É verão! São férias!!
Estão todos aí já e se esfregando na tua cara. E você, o que vai fazer?? Cai
pra praia, ué. Fica aí não, José. Desce a serra e vira farofeiro. Todo mundo,
sem exceção, que corre pra praia nesta época do ano é farofeiro. E farofeiro
pode ser batuta ou filho da puta. O batuta divide o rango, já o filho da puta
regula. Então, fique esperto, fique ligeiro, quem se assa na areia à lá
milanesa tá melhor do que a Calabresa! Bota aí o sungão, bota aí o biquininho
de bolinha amarelinha, a onda agora é curtição. NO STRESS. Finca o guarda-sol
na areia, põe as cadeiras ou as esteiras em baixo, se unta de protetor solar e
mira a cara ou a bunda em direção ao mar. Relaxe e goze... Descanse bem, meu
bem. Curta esse prazer anal. Opa! Melhor dizendo, anual, anual!! Gente,
desculpa aí a empolgação. Liga não. Enfim, neste verão 50 graus, fique esperto
aí no litoral, pois tão fofocando muito sobre uma tal de Sereia Tropical. Dizem que é uma lenda litorânea atual, mas, assim
como a brincadeira, que parece ser mais uma besteira, tem lá sua verdade
verdadeira. A Sereia Tropical tá de
onda! Tá na areia e nos luaus bem pertinho dos casais. Ela não é que nem a
Iara, toda recatada e bonitinha. A Tropical é mais radical, porra-louca e
suicida!!! A tipa passa o rodo geral mesmo com aquele rabão de peixe escamado.
Ela devora homens bem mais do que a Cicarelli!! Ela canta e encanta os
mauricinhos de plantão. Aliás, ela adora esses tipos no seu vasto cardápio,
pois são esses os mais facinhos e que berram mais alto quando estão sendo
esfolados e revirados vivos. A Sereia
Tropical dá mole e é letal! Acredite. Vai por mim. Em toda orla deste
brasilzão só vai dá ela, os pentelhos e os chupões. Dica importante: se você
aí, mesmo depois d’eu ter te alertado sobre a tipa e seus riscos de flerte e,
ainda assim, querer se entrosar com ela, encape bem o seu arpão, meu filho!!
Falo sério. Cu de peixe não é flor que se cheire. O cuidado deve ser redobrado
quando se adentra por esses mundos – mundos fantásticos de rito retais. Quem
copula e se protege tem mais chance de sobreviver. Geralmente, quase todos
morrem. A Sereia Tropical não quer
saber de namorado, noivo e coisa e tal; ela quer um pau amigo pra se divertir e
nada mais. Depois do treme-treme, ela decepa o meliante e consome a carne tenra
pós-coito alucinante. A Sereia Tropical
só se alimenta nesta época do ano. E vai nesse ritmo até o Carnaval!! Depois disso
tudo, hiberna em pele de freira e ninguém - ninguém mesmo – dá pau na pequena. Bora
então, cambada! O verão urge e pede desconto!! Bora lá!! Deixe seu encosto e
vem pra costa!! É chegada a hora.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
"Eu vou morder a sua bunda"
O mundo já não é o mesmo. Neste
século em que vivemos muita coisa acontece e sequer sabemos o porquê acontece,
mesmo tentando a todo custo compreender. Observamos as coisas, nós as analisamos,
discutimos, compartilhamos e, ainda assim, o que descobrimos é muito pouco
diante do mistério que ainda sobra e nos assola. Vai ver tem coisas que não tem
explicação. Vai saber. Talvez a não-resposta seja a resposta que muitos aí
desejam e ainda não perceberam, ou, sei lá, preferiram ignorá-la, na esperança
cega de que um dia, ela, a resposta, virá, e virá pra aliviar. Enfim, o mundo
anda estranho, muito estranho, aliás. Até os seres sobrenaturais andam se
comportando de forma inusitada. Tem muito lobisomem por aí que virou gogo boy! E nem de Chapeuzinho Vermelho
querem saber mais. Só babam pelos Três Porquinhos mesmo... Os mortos-vivos
então, nem se fala! Preferem ser chamados de zumbis e, só porque tão fazendo
sucesso numas séries norte-americanas aí de televisão, tão porque tão andando
de narizinho em pé cheio de sangue podre. As bruxas também tão na moda. Todo
mundo, hoje em dia, tem como amiga ao menos uma dessas criaturas. Se não
sabias, já lhe digo: é aquela amiga moderninha que curte baladinhas GLS e do
tipo pop rock independente à lá hipster
e que frequenta essas feirinhas ripongas estilo Mundo Mix. Tem muita bruxa
solta por aí! Contudo, são os vampiros que me preocupam. Os vampiros, deste
século, andam numa boa durante o dia. Até aí, tudo bem! Dá até pra relevar. Vai
ver é coisa dá evolução ou de um bom protetor solar e tal. Porém, tem uns aí
que brilham, ou melhor, cintilam feito diamante quando expostos à luz do sol.
Vampiro virou uma espécie de fada Sininho. Tá. Ok. Isso aí é um caso isolado,
mas é fato, por isso aqui o comentário. Os vampiros ainda são uns baitas
sedutores. Eles continuam e sempre continuarão a fazer sucesso entre as pessoas
de sangue quente. Sexo e sedução nunca sairão de moda. E ainda mais nesta
sociedade de consumo, de aparência e de diversão sem começo, meio e fim. Tudo é
farra, trollagem e desbunde. Os
vampiros estão no topo dessa sociedade e não só da cadeia alimentar. Exemplo
vivo disso é uma vampirinha que eu conheci este ano. Seu nome de guerra é Val Clamp. Aparenta menos de trinta,
mas tem mais de três séculos, a garotinha. Ela é baixinha feita Annabelle e
branca muito branca que nem a Branca de Neve. Seu poder de atração emana
daqueles lábios carnudos e vermelho-sangue que ela chama de boca. Essa lembra
muito aquela da atriz gostosona de Hollywood - essa mesma que tu tá pensando.
