Quem
aí me lê, sabe bem do meu hábito saudável e aventureiro de caminhar a pé pela
cidade. Mesmo ela, a cidade, parecendo, cada vez mais, mais hostil e
intransitável, com a violência urbana nas alturas e as calçadas parecendo
verdadeiros campos minados de merda humana e animal e buracos de seres
abissais, teimo em desbravá-la a pé, seja como uma forma despretensiosa de
lazer ou como desculpa crível para arranjar um mote para uma crônica ou para um
poema.
E
esta crônica se encaixa perfeitamente nesse caso.
Sem
um tema sequer na cabeça, saí à rua em busca de um. Saí aberto ao que a cidade
me oferecia, vendo tudo e todos, ouvindo de tudo um pouco e sentindo a vida ao
meu redor. E, nem precisei andar mais de duas quadras pra perceber o que há
muito eu não percebia: gente pensando.
Explico-me:
estava eu lá andando e de repente, sempre é de repente, avisto uma mulher
sentada de costas para mim numa mesa de calçada num restaurante de esquina. A menina
estava só e, por mais incrível e fantástico demais que possa parecer, estava
sem o celular de estimação (ou do ladrão) na mão e olhava para cima, naquela
posição típica de estar pensando em algo, sabe? Cabeça de lado, nariz levemente
empinado, saca?
Confesso
que achei essa postura dela inacreditável! Sério mesmo. Quando foi a última vez
que vi alguém assim pensando? Não me lembro. Não me recordo. Só vejo gente
olhando pro próprio celular ou do alheio e até muitas vezes confundindo o
aparelho com um sanduiche vegano — sério, cara; já vi gente segurando um e
outro em cada mão e deslizando o dedinho sujo no pão-baguete e mordiscando que
nem hamster fominha o último lançamento sul-coreano!
Mas
enfim. Voltemos à mulher pensando, ou melhor, voltemos às gentes que pensam
livres pela rua. Aquela cena foi um baque. Onde mais há gente assim, pensando?
Andei
mais duas quadras e nada, ninguém.
Andei
dois quilômetros, quatro, nada, nada.
Nem
mesmo nesses bairros descolados (leia-se endinheirados) encontrei aquelas
pessoas ditas intelectuais que mordem uma perninha de seus óculos maneiros
quando estão pensando ou fazendo uma observação digna de nota.
Ao
menos encontrei a máxima que é o título desta humilde crônica.
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