sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

TERMINUS

Foto: rompeviento.tv


é o fim
acabou
não dá mais
adeus
tchau
até logo?
nunca mais!
e assim se encerra toda uma história que nem começou —
o fim só é fim
quando ambos dizem
SIM!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

NINGUÉM CHORA POR BARATA MORTA

Foto: br.depositphotos.com


há de tudo
neste mundo
desde
um beija-flor errante
até
um gatinho morto
por três cachorros loucos

há de tudo
nesta vida
se a privada entope
o fim do mundo
é quase próximo

há de tudo
sim
mas
ninguém chora por barata morta

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

VISITAS

Imagem: 123rf.com


Dizem que o Homem é sensitivo. Realmente, todo Homem é provido de cinco sentidos: tato, olfato, audição, visão e paladar. Contudo, dizem, há Homens que possuem mais um, o sexto, a tal da intuição. Essa, claro, todo Homem têm. Porém, há uns que a desenvolvem mais do que outros. E isso é fascinante! Sentir algo que a maioria dos Homens não costuma sentir é algo que sempre mexeu comigo. Desde pequeno, lembro-me, ficava maravilhado com histórias que versavam por esses campos além do mundo natural, sobrenatural. Meus colegas tinham medo. Eu não. Eu as ouvia e imaginava nitidamente como era aquilo que me relatavam. Eu tinha uma boa imaginação. Valia-me dela e nada mais, pois, infelizmente, nunca presenciei algo do tipo em toda a minha vida. A não ser, claro, daquela vez, talvez. Analisando hoje, mais lúcido, percebo que aquele caso, talvez, tenha sido algo atípico. Na época, não dei tanta importância ou atenção devida; para mim, tinha sido só um caso de arroubo, agitação, loucura juvenil. Mas, agora, pensando melhor, talvez não. Creio eu ter presenciado um legítimo exorcismo! Que época era? Acho que era agosto. Agosto não costuma ser bom por estas bandas de cá. Que ano? Não me lembro. Acho que eu tinha um terço da idade que tenho hoje. Enfim, faz tempo, muito tempo e, nesse tempo, eu tinha uma namorada, uma pequena. Lembro-me agora dela porque foi justamente uma amiga dela que realizou o tal do exorcismo. Se não me engano, estávamos na casa dessa amiga da minha namorada quando o causo se sucedeu. Acho que estávamos lá fazendo uma visita, tomando umas cervejas ilegais e fumando alguma coisa que não me lembro agora. Estávamos lá de papo e rabiscos e, do nada, bateram forte na porta. Ao abrir a porta, essa amiga da minha namorada, e nós, demos de cara com um mundaréu de gente do lado de fora. Haviam várias cabecinhas enfileiradas ali tomando toda a escadaria que dá acesso ao décimo quinto andar. Eh, essa amiga da minha namorada morava num apartamento e, em sua porta, havia um horror de gente angustiada querendo ajuda. Mas a ajuda não era para eles, era para uma vizinha abaixo, do décimo terceiro andar. Não me lembro quem disso isso, se alguém ali presente falou com a amiga da minha namorada, mas ela, de alguma forma, sabia o motivo daquilo tudo. Essa, então, desceu as escadas e, para a minha surpresa, não esbarrou em ninguém que ali estava. Muito pelo contrário, mesmo abarrotada de gente ali plantada, essa amiga da minha namorada, passou por eles facilmente, como se ali não estivesse ninguém. Eu e minha pequena fomos também, óbvio. Contudo, para a minha grande surpresa, tivemos dificuldades em acompanhá-la, pois, diferente dela, fomos esbarrando e nos espremendo para alcançá-la. Realmente, havia muita gente ali, na escadaria. Já