terça-feira, 30 de agosto de 2022

A MINHA E A NOSSA AGRIDOCE CONDIÇÃO

Imagem: espacoconsciencia.com.br

A dor

Dizem

É de cada um,

Como se

A dor

Não fosse uma só,

Mas ela é —

E como é!

A dor

(É) de todos nós

Seres que,

Em certos momentos,

Se descobrem vivos.

  

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O HOJE AINDA É BEM-VIVO

Imagem: revistabudo.com.br

Olhando para trás

Quase nada

Eu vejo;

À frente,

Muito pouco consigo ver,

Mas aqui

No presente

Vejo tudo

Plenamente —

O hoje

Ainda é

Bem-vivo

  

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

UMA CRÔNICA TRISTE

Imagem: significados.com.br


A crônica é um gênero, é um tipo de texto que preza, na sua essência, no seu cerne, por assuntos mais leves, por temas mais amenos e até divertidos, engraçados de ler.

A crônica ideal tem que ser curta, breve, sem enrolação. Quem a lê, já logo a entende nas primeiras linhas, afinal, esse gênero textual, é próprio de jornal, impresso ou virtual, e lá, nesse ambiente rico em textos, quem por lá se embrenha, logo lê o que quer, ou o que lhe chama mais atenção, para, em seguida, ler outra coisa ou não, certo?

Pois bem.

Uma certa poética também é esperada numa crônica típica. Aí vai do gosto ou da capacidade inventiva, e imagética, do seu autor a adição desse “tempero” ou não na crônica — bons e maus cronistas são, ou deveriam ser, verdadeiros mestres nisso.

Contudo, porém, entretanto, tá muito complicado redigir uma boa e otimista crônica seguindo esses pressupostos aí de cima hoje em dia.

Cá no Brasil, e no mundo, excelentes humoristas, comediantes estão nos deixando deste plano físico para fazer graça em outros planos, em outras paragens metafísicas aí infinitamente existentes.

Fake news adoidado anda rolando a rodo aí pra tudo que é lado! Difícil está entender um e outro aí na praça. E este ano então, 2022, ainda tem um agravante: ano eleitoral eleitoreiro.

Há muita gente por aí e por aqui também passando fome e em situação de rua. Já estamos cansados de saber que a pandemia aí que passou, e ainda passa passando, agravou ainda mais uma situação vexatória existente em um país promissor que estava erradicando isso. Porém, não progredimos, atrasados ficamos e ainda estamos. Você aí que me acompanha aqui sabe bem: muitos prédios são aí construídos enquanto mais e mais gente não têm um teto sequer pra se abrigar.

Guerras e conflitos armados ainda são noticiados à exaustão e a violência urbana é cada vez mais uma certeza certeira que não tem fim!

E olhe que nem comentei sobre os preços das coisas aí no mercado, hein! Tudo indica que os anos 1990 estão de volta e junto com eles a inflação e o sequestro das contas bancárias dos fatídicos anos Collor!!

Até peço desculpas aí pra vocês leitores e leitoras amigas, mas precisava registrar aqui a mudança histórica do tom da crônica desta segunda década do presente século.

Tá difícil pra mim! E pra todo mundo.

Espero, de verdade, que esta seja a única crônica triste deste blog.

Anseio por tempos melhores.

Quero, desejo crônicas mais leves, mais divertidas e engraçadinhas como sempre deveriam ser.

Mas tá osso, viu!


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

É RARO ENCONTRAR ALGUÉM PENSANDO

Imagem: blog.cicloceap.com.br

Quem aí me lê, sabe bem do meu hábito saudável e aventureiro de caminhar a pé pela cidade. Mesmo ela, a cidade, parecendo, cada vez mais, mais hostil e intransitável, com a violência urbana nas alturas e as calçadas parecendo verdadeiros campos minados de merda humana e animal e buracos de seres abissais, teimo em desbravá-la a pé, seja como uma forma despretensiosa de lazer ou como desculpa crível para arranjar um mote para uma crônica ou para um poema.

E esta crônica se encaixa perfeitamente nesse caso.

Sem um tema sequer na cabeça, saí à rua em busca de um. Saí aberto ao que a cidade me oferecia, vendo tudo e todos, ouvindo de tudo um pouco e sentindo a vida ao meu redor. E, nem precisei andar mais de duas quadras pra perceber o que há muito eu não percebia: gente pensando.

Explico-me: estava eu lá andando e de repente, sempre é de repente, avisto uma mulher sentada de costas para mim numa mesa de calçada num restaurante de esquina. A menina estava só e, por mais incrível e fantástico demais que possa parecer, estava sem o celular de estimação (ou do ladrão) na mão e olhava para cima, naquela posição típica de estar pensando em algo, sabe? Cabeça de lado, nariz levemente empinado, saca?

