quinta-feira, 28 de julho de 2011

do leito criativo ao leitor-crítico

quando à toa ficamos
só imaginamos algumas possíveis situações
e, mesmo que fiquemos sem ação, ela, a imaginação
insiste em manter-nos satisfeitos

pois, a nossa mente é persistente
praticamente carente
e sem limites
e com palpites

assim este poemeto foi feito
não eleito
ou arduamente trabalhado
foi apenas criado
de improviso, claro
espontâneo, meio obscuro
mas compreensível
quase louvável

e não estou sendo prepotente!
apenas preponderante
com a Arte
meu disfarce
sentimental
pessoal
e catarse

Oxalá!
ou passe bem
meu bem
labirintite

terça-feira, 26 de julho de 2011

FAROL AMARELO

Não adianta, ainda teimo em observar tudo ao meu redor; não aprendi a sossegar os meus olhos inquietos, e neste desassossego vivo, peregrino.

Enquanto eu fazia a minha costumeira primeira baldeação do dia, algo verde, grande e brilhante arrebatou a minha atenção: era um outdoor anunciando a breve estreia do filme do Lanterna Verde. Apesar de não mostrar uma cena forte, chocante mesmo, a propaganda era agressiva – tinha um pé direito digno de um super-herói. Vou ver o filme, óbvio, mas não por causa desse outdoor, já pensava em vê-lo bem antes, desde que fiquei ciente de sua pré-produção. Contudo, talvez por causa desse susto midiático, estou um pouco mais ansioso em ver o filme... Ah! Essas surpresas que, agora, só no subterrâneo podemos ver. Graças à lei Cidade Limpa que vigora cá em São Paulo, os titânicos outdoors foram banidos, encarcerados no submundo dos transportes públicos. Mas não é só isso que quero comentar, outra coisinha quero lhe dizer ao pé do ouvido, caro leitor – Farol Amarelo. Dia desses, de volta do trampo, à tardinha e distraído, lá estava eu novamente na estação Luz do Metrô indo pra estação Luz da CPTM quando, ao passar pela catraca-livre me deparei com aquele paredão amarelo diante de mim. Fiquei fascinado! Admiradíssimo. Quase que em estado hipnótico... O que era negro e sombrio tornou-se, num fim de semana apenas, amarelo e radiante – muito atraente! Aquela cor quente conquistou, arregalou meus olhos semicerrados. Não cheguei a parar ou imóvel ficar, pois o fluxo de gente, na Luz e após às dezoito horas é frenético, tu sabes bem, mas passei, andei e continuei olhando aqueles portões fechados pintados recentemente de amarelo. O que será que há por de trás daqueles portões, outrora negros, agora amarelos??? Bem sei que é a outra estação Luz do Metrô, só que da Linha Amarela, daquela que vitimou um punhado de gente há alguns anos atrás. Será que encontrarei outro destino quando eu a utilizar diariamente? Veremos, ou não, a inauguração foi antecipada.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Caixa de saída (6)

“Desuniverso”

Cara amiga ausente,

Neste grande dia de festa, espero que, ao ler esta cartinha, você esteja bem e uma gracinha.

É o teu aniversário. PARABÉNS!!! É dia vinte de julho e tu fazes vinte e poucos anos. Que maravilha! Que belezura! E ainda é, dizem por aí, o Dia do Amigo. Então, neste caso, PARABÉNS novamente, minha saudosa amiga.

Adoraria ti dar um forte abraço agora, e um beijo casto em cada bochecha rosada, mas, infelizmente, estamos muito distantes um do outro. Eu cá cativo e você aí alternativa. Este nosso relacionamento fraterno e paralelo tem lá suas vantagens e desvantagens, mas, ultimamente, temos mais dessa do que daquela.

Já faz meses que não vislumbro a janela de acesso a seu mundo. Estará fechada? Ou você, minha cara, a fechou na minha cara? Bem, enfim, a minha janela está aberta e sempre estará aberta pra você. Afinal, você sabe bem, aprecio me relacionar com outros mundos, e o teu é tão fascinante, tão ofuscante, purpúreo e macio.

Assim, me despeço aqui de ti. E com estimativa estatística de que esta folha arrancada do meu caderno de vidro chegue inteira em suas lindas e delicadas mãos esverdeadas.

Até breve então e, mais uma vez, aceite aí meus sinceros PARABÉNS!!!

Cordialmente,

BRO


P.S.: somos vizinhos, mas somente tua ausência me visita regularmente. E isso, definitivamente, não é a mesma coisa!

DEVOTA

e já faz quase um ano que não a vejo, falo ou a escuto
amiga minha desapareceu
será que morreu?
ou está de luto?

não sei bem,
não sei de nada.
meu bem
minha camarada

aonde você está?
preocupado estou, e você, tá?

ainda penso em ti, às vezes
e tu, o mesmo fazes?

Quero tanto ter você aqui bem próximo

sentir o teu cheiro,
sentir o teu calor corpóreo
pra ti esganar, óbvio
pois o que quero,
almejo

é ter a grana que ti emprestei de volta
e cedo
pois a marolinha não traz de volta
e nem você tão cedo
Alentejo.

