Não é sempre que a gente se
encara de frente. Ainda mais quando o encontro não é discursivo e sim físico. Explico:
dia desses trombei comigo mesmo na rua. Esse eu não me notou, fui eu que o
notei. E imagine você o susto que eu levei! Eu estava de boa pelo centro,
fazendo os meus rolês de sempre, quando avistei a mim mesmo doutro lado da rua
donde eu andava, era o outro eu. Congelei na hora de susto, óbvio. Impossível
uma coisa dessas, pensei. O outro eu estava bem ali doutro lado da rua, também,
aparentemente, andando de boa pelo centro. Pensei em segui-lo, pra ver aonde
iria aquele cara com a mesma cara minha. Mas não. O espanto era tanto que,
quando me dei conta de mim mesmo, eu já estava correndo na direção desse meu
outro – eu queria interpelá-lo, arrancar-lhe algumas informações. E ele se
assustou quando eu o puxei por de trás. E assim, bem de frente com esse outro
eu de mim mesmo, percebi que esse era mais alto do que eu. Como? Percebi também
que ele era mais forte, ele tinha outro porte, ele era mais magro também e,
incrédulo, vi, nitidamente, que ele estava com os cabelos molhados, bem penteados,
ele estava usando perfume, sentia um cheiro agradável, mas estranho vindo dele,
ele não tinha barba, ele estava todo asseado, suas roupas pareciam saídas
recentemente de uma lavanderia administrada por Minerva e Netuno. Eu reparara
nele assim, sem lhe falar uma palavra e ele também me olhava. Á princípio, esse
outro eu, me olhou espantado, contudo, conforme me via ali parado, defronte
dele, sem lhe falar nada, esse eu foi esboçando um arqueado sorrisinho... E
quando finalmente emiti uns sons indecifráveis para começar a falar com ele,
esse eu de mim mesmo soltou uma estrondosa gargalhada (!!), e ele ria e ria
cada vez mais alto e mais alto, e se dobrava todo no meio de tanto rir e rir e
rir. Voltei a ficar pasmo. E eu olhava aquela figura encolhida em si aos risos,
rindo de mim, seu outro eu. Senti vergonha de mim mesmo ali. Senti que eu
estava mangando de mim mesmo. Senti ódio daquele outro eu. De repente ele se
endireitou, não estava mais aos risos. Ele me olhou de cumplicidade, e
disse-me: eu sou o seu eu que o mundo gostaria que você fosse, mas, como vês,
eu já sou esse eu. Você, meu amigo, é esse mesmo que você é, conforme-se com
ele. Adeus! E esse meu eu foi-se embora, não o segui com os olhos, apenas
fiquei parado ali, atônico, ainda abalado pelo que aquele meu eu me disse;
fiquei ali parado pensando comigo mesmo, sendo aquele eu mesmo.
aff chama o Freud!
ResponderExcluirPrefiro o Jung!
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