Não é sempre que a gente se
encara de frente. Ainda mais quando o encontro não é discursivo e sim físico. Explico:
dia desses trombei comigo mesmo na rua. Esse eu não me notou, fui eu que o
notei. E imagine você o susto que eu levei! Eu estava de boa pelo centro,
fazendo os meus rolês de sempre, quando avistei a mim mesmo doutro lado da rua
donde eu andava, era o outro eu. Congelei na hora de susto, óbvio. Impossível
uma coisa dessas, pensei. O outro eu estava bem ali doutro lado da rua, também,
aparentemente, andando de boa pelo centro. Pensei em segui-lo, pra ver aonde
iria aquele cara com a mesma cara minha. Mas não. O espanto era tanto que,
quando me dei conta de mim mesmo, eu já estava correndo na direção desse meu
outro – eu queria interpelá-lo, arrancar-lhe algumas informações. E ele se
assustou quando eu o puxei por de trás. E assim, bem de frente com esse outro
eu de mim mesmo, percebi que esse era mais alto do que eu. Como? Percebi também
que ele era mais forte, ele tinha outro porte, ele era mais magro também e,
incrédulo, vi, nitidamente, que ele estava com os cabelos molhados, bem penteados,
ele estava usando perfume, sentia um cheiro agradável, mas estranho vindo dele,
ele não tinha barba, ele estava todo asseado, suas roupas pareciam saídas
recentemente de uma lavanderia administrada por Minerva e Netuno. Eu reparara
nele assim, sem lhe falar uma palavra e ele também me olhava. Á princípio, esse
outro eu, me olhou espantado, contudo, conforme me via ali parado, defronte
dele, sem lhe falar nada, esse eu foi esboçando um arqueado sorrisinho... E
quando finalmente emiti uns sons indecifráveis para começar a falar com ele,
esse eu de mim mesmo soltou uma estrondosa gargalhada (!!), e ele ria e ria
cada vez mais alto e mais alto, e se dobrava todo no meio de tanto rir e rir e
rir. Voltei a ficar pasmo. E eu olhava aquela figura encolhida em si aos risos,
rindo de mim, seu outro eu. Senti vergonha de mim mesmo ali. Senti que eu
estava mangando de mim mesmo. Senti ódio daquele outro eu. De repente ele se
endireitou, não estava mais aos risos. Ele me olhou de cumplicidade, e
disse-me: eu sou o seu eu que o mundo gostaria que você fosse, mas, como vês,
eu já sou esse eu. Você, meu amigo, é esse mesmo que você é, conforme-se com
ele. Adeus! E esse meu eu foi-se embora, não o segui com os olhos, apenas
fiquei parado ali, atônico, ainda abalado pelo que aquele meu eu me disse;
fiquei ali parado pensando comigo mesmo, sendo aquele eu mesmo.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Anotações de um bebum introvertido (11)
Bebo pra aplacar o desejo. Coisa
inútil essa que eu faço, pois, quando bebo, fico cada vez mais eriçado!!
O bar é o lugar aonde as almas
carentes se encontram.
Uns bebem pra esquecer, outros
bebem até se foder, mas eu não, apenas bebo pra rearranjar as idéias desconexas
que andam me fodendo.
O bronzeado tenro que vejo a minha frente é bem melhor que o
dourado que bebo complacentemente.
Quando os hospitais forem maiores que os shoppings, aí sim
saberei que o meu país é um país civilizado.
A gente compra pra preencher aquele vazio que a gente sente,
mas não sabemos bem dizer o que ele realmente é.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Verão na primavera
Verão na primavera é coisa indiscreta;
É coisa que se vê logo de manhã pela janela.
Quem mete a cara por ela já avista uma passista,
Toda serelepe dando sinais encantadores de vida.
A passante é mina de respeito,
Que exibe satisfeita a dádiva da natureza,
Ou que foi bem paga num salão de beleza,
Ou ainda fruto d’uma mesa mexeriqueira.
Seja lá como foi, não importa, a mina é gostosa!
Não tem como negar, ora bolas!!
Posso soar machista, mas canto a verdade.
Isso passa na cabeça de qualquer homem da minha idade.
As feministas aí podem até me reprimir,
Mas eu só estou cantando de colírio para um colibri.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Fim da DR
(...)
De resguardo fiquei a ti esperar –
Preocupada fiquei quando você não apareceu
Triste fiquei quando percebi o motivo
Sozinha, chorei
Chorei baixinho,
Chorei pouco.
Levantei da cama muda,
Troquei a roupa suja,
Bati à porta da vizinha do 32
Precisava de ajuda
Para dar fim imediato
Do teu corpo todo ensanguentado.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Tamara, tamarindo, tico-tico (versão lésbica)
Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico
Tamara sempre foi muito sexual
Nunca teve sensualidade
Nem mesmo na flor da idade
Tinha era mesmo um fogo por todo o corpo
Que se espalhou por toda a cidade...
