quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

SEREIA TROPICAL

É verão! São férias!! Estão todos aí já e se esfregando na tua cara. E você, o que vai fazer?? Cai pra praia, ué. Fica aí não, José. Desce a serra e vira farofeiro. Todo mundo, sem exceção, que corre pra praia nesta época do ano é farofeiro. E farofeiro pode ser batuta ou filho da puta. O batuta divide o rango, já o filho da puta regula. Então, fique esperto, fique ligeiro, quem se assa na areia à lá milanesa tá melhor do que a Calabresa! Bota aí o sungão, bota aí o biquininho de bolinha amarelinha, a onda agora é curtição. NO STRESS. Finca o guarda-sol na areia, põe as cadeiras ou as esteiras em baixo, se unta de protetor solar e mira a cara ou a bunda em direção ao mar. Relaxe e goze... Descanse bem, meu bem. Curta esse prazer anal. Opa! Melhor dizendo, anual, anual!! Gente, desculpa aí a empolgação. Liga não. Enfim, neste verão 50 graus, fique esperto aí no litoral, pois tão fofocando muito sobre uma tal de Sereia Tropical. Dizem que é uma lenda litorânea atual, mas, assim como a brincadeira, que parece ser mais uma besteira, tem lá sua verdade verdadeira. A Sereia Tropical tá de onda! Tá na areia e nos luaus bem pertinho dos casais. Ela não é que nem a Iara, toda recatada e bonitinha. A Tropical é mais radical, porra-louca e suicida!!! A tipa passa o rodo geral mesmo com aquele rabão de peixe escamado. Ela devora homens bem mais do que a Cicarelli!! Ela canta e encanta os mauricinhos de plantão. Aliás, ela adora esses tipos no seu vasto cardápio, pois são esses os mais facinhos e que berram mais alto quando estão sendo esfolados e revirados vivos. A Sereia Tropical dá mole e é letal! Acredite. Vai por mim. Em toda orla deste brasilzão só vai dá ela, os pentelhos e os chupões. Dica importante: se você aí, mesmo depois d’eu ter te alertado sobre a tipa e seus riscos de flerte e, ainda assim, querer se entrosar com ela, encape bem o seu arpão, meu filho!! Falo sério. Cu de peixe não é flor que se cheire. O cuidado deve ser redobrado quando se adentra por esses mundos – mundos fantásticos de rito retais. Quem copula e se protege tem mais chance de sobreviver. Geralmente, quase todos morrem. A Sereia Tropical não quer saber de namorado, noivo e coisa e tal; ela quer um pau amigo pra se divertir e nada mais. Depois do treme-treme, ela decepa o meliante e consome a carne tenra pós-coito alucinante. A Sereia Tropical só se alimenta nesta época do ano. E vai nesse ritmo até o Carnaval!! Depois disso tudo, hiberna em pele de freira e ninguém - ninguém mesmo – dá pau na pequena. Bora então, cambada! O verão urge e pede desconto!! Bora lá!! Deixe seu encosto e vem pra costa!! É chegada a hora.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

"Eu vou morder a sua bunda"

O mundo já não é o mesmo. Neste século em que vivemos muita coisa acontece e sequer sabemos o porquê acontece, mesmo tentando a todo custo compreender. Observamos as coisas, nós as analisamos, discutimos, compartilhamos e, ainda assim, o que descobrimos é muito pouco diante do mistério que ainda sobra e nos assola. Vai ver tem coisas que não tem explicação. Vai saber. Talvez a não-resposta seja a resposta que muitos aí desejam e ainda não perceberam, ou, sei lá, preferiram ignorá-la, na esperança cega de que um dia, ela, a resposta, virá, e virá pra aliviar. Enfim, o mundo anda estranho, muito estranho, aliás. Até os seres sobrenaturais andam se comportando de forma inusitada. Tem muito lobisomem por aí que virou gogo boy! E nem de Chapeuzinho Vermelho querem saber mais. Só babam pelos Três Porquinhos mesmo... Os mortos-vivos então, nem se fala! Preferem ser chamados de zumbis e, só porque tão fazendo sucesso numas séries norte-americanas aí de televisão, tão porque tão andando de narizinho em pé cheio de sangue podre. As bruxas também tão na moda. Todo mundo, hoje em dia, tem como amiga ao menos uma dessas criaturas. Se não sabias, já lhe digo: é aquela amiga moderninha que curte baladinhas GLS e do tipo pop rock independente à lá hipster e que frequenta essas feirinhas ripongas estilo Mundo Mix. Tem muita bruxa solta por aí! Contudo, são os vampiros que me preocupam. Os vampiros, deste século, andam numa boa durante o dia. Até aí, tudo bem! Dá até pra relevar. Vai ver é coisa dá evolução ou de um bom protetor solar e tal. Porém, tem uns aí que brilham, ou melhor, cintilam feito diamante quando expostos à luz do sol. Vampiro virou uma espécie de fada Sininho. Tá. Ok. Isso aí é um caso isolado, mas é fato, por isso aqui o comentário. Os vampiros ainda são uns baitas sedutores. Eles continuam e sempre continuarão a fazer sucesso entre as pessoas de sangue quente. Sexo e sedução nunca sairão de moda. E ainda mais nesta sociedade de consumo, de aparência e de diversão sem começo, meio e fim. Tudo é farra, trollagem e desbunde. Os vampiros estão no topo dessa sociedade e não só da cadeia alimentar. Exemplo vivo disso é uma vampirinha que eu conheci este ano. Seu nome de guerra é Val Clamp. Aparenta menos de trinta, mas tem mais de três séculos, a garotinha. Ela é baixinha feita Annabelle e branca muito branca que nem a Branca de Neve. Seu poder de atração emana daqueles lábios carnudos e vermelho-sangue que ela chama de boca. Essa lembra muito aquela da atriz gostosona de Hollywood - essa mesma que tu tá pensando. Aquela boca é fora de série mesmo... Continuando, a Val é vampira das boas. Ela joga o jogo e joga muito bem. Difícil vê-la triste, cabisbaixa; ela tá sempre sorrindo e gargalhando pra caralho, aquela desgraçada! Ninguém, mesmo morto, fica moribundo perto dela. Val tem muitos amigos e amigas. Entre esses é a mais querida. Val tem muitas vítimas também. Porém, ela é sacana, ela é uma provocadora nata e filha da puta. Val Clamp não é vampira de morder pescocinhos, não. Val Clamp morde bundas! Mas isso é coisa recente, disse-me ela dia desses. Ela só começou a cravar seus dentinhos nas bundas roliças de suas vítimas à apenas cinquenta anos atrás. E mesmo que, pra ela, isso seja meio que manjado já, ela o faz e continua se divertindo um bocado. “Eu vou morder a sua bunda.”, diz ela a suas vítimas nas noites mais escuras. Quem a ouve assim, de surpresa, leva susto, mas não bota fé. Acham que é tiração e tal. Pobres coitados! Basta ela abrir aquele bocão num sorriso sinistro e mal-intencionado para ela derrubar sua vítima num segundo e tirar-lhe as calças, ou qualquer coisa aí que cubra suas nádegas, noutro e enterrar seus caninos de prata nas partes baixas... Val Clamp morde e morde com gosto!! Não desperdiça uma gota sequer do líquido escarlate vital e sai saltitando, satisfeita e cruel, pelas ruas escuras da cidade grande. A trollagem não tem fim, não tem limites, nem mesmo entre os seres sem alma. Então, cuidado! Muito cuidado. Tem vampira farrista de olho na tua bunda!!

