Por isso, nessas raridades temporais, é bom gozá-las da melhor forma possível. Entretanto, há aqueles que, conhecedores assíduos do transporte público da cidade, acordam bem mais cedo do que deveriam. Se de suas casas ao trabalho dá pouco mais de uma hora, procuram descontar meia do sono pra poder chegar lá no horário. Em suma, calculam duas horas da casa ao trabalho. Esses, precavidos são. E confesso que desses também sou. Pertenço ao clube dos pontuais. Clube exclusivo, para pouquíssimos deveras. E como há pouco assento na estação, quando lá chego, já não vejo lugar vago. Sou obrigado a passar direto. Não posso sacar o livrinho que trago na pasta. Sendo assim, vou direto ao trabalho para mais um dia de labuta. Chego sempre cedo, no horário. Meia hora antes. E não vou receber adicional por isso. É mais um dia.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Caixa de saída (1) e (2)

“Cadê?”

Oi, cara amiga! Tudo bem contigo? Espero que sim.

Sabe, estava cá pensando numas coisas... numas coisas que tu me deves... Lembra-se daquele saudoso dia em que fomos ao ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO? Pois então, esse passeio grupal foi há anos atrás e até hoje não vi as fotos que lá tirei do pessoal que foi! Isso é inaceitável. Não posso mais admitir tamanho descaso teu, cara amiga.

Por isso, aproveite que estás de férias e passe aqui em casa portando tais fotografias. Aliás, aproveite também para trazer os negativos dessas fotos e daquelas do PARQUE DO CARMO, as do BOSQUE DAS CEREJEIRAS, que eu tirei de você em 2004. Tá lembrada que eu as emprestei a você, né?

Bem, é isso, por enquanto.

Beijos pra tu e um forte e demorado abraço!!

Aguardo resposta.

Inté mais.

BRO

...

“Hibernar é a solução”

Sabe, minha cara, ando pensando numas coisas cá comigo... numas coisas relacionadas ao nosso relacionamento fraterno. É, veja bem, disse fraterno e não amoroso. Enfim, acho, desconfio que o nosso relacionamento fraterno anda capenga, coxo, na verdade. Se num relacionamento saudável, estimulante e sincero, caminhar lado a lado, sem tropeços e sem prumo é bom sinal de amizade e estima, mas, quando fica evidente um desnível, uma sombra manca e nítida, certamente, não é um bom sinal, mau agouro na certa! E isso vem acontecendo com a gente, com a nossa casta amizade, há muito tempo. Bem sei que tu és uma mulher ocupada, com compromissos a cumprir e com prioridades a zelar. Contudo, dado o meu último telefonema a ti (ontem), e muitos outros, e, esses, sempre com as mesmas desculpas doutro lado da linha, não vejo alternativa a não ser hibernar. Isso mesmo. Você, minha cara, leu bem, hibernar. Ficarei um bom tempo (muito tempo) sem me comunicar contigo. Não agüento mais ser rejeitado, deixado de lado como um carrapato. Se minha companhia não é bem-vinda, tampouco necessária em sua vida citadina, creio ser melhor me isolar de vez de você, me esterilizar de forma paliativa.

Hibernar é a solução para dar cabo de meus tormentos afetivos.

É isso. Inté um dia adiante, minha cara.

Não aguardo resposta.

BRO

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SSMS (30)

Trabalhos, baladas e namorado, tua vida anda mui agitada ultimamente, contudo, lembre-se de algo sui generis: minha eterna amizade. Tu a andas negligenciando...

SSMS (29)

Dei, recentemente, teu nome, sobrenome e telefone como referência de meus préstimos. Agi corretamente ou ‘dei com meus burros n’água’?? Tua opinião me salvará!

SSMS (28)

Curioso: mal comecei a trabalhar no Alto Augusta, ganhando pouco, e surge uma boa OPORTUNIDADE de trabalhar no Baixo Augusta, ganhando mais. Dilema: o q faço?!?

