Não conheço rua igual a esta
que lhe vou apresentar.
Esta rua tem personalidade, mas
se modifica por inteiro quando o sol se despede da gente em sinal de
solidariedade.
À noite ela é outra rua, outro
mundo, diversos universos, todos juntos, em choque, num embate, um verdadeiro
caos que dá gosto ver, ao menos pra mim, é claro.
A Rua Augusta à noite é muito
diferente daquela de manhã, a essa eu mesmo já dediquei aqui outro post, mas essa outra, a de noite, é
coisa bem diferenciada.
À noite ela dá lugar aos
baladeiros de plantão, aos festeiros de coração. Aqui, sim, há muito amor, por
favor, mas é mais o desejo que se vê explícito a cada esquina que você desce em
direção ao centro. O desejo que se vê, cê sabe bem, não é inteiramente pelos
corpos que você vê lá expostos. Não, paixão. O desejo visto é pelo dinheiro
vivo ou, em muitos casos do acaso, pelo crédito à vista debitado.
A noite na Augusta não é pra
qualquer um, não. Lá, só os mais fortes sobrevivem, só os que têm garra, e estômago
firme, batem perna, coxa e copo nos vários bares e casas noturnas lá expostos.
Sim, meu amigo, expostos. Tudo lá é
para se ver, se mostrar, você não necessariamente os entende, mas os curte, os
aprecia e vai s’embora.
A rua é atraente, estimulante,
excitante, mas também nociva, perigosa, suicida. E isso não tem nada a ver com
as putas, com os travestis, com os gays
e coisas do tipo convencionalmente rotuladas de “ralé”, “submundanos”, não.
Meu amigo, a rua ganha essa
máscara porque justamente ela dificilmente dá as caras. Explico: o babaca aqui,
por meio deste texto, tenta dar uma imagem definitiva à rua que ele vê todos os
dias, mas essa empreitada é impossível!
Mesmo que a rua, à noite, é
lotada de gente do tipo moderninha, descolada, roqueira, baladeira e depravada,
a rua em si sempre nos surpreende. Não há nela rotina, cantina ou
ciranda-cirandinha. Ela é fixa e constante; ela é uma mutação bizarra,
bizantina, lúdica e promiscua a cada dia em citadina.
Já disse e repito: aqui tem de
tudo e mais um pouco. A fauna e a flora locais só perdem pra Amazônia em número
de bichos-grilos e flores angelicais. Ela não é um escopo, talvez nunca venha a
ser, ela é um corpo ambulante que cresce, encolhe a cada instante – ela é algo
assim pulsante, sabe? Instável, imprevisível...
Você quer beber e ficar apenas
de boa? Ótimo! Pode vir. Quer farrear, curtir a vida adoidado? Chega junto e
sem frescura! Você quer relaxar, comer um bom prato? Só aparecer. Quer cheirar,
fumar, trepar e gozar gostoso? Dêmoro, só não se esqueça de me convidar,
beleza?
A rua é de todos e de todo
mundo, por isso, antes de adentrá-la, não se esqueça disso tudo aí dito e, mais
uma dica: leve dinheiro trocado, isso às vezes é muito necessário e quebra mó galho
em situações descabidas. Bote fé. Então, fique esperto. Aproveite bem.
A noite na Rua Augusta não
tem hora pra acabar.