sábado, 20 de dezembro de 2014

O barato que vem do nada e eu sou obrigado a pô-lo na porra da folha de papel em branco

o novo se torna velho diante do novo que a de vir

meu amor, tenho que partir
talvez eu te reveja por aí
se não, passar bem
tô passando
meu encanto se quebrou

No fim, uma resposta, que nunca vem

A queda foi grande.
Eu me machuquei pra caralho,
Mas não fiz escândalo de palhaço.
Ali, estatelado, tentei entender o fato:

Tudo ia bem, aparentemente.
Eu era um cara dedicado,
Porém, fui acusado de negligente.
Ela não estava contente, realmente.

Tentei contra argumentar, mas não deu em nada.
Ela estava atada a comentários de terceiros.
Ela me chamou de mentiroso, trapaceiro,

Mesmo eu sendo sincero, respeitoso e companheiro.
Eu fui pego de surpresa e
Com a mão esquerda, ela me empurrou do desfiladeiro.

sábado, 13 de dezembro de 2014

De olhos bem abertos

Mano, amigo meu

Hoje em dia, as mina pira na maionese
E tampouco vibram com arquidiocese
As mina, ultimamente, olham pra ver se tão olhando...
Elas são puro encanto!
As tipas se exibem a todo instante
Sempre tão em busca dum flagrante
Tão porque tão querendo aparecer
E você, sem querer,
Acaba se vendo babando
Quando elas passam desfilando
Do seu lado
Com aquele rabo todo empinado


Mano, meu camarada

Tá difícil um homem ser fiel
Nessas paradas de agora
É tanta oferta,
É tanto desbunde,
Que você acaba tonto
E meio torto
Quase virando um corno
Se não cuidar bem do deu broto


Então, meu chapa,

Fique esperto,
Fique de olho, olho vivo aí,
Toda mulher do presente se sente a última dos biscoitos.