Aquela boca é fora de série mesmo... Continuando, a Val é vampira das boas. Ela
joga o jogo e joga muito bem. Difícil vê-la triste, cabisbaixa; ela tá sempre
sorrindo e gargalhando pra caralho, aquela desgraçada! Ninguém, mesmo morto,
fica moribundo perto dela. Val tem muitos amigos e amigas. Entre esses é a mais
querida. Val tem muitas vítimas também. Porém, ela é sacana, ela é uma provocadora
nata e filha da puta. Val Clamp não
é vampira de morder pescocinhos, não. Val
Clamp morde bundas! Mas isso é coisa recente, disse-me ela dia desses. Ela
só começou a cravar seus dentinhos nas bundas roliças de suas vítimas à apenas
cinquenta anos atrás. E mesmo que, pra ela, isso seja meio que manjado já, ela
o faz e continua se divertindo um bocado. “Eu vou morder a sua bunda.”, diz ela
a suas vítimas nas noites mais escuras. Quem a ouve assim, de surpresa, leva
susto, mas não bota fé. Acham que é tiração e tal. Pobres coitados! Basta ela
abrir aquele bocão num sorriso sinistro e mal-intencionado para ela derrubar
sua vítima num segundo e tirar-lhe as calças, ou qualquer coisa aí que cubra
suas nádegas, noutro e enterrar seus caninos de prata nas partes baixas... Val Clamp morde e morde com gosto!! Não
desperdiça uma gota sequer do líquido escarlate vital e sai saltitando,
satisfeita e cruel, pelas ruas escuras da cidade grande. A trollagem não tem fim, não tem limites, nem mesmo entre os seres
sem alma. Então, cuidado! Muito cuidado. Tem vampira farrista de olho na tua
bunda!!
sábado, 20 de dezembro de 2014
O barato que vem do nada e eu sou obrigado a pô-lo na porra da folha de papel em branco
o
novo se torna velho diante do novo que a de vir
meu amor, tenho que partir
talvez eu te reveja por aí
se não, passar bem
tô passando
meu encanto se quebrou
No fim, uma resposta, que nunca vem
A queda foi grande.
Eu me machuquei pra
caralho,
Mas não fiz escândalo de
palhaço.
Ali, estatelado, tentei
entender o fato:
Tudo ia bem,
aparentemente.
Eu era um cara
dedicado,
Porém, fui acusado de
negligente.
Ela não estava
contente, realmente.
Tentei contra
argumentar, mas não deu em nada.
Ela estava atada a
comentários de terceiros.
Ela me chamou de
mentiroso, trapaceiro,
Mesmo eu sendo sincero,
respeitoso e companheiro.
Eu fui pego de surpresa
e
Com a mão esquerda, ela me empurrou do desfiladeiro.
sábado, 13 de dezembro de 2014
De olhos bem abertos
Mano, amigo meu
Hoje em dia, as mina pira na maionese
E tampouco vibram com arquidiocese
As mina, ultimamente, olham pra ver se tão olhando...
Elas são puro encanto!
As tipas se exibem a todo instante
Sempre tão em busca dum flagrante
Tão porque tão querendo aparecer
E você, sem querer,
Acaba se vendo babando
Quando elas passam desfilando
Do seu lado
Com aquele rabo todo empinado
Mano, meu camarada
Tá difícil um homem ser fiel
Nessas paradas de agora
É tanta oferta,
É tanto desbunde,
Que você acaba tonto
E meio torto
Quase virando um corno
Se não cuidar bem do deu broto
Então, meu chapa,
Fique esperto,
Fique de olho, olho vivo aí,
Toda mulher do presente se
sente a última dos biscoitos.domingo, 7 de dezembro de 2014
A caixinha de Barboza
Dizem que não existe, mas é
mentira. Existe sim! E eu mesmo já a vi. Ela é real. A caixinha de Barboza é
uma realidade deste mundo. Faz muitos anos, é verdade, mas eu me lembro dela
como se fosse coisa de agora, coisa fresca e bem madura de comer. Eu era um
reles alferes do mítico Valentina Quebra Ossos quando ele partiu numa caça
desenfreada ao tesouro do pirata Sorriso de Hiena. Nós, piratas, sempre nos
reuníamos numas pocilgas de qualquer reino pra encher o cu de rum e trocar
informações entre a gente. Numa dessas orgias de sempre, o tal tesouro foi
assunto recorrente. Parecia que um ex-marujo do tal Sorriso cantou de papagaio antes
de ter seus membros arrancados pela guarda real e, claro, caindo a informação
lá, ela caia entre a gente também. Nosso capitão, o Barba Púrpura, quando ficou
sabendo disso, ficou todo empolgado. Fazia tempo que ele não caia no mar numa
busca desse tipo. Ele já estava entediado de saquear navios mercantes. Nosso
capitão sempre teve gosto pela aventura. Mesmo que nela, metade de tripulação,
ou mais, se perdia, não sobrevivia até o fim da empreitada... Pois bem, Ele
levantou mais informações sobre o tal tesouro e, com tudo quase certo, montou
uma nova tripulação. Eu estava no meio desses novatos. Eu já conhecia bem o
histórico do capitão Barba Púrpura, pois sempre andava nesse meio de
desajustados, nunca conheci meu pai e nem a minha mãe. Naquela época, eu me
sentia mais velho, mais preparado e disposto a encarar os riscos. Eu não tinha
nada a perder. E o capitão parecia ser gente boa. Me apresentei a ele e ele me
aceitou de cara. “Finalmente!”, disse-me ele. Lembro disso muito bem. Manhã
seguinte, partimos. O Valentina Quebra Ossos era um navio monstruoso! Nele
havia dezenas de compartimentos e a madeira utilizada na sua construção,
diziam, não ser madeira típica deste mundo mortal. Não sei dizer se ele foi
pintado, mas todo ele era colorido na cor púrpura, tom idêntico à barba do
capitão, daí a inspiração, achei. Suas velas eram negras como a noite. E elas
refletiam as estrelas do céu - até mesmo durante o dia! Sem dúvidas, um navio
de dar medo. O nome Valentina Quebra Ossos vinha da ex-esposa do capitão. Numa
dessas poucas noites de calmaria, ele nos contou que a tal Valentina foi o
grande amor de sua vida. Ela era uma mulher robusta e encrenqueira. Encarava
uma boa briga numa boa. Batia e pra matar nuns dez caras facilmente. O fim
dela, o capitão não nos contou, mas, entre a tripulação, se falava que ela era
o próprio navio – ela tinha se transformado nele. Enfim, navegar era uma
experiência fantástica! Uns novatos sentiram enjoos, mas eu não! Eu me sentia,
enfim, no meu habitat natural. Monstruosidades quase todas as noites e
tempestades horríveis durante o dia não me intimidaram. O capitão Barba Púrpura
nos fazia dar o máximo e o melhor da gente. Muitos morreram, mas os que sobreviviam
se davam cada vez mais e mais. Parecia até que estávamos enfeitiçados por um
feitiço encorajador... Fazia alguns meses que estávamos no mar aberto. Já
tínhamos passado por diversos apuros e glórias. Não comento aqui sobre eles
para não estender demais o meu relato. Outro dia, quem sabe, te dou os
detalhes. O foco aqui é a caixinha de Barboza. Pois bem, nosso capitão tinha um
mapa. Este foi feito por ele mesmo, todo ele era baseado e rabiscado nas
informações levantadas pelo próprio capitão. No mapa havia um “x”, claro. Esta
marca traçada pelo nosso capitão era onde ele estimava encontrar o tal tesouro
do capitão Sorriso de Hiena. Seu “x” estava sobre a água no mapa, mas, quando o
Valentina Quebra Ossos se aproximou do ponto marcado, havia uma ilha. “Terra à
vista, homens!!!”, gritou nosso querido capitão. Era madrugada quando ele deu o
aviso. Alguns companheiros roncavam e logo se puseram de pé ao grito dele.
