terça-feira, 17 de janeiro de 2012

QUANDO A FADA COMEU O SÁTIRO

estão querendo me arruinar!
mesmo assim, vou cantar
não sou trovador de acasos
sou um que apanha causos

e este qu’eu vou entoar
certamente agradará
até mesmo você, meu amigo tigre
deixará logo logo de estar triste

ouvem só esta anedota
mais verídica do que fictícia
mais explícita, impossível!

não quero aqui bancar o agiota
ou um indecente sem dente do siso
apenas quero louvar o invisível!

vamos lá então
oh! seus fanfarrões!

o caso é curioso e meio ímpio
vós conheceres fada assim de ouvido?
um sátiro já viram um?
pois bem, meus irmãos, ouvem só esta provocação:

havia um sátiro albino numa floresta além-mar
era jovem, não tinha ainda a barbicha característica
e à noitinha, como companhia, só tinha seu instrumento
de percussão
de sopro não tinha, não
era um renegado por seus pares
extravagâncias demais num único ser nefasto
na caverna onde se refugiava
muitos livros, pouco espaço vago –
curiosa criatura esse notívago

num fim de tarde de verão qualquer,
pouco antes de sair pra sua ronda torta,
foi surpreendido:

logo na porta redonda de sua humilde residência
outro ser ali estava a brilhar
balançava-se dum lado a outro sem parar,
salpicava pequeninos grãos luminosos pelo ar
de onde estava, o jovem sátiro,
podia distinguir uma pequenina silhueta feminina –
linhas curvas em constelação!

três passos o sátiro deu
em direção ao pequeno floco foco branco de luz
no quarto, estagnou
o que era pequeno se agigantou!
a luz branca se fez trevas num crescendo
miasmas arroxeados ganhavam espaço
e ele, admirado, só conseguia olhar, parado,
pra tudo aquilo, tentáculos (!), com os olhos esbugalhados

de repente, assim, noutro susto,
bem diante dele
algo do denso escuro se corporificava
de roxo se fez gris
de gris ficou novamente preto
com matiz
e nitidez

um rostinho sapeca de menina se fez perceptível
das asas, outrora asinhas, fez um sobretudo felpudo para si
o rostinho estava pintado
aliás, estava bem carregado –
estaria tentando esconder a inocência típica do ser? –
enfim, bobão, danou-se!
o sátiro ficou sem reação
de boca aberta ficou, babão
pois, a fada negra piscou-lhe um olho
e o que as asas abrigavam se libertaram!
rijo ficou logo de prontidão
afinal, não era assim tão bestalhão
e aquele instrumento,
o de percussão,
derrubou-o negligentemente no chão
seu outro instrumento pulsava de paixão!

que ninfas o quê!
vou fuder legal
com fada de outras paragens etéreas
intercâmbio cultural tá cada vez mais natural
fada é foda!
ora pois, pus
e tal

sátiro é safado!
num é moleque que não quer crescer,
que mais prefere empinar pipa
do que me comer!
assim, me maltrata gostoso, seu bode velho!

e ali mesmo, meus amigos,
na entrada e saída da caverna,
os dois copularam sem capa
em asas e pelos,
fiapos
feito animais selvagens
pra todo imundo ver!

se eram divinos ou celestiais,
se esqueceram, estouraram champanha e cristais,
botaram mesmo pra quebrar!!
espocaram faíscas pelo gramado
pequenos tremores provocaram
seus gemidos e uivos assustaram
a fauna e flora locais
até no cais,
aonde ouvi essa estória,
coisas sinistras se sucederam:
sapo príncipe e escorpião rei
dançavam o proibidão;
princesas putas despudoradas
disputavam um pão de mortadela aos tapas,
aos puxões e palavrões;
semideuses tiravam onda com vampiros vegetarianos;
bruxas empunhavam buchas de condão;
e febos ensebados comiam grilos tagarelas.

há ainda quem não acredite nessa estória
mas é tudo fato real e consumado
sou o pai e o filho dessa trova
sou coringa cuja moringa,
à cabeceira da cama,
lubrifica os zóios e as xoxotas
das ninfetas sem tetas
e das lambisgóias!!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sob a Luz Difusa dos Inimigos

Um dia, quando tu acordares,
Verás que tudo foi pelos ares.
Não existe mais resistência,
Que lhe dê assistência

Ou qualquer coisa carnal.
Tudo, hoje em dia, é banal.
Até mesmo este enxoval.

Não fique assim tão surpresa,
Minha querida prisioneira,
Quando vir o que foi feito sobre a mesa.
Minha parceira já foi parteira.

O Caos reina cá no futuro.
E teu útero veio-nos por acaso.
E duma dezena de espécimes num vaso,
Quatro vingaram graças ao mercúrio.

Estamos finalmente otimistas!
Tu ficarás certamente em ametista.
Tu serás matre, a preceptora.

Autora, mãe, dum novo gênero humanóide,

Mais resistente,
Mais inteligente.

E independentemente do teu credo,
Os Sacerdotes do Grelho
Já se manifestaram.
As quatro crias serão denominadas Maria.

Uma para cada estação radioativa.
Quatro deusas nativas,
Deste planetóide sub-atmosférico
Chamado HPV2025.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fragmentos do cotidiano (7)

- Ah, meu amigo, esta sociedade que presencio anda cada vez mais interessante. E quando digo sociedade, estou com a vida em sociedade em mente, mais precisamente com a relação amorosa em foco. Veja aqui ao lado um bom exemplo. Repare bem no jovem casal aqui ao lad0. E tente não olhar por muito tempo as pernocas da menina. Tá certo que ela tá com um micro-shortinho, mas, caro amigo, ouça bem. Eles estão discutindo a relação deles. Trocando altos papos sobre a relação intima deles com os familiares de cada um. Papo sobre sogra, irmã e primo, essas coisas, entende? Agora, veja lá que coisa interessante. Eles estão um de frente pro outro, entre eles apenas uma garrafa de cerveja. Legal, né? Casal moderninho discute a relação assim, em uma mesa de bar. Não bota fé, não? Acha qu’eu tô bêbado demais, é? Bem, antes de ti dar outro bom exemplo, vou chamar tua atenção pra outra coisa muito interessante. Sabe essa mina de shortinho? Então, repare bem como ela bebe a breja. Olha lá que gracinha. Ela bebe segurando o copo com as duas mãozinhas, feito bebê com mamadeira, manja? Coisa linda, não? Dá até uma boa estória isso aí. Mas, estou divagando alto, vamos pro outro exemplo qu’eu ti prometi. Olha lá praquele casal do balcão. Estão se pegando ali mesmo, coisa excitante de se ver. E, arrah!! Há também uma garrafa de cerveja entre eles. Se pegam e bebericam uns goles, cada qual no seu copo, e voltam pro corpo doutro. Opa! Não tô querendo sustentar aqui uma tese de amor alcoólico no presente século. O que eu quero é outra coisa! Veja. Eles estão indo embora, apegadíssimos. Paixão louca assim tá cada vez mais rara de se ver, né não? Enfim, dá uma boa olhada pro balcão. Rápido antes que o garçom apareça! Viu? Num relacionamento amoroso de hoje, o que sobra é isso aí que você tá vendo bem e nitidamente: dois copos vazios com uma garrafa de cerveja igualmente vazia entre eles. Parece até propaganda, né? É triste isso sim. Eh... Vamos pedir mais uma?!?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CU DE VERANEIO

Se cunhado fosse bom não tinha cu.
E eu estaria no azul.
No vermelho só o rego do folgado.
Não suporto parente agregado!

Cunhado é parasita desgraçado!
Tira onda em castelo alheio.
E ainda carimba em cheio o trono da gente.

Não colabora, não ajuda, só mente.
Faz do nosso abrigo um pardieiro.
Odeio sustentar um prolongado feriado!

Cunhado perfeito só no porta-retrato.
Ou cunhado em moeda de cobre,
Dessas que tem duas caras.
Coroa só mesmo a nossa patroa de casa.

Das cunhadas, o quê dizer?
Todos sabem que elas nos dão prazer,
Mas não é nada passional, juro.
É físico, é carnal, é totalmente natural.

Contudo, tudo aí é questão de imaginação.
Só mesmo um idiota pra se remexer com a cunhada gostosa.
Melhor ficar no platônico.
Um cuzinho roxo e arrombado também é quesito de divórcio -
Prova irrefutável de traição.
Corpo delito.
Delírio de estação!
Verão.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Uma anedota dum Arlequim aniquilado

Esse ano que passou
Quase não te vi.
Das poucas que vi
Não consegui nada além.

Nada nem ninguém é fácil.
Dócil você bem que tenta,
Mas não aguenta.
Prefere ser brejeira,
Trancando anátemas,
Soltando maçarocas.

Sempre te procuro no escuro.
Nunca tu me achas solitário.
E, sendo assim otário,
Danço bonito feito Pierrô.

Se tu és Colombina
Ou concubina
Já nem sei.
Sei, e bem, que Ano Novo está próximo,
Cada vez mais próximo.
E você distante,
Cada vez mais...

Pensei até que você não existia,
Fosse fruto imagético viral.
Mas, olhando bem pro meu pau,
Constatei que tu fois real,
Coisa e tal.
Pura simpatia,
Minha impudica menina!

Estão dizendo por aí que sou devasso,
Mas devastado é mais condizente.
E se fico ainda assim sorridente
Justamente me explico:
 

Visito tua cova toda sexta-feira santa
Na louca esperança de beatificá-la a cinco dedos da terra.

Maldita sejas tu,
Bruxa boa do Inferno!

A conjunção anual das lágrimas

Sempre chove no último dia do ano. Mesmo estando no auge do verão, a chuva chove a toda nesse dia, último dia! Até parece que o Ano Velho chora por si diante do Novo que se aproxima. Afinal, muitas fatalidades ocorreram, mas muitas felicidades também. Se o ano que se finda choraminga pelas desgraças ou alegrias que nele se admiraram, eu não sei bem, não tenho certeza, nunca tive na verdade. Mas de mentirinha acredito, quase creio ou pressinto, que essa garoa insistente que cai, que nem cortina em fim de espetáculo, cai a fim de enxaguar as nódoas que ainda ficaram por aí apegadas. E mesmo que no dia seguinte, o primeiro do Ano Novo, o sol não tenha dado o ar da graça - sua benção celestial -, teimo em intuir que o frescor desse dia é herança, é esperança, enfim, é espécie de presente do quase ausente – o Ano Velho não se finda inteiramente, cada gota é semente... Mas se você, como eu, mora numa cidade grande, ou numa aí com graves problemas fluviais, batata, é enchente!!!