domingo, 7 de dezembro de 2014

A caixinha de Barboza

Dizem que não existe, mas é mentira. Existe sim! E eu mesmo já a vi. Ela é real. A caixinha de Barboza é uma realidade deste mundo. Faz muitos anos, é verdade, mas eu me lembro dela como se fosse coisa de agora, coisa fresca e bem madura de comer. Eu era um reles alferes do mítico Valentina Quebra Ossos quando ele partiu numa caça desenfreada ao tesouro do pirata Sorriso de Hiena. Nós, piratas, sempre nos reuníamos numas pocilgas de qualquer reino pra encher o cu de rum e trocar informações entre a gente. Numa dessas orgias de sempre, o tal tesouro foi assunto recorrente. Parecia que um ex-marujo do tal Sorriso cantou de papagaio antes de ter seus membros arrancados pela guarda real e, claro, caindo a informação lá, ela caia entre a gente também. Nosso capitão, o Barba Púrpura, quando ficou sabendo disso, ficou todo empolgado. Fazia tempo que ele não caia no mar numa busca desse tipo. Ele já estava entediado de saquear navios mercantes. Nosso capitão sempre teve gosto pela aventura. Mesmo que nela, metade de tripulação, ou mais, se perdia, não sobrevivia até o fim da empreitada... Pois bem, Ele levantou mais informações sobre o tal tesouro e, com tudo quase certo, montou uma nova tripulação. Eu estava no meio desses novatos. Eu já conhecia bem o histórico do capitão Barba Púrpura, pois sempre andava nesse meio de desajustados, nunca conheci meu pai e nem a minha mãe. Naquela época, eu me sentia mais velho, mais preparado e disposto a encarar os riscos. Eu não tinha nada a perder. E o capitão parecia ser gente boa. Me apresentei a ele e ele me aceitou de cara. “Finalmente!”, disse-me ele. Lembro disso muito bem. Manhã seguinte, partimos. O Valentina Quebra Ossos era um navio monstruoso! Nele havia dezenas de compartimentos e a madeira utilizada na sua construção, diziam, não ser madeira típica deste mundo mortal. Não sei dizer se ele foi pintado, mas todo ele era colorido na cor púrpura, tom idêntico à barba do capitão, daí a inspiração, achei. Suas velas eram negras como a noite. E elas refletiam as estrelas do céu - até mesmo durante o dia! Sem dúvidas, um navio de dar medo. O nome Valentina Quebra Ossos vinha da ex-esposa do capitão. Numa dessas poucas noites de calmaria, ele nos contou que a tal Valentina foi o grande amor de sua vida. Ela era uma mulher robusta e encrenqueira. Encarava uma boa briga numa boa. Batia e pra matar nuns dez caras facilmente. O fim dela, o capitão não nos contou, mas, entre a tripulação, se falava que ela era o próprio navio – ela tinha se transformado nele. Enfim, navegar era uma experiência fantástica! Uns novatos sentiram enjoos, mas eu não! Eu me sentia, enfim, no meu habitat natural. Monstruosidades quase todas as noites e tempestades horríveis durante o dia não me intimidaram. O capitão Barba Púrpura nos fazia dar o máximo e o melhor da gente. Muitos morreram, mas os que sobreviviam se davam cada vez mais e mais. Parecia até que estávamos enfeitiçados por um feitiço encorajador... Fazia alguns meses que estávamos no mar aberto. Já tínhamos passado por diversos apuros e glórias. Não comento aqui sobre eles para não estender demais o meu relato. Outro dia, quem sabe, te dou os detalhes. O foco aqui é a caixinha de Barboza. Pois bem, nosso capitão tinha um mapa. Este foi feito por ele mesmo, todo ele era baseado e rabiscado nas informações levantadas pelo próprio capitão. No mapa havia um “x”, claro. Esta marca traçada pelo nosso capitão era onde ele estimava encontrar o tal tesouro do capitão Sorriso de Hiena. Seu “x” estava sobre a água no mapa, mas, quando o Valentina Quebra Ossos se aproximou do ponto marcado, havia uma ilha. “Terra à vista, homens!!!”, gritou nosso querido capitão. Era madrugada quando ele deu o aviso. Alguns companheiros roncavam e logo se puseram de pé ao grito dele. Talvez ele estivesse apreensivo, acho até que nem dormia direito, tamanha a ansiedade... Assim, não perdemos tempo, desembarcamos os botes e fomos direto à tal ilha. Esta não constava em nenhum mapa por mim consultado posteriormente, durante o desembarque dos botes. Conforme nos aproximávamos da ilha, percebemos que ela não era uma ilha comum: a areia da praia lembrava ferrugem, sua consistência era mais dura, parecia até cascalho; a vegetação era igualmente estranha, nunca tinha visto plantas e árvores daqueles tipos, elas eram verdes, tinham cheiro de planta e tal, mas, ainda assim, eu notara algo de não vegetal nelas todas... O capitão e o restante da tripulação pareciam surpresos também, porém bem mais concentrados no objetivo do que no meio-ambiente. “É por aqui, cambada. É por aqui! Sigam-me.”, dizia o capitão com suas anotações à mão. Adentramos aquela vegetação estranha e fomos abrindo caminho. Eu olhava para os lados e atrás de mim em busca de algum animal local e nada, sequer ruídos eu ouvia, somente o vento mesmo entre as árvores. Pensei até em comentar sobre isso aos demais, mas eles pareciam hipnotizados com a possibilidade de, enfim, encontrar a tal da caixinha de Barboza. De repente, avistamos um objeto estranho ao longe: uma espécie de totem, não cilíndrico, mas mais parecido com uma prancha enorme de madeira, porém, não era de madeira, tampouco de aço, era de um material negro não brilhante... Quando chegamos mais perto, percebemos que, no tal objeto, havia uma espécie de porta na sua base. “Bora, homens! É só entrarmos.”, disse o nosso corajoso capitão. Antes d’eu entrar, dei uma apalpada nesse totem escuro, que não tinha nada desenhado ou escrito, ele era todo liso, de um material desconhecido que não refletia nada, lembrava um espelho gigantesco que só refletia a cor preta e mais nada. Passei pela entrada e visualizei um caminho de terra e rochoso descendo em espiral. Meus companheiros, bem à frente, queimavam suas tochas e seguiam o capitão. Conforme descíamos, o lugar ficava cada vez mais e mais quente. Miasmas alaranjados tomavam o lugar, mas conseguíamos ainda respirar com pouca dificuldade. Após passarmos por um corredor mais estreito, nos deparamos numa grande câmara, no teto percebemos umas coisas redondas lá fixadas... “Silêncio.”, sussurrou o nosso capitão, quase não podendo ser ouvido. Estávamos em fila indiana, dando passinhos lentos e desapressados quando um dos nossos tropeçou e caiu, fazendo um barulho infernal com a tralha que ele levava... Nossas almas gelaram na hora. E todos olharam para cima e viram milhares de olhinhos vermelhos e dentes afiados reluzentes caindo sobre a gente... “Corram!! Corram por suas vidas, seus desgraçados!!”, gritou o nosso apavorado e preocupado capitão. Corremos nos atropelando e tentando nos defender daquelas criaturas peludas e famintas pelo nosso sangue. “Por aqui!! Rápido!!”, gritou o capitão enquanto cortava duas, três daquelas coisas e apontava um caminho à sua frente. Acho que eu tive sorte, pois poucos sobreviveram ao massacre. Aquelas coisas não nos seguiram. Elas pareciam limitadas àquela câmara. Muito estranho isso, achei... Enfim, continuamos seguindo o capitão Barba Púrpura. Era ele e mais treze, incluindo eu nesses treze, então quatorze homens ainda vivos dos quase sessenta que na ilha desembarcaram. Todos pareciam cansados, assustados, mas determinados em continuar em frente. “A caixinha da Barboza está próxima.”, dizia o nosso querido e motivador capitão. Continuamos então, sempre seguindo em frente e descendo, cada vez mais e mais fundo. Adentramos outra câmara, bem maior que a anterior e, no altar que ali avistamos, bem lá no alto, vislumbramos um pequenino cubo flutuante irradiando uma luz branca intermitente: era a caixinha de Barboza!!! “Ali, homens!!! Muito cuidado agora.”, disse o capitão. Apagamos nossas tochas e fomos caminhando em direção ao grande altar: a caixinha de Barboza iluminava todo o ambiente. De repente, notamos que nossas sombras estavam esticadas demais sobre o chão e as paredes de pedra da câmara, elas pareciam vivas e choque: nossas sombras emergiram do chão em forma de animais peludos muito parecidos com a gente! E esses empunhavam as mesmas armas que carregávamos conosco!! Nossas sombras nos atacaram. Barulho de lâminas, socos e chutes ecoaram naquela gruta. Grunhidos e gritos também. Eu estava encurralado pela minha própria sombra quando o capitão me salvou, cravando sua espada no pescoço da minha sombra. “Rápido, rapaz! A caixinha!”, disse-me ele apontando para o alto do altar. Corri o mais rápido qu’eu pude até lá. A caixinha cabia na palma da minha mão. Eu a agarrei rapidamente, não me atentando muito àquela luz branca quase cegante que ela irradiava. E quando eu olhei para trás, para mostrar ao capitão e aos demais que tínhamos, enfim, conseguido, vi a cena apavorante: todos tinham sido mortos, as sombras tinham decapitado a todos, o capitão era o único sobrevivente de joelhos e cercado pelas sombras. Lá do alto do altar, e com a caixinha de Barboza em mãos, pude ouvir a voz monstruosa da sombra do capitão: “Ora, ora... Enfim, deu as caras, hein, Barba Púrpura!! Pensávamos que tinha se acovardado da gente. Você demorou demais pra honrar o combinado. Agora você pagará o que nos deve.” A sombra sinistra do capitão Barba Púrpura erguia sua lâmina para enterrá-la de vez no crânio do capitão, quando este sorriu e apontou para mim. Todos ali me encararam. “Abra a caixinha, rapaz!!!”, gritou meu capitão. As sombras peludas correram em minha direção. “Eu não sei como, senhor!!”, gritei eu. As sombras aceleram o passo com olhos de sangue... “Basta se lembrar de uma lembrança boa que você já teve.”, gritou meu capitão caindo de bruços sobre o chão. “Uma lembrança boa??”, pensei eu alto. E quando as quatorze sombras estavam apontando suas lâminas sobre mim, e eu já no chão apavorado, quase chorando, eu me lembrei, como se fosse um relâmpago de imagens: eu me lembrei que mesmo órfão, não conhecendo o meu pai e nem a minha mãe, eu tive muitas pessoas que cuidaram de mim até ali. Eu me lembrei da tia gorda que sempre me dava de comer, eu me lembrei do sujeito manco que me ensinou a pescar, eu me lembrei dos colegas de rua que, apesar das dificuldades do dia a dia, sempre dividiam comigo o pouco dos restos de comida que eles arranjavam, eu me lembrei de tantos outros que me ajudaram a sobreviver até ali e, claro, lembrei do capitão que tinha salvado a minha vida... Nisso, uma força impressionante, emanada de dentro da caixinha recém aberta, sugou todas as sombras assassinas ao meu redor. O lugar começou a desmoronar. E eu fui tomado por um vórtice dourado que ia de encontro ao teto da caverna! Antes de desaparecer além, pude ainda ver o corpo do capitão Barba Púrpura estirado no chão... Num piscar de olhos, me vi nos céus sobre a ilha. Lá do alto, pude ver o Valentina Quebra Ossos sendo atacado e envolvido por uma criatura gigantesca cheia de tentáculos prateados... Eu pairava sobre a ilha e, de repente, ela começou a ser engolida por um redemoinho assustador de enorme! A ilha desaparecia e desaparecia rapidamente, engolida totalmente pelo redemoinho. Este também tragava a criatura de tentáculos e os restos do Valentina. Quando tudo, enfim, ficou calmo, eu despenquei de lá de cima. Fiquei lá boiando sobre os restos do antigo navio. Não sei bem por quanto tempo fiquei lá à deriva, eu não sentia mais o poder do tempo, eu não sentia fome ou sede, tampouco frio ou calor, eu não sentia mais nada, nem mesmo a caixinha de Barboza eu sentia mais em minhas mãos... Lembro vagamente de outro navio pirata me resgatando e d’eu contando essa história a eles. Lembro que pedi a eles para me deixarem na próxima parada. E estou aqui desde então. Trabalhei, prosperei e constitui família por aqui. E, se não disse antes, digo agora o porquê de tanto interesse que tanta gente tem em ir atrás da caixinha de Barboza. Digo que não é mais uma lenda, é a pura verdade, quem a encontra acaba se lembrando da real felicidade. O Barboza da tal caixinha foi o primeiro cara realmente feliz deste mundo e, pouco antes de partir para o outro mundo, ele reuniu essa pura felicidade na tal caixinha. O capitão do Sorriso de Hiena foi um de seus subordinados. E o meu capitão da Barba Púrpura também o foi. Descobri isso tempos depois. Curioso, não?

