quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pra não dizer que não falei das flores


- Ah, querido filho, aquele grande momento finalmente chegou. Você deixará está pequena casa para se aventurar por aí afora; encarará, sozinho, o mundo hostil. E, como mãe, sinto-me no direito de deixar um último aviso. Não fique aborrecido, é coisa muito séria, assunto de vida ou morte. Ao partir daqui, não se engrace com a primeira flor que vir deste luminoso jardim. Bem sei que você, meu lindo, é louco pra pousar a procura de pólen, mas cuidado! Preste bem atenção, as aranhas não são flores que se cheire, não. E não estou pensando naquela tal de Viúva Negra quando lhe digo isso. Tá certo que ela é pequenininha, maliciosa e terrivelmente atraente, qualidades essas que você, meu queridinho, curti demais numa fêmea. Eu ti conheço bem. Mas a perigosa mesmo, a verdadeira periguete é uma que nem nome tem, apenas uma alcunha, um nome de guerra: aranha albina. Não se engane, meu filho. Não se iluda. De albina ela não tem nada. Ela é branca mesmo! Não tem pelo mas tem pele, uma pele bem lisinha... Desfaça já esse sorrisinho! Ouça: a tratante tem um bundão, é verdade, mas não se deixe tentar por essa proeminência pecaminosa. Ela é letal. E a fluorescência que ela transmite desavergonhadamente não é amor à primeira vista, não; é morte na certa. E tem mais: essa zinha se movimenta lentamente, adora se balançar junto ao vento... Uma dissimulada, isso sim! Não caia nessa, meu filho. Não se deixe seduzir. Nem tudo deste mundo-jardim é o que aparenta ser. Não seja uma presa ingênua. Seja zangão, mas não use esse ferrão! Com ou sem proteção, tu tá ferrado, menino. Essa branquela é misteriosa... Nem teia fixa tem. É uma Solteirona Sarará mesmo! Por isso, mais uma vez lhe digo e saliento: muito cuidado. As flores são perigosas e aquelas que as imitam também. Melhor trair a si mesmo do que ser atraído ao fim. Eu sei. É difícil ouvir essas coisas nessas horas de liberdade, mas um dia, se você sobreviver até lá, e vai, assim desejo, você me entenderá. Agora, fique mais um pouquinho, vai, me falta ti falar das bestas das vespas. Fique.



Acessado em: 16/08/2011 às 21h50.

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