sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

TERMINUS

Foto: rompeviento.tv


é o fim
acabou
não dá mais
adeus
tchau
até logo?
nunca mais!
e assim se encerra toda uma história que nem começou —
o fim só é fim
quando ambos dizem
SIM!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

NINGUÉM CHORA POR BARATA MORTA

Foto: br.depositphotos.com


há de tudo
neste mundo
desde
um beija-flor errante
até
um gatinho morto
por três cachorros loucos

há de tudo
nesta vida
se a privada entope
o fim do mundo
é quase próximo

há de tudo
sim
mas
ninguém chora por barata morta

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

VISITAS

Imagem: 123rf.com


Dizem que o Homem é sensitivo. Realmente, todo Homem é provido de cinco sentidos: tato, olfato, audição, visão e paladar. Contudo, dizem, há Homens que possuem mais um, o sexto, a tal da intuição. Essa, claro, todo Homem têm. Porém, há uns que a desenvolvem mais do que outros. E isso é fascinante! Sentir algo que a maioria dos Homens não costuma sentir é algo que sempre mexeu comigo. Desde pequeno, lembro-me, ficava maravilhado com histórias que versavam por esses campos além do mundo natural, sobrenatural. Meus colegas tinham medo. Eu não. Eu as ouvia e imaginava nitidamente como era aquilo que me relatavam. Eu tinha uma boa imaginação. Valia-me dela e nada mais, pois, infelizmente, nunca presenciei algo do tipo em toda a minha vida. A não ser, claro, daquela vez, talvez. Analisando hoje, mais lúcido, percebo que aquele caso, talvez, tenha sido algo atípico. Na época, não dei tanta importância ou atenção devida; para mim, tinha sido só um caso de arroubo, agitação, loucura juvenil. Mas, agora, pensando melhor, talvez não. Creio eu ter presenciado um legítimo exorcismo! Que época era? Acho que era agosto. Agosto não costuma ser bom por estas bandas de cá. Que ano? Não me lembro. Acho que eu tinha um terço da idade que tenho hoje. Enfim, faz tempo, muito tempo e, nesse tempo, eu tinha uma namorada, uma pequena. Lembro-me agora dela porque foi justamente uma amiga dela que realizou o tal do exorcismo. Se não me engano, estávamos na casa dessa amiga da minha namorada quando o causo se sucedeu. Acho que estávamos lá fazendo uma visita, tomando umas cervejas ilegais e fumando alguma coisa que não me lembro agora. Estávamos lá de papo e rabiscos e, do nada, bateram forte na porta. Ao abrir a porta, essa amiga da minha namorada, e nós, demos de cara com um mundaréu de gente do lado de fora. Haviam várias cabecinhas enfileiradas ali tomando toda a escadaria que dá acesso ao décimo quinto andar. Eh, essa amiga da minha namorada morava num apartamento e, em sua porta, havia um horror de gente angustiada querendo ajuda. Mas a ajuda não era para eles, era para uma vizinha abaixo, do décimo terceiro andar. Não me lembro quem disso isso, se alguém ali presente falou com a amiga da minha namorada, mas ela, de alguma forma, sabia o motivo daquilo tudo. Essa, então, desceu as escadas e, para a minha surpresa, não esbarrou em ninguém que ali estava. Muito pelo contrário, mesmo abarrotada de gente ali plantada, essa amiga da minha namorada, passou por eles facilmente, como se ali não estivesse ninguém. Eu e minha pequena fomos também, óbvio. Contudo, para a minha grande surpresa, tivemos dificuldades em acompanhá-la, pois, diferente dela, fomos esbarrando e nos espremendo para alcançá-la. Realmente, havia muita gente ali, na escadaria. Já