Talvez ele estivesse apreensivo, acho até que nem dormia direito, tamanha a
ansiedade... Assim, não perdemos tempo, desembarcamos os botes e fomos direto à
tal ilha. Esta não constava em nenhum mapa por mim consultado posteriormente,
durante o desembarque dos botes. Conforme nos aproximávamos da ilha, percebemos
que ela não era uma ilha comum: a areia da praia lembrava ferrugem, sua
consistência era mais dura, parecia até cascalho; a vegetação era igualmente
estranha, nunca tinha visto plantas e árvores daqueles tipos, elas eram verdes,
tinham cheiro de planta e tal, mas, ainda assim, eu notara algo de não vegetal
nelas todas... O capitão e o restante da tripulação pareciam surpresos também,
porém bem mais concentrados no objetivo do que no meio-ambiente. “É por aqui,
cambada. É por aqui! Sigam-me.”, dizia o capitão com suas anotações à mão.
Adentramos aquela vegetação estranha e fomos abrindo caminho. Eu olhava para os
lados e atrás de mim em busca de algum animal local e nada, sequer ruídos eu
ouvia, somente o vento mesmo entre as árvores. Pensei até em comentar sobre
isso aos demais, mas eles pareciam hipnotizados com a possibilidade de, enfim,
encontrar a tal da caixinha de Barboza. De repente, avistamos um objeto
estranho ao longe: uma espécie de totem, não cilíndrico, mas mais parecido com
uma prancha enorme de madeira, porém, não era de madeira, tampouco de aço, era
de um material negro não brilhante... Quando chegamos mais perto, percebemos
que, no tal objeto, havia uma espécie de porta na sua base. “Bora, homens! É só
entrarmos.”, disse o nosso corajoso capitão. Antes d’eu entrar, dei uma
apalpada nesse totem escuro, que não tinha nada desenhado ou escrito, ele era
todo liso, de um material desconhecido que não refletia nada, lembrava um
espelho gigantesco que só refletia a cor preta e mais nada. Passei pela entrada
e visualizei um caminho de terra e rochoso descendo em espiral. Meus
companheiros, bem à frente, queimavam suas tochas e seguiam o capitão. Conforme
descíamos, o lugar ficava cada vez mais e mais quente. Miasmas alaranjados
tomavam o lugar, mas conseguíamos ainda respirar com pouca dificuldade. Após
passarmos por um corredor mais estreito, nos deparamos numa grande câmara, no
teto percebemos umas coisas redondas lá fixadas... “Silêncio.”, sussurrou o
nosso capitão, quase não podendo ser ouvido. Estávamos em fila indiana, dando
passinhos lentos e desapressados quando um dos nossos tropeçou e caiu, fazendo
um barulho infernal com a tralha que ele levava... Nossas almas gelaram na
hora. E todos olharam para cima e viram milhares de olhinhos vermelhos e dentes
afiados reluzentes caindo sobre a gente... “Corram!! Corram por suas vidas,
seus desgraçados!!”, gritou o nosso apavorado e preocupado capitão. Corremos
nos atropelando e tentando nos defender daquelas criaturas peludas e famintas
pelo nosso sangue. “Por aqui!! Rápido!!”, gritou o capitão enquanto cortava
duas, três daquelas coisas e apontava um caminho à sua frente. Acho que eu tive
sorte, pois poucos sobreviveram ao massacre. Aquelas coisas não nos seguiram.
Elas pareciam limitadas àquela câmara. Muito estranho isso, achei... Enfim,
continuamos seguindo o capitão Barba Púrpura. Era ele e mais treze, incluindo
eu nesses treze, então quatorze homens ainda vivos dos quase sessenta que na
ilha desembarcaram. Todos pareciam cansados, assustados, mas determinados em
continuar em frente. “A caixinha da Barboza está próxima.”, dizia o nosso
querido e motivador capitão. Continuamos então, sempre seguindo em frente e
descendo, cada vez mais e mais fundo. Adentramos outra câmara, bem maior que a
anterior e, no altar que ali avistamos, bem lá no alto, vislumbramos um
pequenino cubo flutuante irradiando uma luz branca intermitente: era a caixinha
de Barboza!!! “Ali, homens!!! Muito cuidado agora.”, disse o capitão. Apagamos
nossas tochas e fomos caminhando em direção ao grande altar: a caixinha de
Barboza iluminava todo o ambiente. De repente, notamos que nossas sombras
estavam esticadas demais sobre o chão e as paredes de pedra da câmara, elas
pareciam vivas e choque: nossas sombras emergiram do chão em forma de animais
peludos muito parecidos com a gente! E esses empunhavam as mesmas armas que
carregávamos conosco!! Nossas sombras nos atacaram. Barulho de lâminas, socos e
chutes ecoaram naquela gruta. Grunhidos e gritos também. Eu estava encurralado
pela minha própria sombra quando o capitão me salvou, cravando sua espada no
pescoço da minha sombra. “Rápido, rapaz! A caixinha!”, disse-me ele apontando
para o alto do altar. Corri o mais rápido qu’eu pude até lá. A caixinha cabia
na palma da minha mão. Eu a agarrei rapidamente, não me atentando muito àquela
luz branca quase cegante que ela irradiava. E quando eu olhei para trás, para
mostrar ao capitão e aos demais que tínhamos, enfim, conseguido, vi a cena
apavorante: todos tinham sido mortos, as sombras tinham decapitado a todos, o
capitão era o único sobrevivente de joelhos e cercado pelas sombras. Lá do alto
do altar, e com a caixinha de Barboza em mãos, pude ouvir a voz monstruosa da
sombra do capitão: “Ora, ora... Enfim, deu as caras, hein, Barba Púrpura!!
