Não se engane. Ele é macho. É um
macho machucado que insiste em sorrir, apesar dos pesares. Não o conheço, já
vou dizendo. Só estou aqui no meu canto de olho vivo no tiozinho da camiseta cor
de rosa que acabou de subir no metrô. Ele não é normal. Ele é meio estranho. Imagine:
homem branco, de estatura mediana (deve ter uns 1,75 m), tênis branco, calça
jeans azul de lavagem mais clara, camiseta pólo rosa manga curta, relógio
esportivo laranja no pulso direito, blusa de frio azul-bebê amarrada no
pescoço, cabelo baixo, bem penteado, bem marcado, todo lambuzado de algo que
não consigo distinguir, olhos azuis, barba por fazer, mas de aspecto limpo,
bem-feitinha, base no rosto, sobrancelhas feitas recentemente e há algo de
brilhante em seus lábios finos e unhas cortadinhas e bem vistosas. Tá. Tu já o
imaginas um formoso e asseado gay. Porém, meu amigo, veja bem: ele é homem que
não gosta de outros homens. E, se tu tá pensando agora, que ele é mais um
metrossexual, te cutuco: esse termo já tá mais do que ultrapassado. Ele é o
homem atual, oras. Simples assim. Ele é um homem que se cuida. Tenho (quase)
certeza de que ele procura o seu urologista com frequência. Certamente ele tem
uma dermatologista, uma massoterapeuta e um visagista pessoais. E uma excelente
manicure, óbvio. Esse homem é o homem de hoje; é o homem que procura se sentir
bem com a sua nova masculinidade. Sim, meu filho. Nova porque isso tudo aí que
ele exibe é novidade, coisa fresca com pequenas frescurinhas embutidas. O cabra
aí tem mais de trinta anos, tá quase nos quarenta e ainda se sente a última
bolachinha do pacote. Nada mais do que justo e saudável, certo? Se cuidar faz
bem se você já tem alguém que te faz feliz. Hoje em dia, quem casa não mais relaxa.
Muito pelo contrário, meu amigo, a pessoa se cuida bem mais para manter o
bom-partido conquistado, o bem mais do que querido, pra amarrar o amado de
verdade. E quem tá solteiro, tu sabes, se cuida pra caralho! O tiozinho da
camiseta cor de rosa é um homem que se valoriza. E se ele fosse gay mesmo não
teria nenhum problema. Teria? A vida é dele, oras! Quem se incomoda, pare agora
e vai cuidar da própria. Fica a dica. Agora vejo o tiozinho da camiseta pólo cor
de rosa indo embora, desembarcando... Ele dá uma corridinha; ele apressa o
passo na plataforma e vai de encontro a sua (imagino) possível namorada. Essa,
vale dizer, é uma cadeirante toda jeitosinha, igualmente bem vestida, e toda
sorridente quando o nota vindo, indo em sua direção. Belo casal. Taí duas pessoas
que se gostam muito e que não ligam para quem os vê. E como eu sei dessas
coisas você aí deve estar se perguntando, né? Bem, eu tô vestindo o mesmo
modelito do tiozinho. E eu sou gay, ele não. Entendeu agora??