na porta da tal vizinha, que necessitava de ajuda, uma coisa estranha: a amiga da minha namorada lá estava, parada, olhando fixamente para a porta e, suas mãos, estavam para baixo, na linha do sexo, fechadas, bem fechadas, ela fechava bem as duas mãos, pois sangue se via escorrendo de ambas... Com ele, ela vez uns desenhos estranhos na porta, enquanto cochichava umas palavras, que mais pareciam sílabas. Terminado o ritual, acho que era um ritual, ela, essa amiga da minha namorada, bateu três vezes na porta. A mesma foi se abrindo bem devagar, sozinha e lentamente fazia um som que não era lá muito comum de porta gemendo quando abre. Não. Era mais um suspiro. Um som de alívio, se não me engano. Com a porta toda aberta, podemos ver a tal vizinha. Era uma moça, sem dúvidas. Muito jovem e quase nua. Suas vestes estavam rasgadas. E sujas, muito sujas, disso me lembro bem. Essa moça estava no chão duma sala, acho que era uma sala. Acho que tinha um sofá a sua direita e uma mesa de centro à sua esquerda. Ela, a moça, estava no chão, sobre um tapete felpudo escuro. Acho que era felpudo, pois me lembro de seu aspecto bestial, como se aquele artigo doméstico trivial tivesse pertencido a algum animal. A jovem estava no chão e se contorcia toda. Estava toda suada, desgrenhada e sorria um sorriso medonho de gente doente, muito doente. Era anormal. Eu me sentia muito estranho e profundamente incomodado com aquilo. A amiga da minha namorada, porém, estava impassível. Desde que entrara no apartamento dessa menina, não tirava os olhos sobre ela. Havia uma luta ali, certamente. Mas só entre as duas. A jovem, de repente, começou a tossir e a emitir uns sons muito agudos de assobios; ela estava claramente tendo dificuldades em respirar. A amiga da minha namorada então deitou sobre o corpo da jovem, enlaçando seus braços e pernas com os dela, tentando imobilizá-la de vez. Aí ela foi encostando bem devagarinho sua boca na orelha esquerda da jovem, enquanto esta lhe olhava com aqueles olhos esbugalhados vermelhos e com aqueles dentes desproporcionais expostos, feito bestas marinhas de cânions abissais. De certo, cochichou alguma coisa para ela. Ou deu-lhe um beijo. Ninguém sabe. Só elas. Não dava para ver. Só vimos a amiga da minha namorada se levantando aos poucos, igualmente do mesmo jeito quando se deitou sobre a moça e, jamais, deixando de encará-la firme nos olhos. De pé, essa inspirou profundamente e expirou um longo suspiro. Bateu três palmas e deu três pisadas bem fundas no ventre da jovem deitada com seu calcanhar direito descalço. A jovem, imóvel, parou na hora de sorrir. Uma tremedeira estranha tomou todo o seu corpo e todo o ambiente ao redor. Acho que até o prédio todo tremia. Foi assustador! Todos ali se apavoraram. Menos a amiga da minha namorada, que parecia dura feito pedra, uma estátua, diante do maremoto ao redor. Num instante, tudo parou. Uma calmaria veio como se sempre estivera ali. A jovem, ainda no chão, parecia gozar de um inocente sono. A melhora, em seu semblante, era visível. Já a amiga da minha namorada estava cansada, visivelmente exausta, mas ainda se mostrava firme, alerta. Despediu-se de todos ali mesmo, inclusive da gente, da minha namorada, sua amiga, e eu, só um recém-conhecido. Ela fechou a porta da vizinha e subiu, sozinha, até o seu apartamento de cima. Nós, minha namorada e eu, voltamos para o limbo. Só mesmo depois de morto pude ver algo do tipo.