Pensávamos que tinha se acovardado da gente. Você demorou demais pra honrar o
combinado. Agora você pagará o que nos deve.” A sombra sinistra do capitão
Barba Púrpura erguia sua lâmina para enterrá-la de vez no crânio do capitão,
quando este sorriu e apontou para mim. Todos ali me encararam. “Abra a
caixinha, rapaz!!!”, gritou meu capitão. As sombras peludas correram em minha
direção. “Eu não sei como, senhor!!”, gritei eu. As sombras aceleram o passo
com olhos de sangue... “Basta se lembrar de uma lembrança boa que você já
teve.”, gritou meu capitão caindo de bruços sobre o chão. “Uma lembrança
boa??”, pensei eu alto. E quando as quatorze sombras estavam apontando suas
lâminas sobre mim, e eu já no chão apavorado, quase chorando, eu me lembrei,
como se fosse um relâmpago de imagens: eu me lembrei que mesmo órfão, não
conhecendo o meu pai e nem a minha mãe, eu tive muitas pessoas que cuidaram de
mim até ali. Eu me lembrei da tia gorda que sempre me dava de comer, eu me
lembrei do sujeito manco que me ensinou a pescar, eu me lembrei dos colegas de
rua que, apesar das dificuldades do dia a dia, sempre dividiam comigo o pouco
dos restos de comida que eles arranjavam, eu me lembrei de tantos outros que me
ajudaram a sobreviver até ali e, claro, lembrei do capitão que tinha salvado a
minha vida... Nisso, uma força impressionante, emanada de dentro da caixinha
recém aberta, sugou todas as sombras assassinas ao meu redor. O lugar começou a
desmoronar. E eu fui tomado por um vórtice dourado que ia de encontro ao teto
da caverna! Antes de desaparecer além, pude ainda ver o corpo do capitão Barba
Púrpura estirado no chão... Num piscar de olhos, me vi nos céus sobre a ilha.
Lá do alto, pude ver o Valentina Quebra Ossos sendo atacado e envolvido por uma
criatura gigantesca cheia de tentáculos prateados... Eu pairava sobre a ilha e,
de repente, ela começou a ser engolida por um redemoinho assustador de enorme!
A ilha desaparecia e desaparecia rapidamente, engolida totalmente pelo
redemoinho. Este também tragava a criatura de tentáculos e os restos do
Valentina. Quando tudo, enfim, ficou calmo, eu despenquei de lá de cima. Fiquei
lá boiando sobre os restos do antigo navio. Não sei bem por quanto tempo fiquei
lá à deriva, eu não sentia mais o poder do tempo, eu não sentia fome ou sede,
tampouco frio ou calor, eu não sentia mais nada, nem mesmo a caixinha de
Barboza eu sentia mais em minhas mãos... Lembro vagamente de outro navio pirata
me resgatando e d’eu contando essa história a eles. Lembro que pedi a eles para
me deixarem na próxima parada. E estou aqui desde então. Trabalhei, prosperei e
constitui família por aqui. E, se não disse antes, digo agora o porquê de tanto
interesse que tanta gente tem em ir atrás da caixinha de Barboza. Digo que não
é mais uma lenda, é a pura verdade, quem a encontra acaba se lembrando da real
felicidade. O Barboza da tal caixinha foi o primeiro cara realmente feliz deste
mundo e, pouco antes de partir para o outro mundo, ele reuniu essa pura
felicidade na tal caixinha. O capitão do Sorriso de Hiena foi um de seus
subordinados. E o meu capitão da Barba Púrpura também o foi. Descobri isso
tempos depois. Curioso, não?
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Enfim, a redenção
Uma figura suspeita
Se sustenta
Na esquina.
Na noite
Se esconde
Sendo Caronte.
Espreitando
Sua vítima
Com toda estima
assassina.
A figura se move
Não resistindo à sorte
E engatilha o seu
bote...
O sangue jorra
Suavemente
Da vítima surpreendida.
A vítima, enfim, sorri
faceira,
Pois não mais ficará de
vigília
No aguardo da visita a
tanto tão querida.
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
O livro da capa aluminada
Voltava eu de uma
cruzada. Eu tinha acabado de conquistar outra cidade, mais um grande adendo ao
reino de meu querido rei, quando vi o livro da capa aluminada. Meu comboio passava
por um desses pequenos povoados à beira de oásis e, enquanto nos abastecíamos de
previsões e armamentos, dei de cara e fuça com uma menininha toda suja e
maltrapilha carregando um grande livro prateado por debaixo dos bracinhos
finos. Aquilo me despertou curiosidade: como aquele artigo foi parar naquelas
mãozinhas? Separei-me dos demais e fui abordar a pequena. Essa, quando se
apercebeu seguida, disparou ligeira numa corrida frenética. Parecia até tomada
por alguma entidade não deste mundo. Por sorte, o lugarejo era pequeno, mesmo
abarrotado de todo tipo de gente, consegui acompanhar seu nodoo vulto até uma
tenda um pouco mais afastada da maioria. Caminhei até lá a passos lentos, não
tinha como a menininha fugir de lá e, também, não sou guerreiro de correr feito
lacaio atrás de garotinhas. Diante da tenda, pude ver um filete de luz entre os
panos. Tinha alguém lá, sem dúvida, porém, eu não ouvia barulho algum de lá de
dentro. Quando eu entrei, entrei de uma vez, mas sequer imaginei que poderia
encontrar por lá o que acabei encontrando: o livro da capa aluminada estava lá,
bem no meio da tenda, sobre um suporte de pedra negra. Convém relatar aqui,
quando adentrei a tenda, essa, num piscar de olhos, se transmutou numa caverna
escura e úmida. Percebi, na hora, que não estava mais no tal povoado à beira de
oásis. Não me fiz de preocupado, pois, nesta vida de centurião, já vi muita
coisa além da imaginação... Aquele livro era um tesouro! E eu, além de
conquistador de territórios, sou um colecionador de tesouros, de relíquias. E, aquele
livro da capa aluminada, como eu suspeitava, era algo bem mais do que um
simples artigo de cofre. Talvez fosse algo mágico. E, aquela mudança de cenário,
só reforçou em mim essa suspeita. Olhei ao redor da caverna, procurando alguma
armadilha, afinal, artigos desse porte nunca estão assim à mão, fáceis demais
de serem apanhados; eles sempre estão protegidos por algo ou alguém. Então,
olhei bem ao redor, apalpei as paredes, cheirei todas as plantas ali que
insistiam em crescer num ambiente tão escuro e úmido... Fiquei desconfiado
disso, claro, mas parecia tudo nos conformes, sem artimanhas mágicas à mostra. Em
seguida, me ative ao livro da capa aluminada e ao pedestal de pedra negra onde
