domingo, 27 de setembro de 2015

Beirando à extinção

Foto: @BrianSkerry


Vagava só sobre o gelo amolecido. O vento frio não o incomodava tanto. Sua carcaça magra e suja se movimentava devagar pela neve... Sentia fome. Estava há dias procurando comida, que só era encontrada com muita sorte ultimamente – até a sorte custava a lhe aparecer. Ao redor de si, o branco dominava e a água, outrora muito fria de bater dentes, estava ficando mais quente, cada vez mais quente e carente de alimento. Vagar era a sua sina até dar de cara com a morte, essa parada final cada vez mais próxima.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Caminhos opostos, cruzados ao acaso, desatam em pequenas flâmulas

Ele vivia em um mundo de irresponsabilidades. Ele tomava uma quase todos os dias da semana. Ele não dava fôlego pro fígado e nem pra família. Ele preferia curtir a vida. Ele pegava todas pra se dar bem na fita. Ele só fazia aquilo que se sentia bem; só fazia o que tinha de fazer se visse vantagem no processo todo – ele não queria viver uma vida de estorvos. Mas então, num belo dia, conheceu aí uma guria. Essa passava todo dia em frente à sua casa; passar por ali era o seu caminho de todo o santo-dia a seu serviço. Papo rolou, saíram, moraram juntos e tiveram dois filhos. Ele enfim se sossegou e ela, bem, ela mudou de rumo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Singularidades (atuais) de uma rapariga loira

Teve medo. Assim que percebeu que o vizinho da frente fumava bem em frente a sua janela — sozinho e no escuro —, começou a vigiá-lo com a desconfiança estampada em seus olhos claros. Sentia medo e raiva quando via a bituca acesa se movimentando ligeira na escuridão do cômodo em frente. Sentia raiva porque não mais poderia andar pelada pela casa — sua liberdade fora violada. Então, com um biquinho murcho de menina mimada, estendeu uma cortina velha bem em frente da sua janela. Sua jovem nudez fora enfim escondida do mundo de fora. E ela não curtiu isso nem um pouco.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Um causo de inspiração

Sono me vem lentamente
Enquanto eu tento ler
Um livro tranquilamente.
Sono me pega pra valer

E não resisto; inconsciente,
Penetro em um mundo de doer.
Pesadelo ou sonho delirante,
Sinto o meu significante moer.

A dor me vem sem calmante.
Mesmo dopado de anestesia,
Eu grito: “Não é fantasia!”

Então enfim eu desperto contente
Pois, mesmo com esse inconveniente, eu
Vislumbro a realidade cega de breu.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

MARMOTA À DERIVA

Perdido, sem o que fazer,
Você inventa algo desmiolado
Pra tentar aplacar o coitado
Ou, simplesmente, bota pra fuder!

E, se não der na hora,
Você, claro, não enrola,
Põe pra fora e bate
Uma bem batida, chocolate!

Não se engane,
Não se assuste.
Aqui, Mamute,

Faz som de celofane
Até a hora-morta passar.
Deixe de enrolar e vá logo trabalhar!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sobre um rei

Triste estava sentado no trono. Enquanto via seus súditos bailarem contentes a sua frente, seu pensamento ia de encontro às suas memórias mais primitivas. Ele se permitiu vagar em terras mais longínquas; ele preferiu se perder nas suas memórias de infância. Ele, hoje rei, se viu criança faminta pedindo comida. De volta do transe, encerrou num instante o baile da noite. E saiu sozinho sem os seus guardas, procurando o próximo rei pela madrugada.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PIGARRO


TALVEZ A MELHOR COISA DA VIDA SEJA FAZER ALGUÉM FELIZ.
E ESSE ALGUÉM PODE SER QUALQUER UM, BASTA VER AQUELE SORRISO LARGO E SINCERO PARA A GENTE SE SENTIR DE BEM COM A GENTE MESMO.


TALVEZ A MELHOR COISA DA VIDA SEJA
“FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM”.


