segunda-feira, 15 de agosto de 2022

É RARO ENCONTRAR ALGUÉM PENSANDO

Imagem: blog.cicloceap.com.br

Quem aí me lê, sabe bem do meu hábito saudável e aventureiro de caminhar a pé pela cidade. Mesmo ela, a cidade, parecendo, cada vez mais, mais hostil e intransitável, com a violência urbana nas alturas e as calçadas parecendo verdadeiros campos minados de merda humana e animal e buracos de seres abissais, teimo em desbravá-la a pé, seja como uma forma despretensiosa de lazer ou como desculpa crível para arranjar um mote para uma crônica ou para um poema.

E esta crônica se encaixa perfeitamente nesse caso.

Sem um tema sequer na cabeça, saí à rua em busca de um. Saí aberto ao que a cidade me oferecia, vendo tudo e todos, ouvindo de tudo um pouco e sentindo a vida ao meu redor. E, nem precisei andar mais de duas quadras pra perceber o que há muito eu não percebia: gente pensando.

Explico-me: estava eu lá andando e de repente, sempre é de repente, avisto uma mulher sentada de costas para mim numa mesa de calçada num restaurante de esquina. A menina estava só e, por mais incrível e fantástico demais que possa parecer, estava sem o celular de estimação (ou do ladrão) na mão e olhava para cima, naquela posição típica de estar pensando em algo, sabe? Cabeça de lado, nariz levemente empinado, saca?

Confesso que achei essa postura dela inacreditável! Sério mesmo. Quando foi a última vez que vi alguém assim pensando? Não me lembro. Não me recordo. Só vejo gente olhando pro próprio celular ou do alheio e até muitas vezes confundindo o aparelho com um sanduiche vegano — sério, cara; já vi gente segurando um e outro em cada mão e deslizando o dedinho sujo no pão-baguete e mordiscando que nem hamster fominha o último lançamento sul-coreano!

Mas enfim. Voltemos à mulher pensando, ou melhor, voltemos às gentes que pensam livres pela rua. Aquela cena foi um baque. Onde mais há gente assim, pensando?

Andei mais duas quadras e nada, ninguém.

Andei dois quilômetros, quatro, nada, nada.

Nem mesmo nesses bairros descolados (leia-se endinheirados) encontrei aquelas pessoas ditas intelectuais que mordem uma perninha de seus óculos maneiros quando estão pensando ou fazendo uma observação digna de nota.

Ao menos encontrei a máxima que é o título desta humilde crônica.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário