Diante do que vi não posso
ficar calado. Por isso, aqui, neste espaço, minha voz será mais um monólogo,
dentre os muitos aí já publicados e comentados. A grande questão da semana (ou
da minha vida) é: por que não me revolto?
Nesses dias transcorridos presenciei
diversas manifestações pelas ruas, ao vivo pela televisão e ao vivo também
diante dos meus olhos (!). Eu apoio esse tipo de iniciativa. Sou a favor dos
protestos em prol de uma mudança significativa. Se algo aí na sociedade, tanto
na esfera pública quanto na privada não cheira lá muito bem, temos o direito e
o dever de nos revoltar. Quem tem idade e consciência cívica suficientes sabe
disso. Eu sei disso!
Mas então por que diabos eu (e
você) não participei (participamos) da luta por mudança? Por que não protestei (protestamos)
também? Por que não fiz (fizemos) parte daquele grupo, daquela massa de pessoas
(jovens) que estavam indignados com as coisas erradas, absurdas que estavam (estão)
acontecendo??
Covardia? Talvez.
Alienação? Não sei bem.
Não fui porque tinha de
trabalhar. A necessidade, a obrigatoriedade de sustentar a minha família ecoou
mais alto na minha consciência assalariada. Eu e você somos obrigados a
trabalhar. Não conheço quem trabalhe por voluntariedade, por prazer único e
verdadeiro de dedicar o seu precioso tempo numa atividade diária sem retorno
financeiro. Quem trabalha, trabalha pra se manter vivo. Quem trabalha tem ciência
da sua obrigação nesta vida. Agora, quem protesta é o que? “É vagabundo!” Uns
aí dirão, pois quem está lá no meio d’um protesto “é quem não tem mais o que
fazer”. Que tipo de pessoa, se for mesmo uma pessoa que alimenta esse tipo de discurso, diz essas coisas? Quem diz essas coisas parece se esquecer do poder
que o ato de protesto tem. Se eu escrevo e você aí me lê é porque alguém no
passado se revoltou. Todos nós somos filhos da revolução. E como todo filho, um
momento ou outro dessa nossa vida de filhote, acabamos optando pelo discurso
destoante dos nossos pais.
Não protestei porque não quis.
Não protestei porque fiquei com
medo.
Sim, medo. Medo de o patrão
descontar esses dias de revolta do meu holerite mensal. Prendi-me a essa
obrigatoriedade por necessidade. Se me libertar agora, não poderei alimentar
aqueles que me são queridos, meus dependentes.
...
É por isso então que não me
revolto?
Convenhamos, dá pra perceber
pelo meu discurso que você (eu) está insatisfeito com alguma coisa. Assim, você
não precisa fazer parte de uma massa revoltada para legitimar a sua indignação.
A sua revolta se dá, se mostra de uma outra forma. Suas objeções são de
natureza interna. Seus protestos são mais íntimos.
Você não se revolta daquela
forma porque sabe, inconscientemente, que aquela forma não condiz com você. Aquela
forma de manifestação não é a sua praia, não é da sua natureza. Você é mais
comedido. E isso não quer dizer que você seja acomodado. Não mesmo! Você é
introspectivo. Você prefere o campo das ideias aos campos abertos da luta
armada.
Sinceramente, eu tenho a
convicção de que você não acha aquilo lá algo inútil, sem sentido. Tenho certeza
que você vê aquilo e não participa porque prefere ficar só, no seu canto. Você
não se sente bem em meio a multidão. Você prefere espaços vazios para poder preenchê-los
com suas ideias. Você só é mais um idealista de livre arbítrio. Apenas isso e
nada mais.
Por isso, não se sinta mal por
não fazer parte daquele grupo de manifestantes. Você conhece o motivo da luta
deles. Você só poderia se sentir verdadeiramente mal se abnegasse, se se
omitisse diante da necessidade urgente. Você tomou partido, de certa forma, não
tomou? Então, cabe só a você fazer a sua parte dentro da sua capacidade. Bola pra
frente! Vai fundo. E não se preocupe tanto assim consigo mesmo.
Interessante :)
ResponderExcluirInstigante ;)
Excluirbroxante =/ ... rs to zuando.
ExcluirPreocupante...
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