ele repousava. De onde eu estava, pude ver a capa, mas essa não exibia nada assim
reconhecível, somente uma moldura em arabesco, nada estava escrito na capa. Aproximei-me
mais do livro, de alguma forma, a capa prateada irradiava uma luz branca
chamativa, convidativa... Não resisti, agarrei o livro com as duas mãos, mas é
claro, olhando ainda para todos os lados em busca de alguma armadilha de última
hora. Nada. O livro era pesado, muito pesado, aliás. Contudo, o ergui na altura
dos olhos, o manuseei bem para ver se tinha alguma coisa gravada na parte de
trás dele e na lombada. Nada. Somente as linhas em arabesco, nada estava
escrito. Para folheá-lo, não teve jeito, tive que devolve-lo ao suporte de
pedra negra, pois ele era muito pesado. E quando eu pousei a capa virada por
mim sobre o suporte de pedra negra, quando eu abri o livro totalmente, senti
uma força estranha puxando minhas mãos, de modo que essas ficassem grudadas
sobre o livro recém aberto. Aí me bateu um certo desespero: de repente, as
veias das minhas mãos começaram a ficar salientes, inchadas, como se estivessem
sendo preenchidas com alguma coisa, alguma coisa não vista; as veias dos meus
braços também se enchiam rapidamente. Rosnei de dor, óbvio. Aquele troço estava
invadindo a minha corrente sanguínea de uma forma impressionante! E quando
chegou ao meu coração, não deu outra, a dor foi tanta que ajoelhei, e ainda com
as mãos grudadas no maldito livro. Eu gritava feito um animal abatido
estrebuchando. Meu desespero até mesmo me assustou! Eu não queria morrer,
claro, não ali e daquele jeito. Eu era, e sou, um guerreiro. Meu destino é
morrer no campo de batalha e não numa armadilha mágica planejada. E quando eu
gritei “Não!!!” bem alto e forte no auge da dor que tomava meu corpo inteiro,
senti que a coisa que me invadia voltava para o livro. Senti um certo alívio. Porém,
durou pouco. A coisa parecia mesmo estar saindo do meu corpo. Contudo, pude
perceber que o livro estava sugando o meu sangue... Sob minhas mãos, ainda
grudadas naquele livro desgraçado, pude ver a poça de sangue se formando e
sendo absorvida pelo livro aberto de páginas em branco. E, conforme meu sangue
ia sendo absorvido, umas letras, umas palavras iam se formando sobre as
páginas...
AVISO I
Este é o livro forjado pelo próprio KAOS.
Quem dele quiser ler, pagará com a própria vida.
Ou quem dele recusar, pagará com a metade do seu sangue.
AVISO II
Quem dele decidir ler, morre para se tornar um deus entres os
homens.
Quem dele rejeitar, viverá metade da vida que viveria naturalmente.
AVISO III
A possibilidade de escolha nunca é dada, pois somente quem não teme
o desconhecido merece o poder da criação.
Aquelas palavras,
visíveis graças ao meu sangue, me doeram mais do que a dor provocada ao abrir o
livro. Num susto, uma força invisível me despregou do livro. Voei para trás uns
sete metros além do pedestal de pedra negra. Quando dei por mim, estava no chão
da tenda, sem nada reconhecível à vista. Levantei-me a custo e sai pra fora. Era
madrugada. Ninguém se mostrava, somente os cães vadios em busca de alguma coisa
que servisse de comida... Eu estava meio tonto, fraco e todo molhado, mas
decidido em largar de vez a vida que eu levava. Eu não tinha mais tempo a
perder.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
A FLOR SUICIDA
À
Érica, essa minha amiga assassina do romantismo
Mijada foste no elevado
Quando aberta as primeiras pétalas
Na primeira aurora da Primavera,
Flor branca maculada.
Sua sina foi sinistra
Sem sequer atrair beijos afoitos voadores
Teve seu entorno e seu íntimo
Violado pelo dejeto úrico fálico.
E, ali parada,
Sem entender nada,
Pois acabara de despertar,
De se abrir ao mundo,
Percebeu-se suja, imunda
Em meio às suas irmãs,
Ainda botões,
Todas elas bem branquinhas, limpinhas
Sem sinais de violação.
Daí não se conteve
Diante da sua desgraça:
Arrancou-se do grosso galho
E atirou-se do elevado...
Sua queda foi rápida –
Corpo encharcado de desejo.
Seu pequenino corpo se estatelou no asfalto da avenida
movimentada,
Seu pequenino corpo foi despedaçado por centenas de carros
apressados.
E ninguém se deu conta
Da tragédia ali à vista
E sem pompa.
E sem pompa.
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
De saco cheio da rede que se esvazia
Cansei da tal felicidade dos outros.
Tudo que vejo compartilhado
É um estorvo!
Ou coisa de louco.
Cansei de ver o que não devo.
Tudo assim exposto
Dá medo!
Eu não mais aguento...
Vou me desligar de tudo isso!
Vou tentar me esquecer daquilo...
Não tô afim de mais nada.
Não vejo mais graça
Na tentativa frustrada
De se mostrar
realizada nessa grande farsa.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Patologia do crime sem castigo
À
Érica, essa minha querida amiga psicopata
Você me faz bem
Mesmo me fazendo mal.
Você quer o meu mal
Quando lhe faço bem.
Você quer o meu melhor,
Mas deseja o meu pior.
Você, pra mim, é a melhor!
Quanto a mim, pra ti, sou o menos pior...
E nesse jogo de avessos
Cheio de versos livres,
Apreço e chamegos,
A gente joga o jogo genuíno
Dos que se pegam feito doidos
Sem dar bola pra que vão dizer disso.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
O Escritório
A vontade faz a necessidade.
E quando a vontade é muito
grande, coisa doida fora deste mundo, a gente têm mesmo é que aplacá-la de uma
vez, mesmo que tenhamos de desembolsar uns bons trocados para isso.
Assim, não deu outra, pro
negócio rolar gostoso, tivemos que abrir um escritório.
Ela e eu tínhamos um caso
antigo, do tipo rolo, sabe? Nossa sociedade era bem instável. Ficávamos bem
durante uns meses, do tipo bem intenso mesmo e, logo em seguida, nosso ritmo
caia drasticamente. Nossas ações desvalorizavam rápido demais.
Contudo, éramos teimosos, ou
uns apaixonados não assumidos, e reatávamos donde tínhamos parado - talvez na
esperança boba de que o negócio, dessa uma vez mais, desse certo enfim.
Pois bem, dessa última mais
uma vez, concordamos em montar um escritório fixo, uma lugar concreto e
definitivo, uma primeira sede. Optamos por um lugar bem discreto, depois de
muito pesquisar nos classificados aí à mão; a região parecia tranqüila e, o
mais importante, era bem distante de nossas respectivas moradas oficiais.
