quarta-feira, 30 de abril de 2014

ADEMONESTÊNCIA

partiu d’uma vez
o que nunca foi
nem nunca veio

se foi
já era
pra não ser nunca mais

não espere
feche a conta
pois o dia passa
e você passa junto

adeus
good bye
já vais tarde demais

se  volta
que volte aos pedaços
o amor é (quase) eterno
só dura pra quem se mantém bem ereto

vai fundo no dito cujo
não iluda
alaúde

domingo, 27 de abril de 2014

A ex-mulher do meu ex-chefe (inacabado)

Ela me dava bola
E eu lhe metia rola.
Ele me dava scripts
E ela lhe punha chifres.

Ela topava tudo
Comigo.
Ele roubava muito
De amigos.

Ela trampava próximo.
Eu a comia no almoço –
Sempre que possível.
Ele me fodia até mesmo no domingo,
Sempre exigia o impossível,
Era um alvoroço a entrega do esboço.

Ela era produtora,
Sedutora pra caralho!
Ele diretor,
Impostor filho da puta!
E eu um reles roteirista
Com as espinhas ainda à vista.

(...)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Molhado de sol, queimado de chuva

Ele se foi, me deixou.
Dizia ser meu Amor,
Mas só me deu dor.

Agora, sozinho fico, sem ninguém.
Me isolo do mundo.
Ninguém me faz bem.

Meu mundo é o caos,
O fim de todo o sempre.
O apocalipse é o meu presente.

Estou nu nesse mundo de torpor.
O dia não é dos melhores.
Estou sem sorte.

Suo, molhado de sol,
Encharcado daquilo que dizem ser vital.

Sangro, queimado de chuva,
Torro sob minhas lágrimas de cristal.

Não sinto calor,
Tampouco frio,
Meu mundo é um nada de vazio.

A dor que sinto é sem igual.
Não há comparativo aceitável.
A minha terra é uma terra instável.

Não tenho mais nada,
Nem eu mesmo.
Me entrego sem lutar.

Cansado estou.
Já sofri demais.
Desejo somente a paz.

Não quero mais nada,
Nem mesmo o tudo de todos.
Me deixem ir além, sem ninguém...

Quem sabe assim eu aprendo
Que só se dá por satisfeito
Aquele que sabe respeitar o acaso
E a si mesmo, por inteiro.

Somente no fim
Consigo ver um começo.
Um começo pra mim,
Um fim pra você.

Eu vejo agora aquilo que não era entendido.
Eu vejo a solução sem dúvida absurda.
Eu não vejo mais você.

Molhado de sol, queimado de chuva
Faz todo o sentido agora:
Era só um sinal de melhora.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Teclando de conchinha

Celular é bicho solto.
É um troço danado de gostoso!
Todos aí têm um na mão.
Esse aparelho é pura perdição!

As mulheres não desgrudam dele,
Estão sempre com o bichinho enfiado nas calças
Ou abrigado entre os seios – uma puta farra!
Esse aparelho serve até mesmo de espelho!

Por isso, meu amigo, não estranhe
Quando vir um, todo aninhado, na mão da tua fêmea,
Pois agora a moda é teclar de conchinha.

Elas o pegam com carinho,
Apertam ele com seus dedinhos
Pra ninguém ver o que ali é escrito.

Ser corno hoje em dia tá tão facinho!

sábado, 19 de abril de 2014

A garota da banana

Bebia eu uma breja próximo ao trampo,
Quando uma mina encostou junto a mim,
Assim num tremendo espanto!
Parecia com fome esse encanto,
Pois via afoita as frutas lá expostas,
Todas na vitrine de vidro sobrepostas.
Não pensou muito, nem um segundo,
Pediu a banana lá amanhecida.
Essa era um monstro amarelo de enorme,
Coisa essa fora deste trópico!
Pediu, pediu, mas não foi atendida,
Os atendentes ali estavam noutra sina.
Então eu disse:
- Chama o Bebê que ele te dá o que você deseja.
Ela não me botou fé,
Me olhou com aquela cara desconfiada de mulher,
Mas, mesmo assim, chamou pelo Bebê ali de prontidão
Que, quando ouviu o seu pedido,
Dito assim, de carinho, lhe encheu logo a mão
Com aquele puto bananão!
Ela sorriu.
Agradeceu-lhe bonitinho e saiu
De fininho
Com aquele troço torto e monstruoso!
Após pagar pela fruta,
Essa mina me olhou de soslaio e,
Antes de ganhar a rua,
Me lançou um olharzinho de tarada recatada...
Ah, aquela banana ia se dar bem na puta farra!