Obs.: conto NÃO selecionado no Concurso Literário - Possessão da Cartola Editora.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

POSSUÍDOS

Foto: tijucarj.wordpress.com

Criança não presta. Sei disso, pois as vejo por aqui todo dia na rua. Eu as vejo sempre correr, gritar e zombarem de si e dos outros todo dia. É de manhã ou à tarde, elas sempre aprontam. Causam quando vão para a escola, quando saem dela e até quando fogem dela! Principalmente quando fogem. Cabular é prática comum por aqui. Da rua, em qualquer canto ou quebrada por onde passo ou pouso, eu as vejo vagabundear por aí. Talvez o colégio não seja um bom lugar. Vai saber. Nunca entrei num. Nem sei como é. Enfim, eu vejo esses garotos e essas garotas por aí a esmo e fico preocupado, desconfiado. Afinal, eles não prestam. Estão sempre brigando entre si e com outros ao seu redor. Roubam descaradamente e são tão violentos que dá até medo. Um exemplo: aqui pelas ruas do bairro, há uma doida. É doida porque, à noite, pelas ruas do bairro, ela vai andando sozinha e gritando a todo o momento. Ela é meio gorda, carrancuda e balança os braços roliços de uma forma animada. Ela anda meio assim dançando, sambando, sapateando. E grita. Grita como se entoasse um cântico, uma reza ou um alarme. É indecifrável. Só ela sabe o significado daquilo, se é que tem raiz em alguma língua conhecida. Pois bem, essa tipa vira e mexe surge pelas ruas daqui do bairro. E as crianças mexem com ela. Sempre. Às vezes é só encheção de saco, um comentário idiota, uma zombaria besta e mais nada. Mas têm vezes que essas pestes pegam pesado. Cutucam ela, empurram ela, tentam derrubá-la, mas ela, a doida, pouco faz pra se defender ou revidar. Só continua gritando, gritando aqueles sons estranhos incompreensíveis. Quando a gorda cai, as pestes correm pelas ruas desertas do bairro numa algazarra de gargalhadas. Polícia alguma passa, claro. Esses, acho, nunca vi por aqui à noite. A doida fica pouco lá no chão. Ela se ajeita, se levanta e continua seu caminho louco. Deve ter casa. Não sei. O que sei é isso: só o que vejo. E eu vi! Essa mulher não era uma mulher comum. Noutra noite, estava eu quieto numa praça zoada do bairro, numa dessas que já fora parque e, agora, mais parece um terreno baldio, sabe. Estava eu lá num canto oculto, tentando me aquecer pra dormir, quando eu ouvi o grito da doida. Ela entrara na praça e estava como sempre do seu jeito: cambaleante, bêbada e estridente. Estava só, como sempre. Porém, conforme a vi se aproximar mais de mim, também vi um grupinho de moleques atrás dela, cada vez mais próximo dela. Eles a cercaram logo. Ficaram lá a seu redor, gritando junto com ela de uma forma zombeteira, intimidadora. Eles riam, gargalhavam na cara dela. Cuspiram nela e a xingaram. Dois empurraram ela. A gorda tombou. No chão, ainda cuspiram mais nela e a chutaram. Forte. Brutal. Todo mundo junto. Eu ouvi bem barulho oco de couro sendo surrado e estalos de ossos sendo quebrados. A doida não mais gritava, nem emitia qualquer som ou respirava. Os moleques continuaram ali, ao seu redor, de olhos fixos naquela massa gorda, ensanguentada e muda. Foi quando viraram as costas para ela que eles não viram. Eles não viram a massa crescer rapidamente, que nem uma massa de bolo no forno e envolver a todos numa monstruosa bocada cheia de dentes encardidos!! Enquanto aquela coisa grotesca e feia os comia, soltava saliva e impropérios: “SUJOS! VIS! NEM PRA ENCHER MEU BUCHO SERVEM!”. E logo vomitou uma crosta fétida de ossos e carne podre num esguicho tipo cano quebrado de esgoto. A massa voltou à forma da mulher gorda, aprumou-se toda e seguiu trôpega, gritando, gritando aquele mesmo grito, indistinto, mais alto e mais alto... Ninguém deu falta das crianças.



Obs.: conto NÃO selecionado no Concurso Literário - Possessão da Cartola Editora.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O QUE TODA AUTOAJUDA NOS DIZ, EM RESUMO

Imagem: gnosisbrasil.com


ninguém sabe ao certo o que fazer com o própria vida. acabamos sempre fazendo algo que achamos o certo ou que nos agrada, mas a essência em si se perde, sempre.

só enxergamos o real propósito de nossas vidas quando nos atentamos ao que a nossa própria alma nos sussurra.

é uma coisa assim sinestésica mesmo.

então, quando você tomba, agradeça por poder levantar.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

CONDIÇÃO HUMANA

Imagem: fanfiction.com.br


eu nunca acreditei em anjos
eles sempre nos veem
lá de cima
com aqueles olhos
azuis e prepotentes
considerando-nos
inferiores

nos demônios
nesses sim
eu acredito
pois
são eles
que eu vejo
sorrir pra mim todo dia

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE IV_VENIDAS_CAPÍTULO XL

"... acariciou a barriga inchada..."