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Enfim, a redenção

Uma figura suspeita
Se sustenta
Na esquina.

Na noite
Se esconde
Sendo Caronte.

Espreitando
Sua vítima
Com toda estima assassina.

A figura se move
Não resistindo à sorte
E engatilha o seu bote...

O sangue jorra
Suavemente
Da vítima surpreendida.

A vítima, enfim, sorri faceira,
Pois não mais ficará de vigília
No aguardo da visita a tanto tão querida.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O livro da capa aluminada

Voltava eu de uma cruzada. Eu tinha acabado de conquistar outra cidade, mais um grande adendo ao reino de meu querido rei, quando vi o livro da capa aluminada. Meu comboio passava por um desses pequenos povoados à beira de oásis e, enquanto nos abastecíamos de previsões e armamentos, dei de cara e fuça com uma menininha toda suja e maltrapilha carregando um grande livro prateado por debaixo dos bracinhos finos. Aquilo me despertou curiosidade: como aquele artigo foi parar naquelas mãozinhas? Separei-me dos demais e fui abordar a pequena. Essa, quando se apercebeu seguida, disparou ligeira numa corrida frenética. Parecia até tomada por alguma entidade não deste mundo. Por sorte, o lugarejo era pequeno, mesmo abarrotado de todo tipo de gente, consegui acompanhar seu nodoo vulto até uma tenda um pouco mais afastada da maioria. Caminhei até lá a passos lentos, não tinha como a menininha fugir de lá e, também, não sou guerreiro de correr feito lacaio atrás de garotinhas. Diante da tenda, pude ver um filete de luz entre os panos. Tinha alguém lá, sem dúvida, porém, eu não ouvia barulho algum de lá de dentro. Quando eu entrei, entrei de uma vez, mas sequer imaginei que poderia encontrar por lá o que acabei encontrando: o livro da capa aluminada estava lá, bem no meio da tenda, sobre um suporte de pedra negra. Convém relatar aqui, quando adentrei a tenda, essa, num piscar de olhos, se transmutou numa caverna escura e úmida. Percebi, na hora, que não estava mais no tal povoado à beira de oásis. Não me fiz de preocupado, pois, nesta vida de centurião, já vi muita coisa além da imaginação... Aquele livro era um tesouro! E eu, além de conquistador de territórios, sou um colecionador de tesouros, de relíquias. E, aquele livro da capa aluminada, como eu suspeitava, era algo bem mais do que um simples artigo de cofre. Talvez fosse algo mágico. E, aquela mudança de cenário, só reforçou em mim essa suspeita. Olhei ao redor da caverna, procurando alguma armadilha, afinal, artigos desse porte nunca estão assim à mão, fáceis demais de serem apanhados; eles sempre estão protegidos por algo ou alguém. Então, olhei bem ao redor, apalpei as paredes, cheirei todas as plantas ali que insistiam em crescer num ambiente tão escuro e úmido... Fiquei desconfiado disso, claro, mas parecia tudo nos conformes, sem artimanhas mágicas à mostra. Em seguida, me ative ao livro da capa aluminada e ao pedestal de pedra negra onde ele repousava. De onde eu estava, pude ver a capa, mas essa não exibia nada assim reconhecível, somente uma moldura em arabesco, nada estava escrito na capa. Aproximei-me mais do livro, de alguma forma, a capa prateada irradiava uma luz branca chamativa, convidativa... Não resisti, agarrei o livro com as duas mãos, mas é claro, olhando ainda para todos os lados em busca de alguma armadilha de última hora. Nada. O livro era pesado, muito pesado, aliás. Contudo, o ergui na altura dos olhos, o manuseei bem para ver se tinha alguma coisa gravada na parte de trás dele e na lombada. Nada. Somente as linhas em arabesco, nada estava escrito. Para folheá-lo, não teve jeito, tive que devolve-lo ao suporte de pedra negra, pois ele era muito pesado. E quando eu pousei a capa virada por mim sobre o suporte de pedra negra, quando eu abri o livro totalmente, senti uma força estranha puxando minhas mãos, de modo que essas ficassem grudadas sobre o livro recém aberto. Aí me bateu um certo desespero: de repente, as veias das minhas mãos começaram a ficar salientes, inchadas, como se estivessem sendo preenchidas com alguma coisa, alguma coisa não vista; as veias dos meus braços também se enchiam rapidamente. Rosnei de dor, óbvio. Aquele troço estava invadindo a minha corrente sanguínea de uma forma impressionante! E quando chegou ao meu coração, não deu outra, a dor foi tanta que ajoelhei, e ainda com as mãos grudadas no maldito livro. Eu gritava feito um animal abatido estrebuchando. Meu desespero até mesmo me assustou! Eu não queria morrer, claro, não ali e daquele jeito. Eu era, e sou, um guerreiro. Meu destino é morrer no campo de batalha e não numa armadilha mágica planejada. E quando eu gritei “Não!!!” bem alto e forte no auge da dor que tomava meu corpo inteiro, senti que a coisa que me invadia voltava para o livro. Senti um certo alívio. Porém, durou pouco. A coisa parecia mesmo estar saindo do meu corpo. Contudo, pude perceber que o livro estava sugando o meu sangue... Sob minhas mãos, ainda grudadas naquele livro desgraçado, pude ver a poça de sangue se formando e sendo absorvida pelo livro aberto de páginas em branco. E, conforme meu sangue ia sendo absorvido, umas letras, umas palavras iam se formando sobre as páginas...