Tormentos diários

Às vezes gostaria de ser cego, literalmente. Com meus vinte e poucos anos, sou atormentado diariamente por desejos libidinosos. Basta passar um rabinho feminino bonitinho, empinadinho e redondinho diante dos meus olhos, pra eu ficar todo eriçado, animadinho e sorridente. Não consigo evitar, sabe? É automático. Capto um corpo curvilíneo e vistoso próximo ou à distância e pronto, fico lá, parado, que nem besta, babando, vidrado nas características típicas do Segundo Sexo. E por acreditar que toda mulher tem uma beleza que lhe é peculiar, fico atordoado. Atento-me nas particularidades de cada fêmea que me aparece. Aprecio seios generosos e modestos. Deleito-me com uma arcada dentária alva e fácil – exibindo-se espontaneamente na rua. Entorpeço-me envolto de xampus, cremes e perfumes afrodisíacos no transporte público – o contato, a proximidade é inevitável. Fico embriagado. Não conseguiria escapar, ignorar mesmo se eu quisesse. Pensar em outra coisa? Impossível! Estou cercado, encurralado, acuado, impossibilitado de esboçar alguma reação viril. Sinto-me a caça, não mais o caçador. Ainda tenho a “lança”, ferramenta pra espetar, perfurar, penetrar... Contudo, o receio existe, persiste. Sinto que vou ser capado, castrado assim que decidir agir. Sinto-me impotente, em constante convalescença... Ah! Como eu gostaria de ser cego, literalmente, pra não mais cobiçar, me apaixonar.

domingo, 23 de maio de 2010

Revelações

Ela surge derrepente, exibindo de forma atrevida suas asinhas prateadas reluzentes. Conforme caminha, nesta terra profana, seu par de asas tremeluz constantemente; fico deslumbrado, atraído. Mas, tal divindade celeste, não é puro-sangue, é híbrida. Suas pernas generosas são negras; de um negro envernizado e convidativo. Apalpá-las eu adoraria. Contudo, não posso, e nem devo, pois, esse anjo provocativo, não aceita abordagens, apenas curti revelar-se, interpor-se no caminho aprazível de uma alma caridosa. E quando ela desaparece de repente, é aí então que me perco. Acabo perambulando a esmo pelas aléias torpes da cidadela, procurando o mesmo par de asas, o mesmo par de pernas, mas só encontro harpias, esfinges, galinhas.

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Minha Mãe é a minha melhor referência.

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Máxima feminina no metrô: “tem vezes que a gente sente Tesão e tem vezes que a gente sente vontade.”

Citações avulsas (4)

“Pensa-se que memória é a faculdade que nos permite lembrar de fatos e coisas do passado; ter memória é ser capaz de evocar o que já ocorreu e se foi. Mas acabo de perceber que não é só isso: a memória é constitutiva do presente, é parte dele.”

“... é próprio dos poetas descobrirem o que já sabemos, mas esquecemos ou não lhe demos a devida importância.”

“O poeta é aquele cara que se surpreende com o óbvio e, ao fazê-lo, torna-o surpreendente, pelo menos para si mesmo.”

“(...) E ainda: a memória não apenas nos permite fazer por já sabermos como nos ajuda a descobrir novos modos de fazer, corrigindo o sabido, e assim engendra o futuro.”

“Suponhamos que vou escrever um poema que, porque ainda não o escrevi, não sei como será: estou entregue ao jogo do acaso e da necessidade. O tema é o sorriso da moça que vi na rua, há pouco, e de que me lembro ainda; é, portanto, memória, passado, mas o poema por fazer é o futuro – futuro que, sem o sorriso lembrado, jamais seria inventado.”

“A vida é também lembrar sem se dar conta disso.”

“A memória me permite inventar o futuro de que me lembrarei, como passado, futuramente.”

Fonte:

GULLAR, Ferreira. Surto filosófico. Folha de S. Paulo. Ilustrada de domingo, 16 de maio de 2010, E10.

domingo, 16 de maio de 2010

Pendrive, Feridas e Cartõezinhos

Pendrive: perdi tudo! Até eu mesmo. Espetei em porta USB alheia e mi fudi.

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Cutuco minhas feridas enquanto teclo. As casquinhas protetoras jogo fora, ao vento, ao léu. O sangue enferrujado que daí escorre, abundantemente, acentua a corado das pontas dos meus dedos. O teclado fica todo manchado. Cada letra, cada ponto e cada acento têm sua porção de sangue – meu sangue! Meu sangue oxidado borra o grafismo plano do tablado plástico. Às vezes não distingo a que cada tecla se corresponde. Fico confuso, me perco nas pequenas superfícies ásperas, outrora lisas, escorregadias... As nódoas não têm dó. Mas, graças a outro tipo de secreção corpórea, consigo, finalmente, reconhecer os caracteres que quero registrar. O suor é o meu desinfetante. Essa substância incolor, salgada e nidorosa é o que tenho de mais vital, agora.