Confesso que achei essa postura dela inacreditável! Sério mesmo. Quando foi a última vez que vi alguém assim pensando? Não me lembro. Não me recordo. Só vejo gente olhando pro próprio celular ou do alheio e até muitas vezes confundindo o aparelho com um sanduiche vegano — sério, cara; já vi gente segurando um e outro em cada mão e deslizando o dedinho sujo no pão-baguete e mordiscando que nem hamster fominha o último lançamento sul-coreano!

Mas enfim. Voltemos à mulher pensando, ou melhor, voltemos às gentes que pensam livres pela rua. Aquela cena foi um baque. Onde mais há gente assim, pensando?

Andei mais duas quadras e nada, ninguém.

Andei dois quilômetros, quatro, nada, nada.

Nem mesmo nesses bairros descolados (leia-se endinheirados) encontrei aquelas pessoas ditas intelectuais que mordem uma perninha de seus óculos maneiros quando estão pensando ou fazendo uma observação digna de nota.

Ao menos encontrei a máxima que é o título desta humilde crônica.

  

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

A SABEDORIA SABE

Imagem: brasilescola.uol.com.br


Estar

No lugar errado

Na hora errada

É mais comum

Do que se pensa

 

Estar

No lugar certo

Na hora certa

É menos comum

Do que se imagina

 

Todo lugar

Toda hora

São possibilidades possíveis

E impossíveis

 

Disso eu sei muito bem

 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

VERTICALIZAÇÃO

Imagem: dvdsofaepipoca.blogspot.com

        Parece até coisa de anime japonês (Neon Genesis Evangelion) ou coisa de filme norte-americano de ficção científica (2001: Uma Odisseia no Espaço), mas, fato é: enormes torres, grandes monólitos, estão surgindo do chão, ou do nada mesmo, em todos os cantos da cidade.

        As estruturas de metal e o concreto armado de numeração raspada estão pipocando geral no horizonte da cidade cinza, tornando-a ainda mais cinza e cada vez mais sem horizonte algum.

        Pode ver aí: prédios e mais prédios, enormes condomínios simplesmente aparecem em cada quarteirão megavalorizado, ou não, da cidade de São Paulo.

Existe até um padrão. Repare bem: a cada mercadinho da Oxxo que surge, ou da franquia-cubículo da The Coffee que se concretiza estrategicamente numa rua, ou numa esquina, ou num beco, uma “nova oportunidade de negócio”, ou “o lançamento do ano”, ou “o empreendimento imobiliário de que todo mundo tá falando”, tá lá também lhe desejando boas-vindas com uma maquete bonitinha, ou um vídeo virtual de realidade aumentada, ou com aquela minhoca de pano fino que se retorce toda com um jato de ar quente que mais parece aquele bonecão de posto de gasolina à lá Cristo Redentor, porém, sem os braços.

E como são esses novos prédios? E como são esses novos condomínios prometidos? Ora, você aí já sabe! São empreendimentos direcionados para quem pode pagá-los. Quem realmente precisa de moradia digna, e é muita gente, viu, não têm essa “sorte”.

Mas repare bem nesses futuros condomínios. Um ou outro tem porteiro físico; tem um cara ou uma mina lá de prontidão. Contudo, a tendência é portaria remota, isto é, quem tá ali é um aparelho tipo interfone que te conecta com alguém que tá sabe-se lá onde, que te escuta mó mal e que tá pouco se lixando se você é cadeirante ou se você até tá cadastrado no sistema deles e tal, mas, se a sua digital não tá funcionando direito, isso é um problema só seu, compreendes? E ainda tem aquelas caixas de vidro, aqueles aquários humanos de quando você se adentra pelo portão do prédio e fica lá esperando que abram o próximo portão e passa por esse para depois passar por um outro, sabe? Segurança sempre em primeiro lugar é claro.

 Enfim, acho que estou me estendendo por demais nesta crônica. É necessário concluí-la. Tudo isso aí dito é preocupante. A cidade inteira está se fechando. Tem muito condomínio por aí que se fecha inteiro para uma rua e que se fecha em si mesmo, sabe? Você aí deve conhecer um. Mas aí te pergunto: isso é civilidade? Isso é realmente um sinal de progresso? Até hoje acho estranho, quando tô ali no metrô sentido estação Corinthians-Itaquera e, da Patriarca ao Artur Alvim, à esquerda eu vejo aquele morro repleto de casinhas, sobrados e, de repente, bem no meio desses, um troço estreito, que mais parece uma imensa barra de chocolate do Willy Wonka lá fincada destoando geral da configuração local. Vejo aquilo e penso: tem coisa muito errada aí. Será uma invasão extraterrestre? Será?