AVISO I
Este é o livro forjado pelo próprio KAOS.
Quem dele quiser ler, pagará com a própria vida.
Ou quem dele recusar, pagará com a metade do seu sangue.

AVISO II
Quem dele decidir ler, morre para se tornar um deus entres os homens.
Quem dele rejeitar, viverá metade da vida que viveria naturalmente.

AVISO III
A possibilidade de escolha nunca é dada, pois somente quem não teme o desconhecido merece o poder da criação.


Aquelas palavras, visíveis graças ao meu sangue, me doeram mais do que a dor provocada ao abrir o livro. Num susto, uma força invisível me despregou do livro. Voei para trás uns sete metros além do pedestal de pedra negra. Quando dei por mim, estava no chão da tenda, sem nada reconhecível à vista. Levantei-me a custo e sai pra fora. Era madrugada. Ninguém se mostrava, somente os cães vadios em busca de alguma coisa que servisse de comida... Eu estava meio tonto, fraco e todo molhado, mas decidido em largar de vez a vida que eu levava. Eu não tinha mais tempo a perder.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A FLOR SUICIDA



À Érica, essa minha amiga assassina do romantismo



Mijada foste no elevado
Quando aberta as primeiras pétalas
Na primeira aurora da Primavera,
Flor branca maculada.

Sua sina foi sinistra
Sem sequer atrair beijos afoitos voadores
Teve seu entorno e seu íntimo
Violado pelo dejeto úrico fálico.

E, ali parada,
Sem entender nada,
Pois acabara de despertar,
De se abrir ao mundo,
Percebeu-se suja, imunda
Em meio às suas irmãs,
Ainda botões,
Todas elas bem branquinhas, limpinhas
Sem sinais de violação.

Daí não se conteve
Diante da sua desgraça:
Arrancou-se do grosso galho
E atirou-se do elevado...

Sua queda foi rápida –
Corpo encharcado de desejo.
Seu pequenino corpo se estatelou no asfalto da avenida movimentada,
Seu pequenino corpo foi despedaçado por centenas de carros apressados.

E ninguém se deu conta
Da tragédia ali à vista
E sem pompa.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

De saco cheio da rede que se esvazia

Cansei da tal felicidade dos outros.
Tudo que vejo compartilhado
É um estorvo!
Ou coisa de louco.

Cansei de ver o que não devo.
Tudo assim exposto
Dá medo!
Eu não mais aguento...

Vou me desligar de tudo isso!
Vou tentar me esquecer daquilo...
Não tô afim de mais nada.

Não vejo mais graça
Na tentativa frustrada
De se mostrar realizada nessa grande farsa.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Patologia do crime sem castigo



À Érica, essa minha querida amiga psicopata



Você me faz bem
Mesmo me fazendo mal.
Você quer o meu mal
Quando lhe faço bem.

Você quer o meu melhor,
Mas deseja o meu pior.
Você, pra mim, é a melhor!
Quanto a mim, pra ti, sou o menos pior...

E nesse jogo de avessos
Cheio de versos livres,
Apreço e chamegos,

A gente joga o jogo genuíno
Dos que se pegam feito doidos
Sem dar bola pra que vão dizer disso.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O Escritório

A vontade faz a necessidade.

E quando a vontade é muito grande, coisa doida fora deste mundo, a gente têm mesmo é que aplacá-la de uma vez, mesmo que tenhamos de desembolsar uns bons trocados para isso.

Assim, não deu outra, pro negócio rolar gostoso, tivemos que abrir um escritório.

Ela e eu tínhamos um caso antigo, do tipo rolo, sabe? Nossa sociedade era bem instável. Ficávamos bem durante uns meses, do tipo bem intenso mesmo e, logo em seguida, nosso ritmo caia drasticamente. Nossas ações desvalorizavam rápido demais.

Contudo, éramos teimosos, ou uns apaixonados não assumidos, e reatávamos donde tínhamos parado - talvez na esperança boba de que o negócio, dessa uma vez mais, desse certo enfim.

Pois bem, dessa última mais uma vez, concordamos em montar um escritório fixo, uma lugar concreto e definitivo, uma primeira sede. Optamos por um lugar bem discreto, depois de muito pesquisar nos classificados aí à mão; a região parecia tranqüila e, o mais importante, era bem distante de nossas respectivas moradas oficiais.