Omotep sorriu ao perceber que era Adrian que vinha de encontro a ele a sua frente. Mas, ao ver Baal sobre ele, Omotep entristeceu um pouco, como se ao ver Baal, ali pairante, uma lembrança antiga e triste retornasse a ele e o tomasse de todo. Adrian reconheceu Omotep. Um turbilhão de memórias adormecidas despertou de uma vez só na sua cabecinha faminta. Adrian foi ao chão rapidamente e se contorceu todo entre os trilhos, estava sofrendo de alucinantes convulsões. Omotep correu de encontro a ele para ampará-lo. Baal assistia à cena e não demonstrava espanto ou dó. Lentamente, os olhos de Baal perceberam uma luz fraca cintilante no coração de Omotep. O brilho da última Quindjin lhe despertou então para um passado recente e para outro muito mais antigo. Baal foi pousando devagar... Encostando, lentamente, as patas e os joelhos peludos numa guia de cruzamento. E ali, de joelhos, Baal começou a verter sangue negro dos olhos; com uma garra acariciou a barriga inchada e com a outra acariciou as tetas.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O CHAMADO DE URGÊNCIA

Foto: super.abril.com.br


É de repente. Coisa imediata e envolvente. Num átimo, tu se vês numa parada mais do que lógica, moral. É um troço ancestral que te pega e que te move assim ligeiro sem ser rasteiro ou embusteiro. É uma força que vem de fora, reverbera e te toca, bem lá no fundo do teu ser. É coisa de viver, de vivente crente na crença-esperança do próprio Homem. É coisa de bicho sem grilo naqueles que pensam diferente e faz, assim mesmo, aquilo que deve ser feito, e logo. Por isso, é mais do que lógico, é totalmente humano. É um encanto. Mais do que um canto de sereia que te leva à morte. É um canto sim, mas um que te faz querer viver e salvar todos que estão ao seu lado ou do outro lado do mundo. É imediato. É um ato isolado que se torna coletivo e visa exclusivamente quem é e quer estar vivo — e quem tem que estar vivo. É uma luta. Muitas vezes injusta, desleal e covarde, mas, quem a enfrenta, sabe, e vai, assim mesmo, sem receios ou medo, pois vai, por si mesmo e pelos outros, seus irmãos locais, mundiais. Não é histeria! Não é vuco-vuco. É um poder humano mais próximo do divino. É o querer fazer por ser essencial. É uma coisa assim especial, espacial. É a luz da criação alumiando mais uma vez o barro do que somos feitos. É a poeira cósmica estimulando todos os nossos átomos! É a vida humana em toda sua essência, em toda sua existência. É o chamado de urgência pra você, eu e todo mundo, mudarmos de vez, e pra melhor, as nossas vidinhas humanas. É o velho verbo mostrando sua força diante do jovem tempo que regrediu. É a natureza humana querendo ser melhor do que dizem que ela é. É a evolução. Então, sai da frente!

sábado, 30 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE IV_VENIDAS_CAPÍTULO XXXIX

"..."

Heliópolis fora invadida, tomada por sangue e caos. Jarbas & Ketlyn e Fenrir tocaram o terror. Lucius e seus guerreiros armados com armas tecnológicas de ponta não resistiram muito contra as feras. Lucius pereceu na boca torta de Jarbas & Ketlyn. Mauro foi estraçalhado numa bocada só de Fenrir. Nahin conseguiu fugir. Só se ouvia sua respiração agoniada pelo vale escuro e desértico... Do outro lado do planeta, Adrian caminhava sobre velhos trilhos de trem. Baal lhe sobrevoava a cabeça, curioso em saber aonde acabaria aquele caminho de ferro enferrujado. Adrian caminhava devagar, parecia estar muito cansado, faminto, mas, por alguma razão, até por ele desconhecida, continuava andando sem parar. Andou tanto até que viu uma sombra esguia expandida pela luz da lua vermelha, era Omotep que vinha vindo, no mesmo ritmo, do lado oposto da antiga linha de trem.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE IV_VENIDAS_CAPÍTULO XXXVIII

"..."