domingo, 13 de abril de 2014

A ruiva do celular púrpura

Subia eu rumo ao Paraíso,
Quando a vi descer da Consolação.
Ela não disfarçava seu sorriso
E eu não escondia minha comoção.

Descia ela de olhos fixos no seu celular
E eu a encarava feito um tarado a bolinar.
Seu aparelho era de capa púrpura
E o meu era de carne rubra.

Essa mina era ruiva,
De um tom assim meio que de uva.
Ela não me viu, nem mesmo de esguelha,

Quando eu passei do lado dela!!
Eu a vi não me dando trela;
Eu a vi colorida e cega.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Agruras de um idiota (2)

- Quer saber? Ando preocupado, pensativo; ando vendo muita coisa da vida agora que abri uma conta no Facebook. E quer realmente saber? É tudo assim uma coisa de doido. Explico: ando vendo uma necessidade assim desesperada de se mostrar feliz, realizado; vejo uma liberdade medonha de expressão e de lamentos que beiram à insanidade ou à carência por amizades. Tá todo mundo querendo se mostrar feliz ou à beira da felicidade plena. Bobagem. Quem aí me lê sabe que a felicidade não é suficiente. A tristeza faz parte da gente assim como o ar preenche nossas veias e pulmões. Ok. Pareço um chato dizendo essas coisas, mas há certas coisas que precisam ser ditas, revistas, e cabe ao chato a dura tarefa de arauto. Acho bacana ver o pessoal do Face postando livremente o que pensam - o distanciamento físico da Internet possibilitou isso, todos aí sabem bem. O que me preocupa são os mal-entendidos que a liberdade de expressão acaba causando. Gente, é sério. Não falo aqui de erros ortográficos, na net isso é normal, até aceitável, pois, quem digita, digita com pressa. Falo aqui da má leitura da pessoa que lê aquilo que outra pessoa posta. Eu mesmo sofri com isso. Isso mesmo, meu amigo, sofri. Foi um verdadeiro martírio me explicar a alguém que eu nunca vi mais colorido e/ou photochapado; é complicado... Fiquei espantado também com a quantidade de fotos pessoais e de piadinhas que circulam pela rede social. Ok. Uma piadinha ou outra faz bem, mas tem vez que enche o saco, sério. E, quanto às fotos pessoais, cara, têm coisas que não precisam vir a público, sério mesmo. A rede social é que nem o mundo real, têm muita gente boa, bem intencionada, mas também têm muita gente má, que pode se aproveitar daquilo lá que você mostra descaradamente. Outra coisa: tudo que vi achei interessante, têm muita coisa lá estimulante, e broxante também, faz parte, mas o mais curioso, o que mesmo me marcou, foi perceber que a vida segue, e pra todo mundo. Vi gente que era magra, do tipo bem fininha mesmo, agora mais carnuda, de bucho farto; vi gente gordinha mais sequinha; vi gente que se casou e que teve filhos; vi gente na batalha diária por um trampo melhor remunerado; enfim, vi gente vivendo, e vivendo bem de certa forma, apesar da ostentação e dos excessos de uns e outros aí. Contudo, vendo essas coisas, acabei fazendo aquela comparação idiota com a minha vida. Eh, a inveja, ou sei lá como posso chamar essa atividade neurológica natural comparativa, se manifestou em mim, e de uma forma meio que incômoda. Vendo os outros felizes, satisfeitos e realizados, me vi infeliz, insatisfeito e preocupado. Aquilo lá que eles me mostram não é o que eu vejo aqui no meu colo, junto a mim, entende? Não? Pois eu entendo bem. A infelicidade não é atrativa, não vende, por isso, tampouco ti trará mais “amigos” para serem adicionados, como se fossem uma posse assim contratual do acaso virtual. Quem se mostra feliz é praticamente garantido o sucesso na rede social. Admito que eu estava, quero dizer, admito que estou usando o Face para “espalhar felicidade”. Faço gracinhas com os meus queridos amigos, posto conteúdo que acho relevante, troco informações, divulgo atividades, sugiro músicas e músicos de boa qualidade, porém, como já disse, isso não é suficiente. Acho que posso, e devo, fazer bem mais coisas nesta minha vida, durante esta minha curta existência finita, mas tudo isso fora dessa rede. A vida ainda é bem mais interessante por fora do sistema propagandatório dito social. Ainda prefiro o anonimato. Ainda prefiro fazer o que faço sem ninguém aí saber disso. Isso é bem mais arriscado, sem nenhum amparo, bem sei, mas já estou acostumado, calejado. A vida é dura, injusta até, mas, ainda sim, vale muito á pena, principalmente quando você a tem para si, e só para si.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Rua Augusta à Noite