Nós dois tínhamos outros casos. Nós dois éramos complicados: ela, dois filhos pequenos, eu, uma ex-esposa encrenqueira e nós dois, um e outro parente e vizinho xeretas.

Lugar escolhido faltava mobiliá-lo adequadamente Levamos um bom tempo nisso, mas foi até divertido fazer esse projeto juntos, sabe? O escritório estava ficando com a nossa cara. Um lugar elegante, prático e com tudo que precisávamos para realizar os despachos diários numa boa.

O dia da inauguração foi inesquecível. O escritório de arrumadinho ficou bem bagunçado, mas acho que é sempre assim quando dois sócios ficam deveras empolgados com o negócio enfim ganhando forma, corpo por meio do nosso próprio suor e esforço físico. Nossas progressões iam muito bem durante vários meses. O escritório estava nos dando bons lucros e satisfações visíveis. Estava tudo indo bem e certinho.

Porém, sempre um porém, minha sócia me apareceu um dia com umas idéias estranhas...

Nós dois sempre fomos transparentes um com o outro, nunca escondemos nada de ninguém, sempre jogávamos o jogo seguindo as regras e criando as nossas entre a gente mesmo, um bom negócio só dá certo dessa maneira, com respeito, intimidade e sinceridade sobre a mesa.

Mas, nesse dia, a sinceridade me bateu na cara duma forma inesperada e implacável: minha sócia sugeriu terceirizar os serviços do escritório.

Aquela idéia dela me abalou geral. Seria até compreensível essa idéia dela se estivéssemos enfrentando alguma crise e tal. Mas, ao contrário, estava tudo indo bem, as contas fechavam direitinho, algumas surpresinhas aí desagradáveis no meio do processo apareciam, porém tudo dentro da nossa estimativa traçada e discutida. Aquela idéia dela foi muito descabida e inoportuna.

O argumento dela era de que precisávamos expandir nossas relações, nossos departamentos; ela me dizia que eu estava muito sobrecarregado e que não estava mais dando conta de tudo como deveria estar.

Fiquei puto com aquilo, lógico.

Como assim não dando conta?!

Porra, eu estava administrando tudo e todos muito bem!!

Pelo menos, era o que eu achava.

Contra-argumentei, mas não adiantou muito. Minha sócia é foda, quando põe algo na cabeça, dificilmente dá pra arrancar, nem a força dá, já tentei isso uma vez e deu merda, deu um processo do caralho.

Enfim, pedi a ela um tempo pra pensar direitinho nas implicações dessa fusão surpresa sugerida, mas, óbvio, eu já tinha uma resposta pronta, eu já tinha uma decisão definida na mente, só não queria ali expô-la para ela: eu ia quebrar aquela empresa.

Mas não dando prejuízo, pedindo falência, veja bem, eu estava pensando num esquema de superfaturação.

Explico: se a minha sócia queria terceirizar, incluir um terceiro elemento nessa nossa transação paralela, eu ia triplicar a oferta.

Rodei atrás dessa gente farta. Enfiei-me nesse negócio sujo do submundo corporativo e, após muitas negociações sinistras, consegui arranjar dezessete cacetes pra satisfazê-la, todos saudáveis e bem dotados de porte – sempre faço bons negócios.

Numa sexta-feira, fim de expediente, soltei-lhe o memorando. Quero dizer, comuniquei-lhe que na segunda já lhe entregaria a papelada para acertarmos de vez a nossa expansão no organograma.

Minha sócia se mostrou satisfeita enfim, eu a enrolei por muito tempo mesmo, bem mais do que o de costume.

E ela se despediu de mim toda eufórica, dizendo que eu estava sendo muito inteligente e profissional em admitir mais um homem no nosso negócio. Ela me deu um beijo na testa quando terminou de me dizer essas coisas.

No dia dito e no horário de sempre, ela foi pontual. Vestia um vestido novo todo vermelho e vinha acompanhada de um cara bem mais novo de terno todo branco do seu lado esquerdo. Sorri o sorriso mais amarelo que eu tinha quando ela o apresentou a mim.

Em seguida, eu disse a minha sócia para ela ir subindo na frente, pois precisava trocar umas palavrinhas com esse novo funcionário; acertar detalhes, limites e tal. Também lhe instiguei a curiosidade dizendo que tinha dezessete grandes surpresas lhe aguardando no escritório.

Minha sócia me olhou intrigada, mas sorriu pra mim quando lhe pisquei um olho.

Quando ela sumiu de vista, interrompi o que sei lá o que o camarada ia começar a me dizer o estrangulando ali mesmo. O rapaz era forte, vale aqui mencionar, mas o fator surpresa sempre se sobressai quando a vítima não espera o inesperado. E eu tava puto, então, já sabe.

Deixei o corpo inerte daquele traste ali mesmo e, conforme o elevador subia, eu ia me ajeitando e montando o arsenal que eu trouxera numa pasta preta executiva.

Quando o elevador parou e abriu as portas, pude de cara ver a cena grotesca por mim orquestrada: minha sócia estava rodeada por dezessete homens nus. Seu vestido não mais existia. Só havia farrapos pelo chão e umas tiras do ex-vestido vermelho grudados no seu corpo em pelo.

Ela estava de quatro sobre a grande mesa de vidro. Tinha um cara debaixo dela. Outro a enrabava sem dó, todo agressivo. Mais dois eram chupados por ela de forma revezada, primeiro engolia um, depois engolia o outro, sempre afoita, na fome do cio. E mais um cara em cada mão era agraciado com uma bela punhetinha. Os demais estavam por ali também. Ora eles a enrabavam, iam pra de baixo dela, ora eram chupados, ora recebiam uma punheta, ora lhe puxava os cabelos, ora a batia, a esganava; era um rodízio muito organizado, pode-se dizer. Contudo, não era uma coisa muito agradável de se ver.

Ninguém deu por mim quando sai do elevador e caminhei bem em direção deles, o negócio lá estava frenético!! Uma horrenda orgia do caralho!!

Vi o quadro e não gostei: saquei logo as armas quando me vi num ângulo e numa posição favoráveis para eliminar a todos.

Desembestei a disparar sem parar.

Teve sim uns caras que conseguiram correr ao ouvir os primeiros disparos, mas não se distanciaram muito de mim, fuzilei a todos, sem dó, misericórdia ou pena.

Descarreguei toda a munição que tinha levado. Certifiquei-me que todos estavam mortos: dei mais cinco tiros em cada crânio estatelado nu no chão de sangue.

No corpo da minha ex-sócia, não fiz essa barbaridade. Não tive coragem de deformar aquele rostinho de puta.