Galgameth havia se dividido em dois. Ele enfrentou Jarbas & Ketlyn e a coisa que fora Fenrir ao mesmo tempo. Galgameth teve dificuldades, afinal sua força fora dividida e, ainda, enfrentava adversários potencializados geneticamente. Era pedra contra carne. Eram detritos e sangue pra tudo quanto é lado! Era um inconsciente consciente contra a fome bruta persistente. O duelo de titãs era visto pelos moradores de Heliópolis. Todos que ficaram de vista na estrada/saída da cidadela estavam perpetuando pânico geral. Galgameth estava virando pó e, mesmo do pó, ele não conseguia se regenerar, se solidificar. Jarbas & Ketlyn e Fenrir Albino absorviam sua poeira pelos seus próprios poros. Lucius não sabia o que fazer. Seu sonho vinha a ele travestido de medo, pânico e terror. Galgameth fora eliminado; e o mundo de fora veio a Lucius, e a seus súditos, cobiçando sangue e carne fresca.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

EFEMÉRIDES (4)


Na necessidade de fazer alguma coisa,
Acabamos fazendo outra
Que não tem nada a ver com aquela
Que realmente precisamos fazer
E aí acabamos não fazendo porra nenhuma.





Há algo de podre na América do Sul.





Ser rico
Não é um objetivo,
É uma sentença.





Desorganização é comum a todos,
A todos esses que pleiteiam o poder.





A vida a dois
Só dá certo
Se os dois
Sabem cuidar
De cada um
Individualmente





Relegar é tipo “tô pouco me fudendo”





Atividade física
É boa
Quando deixa de ser
Uma atividade

terça-feira, 26 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE IV_VENIDAS_CAPÍTULO XXXVII

"..."

Jarbas & Ketlyn presenciaram as execuções. Ele & ela assistiram a tudo com gosto e muita satisfação. O plano hormonal havia dado certo. Muito sangue humano escorria próximo à entrada/saída de Heliópolis. Para ele & ela bastava beber desse sangue inocente e forte para enfim enfrentar de vez o autômato de pedra. Jarbas & Ketlyn partiram pro embate. Enquanto isso, Fenrir passava mal. Uióp não tinha lhe caído bem no seu estômago. Fenrir estava tremendo todo e ficando pálido, parecia até que Uióp estava lhe tomando o corpo... Seu pêlo negro-acinzentado estava ficando todo grisalho, esbranquiçado. Seus olhos amarelos de fome braba estavam ganhando tons avermelhados. Fenrir enfim experimentava a Fusão de Personalidade. Fenrir estava absorvendo os desejos sanguinários de Uióp. Fenrir se tornou outra coisa, que também desejava enfrentar Galgameth.

domingo, 24 de novembro de 2019

MENINO TODDY

Imagem: twitter.com


corta-se
a vivenda
pra mostrar
a penca
que é
essa vidinha
besta
de menino Toddy

sábado, 23 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_WIZZ, XANDÃO, YUKI E ZARAMADAN_CAPÍTULO XXXVI

"Zaramadan conquistara o planeta inteiro..."

Tempos sombrios se estenderam por eras de trevas. Soberano morria. Os humanos remanescentes, que sobreviveram, se comiam ou eram devorados por demônios da fome esfomeados. Anjo algum os ajudava. Os seres alados tinham os próprios fardos... Terra fértil e água potável foram ficando escassos. Ar poluído e/ou em chamas dominava. Wizz e Yuki fizeram bem os seus trabalhos e foram consumidos por seu mestre. Zaramadan conquistara o planeta inteiro praticamente. Mas a lua vermelha, lá de cima dos céus cinzentos, fazia a sua vigília incessante. Seus raios alumiavam os que também teimavam em sobreviver, sejam eles humanos, anjos ou demônios. A lua vermelha estendia seus raios a todos. Zaramadan foi se enfraquecendo, perdendo terreno. A luz vermelho-sangue se intensificava cada vez mais quando se dava o alinhamento celeste dos três sóis de Soberano. Seus habitantes chamavam, e ainda chamam, esse raro alinhamento de Venidas.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

SHIBARI

Imagem: magnusmundi.com


ata-me
assim
de um jeito
que eu goste

ata-me
facin
até o meu queixo
baixar até o peito

ata-me
quero ver o meu sangue
empapar toda essa corda
feita de medo e preconceitos

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_WIZZ, XANDÃO, YUKI E ZARAMADAN_CAPÍTULO XXXV

"Xandão se faz lua vermelha radiante nos céus."

