terça-feira, 23 de março de 2010

SSMS (24)

Eh, to vendo q tuas férias já já acabarão e tu nem darás as caras cá em casa... Por q tu tens medo de mim? Sempre ti tratei tão bem, tão carinhosamente. Bjos!

SSMS (23)

Não adianta, meu GPS não te encontra. Das duas uma: ou o chip queimou ou vc o encontrou e o destruiu. Por isso, envio esse SMS. Cadê vc, Paixão? Não suma! Bjo.

segunda-feira, 22 de março de 2010

SSMS (22)

Adoro qndo vc banca a ciumenta! Ai, ai... Eu estava com uma baita saudade desse seu humor. Adoro ti provocar! E sei mui bem q vc gosta disso. Bjos!

SSMS (21)

Ah, ñ adianta nada, ñ consigo me esquecer de vc. E esse seu descaso, soh faz com q eu sinta mais e mais saudades d’oce! Por q tu ñ respondes minhas msgs? Bjos.

domingo, 21 de março de 2010

Miniensaio (1)

“Quem não vai pra rua, não vê Deus”, disse, dia desses, uma vizinha cá do bairro. Ela disse isso pra uma comadre dela, pois pra mim não foi – eu estava é do lado das duas, ouvindo conversa alheia... Tenho esse hábito detestável, mas discreto e dócil, convenhamos. Tal máxima me deixou instigado, por isso a reproduzi imediatamente no meu bloquinho de notas do meu celular, assim que a ouvi. Esses aparelhinhos até que são úteis! Pois bem, anotado, ficou lá salvo durante um bom tempo, contudo, vejo (agora) a necessidade de comentá-la cá neste espaço virtual. Afinal, manter publicações interessantes é fundamental, certo? Então, considero essa modesta, aparentemente, máxima digna de desdobramento intelectual, pois, a rua, como tu, caro leitor, bem sabes, é o símbolo da perdição. Lendo o livro História social da criança abandonada, percebemos essa analogia. Basta que eu diga “menor abandonado”, “morador de rua”, “mulher da rua”, “vivi na rua, aquele traste!”, pra tu entenderes direitinho o que eu estou querendo dizer. Tais termos discriminativos ganham ressonância semântica pejorativa, graças ao substantivo feminino “rua” implícito ou explicitado nas composições acima. Reconheço que é mui delicado utilizar esses termos acadêmicos, mas é isso mesmo. Rua, nas simplificações apresentadas anteriormente, tem carga semântica negativa, depreciativa. Porém, na máxima popular aqui analisada, não é bem assim, não. “Quem não vai pra rua”, ou seja, quem não sai de casa, quem vive enfurnado, “não vê Deus”. Rua é vida e vida é Deus, nesse caso. Dá pra entender? Aqui há resquícios daquela velha doutrina franciscana de que Deus se reflete nos pobres, nos que são simples, sabes? Enfim, Deus está na rua, no meio da rua (por que não?), em meio a seus filhos, suas criações finais, e quem não dá as caras por lá, não o vê, não o olha diante de si em plena essência divina. Mas, se a rua é símbolo da perdição: o que Deus está fazendo lá?! Estará perdido ou de passagem?? Irá visitar algum amigo, afinal, Ele conhece tanta gente, né?? Entende agora, caro leitor, o porquê d’eu ficar tão tarado por essa máxima alheia? Ambígua ela não é, entretanto, acabei tornando-a, acabei corrompendo a pobre. Heresia! Maldito herege degredado que sou. Bendita seja a palavra polissêmica que criamos! Ela incide luz ou trevas sobre o nosso formoso campo de significados possíveis e impossíveis. Louvada seja a palavra, a nossa palavra!!


Referências bibliográficas:

MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da criança abandonada. São Paulo: Hucitec, 1998.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Diagnóstico, por ora

Não olho mais nos olhos dela. Não suporto mais ouvir a sua voz me interrogando. Não suporto mais sua presença no fim do dia – só no fim do dia -, seu corpo já não enxergo mais, e nem quero enxergar. Longe dela quero estar. Longe de seus afetos femininos. Longe daquele odor que só ela exala. Pr’aquela casa não quero voltar. Pra minha, que não existe, quero residir. Mas, esse querer, inconstante é, pois passa o passado, passa o presente, passa o futuro e dela o filhinho querido sempre serei. Não dá pra fugir, o cordão umbilical é longo, invisível e eterno e uterino. Mesmo quando findar esse físico relacionamento materno / moderno, o cordão ainda nos unirá. Ela, via placenta espectral, ainda alimentará meus sonhos, minhas escolhas, meus projetos... Tomara que tudo isso, um dia, resulte num cordel ao menos, pois basta de carência poética, ou anemia lírica, quero uma epopéia singela, digna de mim e dela, principalmente dela, minha Mãe!

