Acordei
às sete. Levantei às sete e vinte e sete. Tomei café às oito. Saí às oito e
vinte. Cheguei atrasado antes das dez – meu horário é às nove e meia. Trabalhei
até às catorze. Repousei das catorze às quinze. Voltei a trabalhar a partir das
quinze e fui, direto e sem intervalo, até às dezenove. Deixei o trampo às
dezenove e trinta. Cheguei em casa quase às vinte e uma. Jantei às vinte e uma
e trinta e sete. Fui dormir antes da meia noite. Mas e o sonho? Ele continua transparente
e muito além à minha frente.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
"Tudo furto do meu trabalho"
Era uma vez, um país aonde existiam dezenas de deputados que
falavam muito e muito bem. Dos quatro cantos do mundo mundano moderno, a
oratória deles era muito conhecida, discutida e estudada, do tipo "um
exemplo a ser seguido" sempre, sabe? Esses deputados gozavam de muitos
privilégios nesse tal país; eles tinham tudo e todos à mão, sem exceção, eram verdadeiros
semideuses. O povo os adorava. O povo tinha muito orgulho de seus eloquentes deputados.
Porém, em um dia espatafúrdio de verão - um dia muito quente e de insolação recorde
-, um desses deputados cometeu um pequeno deslize fonético em seu discurso
inauguratório: "Tudo isto aqui, meu povo, é tudo furto do meu
trabalho". Aí, nem ele, e nem ninguém mais, viveu "o felizes para
sempre".
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Um homem por completo
O namoro ia bem. Os dois pombinhos se mostravam felizes e
satisfeitos consigo mesmos. Nada parecia abalar aquelas caras-metade
perdidamente apaixonadas. Mas teve um dia, fatídico dia, em que a mulher
desejou ter mais. Ela queria o lado mal do homem que lhe fazia bem, muito bem.
O homem ficou preocupado, meio abalado com o pedido da mulher. Entretanto,
cedeu aos desejos de sua amada. E, mesmo violentada, cheia de dores e
hematomas, a mulher nunca foi tão feliz em sua vida. Ela enfim conseguira um
homem por completo.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Ele não sabia de nada
"Ele não sabia do esquema. Aliás, ninguém sabia de nada.
Tudo rolava em sigilo lá nos ministérios. Somente um clube seleto de
funcionários de altos cargos administrativos tinha conhecimento da empreitada.
E mesmo esses, que sabiam, sabiam pouco, não tudo. Eu também não sabia muito...
Ele é o único inocente. Bote fé no que lhe digo! O (e)leitor não sabe de nada.
E se sabe, agora, e eu estou a me enganar, pode ter certeza que é ele o cara
que você está a procurar".
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