Xandão era o amor corporificado no calor. Seu ar quente aquecia as almas dos infelizes, dava esperança e gerava vida. Xandão sempre fora isso, uma parte de Zaramadan que não seguia sua sina. Xandão era a vida que vinha depois da morte. Apesar dos humanos estarem acabando consigo mesmos e com o próprio planeta, Xandão teimava em protegê-los. Se Wizz e Yuki vinham em sinal de desgraça anunciada, Xandão se sobrepunha a eles em sinal de bonança grata. Porém, os humanos eram devotos fervorosos de Zaramadan. E esse, como um deus benevolente e fiel, perpetuou a morte em sua pior forma – a fome. E foi assim que se deu a quase aniquilação humana. Os humanos se matavam e levavam consigo o próprio planeta onde residiam. Os humanos escreviam o próprio e fatídico destino. Xandão, um dia, percebeu que, o que fazia, à revelia, não satisfazia. Zaramadan se estendia por todo o planeta, graças a Wizz e Yuki. Então, num grande e demorado suspiro, Xandão virou satélite. Tudo que ele fora, representava e acreditava se pôs em órbita do planeta Soberano. Xandão se faz lua vermelha radiante nos céus.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

acalento

Imagem: psicologiaanimal.com.br


quem o busque
no divã

quem o busque
até no Instagram

quem o sinta
numa igreja

quem o sinta
tomando uma cerveja

e há
quem o encontre
dentro de si mesmo

terça-feira, 19 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_WIZZ, XANDÃO, YUKI E ZARAMADAN_CAPÍTULO XXXIV

"Wizz trouxe Yuki..."

Tudo veio ao fim numa suave brisa. Era um dia qualquer como são todos. Tempo e hora não eram importantes. A brisa precedeu o vento, que veio faceiro atingindo as faces flácidas e despreocupadas dos habitantes de Soberano. O vento se intensificava, se tornava algo mais sólido e distinguível. O vento tinha a própria vontade, que era corporificada por Wizz. Wizz era o tudo ao redor, era o ar que estava dentro e fora dos seres de Soberano. Wizz era o prelúdio do fim. Wizz trouxe Yuki, que nada mais era do que uma versão mais fria dele mesmo. Yuki era o Inverno Eterno, causado, ironicamente, pelo aquecimento interno. Wizz e Yuki eram os arautos da morte; eles eram os braços e as pernas de Zaramadan. A era dos seres humanos em Soberano estava chegando ao fim. Sua ruína eminente foi alertada, porém, a mesma foi a muito ignorada. Os humanos dificilmente creem em si ou em outros da mesma espécie. Contudo, havia um de todos que teimava em acreditar nesses tolos, seu nome era Xandão.

sábado, 16 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_UIÓP_CAPÍTULO XXXIII

"Ketlyn lhe sussurrou..."

Uióp estava assustado. Nunca sentira algo parecido de si vindo de Ketlyn. Ele sempre a imaginou igual a todos os outros anjos que viviam em Safir. Uióp foi pego de surpresa. Ketlyn lhe sorriu um sorrisinho sapeca, como se uma ideia faceira e mortal lhe passasse pela virtuosa cabecinha. Ketlyn estendeu os braços e tocou, com suas mãos macias e límpidas, o rosto desfigurado e côncavo de Uióp. Ketlyn aproximou seu rosto ao de Uióp, parecia que ia lhe dar um beijo, mas seus lábios rosados se aproximaram da orelha esquerda de Uióp. Ketlyn lhe sussurrou: “Vá, meu arauto assustado. Vá se saciar. Alimente sua fome assassina pela carne alva de seus semelhantes. Devore a todos com muito gosto. Não deixe que escape nenhum anjo tolo. E, depois que se sentir coberto de sangue celestial, caminhe sobre os restos de suas vítimas; caminhe sobre esses que, mesmo desconfiados de ti, te trataram como igual; caminhe solitário até a borda e se lance de Safir de vez. Caia como meteoro sobre a terra que definha e vá aplacar a sua fome no último reino fértil desse planeta de miseráveis.”.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