Tamara não tinha amenidades
Tamara era um animal de coitos fugazes
Por isso, experimentou tudo aí que lhe foi aparecendo
Tamara não foge d´uma buceta negra
Em pêlos crespos, crescendo
Tamara até já chupou cacetes, mas não gostou
Tamara prefere as xerecas carecas de vinil
Tamara tem tatuagem no quadril
E se exibe amuada
Para sua namorada
Quando tem certeza
Da sua desgraça...
Tamara é complicada
É tipo homem sem calça, sem barba
Mas muito macho que só vendo
Tamara não aceita brincadeiras
Nem mesmo quando se dá no recreio
Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico
Tamara não é pirulito que bate-bate,
Mas já bateu umas pra mim
Temos lá nossas divergências,
Mas me ama assim, assim
Tamara curte rock progressivo...
É feminista sim, de ouvido –
Puta com vergonha que não morde fronha,
Mas é do tipo de mina que curte coisas ditas ao pé do
ouvido –
Ditos assim sem-vergonha, manja?
Tamara não curte tâmara
Vai mais de câmara
Tamara chupa tamarindo
E cospe sinusites rindo
Se lhe passa um passarinho
Já logo imagina um tico-tico
Não por ser pequeno,
Mas mais por ser vermelho –
Plumagem rubra de desejo
Tamara,
Tamarindo,
Tico-tico
...
Se há algo de bom nessa história,
Que mais parece uma novela sem glória,
É esse “amor anormal” que ela tem
Por mim não, claro, veja bem
Ela tem uma namorada,
Ela trabalha como uma condenada,
Mas ainda sorri quando vê surgir
O beneditino do
tico-tico que insiste em lhe corrigir...
Belém, Belém, Belém
Quem sabe bem quem és
Não esmorece com o
peso sobre os próprios pés.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Dá trabalho ir trabalhar
Ir trabalhar dá trabalho
Quem aí pega condução
Sabe bem do que eu falo
Não se faça de rogado,
Transporte público
Em São Paulo
É uma merda!
É um sofrimento du’caralho
Para quem o pega a todo horário.
Não adianta muito acordar cedo
Se ele não se atrasa, ele quebra, o desgraçado.
E todo mundo aqui tá ligado!
Se ele vem assim sempre lotado
É porque o danado tá defasado
Ele não suporta mais gente que dá duro no trabalho
É tanta gente assim decente que ganha o salário suado
Que, quando entra em uma condução,
Às vezes perde a razão, perde o juízo,
Mó confusão!!
Diante de tanta gente assim indecente,
Pois lá dentro esses se apertam,
Se espremem bem,
Se esfregam todos e
Suam muito pra burro também.
A vida é dura de injusta
Para aqueles que escolheram
Trabalhar correto em vez de roubar direito.
Todo dia é sempre assim:
Dá trabalho ir trabalhar.
Nunca isso aqui há de melhorar!
O nosso transporte público é um dos piores do mundo
Mas tem algo aqui que todo mundo aí tá cansado de saber:
Se quebrarem uns e outros por lá,
Veja só que coisa linda pode acontecer:
A condução funcionará direitinho,
Bonitinha se moverá,
Pois é de medo que esse serviço engrena
Rodará redondinho que dará gosto ver
Basta mover uma ação
Quebrar tudo é opção
Condene se necessário for,
Reprove a todo vapor,
Manifeste-se, por favor!
Não basta uma greve a cada estação
A solução é lutar por um direito
Que dizem estar na constituição
Bobagem,
Vem mesmo do coração
Essa bomba-relógio de centro-esquerda.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Soneto aparente do vizinho carente
Em noites quentes eu ouço tudo
Tudo o que acontece no escuro
A coisa toda rola de madrugada
E eu sou cúmplice dessa roubada.
Lá, no andar de cima, dois
Corpos insistem em não resistir
Se entregam gostoso à antropofagia enfim
E eu aqui em baixo só de gaiato...
A mina geme d’uma forma penetrante
Mesmo eu não sendo seu amante,
Curto (as)sim ouvir os seus gritinhos sobre mim.
É como se eu estivesse junto dela,
Comendo ela naquele instante
Mas não, eu só a ouço, não a sorvo afoito...
sábado, 12 de outubro de 2013
A porta dos fundos
Nesta sociedade em que
vivemos, há algo que sempre me instigou o cenho, e desde muito pequeno, é a
danada da separação de entradas e elevadores sociais e de serviços. Você aí,
amigo leitor, já deve de ter trombado com essas ditas cujas em algum momento da
tua vida. Se você aí, que me lê, mora ou conhece alguém que more em prédio, já
sabe muito bem que elevador social é por onde os moradores do prédio e seus
convidados adentram o condomínio. Já o elevador de serviço é destinado aos
empregados assalariados que trabalham no prédio. Curiosa também é a diferença
estética desses meios de transporte. Enquanto um é espaçoso, o outro é
estreitinho, enquanto um tem um enorme espelho embutido, o outro é todo forrado,
de cima à baixo, de um acolchoado de uma cor meio assim acinzentada, neutra.