Nós dois tínhamos outros
casos. Nós dois éramos complicados: ela, dois filhos pequenos, eu, uma
ex-esposa encrenqueira e nós dois, um e outro parente e vizinho xeretas.
Lugar escolhido faltava
mobiliá-lo adequadamente Levamos um bom tempo nisso, mas foi até divertido fazer
esse projeto juntos, sabe? O escritório estava ficando com a nossa cara. Um
lugar elegante, prático e com tudo que precisávamos para realizar os despachos
diários numa boa.
O dia da inauguração foi
inesquecível. O escritório de arrumadinho ficou bem bagunçado, mas acho que é
sempre assim quando dois sócios ficam deveras empolgados com o negócio enfim
ganhando forma, corpo por meio do nosso próprio suor e esforço físico. Nossas
progressões iam muito bem durante vários meses. O escritório estava nos dando
bons lucros e satisfações visíveis. Estava tudo indo bem e certinho.
Porém, sempre um porém,
minha sócia me apareceu um dia com umas idéias estranhas...
Nós dois sempre fomos
transparentes um com o outro, nunca escondemos nada de ninguém, sempre
jogávamos o jogo seguindo as regras e criando as nossas entre a gente mesmo, um
bom negócio só dá certo dessa maneira, com respeito, intimidade e sinceridade
sobre a mesa.
Mas, nesse dia, a
sinceridade me bateu na cara duma forma inesperada e implacável: minha sócia
sugeriu terceirizar os serviços do escritório.
Aquela idéia dela me abalou
geral. Seria até compreensível essa idéia dela se estivéssemos enfrentando
alguma crise e tal. Mas, ao contrário, estava tudo indo bem, as contas fechavam
direitinho, algumas surpresinhas aí desagradáveis no meio do processo
apareciam, porém tudo dentro da nossa estimativa traçada e discutida. Aquela
idéia dela foi muito descabida e inoportuna.
O argumento dela era de que
precisávamos expandir nossas relações, nossos departamentos; ela me dizia que
eu estava muito sobrecarregado e que não estava mais dando conta de tudo como
deveria estar.
Fiquei puto com aquilo,
lógico.
Como assim não dando conta?!
Porra, eu estava
administrando tudo e todos muito bem!!
Pelo menos, era o que eu
achava.
Contra-argumentei, mas não
adiantou muito. Minha sócia é foda, quando põe algo na cabeça, dificilmente dá
pra arrancar, nem a força dá, já tentei isso uma vez e deu merda, deu um
processo do caralho.
Enfim, pedi a ela um tempo
pra pensar direitinho nas implicações dessa fusão surpresa sugerida, mas,
óbvio, eu já tinha uma resposta pronta, eu já tinha uma decisão definida na
mente, só não queria ali expô-la para ela: eu ia quebrar aquela empresa.
Mas não dando prejuízo,
pedindo falência, veja bem, eu estava pensando num esquema de superfaturação.
Explico: se a minha sócia
queria terceirizar, incluir um terceiro elemento nessa nossa transação
paralela, eu ia triplicar a oferta.
Rodei atrás dessa gente
farta. Enfiei-me nesse negócio sujo do submundo corporativo e, após muitas
negociações sinistras, consegui arranjar dezessete cacetes pra satisfazê-la,
todos saudáveis e bem dotados de porte – sempre faço bons negócios.
Numa sexta-feira, fim de
expediente, soltei-lhe o memorando. Quero dizer, comuniquei-lhe que na segunda
já lhe entregaria a papelada para acertarmos de vez a nossa expansão no
organograma.
Minha sócia se mostrou
satisfeita enfim, eu a enrolei por muito tempo mesmo, bem mais do que o de
costume.
E ela se despediu de mim
toda eufórica, dizendo que eu estava sendo muito inteligente e profissional em
admitir mais um homem no nosso negócio. Ela me deu um beijo na testa quando
terminou de me dizer essas coisas.
No dia dito e no horário de
sempre, ela foi pontual. Vestia um vestido novo todo vermelho e vinha
acompanhada de um cara bem mais novo de terno todo branco do seu lado esquerdo.
Sorri o sorriso mais amarelo que eu tinha quando ela o apresentou a mim.
Em seguida, eu disse a minha
sócia para ela ir subindo na frente, pois precisava trocar umas palavrinhas com
esse novo funcionário; acertar detalhes, limites e tal. Também lhe instiguei a
curiosidade dizendo que tinha dezessete grandes surpresas lhe aguardando no
escritório.
Minha sócia me olhou intrigada,
mas sorriu pra mim quando lhe pisquei um olho.
Quando ela sumiu de vista,
interrompi o que sei lá o que o camarada ia começar a me dizer o estrangulando
ali mesmo. O rapaz era forte, vale aqui mencionar, mas o fator surpresa sempre
se sobressai quando a vítima não espera o inesperado. E eu tava puto, então, já
sabe.
Deixei o corpo inerte
daquele traste ali mesmo e, conforme o elevador subia, eu ia me ajeitando e montando
o arsenal que eu trouxera numa pasta preta executiva.
Quando o elevador parou e
abriu as portas, pude de cara ver a cena grotesca por mim orquestrada: minha
sócia estava rodeada por dezessete homens nus. Seu vestido não mais existia. Só
havia farrapos pelo chão e umas tiras do ex-vestido vermelho grudados no seu
corpo em pelo.
Ela estava de quatro sobre a
grande mesa de vidro. Tinha um cara debaixo dela. Outro a enrabava sem dó, todo
agressivo. Mais dois eram chupados por ela de forma revezada, primeiro engolia
um, depois engolia o outro, sempre afoita, na fome do cio. E mais um cara em
cada mão era agraciado com uma bela punhetinha. Os demais estavam por ali
também. Ora eles a enrabavam, iam pra de baixo dela, ora eram chupados, ora
recebiam uma punheta, ora lhe puxava os cabelos, ora a batia, a esganava; era
um rodízio muito organizado, pode-se dizer. Contudo, não era uma coisa muito agradável
de se ver.
Ninguém deu por mim quando
sai do elevador e caminhei bem em direção deles, o negócio lá estava frenético!!
Uma horrenda orgia do caralho!!
Vi o quadro e não gostei:
saquei logo as armas quando me vi num ângulo e numa posição favoráveis para
eliminar a todos.
Desembestei a disparar sem
parar.
Teve sim uns caras que
conseguiram correr ao ouvir os primeiros disparos, mas não se distanciaram
muito de mim, fuzilei a todos, sem dó, misericórdia ou pena.
Descarreguei toda a munição
que tinha levado. Certifiquei-me que todos estavam mortos: dei mais cinco tiros
em cada crânio estatelado nu no chão de sangue.
