domingo, 31 de outubro de 2010

SSMS (37)

Se eu continuar nesta UTI, meu óbito é garantido, e soh sairei daqui pro IML. Careço urgentemente de um leito, da tua alcova! Hoje à noite tem vaga?! Salve-me!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

SSMS (36)

Pro Paraná tu ñ devias ter ido, pra cá pra casa tu devias ter vindo. Pra lá tá sempre frio, pra cá tá sempre quente. Contente ñ fiquei, e tu ficaste? Riu? Buei.

Caixa de saída (4)

“Antônia”

Olá, cara Antônia!

E aí, mulher, comé que tu tá?

Puxa, faz mó tempão que a gente não se fala, que nós não nos correspondemos, não é mesmo? Deixamos de freqüentar a mesma academia, deixamos de transpirar juntinhos (desculpe-me desde já a gracinha) faz é meses e, ainda assim, mantivemos contato. Um contato tímido, é verdade, mesmo assim, um contato honesto, simpático e agradável. Entretanto, não trocamos recadinhos há uns bons meses. Tá certo que há uns bons meses eu não acesso o ORKUT. Praticamente abandonei-o. Mas você bem que poderia ter me enviado um e-mail ao menos, né não? Pôxa vida, mó saudade de tu. Sério. Apreciava pra caramba os nossos papos curtos, ligeiramente insanos até. Temos que voltar à atividade, à pro-atividade, minha filha!

Você anda muito ocupada? Será mesmo que não dá pra dar uma saidinha? Bem que poderíamos combinar pra bater um papo, bebermos um chope, ou uma cervejinha, ou uma água com gás mesmo, depois dos nossos expedientes, que tal? Por que não? Garanto o bom-humor. Pense bem a respeito, sim? Prezo tua amizade e tua presença física também, claro.

Eh isso. Fico no aguardo então das tuas respostas.

Beijo na bochecha direita e um forte abraço aí procê.

BRO

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tentações sobre a mesa

Ah, a rotina no escritório! Coisa vulgar, torpe, mas ao mesmo tempo instigante e até deliciosa. Coisa curiosa é perceber o que cada colega de sala, o que cada colega ao lado põe, deposita sobre sua mesinha de trabalho diário. Além, é claro, da papelada obrigatória, do trabalhinho burocrático, há coisinhas particulares que merecem uns minutinhos de boa observação. Cada colega têm um porta-treco diferente, e cada um o enfeita a seu gosto. Marcação de território, talvez. Exposição da própria identidade. Fora os adesivos e os recadinhos pra si mesmos que eles colam em derredor do monitor led. Cá pra nós, tem umas telas aí que mais parecem girassóis de tantos papeizinhos aí colados. E, ao longo do dia, a pobre “flor” é desfolhada, mutilada paulatinamente pra no dia seguinte ser recomposta, logo de manhãzinha; e assim é todo o dia, toda semana, todo mês, todo ano. Fotografias ainda são comuns ver sobre as mesas de escritório, é clássico, algo saudosista, digamos, pois, nesta Era do Cristal-Líquido, onde fotos são vistas graças à energia elétrica, porta-retratos de madeira (ou mesmo de acrílico) são artigos antigos, praticamente coisa pra colecionadores esquisitos. Geralmente são fotos da família – da(o) esposa / esposo e dos filhos, ou da filha, ou do filho. Raro é ver fotos da namorada ou do namorado, dependendo do caso, ou do acaso. Por que será? O dono ou dona da mesa não quer olhos cobiçosos sobre o que lhe é tão estimado, querido e imprescindível? Talvez. Provavelmente. Mas, tais olhos, são inevitáveis. Ainda mais inevitáveis quando há, sobre a mesa de trabalho, um singelo e transparente potinho cheio de balas coloridas. Quem, em sã consciência, é capaz de tamanha maldade? Bem, o meu colega do cubículo ao lado é. E por que ele é mau? Veja bem, entenda, a porra do potinho é transparente! Comé que o cara tem a moral de colocar cá ao meu lado um potinho transparente cheio de balas?! É uma tentação constante. E se eu fosse diabético, hein? Seria uma tortura diária. E o pior é que todo dia quando chego, e todo dia quando vou-me embora, o potinho tá cheio! O desgraçado o reabastece todo dia. Assim num dá. E ele, o cara cá do meu lado, nunca, nesses cinco anos, nunca ofereceu as balinhas a mim. Pra ninguém, pô! E o potinho fica lá, sobre a mesa, e sempre no mesmo lugar, entre a caixa dos documentos pra dar entrada e a caixa dos documentos pra dar saída. E como brilha aquele recipiente! É de cristal, sem dúvida. E tal material manufaturado certamente intensifica as cores das guloseimas lá abrigadas. Consigo, à boa distância, vislumbrar aquele brilho doce. Parece até um farol. De perto é possível focar o granulado alvo, os torrões cristalizados do açúcar usado naquelas bolotas aglutinativas... Vou pegar aquele potinho. Agora. Já! Não tem ninguém aqui na sala. Os cubículos estão vazios. Todos foram almoçar. Fui mais cedo. Acabei de chegar. E o potinho lá brilhando, reluzindo doces possibilidades... Peguei-o. É meu! Meu precioso. Desrosqueio a tampa lentamente; não faço barulho. O silêncio da sala é prazeroso e frio – o ar-condicionado, meu cúmplice, me refrigera os nervos. O pote está aberto, finalmente. Aromas almiscarados são, enfim, libertados. Tremo discretamente de ansiedade. Respiração agitada. Gemo de prazer, mesmo tentando contê-lo. Delicadamente apanho uma bala vermelha. Sua maciez é delirante, sua porosidade sacarídea me lembra o meu toque gentil dado recentemente nas coxas da estagiária novata... Delícia! Prazer concretizado. Sabor saboroso na minha saliva. Ah, como é bom atender minhas vontades. Ah, como é bom sair da rotina!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Super-borboleta!