Humanamente demasiado

Uma vez me disseram que os sonhos não se realizam, não importando o que eu fizesse, nem o quanto eu me empenhasse. Eu ficaria triste até o fim da vida, pois a vida é triste, disseram-me.

Hoje, mesmo com os sonhos não realizados, vejo-me mais feliz, mais bem de vida do que aqueles que me disseram que os sonhos não se realizam. Vai ver sonhar não traz felicidade mesmo. Pode até amenizar a realidade cruel, espécie de aperitivo paliativo, mas o que nos torna bem-humorados, deveras satisfeitos são as conquistas não planejadas e sim surgidas por aí nesta estrada da vida difícil.

Eu não sei bem o que quero, mas sei o que tenho, tive e não quero ter. Conheço-me bem, mas ainda me surpreendo comigo mesmo – sempre noto novidades. Surpresas agradáveis e desagradáveis anoto – nem sempre a gente curti o que percebemos de nós mesmos. Sim, a vida é triste, difícil, mas é tão boa quando a aproveitamos à toa ou a gozamos com quem a compartilhamos numa boa.

E assim a nossa própria vida se torna um sonho, um sonho não realizado, como me disseram, mas um sonho vivido, como eu cá atestei e atesto. Sonhar é viver bem com alguém que nos quer bem, e até de bem consigo mesmo. Isso é sonhar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Mácula

E, num dia fatídico, você se pergunta: quantas pessoas eu magoei até hoje? Difícil resolução, mesmo para alguém de bom coração. Mas é algo que te faz meditar por um bom tempo. Revirar a memória é um exercício lento e, às vezes, até prazeroso, porém, sempre encontramos aquele resquício acinzentado de outrem do passado, e que foi, infelizmente, magoado. Mas o que causou essa mágoa? Uma indiferença? Um descaso? Um atrevimento? Uma decepção? Ou uma facada no coração? Pode ser tudo ou nada disso aí dito. Mas uma coisa é certa: foi forte. Doeu. Mágoa é isto: um coração ferido boiando no próprio sangue. E mesmo que você tente resgatá-lo, anos depois, não adianta, já era. Para um coração ferido não existe curativo que estanque o sangue. Não dá pra desmagoar alguém, nem mesmo quando morto está, pois os desalmados do passado estão por aí, soltos pelo ar. Mágoa é que nem tatuagem: dói, sangra um bocado e fica fixado na pele, só que, diferentemente daquela, fica impressa na região interna. Eh, mágoa não tem cura, só há por aí tratamento preventivo e alternativo. Cura não existe. É mancha que fica e não sai.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Saudade

Almeida Júnior (1850 - 1899)
Saudade, 1899
Óleo sobre tela
197 x 101 cm
Pinacoteca do Estado de São Paulo


saudade é aquilo que a gente sente
quando o bem-querer está ausente

e mesmo que a gente tente deixar
pra lá, esquecer
não dá
pra desentristecer

a falta cativa o peito
sentimo-nos num leito

e mesmo que tentemos
com uma fotografia ou uma cartinha em mãos sossegar o coração
não adianta muito, não

somente quando as lágrimas despencam em gotículas quentes
é que algo distante se corporifica presente,
pois as lágrimas são isso mesmo:
o bem-querer transbordando em ti pelo cantinho dos olhos!

assim, não esconda suas lágrimas,
não tenha vergonha delas,
pois elas são o bem-querer ti acariciando delicadamente a face...

não crês?
ora, o que acontece contigo depois que choras?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

TODO ANO

Todo ano Ele vem a você, às vezes você não O vê, às vezes O deseja aí bem junto de ti. Ele vem sempre no mesmo horário – meia-noite -, independentemente do que tá impresso na certidão. É que nem virada de ano velho pra ano novo, só que ao contrário, de novo passa a mais velho. Ele sempre dá as caras e um forte abraço e, claro, um beijo demorado. Ele está sempre presente no dia do presente. Ele está chegando, a cada segundo Ele está mais e mais próximo. Não se acanhe, nem se desespere, Ele virá! Acredite, mesmo sem crédito. Falta pouco. E daí que muito pra você é tão pouco e pouco é um pouco demais pra você?? Ele é fartura e miséria em todo mundo, mesmo que todo mundo não note. Contudo, comemore, Ele é sinônimo de vida, e é justamente por isso que, quando Ele vem, há festa, celebração. Curta esta vida curta – Ele taí! Ora, quem é Ele? Bem, quem que aparece todo ano, hein?

DEVANEIO LITHEROSFÓRMICO

Em pé, cercado por homo sapiens de semblantes paisagísticos, sou surpreendido por um ataque canibal – são as formigas morfológicas que beliscam minha consciência de dentro do veículo de aço e centopential. E é natural que eu pereça, pois elas são ávidas, são inúmeras colônias de protopalavras, praticamente quase larvas.

Não deixarão nada, nem um sufixo, mas, matutando bem, talvez deixem nata ou uma ata pra prosperidade.

Se pereço pareço um fraco. Fertilidade não tem força sem ordem, mas existe sentido até na desordem!

Ah, assim rumo ao meu destino, mesmo sabendo ou intuindo que lá cairei... E o fomento extrapola-la o meu corpo inerte e inanimado, pois as ideias, as boas, não desaparecem, apenas adormecem.