na porta da tal vizinha, que necessitava de ajuda, uma coisa estranha: a amiga da minha namorada lá estava, parada, olhando fixamente para a porta e, suas mãos, estavam para baixo, na linha do sexo, fechadas, bem fechadas, ela fechava bem as duas mãos, pois sangue se via escorrendo de ambas... Com ele, ela vez uns desenhos estranhos na porta, enquanto cochichava umas palavras, que mais pareciam sílabas. Terminado o ritual, acho que era um ritual, ela, essa amiga da minha namorada, bateu três vezes na porta. A mesma foi se abrindo bem devagar, sozinha e lentamente fazia um som que não era lá muito comum de porta gemendo quando abre. Não. Era mais um suspiro. Um som de alívio, se não me engano. Com a porta toda aberta, podemos ver a tal vizinha. Era uma moça, sem dúvidas. Muito jovem e quase nua. Suas vestes estavam rasgadas. E sujas, muito sujas, disso me lembro bem. Essa moça estava no chão duma sala, acho que era uma sala. Acho que tinha um sofá a sua direita e uma mesa de centro à sua esquerda. Ela, a moça, estava no chão, sobre um tapete felpudo escuro. Acho que era felpudo, pois me lembro de seu aspecto bestial, como se aquele artigo doméstico trivial tivesse pertencido a algum animal. A jovem estava no chão e se contorcia toda. Estava toda suada, desgrenhada e sorria um sorriso medonho de gente doente, muito doente. Era anormal. Eu me sentia muito estranho e profundamente incomodado com aquilo. A amiga da minha namorada, porém, estava impassível. Desde que entrara no apartamento dessa menina, não tirava os olhos sobre ela. Havia uma luta ali, certamente. Mas só entre as duas. A jovem, de repente, começou a tossir e a emitir uns sons muito agudos de assobios; ela estava claramente tendo dificuldades em respirar. A amiga da minha namorada então deitou sobre o corpo da jovem, enlaçando seus braços e pernas com os dela, tentando imobilizá-la de vez. Aí ela foi encostando bem devagarinho sua boca na orelha esquerda da jovem, enquanto esta lhe olhava com aqueles olhos esbugalhados vermelhos e com aqueles dentes desproporcionais expostos, feito bestas marinhas de cânions abissais. De certo, cochichou alguma coisa para ela. Ou deu-lhe um beijo. Ninguém sabe. Só elas. Não dava para ver. Só vimos a amiga da minha namorada se levantando aos poucos, igualmente do mesmo jeito quando se deitou sobre a moça e, jamais, deixando de encará-la firme nos olhos. De pé, essa inspirou profundamente e expirou um longo suspiro. Bateu três palmas e deu três pisadas bem fundas no ventre da jovem deitada com seu calcanhar direito descalço. A jovem, imóvel, parou na hora de sorrir. Uma tremedeira estranha tomou todo o seu corpo e todo o ambiente ao redor. Acho que até o prédio todo tremia. Foi assustador! Todos ali se apavoraram. Menos a amiga da minha namorada, que parecia dura feito pedra, uma estátua, diante do maremoto ao redor. Num instante, tudo parou. Uma calmaria veio como se sempre estivera ali. A jovem, ainda no chão, parecia gozar de um inocente sono. A melhora, em seu semblante, era visível. Já a amiga da minha namorada estava cansada, visivelmente exausta, mas ainda se mostrava firme, alerta. Despediu-se de todos ali mesmo, inclusive da gente, da minha namorada, sua amiga, e eu, só um recém-conhecido. Ela fechou a porta da vizinha e subiu, sozinha, até o seu apartamento de cima. Nós, minha namorada e eu, voltamos para o limbo. Só mesmo depois de morto pude ver algo do tipo.