No corpo da minha ex-sócia,
não fiz essa barbaridade. Não tive coragem de deformar aquele rostinho de puta.
Então, enquanto eu me
ajoelhava em direção a seu corpo inerte, eu ia desabrigando do meu bolso a
minha faca nova recém adquirida.
Com essa faca, acariciei-lhe
a face, o rosto empapado de sangue sujo. Fiquei bons minutos fazendo isso...
Para, em seguida, cravá-la no seio esquerdo e arrancar-lhe o coração morto.
Admirado fiquei quando o
removi, ele ainda estava quente! E ele era lindo. Todo lisinho e brilhante... Não
resisti: devorei-o ali mesmo.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Meu desocupado favorito
Em
tempos de crise, o que você mais encontra por aí é gente desocupada, certo?
Errado! Em tempos de crise, o que você mais encontra é gente atarefada tentando
reverter esses tempos de crise em tempos mais amenos, divertidos. Tarefa essa
das mais difíceis, vocês sabem bem. Porém, em qualquer tempo seja ele de crise,
de tranqüilidade, moderno ou mesozóico, a exceção é vírus que se infiltra no
código fonte do tempo contínuo e chato, achatado. Ou seja: ser um desocupado é
fugir a regra; é ser e querer ser solteiro em time de casados; é ser livre por
escolha própria e que se danem quem desaprova esse estilo de vida pós-moderno
quase tabu e libertino! Pois bem, eu sou um desocupado. Admito isso numa boa.
Mas calma lá, assecla vigilante duma doutrina pagante! Não me aponte o dedo
acusador e revoltante assim num instante. Desocupado também é gente. E muito
decente, viu! Não é porque estamos sempre disponíveis que somos lá figurinhas
de algum álbum juvenil. Não. Somos desocupados porque acreditamos numa coisa
boba, aparentemente: acreditamos que gente faz a gente melhor. Não me fiz
entender? Peraí. Deixa-me melhorar isso aí. Assim, nós, os desocupados
assumidos, pensamos que estar disponível para quem for, seja ele amigo, colega,
conhecido ou algum perdido, é estar aberto a novas amizades, possibilidades, experiências
e crenças. Entenderam agora? A gente se desocupa pra se ocupar com aquilo lá
que vem de sei lá onde, sacou? É muito difícil isso, não é mesmo? Ainda mais difícil
quando se está namorando, casado ou enrolando duas, três ou sete pessoas por
aí... E ainda tem o nosso trampo que suga
muito do nosso tempo. A nossa facul também. Porém, quem quer se desocupar,
quem dessa filosofia de vida aí partilha, se identifica, sempre arruma um
tempinho para essas e outras saidinhas. Exemplos práticos disso: se um amigo
seu aí lhe diz “Vâmo lá?”, você diz “Vâmo!”; se um conhecido te chama pr’uma
festa, você logo fala “Demorô”; se uma desconhecida boazuda solta um “Bora?”,
você não enrola e já emenda um “Bora!”. E agora, entendeu de vez, meu chapa??
Já disse aqui é repito: sou um desocupado. E, cara, quer saber? Nunca fui tão
feliz como agora! Sério mesmo. Tô fazendo diversas amizades bacanas e insanas.
Tô indo aonde nenhum homem jamais esteve, literalmente. E eu tô evoluindo como
gente, pode crer. Sou o desocupado favorito de muitos aí vistos. Não tô querendo
me gabar, não mesmo! Mas, poxa, ser uma pessoa presente, em tempos de à
distância, faz toda a diferença na vida das pessoas. Então, meu irmão, aí vai a
síntese deste texto-dica: experimente ser onipresente com aqueles que aparecem
na tua curta vida. Mostre a cara e outras coisas. Mostre-se por completo. Não
tenha medo! Afinal, o Senhor do Tempo é teu amigo. Vá com ele até o infinito.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
O eu que eu queria ser
O eu que eu queria
ser é mais parecido com você, que me lê.
Ele não é esse que
você conhece ou pensa conhecer. Ele é aquele que você e eu queremos muito ser.
Esse, provavelmente,
é mais alto, mais magro e muito mais bonito, atraente. Esse é gente como a
gente, porém, bem mais interessante. Esse nosso eu é mais sorridente,
bem-humorado, calmo e concentrado.
Contudo, não é um
bobo ou um retardado, esse nosso eu manja das coisas. Ele tá por dentro de
tudo! É aquele cara, ou mina, muito bem antenado, em sintonia, com o mundo e
suas sinas.
O eu que eu queria
ser, e você também querer ser, é uma pessoa que achamos legal. É aquela pessoa
que todo mundo quer ter por perto, nas horas boas e nas ruins. O eu que tu podes
sempre contar sem se preocupar com o que ele vai ou deixar de pensar, sabe?
O eu que eu queria
ser, e você também, é alguém que imaginamos ser perfeito. Por isso, talvez aí
resida o caráter impossível da coisa toda. Ser perfeito é muito difícil! Dá
muito trabalho ser esse que você gostaria de ser para que todos aí o vejam,
admiram-no e o sigam... Ser esse que nós mesmos somos é bem melhor do que esse
que gostaríamos que fôssemos, pois esse nosso nós é verdadeiro. Não é perfeito,
sabemos bem, mas é autêntico, mesmo com tantos defeitos.
Dito isso, pense bem:
talvez já sejamos esse que gostaríamos de ser, só não nos damos conta disso!
Pense bem: quem é aquele que lhe fala sempre diretamente, não sussurrando, tampouco
gritando, mas só você o ouve dentro da tua cabeça?
É a tua Consciência,
certo?
Então, o eu que eu e
você gostaríamos de ser se mostra por meio da nossa própria Consciência!
Dê mais ouvidos a
ela. Ela sabe das coisas. Por isso, cá escrevo, por sugestão dela. E, olhe, vou
te contar uma coisa: a vida faz muito mais sentido quando papeio com ela. O eu
que eu gostaria de ser, e você também aí pretende e quer ser, já faz parte de
nós. É só você se dispor a ouvi-lo que tudo flui.
Vai por mim.
Vai por você mesmo.
Vai ser demais!