terça-feira, 16 de março de 2010

Encontro (des) marcado

É curioso quando revemos um amigo que há muito tempo não vemos, mais curioso ainda quando ele está mui diferente daquela figura singular que a nossa memória salvaguardou. Esses dias, por exemplo, reencontrei o tal figura. Ainda carregava um violão, mas não mais aquele troço lascado de antes. Não, dessa vez levava seu xodó numa capa protetora, e o instrumento lá depositado era novinho! Aquele seu primeiro instrumento, aquele que ele adquiriu barganhando sua cara magrela, não estava mais fazendo par com ele. E os dois eram tão unidos! Curioso casal, podes crer... Eh, meu saudoso amigo estava mudado. Não estava mais vestindo aquela camiseta folgada, larga duma banda gringa de Rock’ n’ Roll dos anos setenta - verdadeiro baluarte de seu fanatismo cômico -, nem aquele jeans rasgado nos joelhos e nos bolsos, tampouco calçava aquele par de tênis véio e sujo. O rapaz estava bizarro. Agora trajava uma camisa social de manga curta, cheia de listras verticais, uma calça cáqui e um belo par de um desses sapatênis da moda atual. Tinha se tornado evangélico, revelou-me. Fiquei espantado, claro, e acho que ele percebeu meu espanto. Enquanto conversávamos, eu tentava levá-lo ao passado, tentava fazer com que ele recordasse das situações toscas nas quais passamos, mas ele não se lembrava muito bem. Sete anos não é tanto tempo assim. Mas ele não se lembrava direito. Preferiu papear sobre o seu presente: estava freqüentando a Igreja semanalmente, e estava fazendo até um curso sobre empreendedorismo lá mesmo na Casa de Deus. Fiquei de boca aberta. Durante o bate-papo comentou que, graças a esse curso, estava pensando em montar o seu próprio negócio. Fiquei admirado e feliz, sinceramente, por ele. Ele não era tão sisudo assim. E lhe perguntei que tipo de negócio ele tinha em mente. Mas aí o figura se demonstrou reservado. Disse-me que não poderia dizer exatamente o que era, pois, se dissesse, o negócio não se concretizaria. Era assunto apenas dele com Deus... Fiquei magoado, confesso, e um bocado deprimido, mas, mesmo assim, compreendi a ressalva, o resguardo. Quando nos despedimos, o figura me convidou pra visitar sua Igreja. Disse-lhe que poderia sim passar lá para dar uma boa olhada – ele me passou, mais ou menos, o endereço do tal templo. Em casa, fiquei pensando sobre esse curioso reencontro, e sobre a tal Religião. Sou ateu e, apesar de ter já visitado um bocado de congregações, a convite de amigas caridosas e outros amigos inocentes, durante minha infância e adolescência, francamente, não me sinto acolhido verdadeiramente nesses ambientes coletivos. Acho tão estranho aquelas cerimônias participativas, aqueles rituais respeitosos. Por exemplo: numa noite dessas de verão, vi um grupo, pertencente a uma seita local, entoando seus cânticos evangélicos bem no meio da rua! Aquelas vozes vinham do trabalho, e aquele hino cochichado parecia uma espécie de mantra particular de refrigério coletivo. Tal louvor chegava a ecoar por toda a escuridão. Concluí: será que eles não percebem o quão assustadores são? Fiquei receoso quanto aquele grupo. Meu rabinho ficou, literalmente, entre as pernas. Eh; mas, pensando bem, talvez eu apareça por lá, no templo que meu saudoso amigo me convidou, só pra ver as velhas novidades! Eh, infelizmente, de uma coisa eu tenho certeza: perdi mais um querido amigo. Sinto receio por ele também...

domingo, 7 de março de 2010

Fragmentos do cotidiano (4)

Ontem de madrugada, Mamãe me pegou no flagra: masturbando meu flácido cerebelo – estava gozando da companhia de textos cibernéticos! Achei mui curioso Ela me repreender, sonambulamente; suspeitando que eu estivesse curtindo a bizarra pornografia virtual. Achei curioso porque, meu caro, tenho mais de vinte anos cá nas costas, e Ela teima em me vigiar, em bisbilhotar minhas atividades íntimas, nada ilícitas ou pecaminosas, como tu bem sabes. Tu achas suspeito um jovem como eu ainda estar online às quatro da matina duma sexta-feira banal? Nada mais normal hoje em dia, né verdade? Pois então, Mamãe desconfiou... Por que será, hein? Estou tentando cá descobrir... Será que Ela ainda me vê feito um garotinho mirrado e vagabundo? Hummm... Provavelmente minhas espinhas retardatárias contribuem para que Ela crie essa miragem de mim. É o que eu acho, sabe? Ah, sim, meu caro, como vês, estou com o semblante todo salpicado de vistosas acnes maduras. Um verdadeiro tormento pra minha vaidade masculina citadina. Caso curioso e desagradável, convenhamos. Parece até que tô com catapora, pô! Os transeuntes olham para mim com os olhinhos puxados, espremidos... Parecem reprovarem; outros parecem desconfiar de algo, feito Mamãe... Muito estranho tudo isso. Não me agrada àqueles olhares alheios. Sinto-me tão incomodado, amigo. Mas, enfim, por que será que Mamãe suspeitou de mim, seu único filho? Hummm... Talvez... Talvez por ignorância. Eh! Calma, calma não me reprove você também com essas sobrancelhas, explico: Mamãe não sabe que quem acessa discado a Internet não goza de certos privilégios – velocidade de conexão é uma delas. Tu sabes bem, não dá pra baixar conteúdo adulto de qualidade numa conexão discada, de banda estreitinha. O negócio arromba mesmo quando a conexão é de BANDA LARGA! E como minha conexão é estreita num dá pra se animar tanto. O melhor é navegar virtuosamente mesmo, não há “Ilha dos Amores” (dos Prazeres!) nesse meu caminho manhoso em que fico à deriva durante as madrugadas... Assim, mesmo que eu quisesse, não daria pra me deleitar sozinho comigo mesmo diante da telinha de cristal líquido. E Mamãe não conhece essas coisas. Mamãe só vê a carranca confeitada, não vê o leme fálico. Eh isso, meu velho. Sanei essa suspeita materna, acho. Agradecido por me ouvir, mais uma vez. Bora tomar mais uma então?