Obs.: conto NÃO selecionado no Concurso Literário - Possessão da Cartola Editora.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

POSSUÍDOS

Foto: tijucarj.wordpress.com

Criança não presta. Sei disso, pois as vejo por aqui todo dia na rua. Eu as vejo sempre correr, gritar e zombarem de si e dos outros todo dia. É de manhã ou à tarde, elas sempre aprontam. Causam quando vão para a escola, quando saem dela e até quando fogem dela! Principalmente quando fogem. Cabular é prática comum por aqui. Da rua, em qualquer canto ou quebrada por onde passo ou pouso, eu as vejo vagabundear por aí. Talvez o colégio não seja um bom lugar. Vai saber. Nunca entrei num. Nem sei como é. Enfim, eu vejo esses garotos e essas garotas por aí a esmo e fico preocupado, desconfiado. Afinal, eles não prestam. Estão sempre brigando entre si e com outros ao seu redor. Roubam descaradamente e são tão violentos que dá até medo. Um exemplo: aqui pelas ruas do bairro, há uma doida. É doida porque, à noite, pelas ruas do bairro, ela vai andando sozinha e gritando a todo o momento. Ela é meio gorda, carrancuda e balança os braços roliços de uma forma animada. Ela anda meio assim dançando, sambando, sapateando. E grita. Grita como se entoasse um cântico, uma reza ou um alarme. É indecifrável. Só ela sabe o significado daquilo, se é que tem raiz em alguma língua conhecida. Pois bem, essa tipa vira e mexe surge pelas ruas daqui do bairro. E as crianças mexem com ela. Sempre. Às vezes é só encheção de saco, um comentário idiota, uma zombaria besta e mais nada. Mas têm vezes que essas pestes pegam pesado. Cutucam ela, empurram ela, tentam derrubá-la, mas ela, a doida, pouco faz pra se defender ou revidar. Só continua gritando, gritando aqueles sons estranhos incompreensíveis. Quando a gorda cai, as pestes correm pelas ruas desertas do bairro numa algazarra de gargalhadas. Polícia alguma passa, claro. Esses, acho, nunca vi por aqui à noite. A doida fica pouco lá no chão. Ela se ajeita, se levanta e continua seu caminho louco. Deve ter casa. Não sei. O que sei é isso: só o que vejo. E eu vi! Essa mulher não era uma mulher comum. Noutra noite, estava eu quieto numa praça zoada do bairro, numa dessas que já fora parque e, agora, mais parece um terreno baldio, sabe. Estava eu lá num canto oculto, tentando me aquecer pra dormir, quando eu ouvi o grito da doida. Ela entrara na praça e estava como sempre do seu jeito: cambaleante, bêbada e estridente. Estava só, como sempre. Porém, conforme a vi se aproximar mais de mim, também vi um grupinho de moleques atrás dela, cada vez mais próximo dela. Eles a cercaram logo. Ficaram lá a seu redor, gritando junto com ela de uma forma zombeteira, intimidadora. Eles riam, gargalhavam na cara dela. Cuspiram nela e a xingaram. Dois empurraram ela. A gorda tombou. No chão, ainda cuspiram mais nela e a chutaram. Forte. Brutal. Todo mundo junto. Eu ouvi bem barulho oco de couro sendo surrado e estalos de ossos sendo quebrados. A doida não mais gritava, nem emitia qualquer som ou respirava. Os moleques continuaram ali, ao seu redor, de olhos fixos naquela massa gorda, ensanguentada e muda. Foi quando viraram as costas para ela que eles não viram. Eles não viram a massa crescer rapidamente, que nem uma massa de bolo no forno e envolver a todos numa monstruosa bocada cheia de dentes encardidos!! Enquanto aquela coisa grotesca e feia os comia, soltava saliva e impropérios: “SUJOS! VIS! NEM PRA ENCHER MEU BUCHO SERVEM!”. E logo vomitou uma crosta fétida de ossos e carne podre num esguicho tipo cano quebrado de esgoto. A massa voltou à forma da mulher gorda, aprumou-se toda e seguiu trôpega, gritando, gritando aquele mesmo grito, indistinto, mais alto e mais alto... Ninguém deu falta das crianças.