TALVEZ FOSSE SE A GENTE NÃO FICASSE NESTA MERDA MODERNA DE SE MOSTRAR FELIZ.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Do meu processo (3)

Fotos de: Andrew Richardson, Mark Bridger (Grosby Group), Robin Moore e @cutewildbaby


Engraçado. Ao postar o post anterior, percebi algo que, na verdade, já tinha percebi antes, porém, agora, acho que vale a pena torná-lo público. O caso é o seguinte: sapo. Sim, meu caro, tenho uma quantidade de posts consideráveis que tratam ou citam esse pequenino e fantástico animal. Curto pacas esse serzinho dito anfíbio. Não sei se consigo te explicar direito esse meu gosto, mas, cara, é mó barato esse bicho! Imagine só um girininho nadando todo serelepe num laguinho. Imagine ele crescendo, ganhando as patinhas traseiras e dianteiras. Imagine ele saindo da água e aprendendo a respirar fora dela. Imagine ele, já maiorzinho, pulando. Imagine só! Mó legal, né não? Acho que essa característica anfíbia dele me fascina. Ele vive tanto fora quanto dentro d’água, porra! Que maneiro, não? Imagine você transitar por dois mundos completamente diferentes. Imagine você se desenvolvendo todo nesses meio-ambientes. Adaptação é tudo de bom, meu chapa! Fora que, repare bem, todas, ou quase todas, as fotos tiradas que você vê de sapo por aí, mostram, ou fazem você achar, que eles estão sorrindo um sorriso cheio e meio faceiro. Também acho bárbaro o físico adaptadíssimo de excelente nadador que eles têm. Fora que aquele aspecto de pele rugosa e melequenta não me incomodam nem um pouco. Sério mesmo. Então, se você estiver aí de bobeira, e quiser, dê uma olhadinha nesses meus textos. Só clicar aqui nos links abaixo e coaxar de boa, digo, relaxar na lagoa... :) ;)











terça-feira, 15 de setembro de 2015

Do meu processo (2)

A Inspiração vem de todos os lados, de todas as formas. Basta você estar aberto a Ela e Ela vem. Às vezes, Ela demora, é verdade, mas quando vem, vem duma vez, num turbilhão de ideias crescentes. Eu acredito nisso. É a mais pura verdade verdadeira, não é verdade inventada. Por exemplo: há um tempo, fiz um poeminha inspirado num bate-papo que tive com uma grande amiga minha. Você sabe, bons amigos nos inspiram, isso é fato. O papo corria bem e, durante ele, percebi que estávamos cavoucando conceitos muito interessantes – é sempre bom estar aberto ao diálogo sincero e despretensioso. Assim, ao fim dele, fiquei com aqueles conceitos na cachola e me predispus a confeccionar um poeminha. Fiz umas anotações, para não me esquecer dos conceitos debatidos, e pronto, criei uma historinha em forma de poema. Gostei do resultado e o publiquei aqui no blog. Hoje, dia 15/09/2015, vi uma imagem no Instagram que ilustra muito bem o meu poema. Curioso que, mesmo depois de tanto tempo, associei a imagem vista a um poema meu de tanto tempo já feito. Será que os astros estão querendo me dizer alguma coisa? Enfim, pega aqui no link e se distraia um pouco dessa vidinha nossa corriqueira. Fique de boa... ;)

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

MEDIANTE

MEDIANTE A DECLARAÇÃO
DO DECLARANTE
FICA ESTABELECIDO QUE:
NADA DO QUE HAVIA SIDO DITO

É A VERDADE ABSOLUTA
DE NADA DO QUE TEM HAVER
COM O TUDO DO QUE FOI AQUI
EXPOSTO.

OU SEJA, FICA OUTORGADO,
DE AGORA EM DIANTE,
QUE, O AGORA RESPONDENTE,

É O RESPONSÁVEL LEGAL
MEDIANTE A APRESENTAÇÃO
INTERESTELAR DO DOCUMENTO PRÉ-NUPCIAL.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

AMARRADO

Nunca se sabe de nada,
Apesar de se dizer saber.
O mundo está em desgraça
E muitos ainda botam pra foder.

A informação precisa não é mais impressa.
Hoje, ela é dada, paga e às vezes não presta.
Saber quem sabe, se sabe, contesta.
Porém, quem não sabe, inventa e faz festa.

Notícias vagam pelo vazio.
Fatos concretos explodem em vinil!
O mundo anda tão complicado...

Não se sabe ao certo o que é certo.
O errado é tão presente
Que quem discorda de todos perde um dente.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

DELAY

Tinha chegado ao limite. Sua força tinha se esvaído duma vez do seu musculoso corpo. Dor não sentia. Seu estado era o de ruína; estava se desmoronando rápido, porém, se sentia em câmera lenta, para enfatizar o próprio drama. No chão, resmungou alguns impropérios, deu uns baixos gemidos e babou um pouco, que nem menino pequeno. Ainda no chão, duro e imóvel, ficou se imaginando nas telas LED caindo bem lentamente após a porrada forte sofrida. Concluiu: "Eh, até a derrota fica linda em alta definição".