As entradas sociais e de
serviço também têm lá suas diferenças. Um bom exemplo disso são as entradas dos
hospitais. Penso aqui nesses hospitais de renome, que são referências em
determinadas especialidades, sabe? Pois bem, a entrada social é a principal. É por
ela que os doentes cheios da grana adentram a instituição médica em busca de tratamento.
Já os medicamentos, os equipamentos usados por esses a fim de se curarem de
suas enfermidades, entram pelos fundos do hospital, entram pela entrada de
serviço, ou melhor, entram pela entrada de nome sugestivo: área de carga e
descarga.
Agora você, amigo leitor,
entende o que eu estou tentando expor aqui? Veja bem: aqueles e aquilo que
realmente faz(em) a diferença -- ou bota a porra pra funcionar direito -- no recinto
hospitalar e residencial, entra pelos fundos, pela porta dos fundos.
E, uma analogia aqui é
inevitável, todo mundo tem uma tara por fundos, ou melhor, todo mundo curte um
fundão. Quem aí sentava no fundo da sala de aula? Você aí ainda se lembra de que
era lá que a turma do barulho, os bagunceiros de plantão, sentava? Era por lá
que os mais populares ficavam de pirraça e palhaçada também. Outro exemplo explicativo:
você aí quando vai ao cinema, ainda prefere se sentar, com a sua namorada ou com
o seu namorado, lá no fundão da sala de projeção? Cê tá ligado comé que
funciona o esquema, né? Lá no fundo o bagulho é doido! É quente de gostoso! Cê aí
já manja do negócio, né não?? Safadão. Safadinha...
Enfim, tenho outro
comparativo aqui na manga. Peço desculpas desde já pela minha falta de vergonha
na cara. Mas o que eu gostaria de invocar aqui é algo muito sério. Quero aqui
falar de cu, ou melhor, quero aqui falar um bocadinho de sexo anal. A gente tá
cansado de saber que a maioria das mulheres aí soltinhas não curte essa
modalidade da fornicação saudável. E até compreendemos o motivo: preconceito, falta
de informação, experiência traumática no passado com um ex-namorado retardado,
vá lá... Mas, meu caro amigo leitor angustiado, não se preocupe, o presente texto
foi aqui redigido pra tu ter um bom argumento com a pequena excitante hesitante.
Faça ela se lembrar, ou se tocar, que é na porta dos fundos que as coisas realmente muito boas, coisas importantes pra valer e coisas deveras vitais
entram. A porta dos fundos não é só uma saída de emergência, uma saída de
escape escatológico, ela é uma entrada de prazeres infindáveis, meu bem. Ela é
o portal das sensações mais variáveis, pode crer. Amiga leitora, não renegue a si
mesma mais esse prazer. Libere o cuzinho. Relaxe. Cê vai gostar.
Social rima com banal,
trivial, coisa manjada de normal. Que tal fazer algo mais radical? Serviço dá
mais trabalho, é delicado, é coisa que exige mais esmero e atenção, por isso
mesmo vale o suplício, o sacrifício. Pense direitinho no que eu lhe digo. Pense
melhor no furo, pois você sabe bem, todo furo é manchete, é algo que todo mundo
gostaria de ter dado primeiro, só não teve a coragem, a sorte, ou a
oportunidade para tal. Pense nisso, meu bem, e não me leve a mal. Eu te quero
tanto bem.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
A VONTADE DE TODO O SEMPRE
tô deprê
de frente a tevê
onde não há nada pra se ver
comer
ou foder
por de trás de um vidro fume
fome de você
...
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Anotações de um bebum introvertido (10)
Você só conhece uma mulher
quando a come.
Um bombom é sempre bom,
mas um bumbum é bem melhor!!
Caminhando pela Major
Sertório, eu vejo a sombra. Uma sombra que conta notas. Uma sombra que conta
vidas. Essa sombra não sei se era de homem ou de mulher, só a vejo curvada em
si mesma, é uma sombra corcunda, que balbucia afetos, que grita desrespeitos. A
sombra não se move por inteiro, apenas desliza os dedos negros num apetrecho estreito,
de luminosidade opaca, estranha, fantasmagórica. A sombra que vejo era uma,
agora, ao cruzar o Elevado, a sombra que vejo são duas, três, dezenas,
trocentas... São sombras fixas a cada esquina fria; são sombras aos montes que
marcham na São Luís querendo dias de final feliz. Junho de 2013.
Caminha nego, caminha
certeiro, caminha com a engraçadinha que num te dá arrego, caminha sem-graça
com a desgraçada espevitada, caminha tristonho, cabisbaixo, magoado pra caralho
pois a tipa foi-se embora e tu tá aí ainda caminhando sem rumo certo, mas ainda
respirando.
Poucas, realmente muito
poucas, pessoas se lembrarão dos sacrifícios que você já fez. Porém, todas, sem
exceção, se lembrarão daquilo que você um dia negligenciou.
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