Não conheço rua igual a esta que lhe vou apresentar.

Esta rua tem personalidade, mas se modifica por inteiro quando o sol se despede da gente em sinal de solidariedade.

À noite ela é outra rua, outro mundo, diversos universos, todos juntos, em choque, num embate, um verdadeiro caos que dá gosto ver, ao menos pra mim, é claro.

A Rua Augusta à noite é muito diferente daquela de manhã, a essa eu mesmo já dediquei aqui outro post, mas essa outra, a de noite, é coisa bem diferenciada.

À noite ela dá lugar aos baladeiros de plantão, aos festeiros de coração. Aqui, sim, há muito amor, por favor, mas é mais o desejo que se vê explícito a cada esquina que você desce em direção ao centro. O desejo que se vê, cê sabe bem, não é inteiramente pelos corpos que você vê lá expostos. Não, paixão. O desejo visto é pelo dinheiro vivo ou, em muitos casos do acaso, pelo crédito à vista debitado.

A noite na Augusta não é pra qualquer um, não. Lá, só os mais fortes sobrevivem, só os que têm garra, e estômago firme, batem perna, coxa e copo nos vários bares e casas noturnas lá expostos. Sim, meu amigo, expostos. Tudo lá é para se ver, se mostrar, você não necessariamente os entende, mas os curte, os aprecia e vai s’embora.

A rua é atraente, estimulante, excitante, mas também nociva, perigosa, suicida. E isso não tem nada a ver com as putas, com os travestis, com os gays e coisas do tipo convencionalmente rotuladas de “ralé”, “submundanos”, não.

Meu amigo, a rua ganha essa máscara porque justamente ela dificilmente dá as caras. Explico: o babaca aqui, por meio deste texto, tenta dar uma imagem definitiva à rua que ele vê todos os dias, mas essa empreitada é impossível!

Mesmo que a rua, à noite, é lotada de gente do tipo moderninha, descolada, roqueira, baladeira e depravada, a rua em si sempre nos surpreende. Não há nela rotina, cantina ou ciranda-cirandinha. Ela é fixa e constante; ela é uma mutação bizarra, bizantina, lúdica e promiscua a cada dia em citadina.

Já disse e repito: aqui tem de tudo e mais um pouco. A fauna e a flora locais só perdem pra Amazônia em número de bichos-grilos e flores angelicais. Ela não é um escopo, talvez nunca venha a ser, ela é um corpo ambulante que cresce, encolhe a cada instante – ela é algo assim pulsante, sabe? Instável, imprevisível...

Você quer beber e ficar apenas de boa? Ótimo! Pode vir. Quer farrear, curtir a vida adoidado? Chega junto e sem frescura! Você quer relaxar, comer um bom prato? Só aparecer. Quer cheirar, fumar, trepar e gozar gostoso? Dêmoro, só não se esqueça de me convidar, beleza?

A rua é de todos e de todo mundo, por isso, antes de adentrá-la, não se esqueça disso tudo aí dito e, mais uma dica: leve dinheiro trocado, isso às vezes é muito necessário e quebra mó galho em situações descabidas. Bote fé. Então, fique esperto. Aproveite bem.

A noite na Rua Augusta não tem hora pra acabar.