domingo, 7 de agosto de 2011

Adriana’s ou vacilações dionisíacas urbanas

Não sei bem ao certo se é sina ou natural, como se no livro da minha vida o Destino já tivesse lá escrito ou se é como formigas que não resistem ao bom mel. Mas é fato, verídico e consumado. O nome ADRIANA me persegue feito carma na carne fraca.

A primeira simplesmente surgiu. Era uma vizinha minha da infância. Eu era criança e ela pré-adolescente. Eh, querido e velho leitor, desde pequeno me envolvo com gurias mais velhas, mas isso é outra estória... Voltemos pra primeira Adriana da minha vida. Por sermos vizinhos brincávamos adoidado, apesar de ela ser crente e eu carente. Nossas estripulias se limitavam nas escadas; não me divertia com ela no pátio do prédio, erámos mais reservados, discretos. Lembro-me mais de nossas guerras d’água. Aqueles saquinhos de geladinho (sinônimo de sacolê) tinham uma boa utilidade bélica – pequenos jatos d’água potável para todos os lados! No verão, era de praxe essa brincadeira, ambos não tínhamos dó; éramos dois déspotas infantis. Há tempos, o próprio tempo a levou embora. Levou-a para o Sul, Santa Catarina. Até chegamos a trocar cartinhas. Usávamos papéis de carta (ainda existe isso?) como suporte de nossa escrita marota. E a última cartinha que eu lhe enviei não teve resposta. E nossa estória encalhou aí.

A segunda Adriana só surgiu muito tempo depois. Eu estava no meu primeiro trabalho com registro em carteira e ela trabalhava numa das filiais – eu trampava no escritório, na matriz. Tomou tara pela minha voz, a menina. Eu acabava de sair da adolescência e ela de entrar na dita idade da loba... Querido e velho leitor, não faça esse sorrisinho malicioso, tá bem? Enfim, mesmo sendo treze anos mais velha, a fome dela era voraz, tinha um pique, uma sinergia impressionante! Acabou desvirginando o garoto aqui. E foi divertido, sabe. Valeu a pena todos os gastos pagos por mim. Eh, envolver-se com mulher mais velha não é barato, não. Tivemos uns encontros esporádicos, mas acabamos perdendo contato. Deixei de ligar pra ela, e ela nunca ligava pra mim...

A terceira Adriana também surgiu na antiga empresa onde eu trabalhava, era de outra filial, de um total de quase sessenta. Ela também curtia a minha voz e minha simpatia descomprometida. Essa era da mesma faixa etária – finalmente! Rolou muita troca de mensagens de texto e fotos antes do primeiro encontro. Rolou uns beijos, uns amassos, nada mais além. Tivemos apenas dois encontros ao todo. Era virgem, disse-me, e pretendia ser por um bom tempo. Até pouco tempo atrás, estava namorando... Hoje, está solteira, e muito bem. Eh, eu ainda mantenho contato com ela. Sempre me dispensa educadamente. Boa menina ela. Saudades...

A quarta Adriana também era de outra filial do meu antigo trampo. Péra lá, leitor desconfiado e recriminador. Eu fiquei mais de quatro anos nessa empresa, então, era natural, não intencional, veja bem, me relacionar bem com as minhas colegas de trabalho. Bem, com essa Adriana, que também era um pouco mais vivida do que eu, o papo era agradabilíssimo. Tínhamos gostos muito parecidos. Ficávamos horas conversando pelo telefone fixo. E, meu caro, custou-me meses a fio até conseguir um encontro físico com a pequena. Só a via, brevemente, nas reuniões mensais da firma – uma vez por mês! Após muita insistência e paciência, consegui marcar um programinha com essa mulher atarefada. E, após uma forte chuva e quase uma hora de espera, eu a abracei bem forte. Era verão. E aquelas pernas torneadas e bem alvinhas ainda hoje permeiam minhas fantasias libidinosas. Fomos ao museu (MASP) apreciar umas esculturas do Rodin (Auguste Rodin, 1840-1917). Mas, confesso, dividi meus olhares entre às formas de bronze e às formas carnais – aquele vestidinho que ela vestia era um delicado convite ao apalpamento! Em seguida, fomos comer e bebericar umas coisinhas ali perto. Mostrei-lhe umas anotações de cunho literário no meu celular e ela me mostrou umas imagens, belas imagens, de seus trabalhos florais de cunho plástico. Era uma verdadeira artista escondida nas araras do comércio varejista. Sentia uma forte atração por ela. Ela era tão sensível! Ela realmente me inspirava, me deixava deveras empolgado. Talvez justamente por isso mesmo não rolou nada mais carnal ou etecetera e tal entre a gente. Esse nosso único e derradeiro encontro físico durou poucas horas, à noite ela tinha outro compromisso. Ao nos despedirmos, dei-lhe outro forte abraço e um beijo, claro, na bochecha direita. E sob a chuva que mais uma vez se iniciava, eu a vi ir em direção a seu carro vermelho. Ela não olhou para trás. E eu não vi o automóvel partir. Também deixei de ligar pra ela toda semana, e ela, também, curiosamente, nunca ligou para mim.

Pra terminar, a quinta e, até agora, última Adriana da minha vida é poeta. Eu a conheci, ou melhor, eu conheci seus textos há pouco tempo, por meio dum jornal local. Folha ou Estadão? Não me lembro. Eu nunca a vi pessoalmente. E nunca vi uma fotografia sequer dela. Eu acompanho suas publicações semanais via Internet – ela tem um blog. Curto seu estilo: simbólico, mistura o que há de mais sublime com o que há de mais depravado. Seus poemas são quase pornográficos, sujos e deliciosos. Aprecio antagonismos, disparidades e disparates num texto cru! Não sei até onde vai este nosso “relacionamento moderno”, mas vou continuar acompanhando seus textos, seus passos gráficos, à distância. Talvez assim seja mais seguro para ambos, e mais duradouro.

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