Então, enquanto eu me ajoelhava em direção a seu corpo inerte, eu ia desabrigando do meu bolso a minha faca nova recém adquirida.

Com essa faca, acariciei-lhe a face, o rosto empapado de sangue sujo. Fiquei bons minutos fazendo isso... Para, em seguida, cravá-la no seio esquerdo e arrancar-lhe o coração morto.

Admirado fiquei quando o removi, ele ainda estava quente! E ele era lindo. Todo lisinho e brilhante... Não resisti: devorei-o ali mesmo.

Demitir por justa causa nunca foi tão saboroso para mim.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Meu desocupado favorito

Em tempos de crise, o que você mais encontra por aí é gente desocupada, certo? Errado! Em tempos de crise, o que você mais encontra é gente atarefada tentando reverter esses tempos de crise em tempos mais amenos, divertidos. Tarefa essa das mais difíceis, vocês sabem bem. Porém, em qualquer tempo seja ele de crise, de tranqüilidade, moderno ou mesozóico, a exceção é vírus que se infiltra no código fonte do tempo contínuo e chato, achatado. Ou seja: ser um desocupado é fugir a regra; é ser e querer ser solteiro em time de casados; é ser livre por escolha própria e que se danem quem desaprova esse estilo de vida pós-moderno quase tabu e libertino! Pois bem, eu sou um desocupado. Admito isso numa boa. Mas calma lá, assecla vigilante duma doutrina pagante! Não me aponte o dedo acusador e revoltante assim num instante. Desocupado também é gente. E muito decente, viu! Não é porque estamos sempre disponíveis que somos lá figurinhas de algum álbum juvenil. Não. Somos desocupados porque acreditamos numa coisa boba, aparentemente: acreditamos que gente faz a gente melhor. Não me fiz entender? Peraí. Deixa-me melhorar isso aí. Assim, nós, os desocupados assumidos, pensamos que estar disponível para quem for, seja ele amigo, colega, conhecido ou algum perdido, é estar aberto a novas amizades, possibilidades, experiências e crenças. Entenderam agora? A gente se desocupa pra se ocupar com aquilo lá que vem de sei lá onde, sacou? É muito difícil isso, não é mesmo? Ainda mais difícil quando se está namorando, casado ou enrolando duas, três ou sete pessoas por aí...  E ainda tem o nosso trampo que suga muito do nosso tempo. A nossa facul também. Porém, quem quer se desocupar, quem dessa filosofia de vida aí partilha, se identifica, sempre arruma um tempinho para essas e outras saidinhas. Exemplos práticos disso: se um amigo seu aí lhe diz “Vâmo lá?”, você diz “Vâmo!”; se um conhecido te chama pr’uma festa, você logo fala “Demorô”; se uma desconhecida boazuda solta um “Bora?”, você não enrola e já emenda um “Bora!”. E agora, entendeu de vez, meu chapa?? Já disse aqui é repito: sou um desocupado. E, cara, quer saber? Nunca fui tão feliz como agora! Sério mesmo. Tô fazendo diversas amizades bacanas e insanas. Tô indo aonde nenhum homem jamais esteve, literalmente. E eu tô evoluindo como gente, pode crer. Sou o desocupado favorito de muitos aí vistos. Não tô querendo me gabar, não mesmo! Mas, poxa, ser uma pessoa presente, em tempos de à distância, faz toda a diferença na vida das pessoas. Então, meu irmão, aí vai a síntese deste texto-dica: experimente ser onipresente com aqueles que aparecem na tua curta vida. Mostre a cara e outras coisas. Mostre-se por completo. Não tenha medo! Afinal, o Senhor do Tempo é teu amigo. Vá com ele até o infinito.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O eu que eu queria ser

O eu que eu queria ser é mais parecido com você, que me lê.

Ele não é esse que você conhece ou pensa conhecer. Ele é aquele que você e eu queremos muito ser.

Esse, provavelmente, é mais alto, mais magro e muito mais bonito, atraente. Esse é gente como a gente, porém, bem mais interessante. Esse nosso eu é mais sorridente, bem-humorado, calmo e concentrado.

Contudo, não é um bobo ou um retardado, esse nosso eu manja das coisas. Ele tá por dentro de tudo! É aquele cara, ou mina, muito bem antenado, em sintonia, com o mundo e suas sinas.

O eu que eu queria ser, e você também querer ser, é uma pessoa que achamos legal. É aquela pessoa que todo mundo quer ter por perto, nas horas boas e nas ruins. O eu que tu podes sempre contar sem se preocupar com o que ele vai ou deixar de pensar, sabe?

O eu que eu queria ser, e você também, é alguém que imaginamos ser perfeito. Por isso, talvez aí resida o caráter impossível da coisa toda. Ser perfeito é muito difícil! Dá muito trabalho ser esse que você gostaria de ser para que todos aí o vejam, admiram-no e o sigam... Ser esse que nós mesmos somos é bem melhor do que esse que gostaríamos que fôssemos, pois esse nosso nós é verdadeiro. Não é perfeito, sabemos bem, mas é autêntico, mesmo com tantos defeitos.

Dito isso, pense bem: talvez já sejamos esse que gostaríamos de ser, só não nos damos conta disso! Pense bem: quem é aquele que lhe fala sempre diretamente, não sussurrando, tampouco gritando, mas só você o ouve dentro da tua cabeça?

É a tua Consciência, certo?

Então, o eu que eu e você gostaríamos de ser se mostra por meio da nossa própria Consciência!

Dê mais ouvidos a ela. Ela sabe das coisas. Por isso, cá escrevo, por sugestão dela. E, olhe, vou te contar uma coisa: a vida faz muito mais sentido quando papeio com ela. O eu que eu gostaria de ser, e você também aí pretende e quer ser, já faz parte de nós. É só você se dispor a ouvi-lo que tudo flui.

Vai por mim.

Vai por você mesmo.

Vai ser demais!

