quinta-feira, 30 de junho de 2016

NO BURACO DA AGULHA

Em tempos de crise,
Dizem que o melhor
É trabalhar sem dó.
Mas isso não passa de tese,

Porque quem assim age se arrefece,
Acaba logo na pior,
Mata-se e vira pó.
Então, pra não ficar no esmorece,

Basta seguir a linha tênue
Da vida por fiar:
Do rolo sai meio perene

E se descarrila sem muito pensar.
Logo, logo uma mão lhe pega
E você atravessa; pronta pra Hora H.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

UMA NÃO-VERDADE RETIRANTE

Caminhava a passos lentos
Dádiva da perdição;
Estar sozinha era opção,
Pois não era a preterida dos rebentos.

Caminhava cheia de lamentos
Criatura feia sem coração.
A cada passo dado, conspiração —
Pegadas-pistas dos aguentos...

De longe se via
Seu rastro de enguia
Pelo Vale da Morte.

Se estivesse com sorte,
Talvez o superasse,
Mas a mentira caminha dando coice.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

AMIGO É DINHEIRO NO BOLSO?

“Amigo é dinheiro no bolso”,
Dizem as más línguas
De gosto duvidoso.
Quem diz isso, está à míngua

Ou tá falando sério? Choramingas?
Não sei ao certo; ditoso
Certamente não é esse falastroso.
Então, por que cargas-d’água

Dizem por aí tamanho impropério?
Amizade é coisa assim tipo débito?
Lógico que não! É tipo um adultério

Quem entoa essa afronta.
Quem tem amigo, tem crédito,
Pois nele se confia e não desconta.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A LINHAGEM DO ÓDIO

Diziam-se do mesmo sangue,
Criaturas ditas de família,
Mas a verdade era clara como o dia:
Todos eles eram do mangue.

Ali, amontoados no lodo, fodia
Cada um, um com o outro; gangue
De invertebrados sugadores-bumerangue
Se jubilando em ato carnal de judia.

O judiar era com gosto, pra esses seres
Decompostos de grandes interesses;
Seus feitos feios fediam a benesses!!

Contudo, havia uma salvação entre esses ares:
Todos os ali atados, que se digladiavam,
Iriam se extinguir um dia logo, pois se odiavam.

terça-feira, 21 de junho de 2016

ENTRE O MEIO

cedo ou tarde
quem vive
arde
quem morre
alarde

cedo demais
faz graça
satisfaz

tarde demais
faz pirraça
desaponta

e o tempo vai passando
e nós aqui enrolando
até fechar de vez a conta

segunda-feira, 20 de junho de 2016

INVERNO

Inverno chega devagar,
Chega se estendendo todo,
Livre, leve e solto
No ambiente chamado lar.

Inverno fica e causa pesar.
Quem bem te conhece,
Jamais se esquece
Da dor que nos faz passar.

Inverno não é Inferno,
Mas queima a pele;
É gélido da carne que tenta se requentar.

Inverno na cidade grande, dizem
Que é chique, bem, mas, veja bem,
Não é nada disso, não. É dor, irmão.

terça-feira, 14 de junho de 2016

"O QUE AS LETRAS TE FALAM?"

ouve.
preste atenção.
as letras falam
coisas que vêm do coração.

houve.
já é tarde.
as letras não ouvidas
se perdem nas latrinas.

sábado, 11 de junho de 2016

DADÁ DÁ DÓ NO LOLÓ

Teori
Netto
Tiririca

Calcinha Preta
Eduardo & Cunha
Cláudia Cruz

Quixadá
Jurerê
E nóis aqui sem pão pra comê

sexta-feira, 10 de junho de 2016

NARCISO FITNESS TOP MODEL

Na Internet de todo dia
Só vejo gente que se diz vencida.
É gente que diz e se mostra definida
Por perder peso demais de forma tardia.

Parece que ser magro é objetivo de vida.
E ser gordo seria espécie de vadia,
Uma coisa assim sabe à revelia,
Digna de pessoas ditas sem saída.

Aí eu penso se isso é mesmo de direito
Ou coisa tipo vai e vem, de momento.
Penso, penso e só chego num parecer:

Hoje em dia, todos querem com saúde viver.
Porém, tem gente, muita gente aí que quer
Porque quer aparecer, e tá muito afim do que vão dizer.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O GATO NO DIVÃ

É de minha natureza
Notar quem passa a beleza
Passageira de quem preza
O Belo é certeza.

Meus olhos se ateiam
Em tudo assim permeiam
As peles e pelos penteiam
Os seres que me rodeiam.

Se às vezes eu me pareço
Alguém tipo assim desprezo,
Fico tranquilo, me esqueço.

Não sou bon vivant,
Muito menos um titã,
Apenas sou o gato no divã.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

INVOCAÇÃO ANAL

Das terras de árvores retorcidas
Onde feias criaturas se tornam suicidas,
O sacrifício vira ato banal
Quando a bruxa banca a seccional.

Até mesmo o diabo passa mal
Ao ver tamanho empenho anal.
Secreções antes retrógradas abundam fluídas
Ao impacto da pica de veias torcidas.

Os assim chamados puros
Petrificados ficam diante dos apuros
Que vêm duros — cilíndricos e assimétricos.

Nem ex-padre, nem ditoso protético
Dará conta do invocado
Enquanto balançar mole o enforcado.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

DO CLASSICISMO AO EXPRESSIONISMO (SONETO APARENTE DA LEITORA DE AUTOAJUDA FAJUTA)

Pense. Calcule com cuidado.
Não há nada de errado
Em querer ser feliz sim
De um jeito assim avantajado.

Se o seu sorriso transmite
Mais do que se pode ser
Mostrado, então deixe de caso
E mostre os seus dentes tortos ou emparelhados!

Reprimir a própria felicidade
É pior do que fazer
A infelicidade de outrem.

Seja você mesma o
Ensejo que você mesma
Se deseja. Pensa Lola, pensa!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

DA FÉ AO NIILISMO (SONETO APARENTE DA SOFIA ADOLESCENTE)

Quem és tu que vem assim
De repente e envolve a gente
Crente que um dia há
De acontecer coisa melhor?

Que é isso contigo?
Será bendito ou maligno
Isso que tu tens aí
No bolso? Será gostoso?

O que é afinal?
Pau? Pimenta? Sal?
Ora essa! Não me tente.

Desgraçado! Só me vez
De boba. Eu achando coisa
E você aí me fazendo de trouxa.