Beleza diurna da primavera, também vagueia serelepe por aí nas noites boêmias de veraneio. Porém, poucos têm o privilégio de percebê-la. Ela é dada, mas não de graça! Há a necessidade, quase subordinativa, de exibir-lhe a arcada dentária. Ela aprecia dentes perolados, sorrisos sinceros. Preza dotes raros – virtudes masculinas de séculos passados. Adora rociar-se meigamente nas orelhas alheias, mantendo o pudor, claro, dando a dica sutil do que realmente tá querendo. E assim vai batendo suas asinhas no batente, após o expediente, até que suas curvas sinuosas, até que suas cores agulhadamente impressas penetrem a pupila dos olhos brilhantes de seus ditos algozes, amoitados na penumbra delirante. Borboleta curte mangar de suas vítimas, brincar, fazer cócegas. Diverte-se facilmente. Dança pelo ar até o dia clarear, até o sol resplandecer. O cóccix é a sua casucha, e somente quando o algodão negro a encobre completamente é que ela finalmente repousa suas pequenas asas. Bem, isso lá não dura muito tempo, pois a borboleta, a borboletinha, pra voar foi feita, a danadinha. E provoca: - Vem me pegar, mané!

sábado, 9 de outubro de 2010

Fragmentos do cotidiano (5)

- Mano, essa mina não larga do meu pé! Me liga todo dia, às vezes até à cobrar a desgraçada me liga. Não sei mais o que fazer com esse carrapato carente. Sério. Trato-a mui bem, sou mui cordial, simpático, bom ouvinte, e já deixei bem claro que não tô afim dela do mesmo jeito que ela tá afim de mim. Já disse-lhe: - Oh, fia, não dá. Não rola. Mas a danada é persistente, carente e determinada ao extremo! Ela é dois anos mais jovem que eu e, mesmo assim, suas atitudes se parecem mais com uma adolescente passional. Me disse que tem a Lua como sua ouvinte de cabeceira, diz tudo pra ela, abre-lhe o coraçãozinho ensangüentado. E eu cá indiferente, quase. Enquanto ela me diz, me confessa essas coisas, minha paciência diminui, minha preocupação cresce. Fico sem palavras. Temo por minha própria vida. Sério. Sei mui bem o que esse tipo de pessoa é capaz de fazer... Só que, diferentemente da Ismália do Alphonsus Guimarães, poema este que está lá grandiosamente exposto na estação Paraíso do Metrô (doce ironia macabra) ela, a perdidamente apaixonada, vai é me matar! Isso é óbvio. Tô lascado. Ela é vingativa, dá pra perceber só pelo jeito que ela fala. Ela muda de tom frequentemente numa conversa mais informal. Ela é bipolar! Isso mesmo. Por isso tenho fortes receios quanto a ela. O que devo fazer, meu chapa? Ser grosso? Ofendê-la diretamente? Já lhe dei umas indiretas, e ela as percebeu de cara, fiquei até sem graça. Ou será que devo ser cruel? Usar aquele corpinho rechonchudo, bronzeado, e de olhos castanhos nada castos pra satisfazer minha lascividade pulsante? Devo estuprar sua pachorra como se fosse uma cachorra no cio?!? Não sei se sou realmente capaz dessa atitude anti-heróica. Não sei... Ela não mora cá próximo, sabe, mora em outra cidade – ainda bem! E, na última vez que ela me ligou, disse-me que passará cá na minha cidade, cá no meu bairro, só pra me ver! Disse que está morrendo de saudades de mim. Acho que vou matá-la. Sério.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu sou mesário

