segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O eu que o mundo gostaria que eu fosse

Não é sempre que a gente se encara de frente. Ainda mais quando o encontro não é discursivo e sim físico. Explico: dia desses trombei comigo mesmo na rua. Esse eu não me notou, fui eu que o notei. E imagine você o susto que eu levei! Eu estava de boa pelo centro, fazendo os meus rolês de sempre, quando avistei a mim mesmo doutro lado da rua donde eu andava, era o outro eu. Congelei na hora de susto, óbvio. Impossível uma coisa dessas, pensei. O outro eu estava bem ali doutro lado da rua, também, aparentemente, andando de boa pelo centro. Pensei em segui-lo, pra ver aonde iria aquele cara com a mesma cara minha. Mas não. O espanto era tanto que, quando me dei conta de mim mesmo, eu já estava correndo na direção desse meu outro – eu queria interpelá-lo, arrancar-lhe algumas informações. E ele se assustou quando eu o puxei por de trás. E assim, bem de frente com esse outro eu de mim mesmo, percebi que esse era mais alto do que eu. Como? Percebi também que ele era mais forte, ele tinha outro porte, ele era mais magro também e, incrédulo, vi, nitidamente, que ele estava com os cabelos molhados, bem penteados, ele estava usando perfume, sentia um cheiro agradável, mas estranho vindo dele, ele não tinha barba, ele estava todo asseado, suas roupas pareciam saídas recentemente de uma lavanderia administrada por Minerva e Netuno. Eu reparara nele assim, sem lhe falar uma palavra e ele também me olhava. Á princípio, esse outro eu, me olhou espantado, contudo, conforme me via ali parado, defronte dele, sem lhe falar nada, esse eu foi esboçando um arqueado sorrisinho... E quando finalmente emiti uns sons indecifráveis para começar a falar com ele, esse eu de mim mesmo soltou uma estrondosa gargalhada (!!), e ele ria e ria cada vez mais alto e mais alto, e se dobrava todo no meio de tanto rir e rir e rir. Voltei a ficar pasmo. E eu olhava aquela figura encolhida em si aos risos, rindo de mim, seu outro eu. Senti vergonha de mim mesmo ali. Senti que eu estava mangando de mim mesmo. Senti ódio daquele outro eu. De repente ele se endireitou, não estava mais aos risos. Ele me olhou de cumplicidade, e disse-me: eu sou o seu eu que o mundo gostaria que você fosse, mas, como vês, eu já sou esse eu. Você, meu amigo, é esse mesmo que você é, conforme-se com ele. Adeus! E esse meu eu foi-se embora, não o segui com os olhos, apenas fiquei parado ali, atônico, ainda abalado pelo que aquele meu eu me disse; fiquei ali parado pensando comigo mesmo, sendo aquele eu mesmo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Anotações de um bebum introvertido (11)

Bebo pra aplacar o desejo. Coisa inútil essa que eu faço, pois, quando bebo, fico cada vez mais eriçado!!





O bar é o lugar aonde as almas carentes se encontram.





Uns bebem pra esquecer, outros bebem até se foder, mas eu não, apenas bebo pra rearranjar as idéias desconexas que andam me fodendo.





O bronzeado tenro que vejo a minha frente é bem melhor que o dourado que bebo complacentemente.





Quando os hospitais forem maiores que os shoppings, aí sim saberei que o meu país é um país civilizado. 





A gente compra pra preencher aquele vazio que a gente sente, mas não sabemos bem dizer o que ele realmente é.





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Verão na primavera

Verão na primavera é coisa indiscreta;
É coisa que se vê logo de manhã pela janela.
Quem mete a cara por ela já avista uma passista,
Toda serelepe dando sinais encantadores de vida.

A passante é mina de respeito,
Que exibe satisfeita a dádiva da natureza,
Ou que foi bem paga num salão de beleza,
Ou ainda fruto d’uma mesa mexeriqueira.

Seja lá como foi, não importa, a mina é gostosa!
Não tem como negar, ora bolas!!
Posso soar machista, mas canto a verdade.

Isso passa na cabeça de qualquer homem da minha idade.
As feministas aí podem até me reprimir,
Mas eu só estou cantando de colírio para um colibri.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fim da DR

(...)

De resguardo fiquei a ti esperar –
Preocupada fiquei quando você não apareceu
Triste fiquei quando percebi o motivo
Sozinha, chorei
Chorei baixinho,
Chorei pouco.

Levantei da cama muda,
Troquei a roupa suja,
Bati à porta da vizinha do 32
Precisava de ajuda
Para dar fim imediato
Do teu corpo todo ensanguentado.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Tamara, tamarindo, tico-tico (versão lésbica)

Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico

Tamara sempre foi muito sexual
Nunca teve sensualidade
Nem mesmo na flor da idade
Tinha era mesmo um fogo por todo o corpo
Que se espalhou por toda a cidade...
Tamara não tinha amenidades
Tamara era um animal de coitos fugazes

Por isso, experimentou tudo aí que lhe foi aparecendo
Tamara não foge d´uma buceta negra
Em pêlos crespos, crescendo
Tamara até já chupou cacetes, mas não gostou
Tamara prefere as xerecas carecas de vinil

Tamara tem tatuagem no quadril
E se exibe amuada
Para sua namorada
Quando tem certeza
Da sua desgraça...

Tamara é complicada
É tipo homem sem calça, sem barba
Mas muito macho que só vendo
Tamara não aceita brincadeiras
Nem mesmo quando se dá no recreio

Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico

Tamara não é pirulito que bate-bate,
Mas já bateu umas pra mim
Temos lá nossas divergências,
Mas me ama assim, assim

Tamara curte rock progressivo...
É feminista sim, de ouvido –
Puta com vergonha que não morde fronha,
Mas é do tipo de mina que curte coisas ditas ao pé do ouvido –
Ditos assim sem-vergonha, manja?

Tamara não curte tâmara
Vai mais de câmara
Tamara chupa tamarindo
E cospe sinusites rindo

Se lhe passa um passarinho
Já logo imagina um tico-tico
Não por ser pequeno,
Mas mais por ser vermelho –
Plumagem rubra de desejo

Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico

...

Se há algo de bom nessa história,
Que mais parece uma novela sem glória,
É esse “amor anormal” que ela tem
Por mim não, claro, veja bem
Ela tem uma namorada,
Ela trabalha como uma condenada,
Mas ainda sorri quando vê surgir
 O beneditino do tico-tico que insiste em lhe corrigir...

Belém, Belém, Belém
Quem sabe bem quem és
Não esmorece com o peso sobre os próprios pés.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dá trabalho ir trabalhar

Ir trabalhar dá trabalho
Quem aí pega condução
Sabe bem do que eu falo
Não se faça de rogado,
Transporte público
Em São Paulo
É uma merda!
É um sofrimento du’caralho
Para quem o pega a todo horário.

Não adianta muito acordar cedo
Se ele não se atrasa, ele quebra, o desgraçado.
E todo mundo aqui tá ligado!
Se ele vem assim sempre lotado
É porque o danado tá defasado
Ele não suporta mais gente que dá duro no trabalho
É tanta gente assim decente que ganha o salário suado
Que, quando entra em uma condução,
Às vezes perde a razão, perde o juízo,
Mó confusão!!
Diante de tanta gente assim indecente,
Pois lá dentro esses se apertam,
Se espremem bem,
Se esfregam todos e
Suam muito pra burro também.

A vida é dura de injusta
Para aqueles que escolheram
Trabalhar correto em vez de roubar direito.

Todo dia é sempre assim:
Dá trabalho ir trabalhar.

Nunca isso aqui há de melhorar!
O nosso transporte público é um dos piores do mundo
Mas tem algo aqui que todo mundo aí tá cansado de saber:
Se quebrarem uns e outros por lá,
Veja só que coisa linda pode acontecer:
A condução funcionará direitinho,
Bonitinha se moverá,
Pois é de medo que esse serviço engrena
Rodará redondinho que dará gosto ver
Basta mover uma ação
Quebrar tudo é opção
Condene se necessário for,
Reprove a todo vapor,
Manifeste-se, por favor!
Não basta uma greve a cada estação
A solução é lutar por um direito
Que dizem estar na constituição
Bobagem,
Vem mesmo do coração
Essa bomba-relógio de centro-esquerda.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Soneto aparente do vizinho carente

Em noites quentes eu ouço tudo
Tudo o que acontece no escuro
A coisa toda rola de madrugada
E eu sou cúmplice dessa roubada.

Lá, no andar de cima, dois
Corpos insistem em não resistir
Se entregam gostoso à antropofagia enfim
E eu aqui em baixo só de gaiato...

A mina geme d’uma forma penetrante
Mesmo eu não sendo seu amante,
Curto (as)sim ouvir os seus gritinhos sobre mim.

É como se eu estivesse junto dela,
Comendo ela naquele instante
Mas não, eu só a ouço, não a sorvo afoito...

sábado, 12 de outubro de 2013

A porta dos fundos


Nesta sociedade em que vivemos, há algo que sempre me instigou o cenho, e desde muito pequeno, é a danada da separação de entradas e elevadores sociais e de serviços. Você aí, amigo leitor, já deve de ter trombado com essas ditas cujas em algum momento da tua vida. Se você aí, que me lê, mora ou conhece alguém que more em prédio, já sabe muito bem que elevador social é por onde os moradores do prédio e seus convidados adentram o condomínio. Já o elevador de serviço é destinado aos empregados assalariados que trabalham no prédio. Curiosa também é a diferença estética desses meios de transporte. Enquanto um é espaçoso, o outro é estreitinho, enquanto um tem um enorme espelho embutido, o outro é todo forrado, de cima à baixo, de um acolchoado de uma cor meio assim acinzentada, neutra.