Eu te garanto.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Do dia em que eu tirei a minha licença poética
Não
sei bem ao certo quando foi, mas me lembro como aconteceu. Geralmente a gente
vai a um lugar para se obter licença de alguma coisa legalmente, em um
departamento, cartório, escritório ou gabinete. No meu caso, o lugar veio a
mim. Eu tava de bobeira, não fazendo nada de importante; eu estava ali num
instante quando o lugar baixou em mim: num piscar de olhos me vi num lugar
amplo de espaço, janelas envidraçadas vi, dessas típicas de prédios
empresariais, sabe? Eu estava num andar, porém, não era cobertura, ou ao menos
parecia não ser... Me peguei em pé perambulando, entre divisórias fui passando,
e essas formavam pequenos cubos, todos ali reunidos feito pequenos favos
naquela colmeia de gente curvada e aparentemente atarefada. Sim! Os seres que
ali estavam, nesses cubículos, pareciam ser gente, ou alguma ideia de gente. Pois
bem, me peguei andando, andando e parando de repente diante dum enorme balcão
de informação. Eu me senti um anão, pois não conseguia ver quem, ou o que,
estava doutro lado, mesmo eu nas pontas dos pés ficando. Mesmo assim, nessa
angústia, senti uma sombra sobre mim me avaliando para logo em seguida me dizer
para eu aguardar na fila. Da voz não me lembro o timbre, tampouco a textura, só
me recordo do conteúdo impositivo dito a mim, assim sem mais ou menos. Olhei ao
redor, procurando a fila. E a vi ali, à minha direita, um filete escuro, linha
preta no canto do mundo, cadeiras sem apoio formando uma fileira de ombros sem
ombreira e encosto. Fui até lá, a passos vagos, pois presa não era necessário.
O ambiente parecia calmo, tranquilo por demais, todo branco-mármore e
gesso-pálido. Me sentei na última cadeira, da direita pra esquerda. Ao meu
lado, dezenas, centenas-centopeias de outras cadeiras sustentavam outros seres
que eu não conseguia distinguir nitidamente quem ou o que eram. Pareciam seres amórficos
em água turva, às vezes límpida, às vezes suja. Não dei trela ou puxei papo,
fiquei ali mesmo sentado, parado, aguardando não sei o que. Segundos, minutos,
horas não sei bem ao certo quanto disso se passou - se é que passaram! Apenas
me recordo que numa das minhas pescadas de tédio-sono o meu nome completo, não o
do heterônimo, foi anunciado num brado horripilante! Me pus de pé num átimo
sagrado e corri pra sei lá o que ou do que não sei bem pra onde. Só me lembro
que atravessei um pórtico-azul-marinho-jônico e, num estalo bobo, eu estava
numa sala toda sépia em seu ambiente interno. “Sente-se”, disse-me uma voz
embargada, rouca e aparentemente cansada. A voz vinha por de trás duma enorme
poltrona de couro – acho que era de couro -, onde eu só via sua traseira. Eh, a
coisa-pessoa estava de costas para mim. Sentei ali na cadeira em frente. Entre
nós apenas uma escrivaninha antiga e igualmente enorme, dessas que sempre vemos
nos filmes onde os chefes, os presidentes e demais autoridades sempre têm em
suas salas de respeito. Depois disso, só ouvi uns sons de rabiscos por de trás
da poltrona de couro. Parecia que esse ser-coisa estava lá escrevendo ou
desenhando alguma coisa importante... “Pronto!”, gritou. “Aqui está tua
licença, meu jovem.”, disse-me a voz quando me entregou uma folha pálida com
letras negras como a noite e carimbada com um emblema circular vermelho-sangue de
autenticidade: era a minha licença poética! A coisa-homem, ou sei lá o que valha,
me entregou colocando-a sobre a escrivaninha com a mão-pata esquerda, não se
dando ao trabalho de se virar para me entregar. Nessa curta ação, nesse
relance, pude ver ou perceber “a mão” da coisa-ser que me entregava a minha
licença poética. Não era uma mão, era mais uma patinha, muito fina, aliás, tipo
dessa de insetos parasitas que habitam nossas residências e assustam algumas
fêmeas, manja? Naquela hora, não fiquei assustado, nada disso. Eu tava ali,
enfim, com a minha licença poética em mãos! Levantei da cadeira com emoção e já
fui saindo da sala-sépia de fininho... Mas, claro, fui saindo dizendo “Muito
obrigado! Muito obrigado!” e ainda dei uma olhadinha para trás, sobre ombros,
para ver se a coisa-homem virava para frente. Que nada! Ainda estava de costas.
Só pude perceber uma fumacinha saindo feito serpente encantada à flauta por de
trás da poltrona de couro velho... E foi assim que obtive a minha licença poética.
Sem mais nem menos. Eu a guardo minimizada entre os hemisférios direito e
esquerdo do meu cerebelo. Bem ali no meio, junto, bem juntinho dos percevejos
marinados de cerveja.
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Restos de Mayara
minha tampa
não tampa
qualquer panela
minha canela
não se quebra
assim de quebra
minha casa
não é assim
pra quem casa
minha transa
não tranca
sua trança
minha pinta
não dá pinta
em qualquer pintura
minha sina
não se sinaliza
na tua usina
minha chapa
não raspa
mais na tua xepa
minha esperança
é que nem verdura:
verde, amarga e só dura quando refogada
tu fez uma tremenda duma cagada -
vacilou legal, Mayara!!
vacilou legal, Mayara!!
agora chora, chora
sua puta desgraçada do
caralho!!
domingo, 17 de agosto de 2014
NINFA EM VIGÍLIA SEM VIGIA
Rasga o céu,
Em noite enluarada,
O raio antes da trovoada.
Amiga minha está ao léu:
Nua em pêlo, papel
E tampouco sente
A chuva fria na pele quente.
Amiga minha sem anel
Caminha triste
Sem mais ninguém,
Mas talvez pressinta
Ou desconfia
Que tudo isso, à revelia,
É bem melhor do que certo alguém.
É bem melhor do que certo alguém.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Meu pau é um poema
Meu pau é um poema
Que poucos sabem ler.
Se te pega assim de jeito,
Mete-se mesmo sem querer.
Meu pau é um poema
Que lhe enche a boca rota.
E outros espaços vagos
Na esperança tola por afagos.
Meu pau é um poema
Enrijecido naturalmente.
Às vezes encanta as puras,
Mas também bem assusta
Até as indecentes!!
Meu pau é um poema
E ele não é muito longo,
Tampouco curto por demais.
Ele é na medida certa.
Na medida que satisfaz!!
Meu pau é um poema.
Dizem lembrar uma romã –
Fruta toda fofa pro pecado
E muito boa!! Faz um bem danado!!
Quem quer pagar pra ver
Basta ficar de quatro
Num quarto vago
Ou num estrado
Feito frango assado.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
O vampiro dos olhos verdes (4)
cabelo desgrenhado
rosto vermelho
quase ensanguentado
bocas abertas
lábios inquietos, ávidos
corpos bem grudados
calcinha preta à mostra
braguilha aberta...
abraços
fogosos
apertos
despudorados
e dois olhos verdes
de plateia desgostosa:
o amor dos outros
em dias de cólera!!!
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