Tenho a pachorra de fazer experiências, de pôr em prática idéias doidas que me vêem ao acaso. Por isso, quando vi o cartaz ‘Seja um Mesário Voluntário’, anos atrás, pensei: - Por que não? Essa última eleição foi a minha quinta, e haverá segundo turno, né (?), legal... Já trabalhei em duas sessões diferentes, mas numa só zona. O trabalho é tranqüilo, sem grandes desafios físicos ou intelectuais, os que dão dor de cabeça mesmo são os fiscais das coligações que lá pousam, querendo mostrar serviço e autoridade irreal. Alguns eleitores também dão dor de cabeça, aparece cada figura. Uns dizendo que votam naquela sessão, insistem, gritam e depois se tocam, vêem que estão enganados e saem bufando do recinto. Têm uns engraçadinhos querendo ‘causar’, pois estão com seus amiguinhos, e como todo dia de eleição é domingo, feriado, querem zoar o quanto puderem. E têm os bêbados. Sim, nessa última, por exemplo, pintou por lá, na minha sessão, uns três. O primeiro foi o mais extrovertido, cumprimentava todo mundo e soltava piadinhas sem-graça toda hora – um saco. Os outros dois se portaram com mais discrição, exalavam álcool, verdade, mas não mexiam com ninguém, ficaram na deles. Há também os analfabetos. O que dizer sobre isso? Eles são minoria, sim. Mas me causam preocupação, reflexões. Parecem tão frágeis, tão afoitos e tão fortes por estarem lá, diante da urna-eletrônica. Curioso: uns são tão carrancudos, outros tão maleáveis. E o que dizer então das digníssimas senhoras? Umas dão beijos em todo mundo, ti chamam de rapaz bonito, gato e tiram uma casquinha de você descaradamente. E tu ainda sorris, satisfeito e vexado. E outras, sobreviventes de um derrame recente, vão lá, na sessão, e te abraçam, logo que votam, auxiliadas por uma parenta sorridente. Isso é sensacional! Coisa que amanteiga cá a alma imortal, sabe?... Encontrar amigos, conhecidos da época do colégio é saudosismo puro! Revejo uns aí, sempre. E isso é mó legal. Batemos um papo rápido, agradabilíssimo e nos despedimos quase satisfeitos. Já quanto aos outros componentes da mesa receptora, os colegas de trabalho, o negócio é mais paliativo. Dependendo de você e da turma, dá até pra surgir uma amizade honesta, uma cumplicidade passageira dali. Mas tem vezes que não dá, não rola. Nessa última fui o Presidente, fui simpático, cúmplice, mas também banquei o chato, admito. Não adianta, eu sou assim, exigente eu sou, pois o trabalho que nós, mesários, realizamos lá é um trabalho sério. Garantimos a ordem, o sigilo do voto, exercemos a democracia afinal, não é mesmo? Pois então, aproveitando o ensejo, companheiras de trabalho (só tinha eu de homem na mesa e mais quatro mulheres!) aceitem minhas sinceras desculpas. Perdoem-me! Se eu as chateei, se eu as aborreci, não foi intencional, juro. Só quis ser competente, fazer tudo certinho, sem erros grosseiros. E a nossa mesa foi dez, convenhamos! Agilizamos tudo. Nossa sessão não teve filas por muito tempo, não. Só elogios, só elogios... Ah, quanto ao voto, o voto de mesário, bem, digamos que é uma rapidinha. Durante essa grande festa da democracia, é só o que dá pra fazer, entende?

sábado, 2 de outubro de 2010

Campanha de Castração

- Sei lá, meu velho, a campanha eleitoral de hoje tá uma zona só, entende? Os candidatos tão mui parecidos uns cos outros, não sei quem é o melhor, e se existe um melhor. Acho que vou votar no menos pior que tiver aí. Mas tão todos tão iguaizinhos, tão maçantes, tão assessorados, sabe? Eles não nos apresentaram algo autêntico nos debates televisivos aí vistos. Deu pra perceber que eles se planejaram bem, mas não vi espontaneidade, não vi serenidade, tampouco simpatia, que, hoje em dia se sabe, é essencial, quase coisa de decisão de turno, um candidato ter. Admito que estava otimista quanto a esta eleição. O país tá bem, tá se desenvolvendo, a economia cresce, dizem por aí. O nosso país é, finalmente, um país sério. E ainda será sede de grandes eventos esportivos e políticos daqui uns anos. Mas, o que ouvimos por aí nesses debates sem embates? As mesmas ladainhas, as mesmas coisas de sempre, e do mesmo jeitinho. Não sei você, mas eu queria ouvir novidades, queria ver criatividade, eu queria sentir serenidade quanto às questões atuais, mundiais. Não ouvi, não vi, nem senti nada assim. A política do nosso querido país virou um circo gratuito de péssima qualidade. Por isso foi tão indigesto acompanhar as eleições deste ano. E, agora, quando eu estiver frente a frente com a bendita urna-eletrônica, nem eu mesmo sei o que poderei fazer. Sinto-me perdido, decepcionado, desiludido. Parece até que arrancaram algo de mim aos poucos, pra não doer muito, algo que me mantinha otimista, animadinho, sabe? Perdi o ânimo. Será que esse era o plano deles, acabar com o nosso gosto pela Política?? Ou será que a Democracia virou um meio de consumo, um meio pelo qual uns ganham visibilidade (feroz), outros dinheiro (muito dinheiro) e nós, humildes cidadãos, mais e mais aporrinhações??? Tão é castrando a gente, isso sim! Tão castrando a nossa moralidade em nome da economia alheia. Eh isso, meu velho. E tu, o que achas?