Eu te garanto.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Do dia em que eu tirei a minha licença poética

Não sei bem ao certo quando foi, mas me lembro como aconteceu. Geralmente a gente vai a um lugar para se obter licença de alguma coisa legalmente, em um departamento, cartório, escritório ou gabinete. No meu caso, o lugar veio a mim. Eu tava de bobeira, não fazendo nada de importante; eu estava ali num instante quando o lugar baixou em mim: num piscar de olhos me vi num lugar amplo de espaço, janelas envidraçadas vi, dessas típicas de prédios empresariais, sabe? Eu estava num andar, porém, não era cobertura, ou ao menos parecia não ser... Me peguei em pé perambulando, entre divisórias fui passando, e essas formavam pequenos cubos, todos ali reunidos feito pequenos favos naquela colmeia de gente curvada e aparentemente atarefada. Sim! Os seres que ali estavam, nesses cubículos, pareciam ser gente, ou alguma ideia de gente. Pois bem, me peguei andando, andando e parando de repente diante dum enorme balcão de informação. Eu me senti um anão, pois não conseguia ver quem, ou o que, estava doutro lado, mesmo eu nas pontas dos pés ficando. Mesmo assim, nessa angústia, senti uma sombra sobre mim me avaliando para logo em seguida me dizer para eu aguardar na fila. Da voz não me lembro o timbre, tampouco a textura, só me recordo do conteúdo impositivo dito a mim, assim sem mais ou menos. Olhei ao redor, procurando a fila. E a vi ali, à minha direita, um filete escuro, linha preta no canto do mundo, cadeiras sem apoio formando uma fileira de ombros sem ombreira e encosto. Fui até lá, a passos vagos, pois presa não era necessário. O ambiente parecia calmo, tranquilo por demais, todo branco-mármore e gesso-pálido. Me sentei na última cadeira, da direita pra esquerda. Ao meu lado, dezenas, centenas-centopeias de outras cadeiras sustentavam outros seres que eu não conseguia distinguir nitidamente quem ou o que eram. Pareciam seres amórficos em água turva, às vezes límpida, às vezes suja. Não dei trela ou puxei papo, fiquei ali mesmo sentado, parado, aguardando não sei o que. Segundos, minutos, horas não sei bem ao certo quanto disso se passou - se é que passaram! Apenas me recordo que numa das minhas pescadas de tédio-sono o meu nome completo, não o do heterônimo, foi anunciado num brado horripilante! Me pus de pé num átimo sagrado e corri pra sei lá o que ou do que não sei bem pra onde. Só me lembro que atravessei um pórtico-azul-marinho-jônico e, num estalo bobo, eu estava numa sala toda sépia em seu ambiente interno. “Sente-se”, disse-me uma voz embargada, rouca e aparentemente cansada. A voz vinha por de trás duma enorme poltrona de couro – acho que era de couro -, onde eu só via sua traseira. Eh, a coisa-pessoa estava de costas para mim. Sentei ali na cadeira em frente. Entre nós apenas uma escrivaninha antiga e igualmente enorme, dessas que sempre vemos nos filmes onde os chefes, os presidentes e demais autoridades sempre têm em suas salas de respeito. Depois disso, só ouvi uns sons de rabiscos por de trás da poltrona de couro. Parecia que esse ser-coisa estava lá escrevendo ou desenhando alguma coisa importante... “Pronto!”, gritou. “Aqui está tua licença, meu jovem.”, disse-me a voz quando me entregou uma folha pálida com letras negras como a noite e carimbada com um emblema circular vermelho-sangue de autenticidade: era a minha licença poética! A coisa-homem, ou sei lá o que valha, me entregou colocando-a sobre a escrivaninha com a mão-pata esquerda, não se dando ao trabalho de se virar para me entregar. Nessa curta ação, nesse relance, pude ver ou perceber “a mão” da coisa-ser que me entregava a minha licença poética. Não era uma mão, era mais uma patinha, muito fina, aliás, tipo dessa de insetos parasitas que habitam nossas residências e assustam algumas fêmeas, manja? Naquela hora, não fiquei assustado, nada disso. Eu tava ali, enfim, com a minha licença poética em mãos! Levantei da cadeira com emoção e já fui saindo da sala-sépia de fininho... Mas, claro, fui saindo dizendo “Muito obrigado! Muito obrigado!” e ainda dei uma olhadinha para trás, sobre ombros, para ver se a coisa-homem virava para frente. Que nada! Ainda estava de costas. Só pude perceber uma fumacinha saindo feito serpente encantada à flauta por de trás da poltrona de couro velho... E foi assim que obtive a minha licença poética. Sem mais nem menos. Eu a guardo minimizada entre os hemisférios direito e esquerdo do meu cerebelo. Bem ali no meio, junto, bem juntinho dos percevejos marinados de cerveja.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Restos de Mayara

minha tampa
não tampa
qualquer panela

minha canela
não se quebra
assim de quebra

minha casa
não é assim
pra quem casa

minha transa
não tranca
sua trança

minha pinta
não dá pinta
em qualquer pintura

minha sina
não se sinaliza
na tua usina

minha chapa
não raspa
mais na tua xepa

minha esperança
é que nem verdura:
verde, amarga e só dura quando refogada

tu fez uma tremenda duma cagada - 
vacilou legal, Mayara!!
agora chora, chora
sua puta desgraçada do caralho!!

domingo, 17 de agosto de 2014

NINFA EM VIGÍLIA SEM VIGIA

Rasga o céu,
Em noite enluarada,
O raio antes da trovoada.
Amiga minha está ao léu:

Nua em pêlo, papel
E tampouco sente
A chuva fria na pele quente.
Amiga minha sem anel

Caminha triste
Sem mais ninguém,
Mas talvez pressinta

Ou desconfia
Que tudo isso, à revelia,
É bem melhor do que certo alguém.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Meu pau é um poema

Meu pau é um poema
Que poucos sabem ler.
Se te pega assim de jeito,
Mete-se mesmo sem querer.

Meu pau é um poema
Que lhe enche a boca rota.
E outros espaços vagos
Na esperança tola por afagos.

Meu pau é um poema
Enrijecido naturalmente.
Às vezes encanta as puras,
Mas também bem assusta
Até as indecentes!!

Meu pau é um poema
E ele não é muito longo,
Tampouco curto por demais.
Ele é na medida certa.
Na medida que satisfaz!!

Meu pau é um poema.
Dizem lembrar uma romã –
Fruta toda fofa pro pecado
E muito boa!! Faz um bem danado!!

Quem quer pagar pra ver
Basta ficar de quatro
Num quarto vago
Ou num estrado
Feito frango assado.

Minha poesia é sempre de bom grado!!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O vampiro dos olhos verdes (4)

cabelo desgrenhado
rosto vermelho
quase ensanguentado

bocas abertas
lábios inquietos, ávidos
corpos bem grudados

calcinha preta à mostra
braguilha aberta...

abraços
fogosos
apertos
despudorados

e dois olhos verdes
de plateia desgostosa:
o amor dos outros
em dias de cólera!!!