Obs.: conto NÃO selecionado no Concurso Literário - Possessão da Cartola Editora.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O QUE TODA AUTOAJUDA NOS DIZ, EM RESUMO

Imagem: gnosisbrasil.com


ninguém sabe ao certo o que fazer com o própria vida. acabamos sempre fazendo algo que achamos o certo ou que nos agrada, mas a essência em si se perde, sempre.

só enxergamos o real propósito de nossas vidas quando nos atentamos ao que a nossa própria alma nos sussurra.

é uma coisa assim sinestésica mesmo.

então, quando você tomba, agradeça por poder levantar.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

CONDIÇÃO HUMANA

Imagem: fanfiction.com.br


eu nunca acreditei em anjos
eles sempre nos veem
lá de cima
com aqueles olhos
azuis e prepotentes
considerando-nos
inferiores

nos demônios
nesses sim
eu acredito
pois
são eles
que eu vejo
sorrir pra mim todo dia

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE IV_VENIDAS_CAPÍTULO XL

"... acariciou a barriga inchada..."

Omotep sorriu ao perceber que era Adrian que vinha de encontro a ele a sua frente. Mas, ao ver Baal sobre ele, Omotep entristeceu um pouco, como se ao ver Baal, ali pairante, uma lembrança antiga e triste retornasse a ele e o tomasse de todo. Adrian reconheceu Omotep. Um turbilhão de memórias adormecidas despertou de uma vez só na sua cabecinha faminta. Adrian foi ao chão rapidamente e se contorceu todo entre os trilhos, estava sofrendo de alucinantes convulsões. Omotep correu de encontro a ele para ampará-lo. Baal assistia à cena e não demonstrava espanto ou dó. Lentamente, os olhos de Baal perceberam uma luz fraca cintilante no coração de Omotep. O brilho da última Quindjin lhe despertou então para um passado recente e para outro muito mais antigo. Baal foi pousando devagar... Encostando, lentamente, as patas e os joelhos peludos numa guia de cruzamento. E ali, de joelhos, Baal começou a verter sangue negro dos olhos; com uma garra acariciou a barriga inchada e com a outra acariciou as tetas.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O CHAMADO DE URGÊNCIA

Foto: super.abril.com.br


É de repente. Coisa imediata e envolvente. Num átimo, tu se vês numa parada mais do que lógica, moral. É um troço ancestral que te pega e que te move assim ligeiro sem ser rasteiro ou embusteiro. É uma força que vem de fora, reverbera e te toca, bem lá no fundo do teu ser. É coisa de viver, de vivente crente na crença-esperança do próprio Homem. É coisa de bicho sem grilo naqueles que pensam diferente e faz, assim mesmo, aquilo que deve ser feito, e logo. Por isso, é mais do que lógico, é totalmente humano. É um encanto. Mais do que um canto de sereia que te leva à morte. É um canto sim, mas um que te faz querer viver e salvar todos que estão ao seu lado ou do outro lado do mundo. É imediato. É um ato isolado que se torna coletivo e visa exclusivamente quem é e quer estar vivo — e quem tem que estar vivo. É uma luta. Muitas vezes injusta, desleal e covarde, mas, quem a enfrenta, sabe, e vai, assim mesmo, sem receios ou medo, pois vai, por si mesmo e pelos outros, seus irmãos locais, mundiais. Não é histeria! Não é vuco-vuco. É um poder humano mais próximo do divino. É o querer fazer por ser essencial. É uma coisa assim especial, espacial. É a luz da criação alumiando mais uma vez o barro do que somos feitos. É a poeira cósmica estimulando todos os nossos átomos! É a vida humana em toda sua essência, em toda sua existência. É o chamado de urgência pra você, eu e todo mundo, mudarmos de vez, e pra melhor, as nossas vidinhas humanas. É o velho verbo mostrando sua força diante do jovem tempo que regrediu. É a natureza humana querendo ser melhor do que dizem que ela é. É a evolução. Então, sai da frente!