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Os cartõezinhos têm cara e arcada alva. Por isso, careço de mais cuidado ao cortá-los.

domingo, 9 de maio de 2010

Homenagem às Minhas Amigas-Mamães

São Paulo, 09 de maio de 2010


Aos Meus Contatos do Sexo Feminino


Minhas Amigas-Mamães:


Não poderia me esquecer de prestar a devida homenagem a vocês nesta data tão celebrada que é o Dia das Mães.

Por isso, aceitem aí meus sinceros parabéns, madres caríssimas!

Contudo, meus parabéns não são suficientes; faz-se necessário esmiuçar minhas sinceras felicitações. Preciso expor, descaradamente, mas com certo pudor, minha admiração por vocês. Vamos lá então.

Admiro a perseverança quase xiita que vocês empregam diariamente no trabalho; o punho firme feminino é, sem dúvida, a razão do progresso que estamos presenciando. Admiro também a firmeza aliada ao carinho na criação da prole. Essas criaturinhas serão seres humanos maravilhosos graças a vocês, mães zelosas e vistosas! E, se “ser mãe é padecer no paraíso”, vocês certamente demonstram isso com muito orgulho e despudor. Fazem com que eu, mero fã, fique encantado, deslumbrado e bobo diante de tamanha beleza naturalmente feminina. Seus corpos podem ser aparentemente frágeis, mas comportam uma alma imensa, que não cabe no corpo sinuoso e macio, e tal dádiva celeste é sutilmente perceptível quando vocês sorriem um sorriso perolado hipnotizante e quando os olhos seus, marejados, tremeluzem numa manhã de sol... Vocês exibem uma bela arcada dentária, vertem cálidas lágrimas e continuam deslumbrantes, atraentes, deusas, magníficas mamães!

Admiro-as tanto que filho de vocês gostaria de ser. Posso ser um reles amigo, mas fui muito bem tratado por vocês, e as agradeço por isso. Testemunhei seus carinhos, suas conquistas e suas broncas, picuinhas... Acredito que toda mulher é uma mãe, e o que a faz lidar de um modo com um “filho” e de outro modo com “outro” tem haver com o nível de afeto. Sim, toda mãe tem seus prediletos! Não adianta replicar, bem sei. No entanto, o afago materno é formidável, convenhamos, e vocês o esbanjam. Sou um privilegiado, pois pude saborear um bocadinho da carestia, da caridade de vocês, minhas caras amigas-mamães.

Aceitem aí também um forte e demorado abraço e um beijo casto na face - prova cabal do apreço que um filho sente verdadeiramente pela sua Mãe. O beijo filial é a recompensa máxima para uma Mãe inesquecível.


Cordialmente,


Bruno Rodrigues de Oliveira


P. S.: E quanto a você, minha cara, que recebeu este e-mail, mas num tem (ainda) um primogênito se quer, não o estranhe, pois, como disse acima, tu já és uma Mãe! Uma Mamãe formosa e estonteante. Acredite.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

SSMS (27)

Mesmo tu estando aí, ainda sinto teu cheiro cá perfumando minhas roupas. Assim, tu ñ estas aí sozinha, mas sim cá comigo, bem juntinho; inté q o perfume dure...

SSMS (26)

Fumando?!? Mai q coisa feia... Tu ñ precisas de cigarro. Há tanta coisa por aí q pode ti fazer relaxar. Eu, por ex., posso até ti estressar, mas tbm ti acalmo!!

sábado, 17 de abril de 2010

SSMS (25)

Ai, ai... Qndo finalmente verei tuas modificações estéticas, hein?!? Ai, ai... Ainda morro de curiosidade, e vontade!... Bjos e mais bjos procê.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Citações avulsas (3)

“A minha idéia era ir levando os cabras a se acostumarem na luta, porque da luta é que ia sair o nosso pão de cada dia. Tinha muito com quem se brigar nesse mundo afora – porque eu já estava convencida de que, nesta vida, quem não briga pelo que quer, se acaba.” p. 121

“(...) O homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o qual só há pior no inferno, é a gente recordar. Lembrança que vem de repente e ataca como uma pontada debaixo das costelas, ali onde se diz que fica o coração.” p. 188

“(...) A gente por onde anda cria amor e desamor, e vai deixando atrás de si aqueles pedaços de coração. Bem-querer ou ódio.” p. 280

“Falam que o tempo apaga tudo – é mais um modo de dizer. Tempo não apaga, tempo só adormece, mas quando desperta de novo é aquele febrão violento, com frio e dor de cabeça.” p. 466

Fonte:

QUEIROZ, Rachel de. Memorial de Maria Moura. São Paulo: Siciliano, 1992.