As entradas sociais e de serviço também têm lá suas diferenças. Um bom exemplo disso são as entradas dos hospitais. Penso aqui nesses hospitais de renome, que são referências em determinadas especialidades, sabe? Pois bem, a entrada social é a principal. É por ela que os doentes cheios da grana adentram a instituição médica em busca de tratamento. Já os medicamentos, os equipamentos usados por esses a fim de se curarem de suas enfermidades, entram pelos fundos do hospital, entram pela entrada de serviço, ou melhor, entram pela entrada de nome sugestivo: área de carga e descarga.

Agora você, amigo leitor, entende o que eu estou tentando expor aqui? Veja bem: aqueles e aquilo que realmente faz(em) a diferença -- ou bota a porra pra funcionar direito -- no recinto hospitalar e residencial, entra pelos fundos, pela porta dos fundos.

E, uma analogia aqui é inevitável, todo mundo tem uma tara por fundos, ou melhor, todo mundo curte um fundão. Quem aí sentava no fundo da sala de aula? Você aí ainda se lembra de que era lá que a turma do barulho, os bagunceiros de plantão, sentava? Era por lá que os mais populares ficavam de pirraça e palhaçada também. Outro exemplo explicativo: você aí quando vai ao cinema, ainda prefere se sentar, com a sua namorada ou com o seu namorado, lá no fundão da sala de projeção? Cê tá ligado comé que funciona o esquema, né? Lá no fundo o bagulho é doido! É quente de gostoso! Cê aí já manja do negócio, né não?? Safadão. Safadinha...

Enfim, tenho outro comparativo aqui na manga. Peço desculpas desde já pela minha falta de vergonha na cara. Mas o que eu gostaria de invocar aqui é algo muito sério. Quero aqui falar de cu, ou melhor, quero aqui falar um bocadinho de sexo anal. A gente tá cansado de saber que a maioria das mulheres aí soltinhas não curte essa modalidade da fornicação saudável. E até compreendemos o motivo: preconceito, falta de informação, experiência traumática no passado com um ex-namorado retardado, vá lá... Mas, meu caro amigo leitor angustiado, não se preocupe, o presente texto foi aqui redigido pra tu ter um bom argumento com a pequena excitante hesitante. Faça ela se lembrar, ou se tocar, que é na porta dos fundos que as coisas realmente muito boas, coisas importantes pra valer e coisas deveras vitais entram. A porta dos fundos não é só uma saída de emergência, uma saída de escape escatológico, ela é uma entrada de prazeres infindáveis, meu bem. Ela é o portal das sensações mais variáveis, pode crer. Amiga leitora, não renegue a si mesma mais esse prazer. Libere o cuzinho. Relaxe. Cê vai gostar.

Social rima com banal, trivial, coisa manjada de normal. Que tal fazer algo mais radical? Serviço dá mais trabalho, é delicado, é coisa que exige mais esmero e atenção, por isso mesmo vale o suplício, o sacrifício. Pense direitinho no que eu lhe digo. Pense melhor no furo, pois você sabe bem, todo furo é manchete, é algo que todo mundo gostaria de ter dado primeiro, só não teve a coragem, a sorte, ou a oportunidade para tal. Pense nisso, meu bem, e não me leve a mal. Eu te quero tanto bem.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A VONTADE DE TODO O SEMPRE

tô deprê
de frente a tevê
onde não há nada pra se ver
comer
ou foder
por de trás de um vidro fume
fome de você

...

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Anotações de um bebum introvertido (10)

Você só conhece uma mulher quando a come.





Um bombom é sempre bom, mas um bumbum é bem melhor!!





Caminhando pela Major Sertório, eu vejo a sombra. Uma sombra que conta notas. Uma sombra que conta vidas. Essa sombra não sei se era de homem ou de mulher, só a vejo curvada em si mesma, é uma sombra corcunda, que balbucia afetos, que grita desrespeitos. A sombra não se move por inteiro, apenas desliza os dedos negros num apetrecho estreito, de luminosidade opaca, estranha, fantasmagórica. A sombra que vejo era uma, agora, ao cruzar o Elevado, a sombra que vejo são duas, três, dezenas, trocentas... São sombras fixas a cada esquina fria; são sombras aos montes que marcham na São Luís querendo dias de final feliz. Junho de 2013.





Caminha nego, caminha certeiro, caminha com a engraçadinha que num te dá arrego, caminha sem-graça com a desgraçada espevitada, caminha tristonho, cabisbaixo, magoado pra caralho pois a tipa foi-se embora e tu tá aí ainda caminhando sem rumo certo, mas ainda respirando.





Poucas, realmente muito poucas, pessoas se lembrarão dos sacrifícios que você já fez. Porém, todas, sem exceção, se lembrarão daquilo que você um dia negligenciou.





Ah, ressaca desgraçada que teima em debilitar a cabeça após uma boa noitada de farra com cachaça de graça!!