VESTIDA DE SOL, de Rodolfo Guimarães Neves

Imagem: Gismonda, 1894-5. Alphonse Mucha / Mucha Museum / Mucha Trust 2017

Numa busca desesperançosa
Pelo mais sombrio pântano
Foi com surpresa e espanto
Que eu percebi a aurora

Entre as copas da vegetação
Entre as mais vis feras
Você me lembrou como era
Valiosa a iluminação

Na escuridão do lamaçal, um farol
Guiava-me como uma estrela
Atraindo e salvando pela beleza
Encontrei você vestida de Sol



Referência

Antologia Poesia Agora -- Edição Inverno. Luis Nogueira, Wellington Souza. São Paulo: Trevo, 2018. Página 107.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_UIÓP_CAPÍTULO XXXII

"Uióp vivia solitário no reino de Safir."

Uióp vivia solitário no reino de Safir. Ele sentia o que ninguém sentia por ali – ele sentia fome de anjo. Desde pequeno fora assim, ele não entendia bem o que era aquilo que ele sentia dentro de si. Uióp comia as plantas-fluorescentes do lugar, ele se alimentava de ar, mas sentia que aquilo não era certo, nem suficiente, seus dentes perolados formigavam por algo mais... Às vezes, ele ficava na borda de Safir, imaginando como era aquela terra desolada abaixo de si, que todos ali, ao seu redor, lhe descreviam tão assustadora e chorosamente. Uióp ouvia essas histórias e ficava maravilhado, ele sentia mais fome a cada relato ouvido. Ketlyn era a criatura celestial que mais lhe agradava ouvir. O papo com ela fluía bem e seguia rumos inesperados. Mesmo recluso, Uióp sempre tinha ouvidos para Ketlyn. Foi no alvorecer da sua maturidade, que Uióp confessou seu gosto profano à Ketlyn. Essa lhe segredou também o mesmo desejo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

QUERO, de Quitilane Pinheiro dos Santos

Imagem: LanceParfum, 'Rodo'. Alphonse Mucha, Litografia

Quero!
Que me possua
Tomando-me vagarosamente com seu lábio
Gesticulando
Breves momentos de êxtase
Alastra-se fogo!
Neste corpo desnudo
E nessa volúpia de gozo
Aguardo-o, ardente e voraz...
O sabor do deleite ejaculado do prazer
Das energias emanadas por nossos corpos
Quero...
Desvendar a libido dos orgasmos.



Referência

Antologia Poesia Agora -- Edição Inverno. Luis Nogueira, Wellington Souza. São Paulo: Trevo, 2018. Página 105.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_UIÓP_CAPÍTULO XXXI

"... um sinal de mau presságio..."

Uióp nascera sem sexo. Os anjos de Safir tinham sexo definido, eles fornicavam com gosto, como todas as criaturas nascidas em Soberano. Uióp nascera sem olhos. Em seu lugar havia dois buracos negros como a noite mais escura. Uióp nascera sem cabelo e, mesmo crescendo de corpo, continuava careca. Aliás, nenhum pêlo crescia em seu corpo, Uióp era todo liso, não tinha sequer sobrancelhas, cílios ou qualquer outro cabelinho no seu esguio corpo. Os anjos de Safir não o viam com bons olhos, uns até pensavam que ele era um sinal de mau presságio, porém, mesmo desconfiados, criaram a criatura incomum como se fosse um deles – em Safir nada se mata, tudo se desenvolve. Mesmo deficiente, Uióp crescera saudável. Carente de olhos para ver, seu olfato se tornara seu guia. Mesmo sem sexo para se reproduzir e se divertir, seu tato era o mais aguçado do reino, Uióp podia sentir muito mais do que simples toques angelicais, Uióp podia sentir o cardápio saboroso ao redor de si.

sábado, 9 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_SAFIR E TRÔNUS_CAPÍTULO XXX

"A fenda explodiu em forma de vulcão."

Criaturas bizarras foram se amontoando, se consumindo nas entranhas rochosas do planeta Soberano. Magma e trevas começaram a galgar espaço em direção à superfície. Calor e sangue se expandiram em combustão. A fenda explodiu em forma de vulcão. Criaturas sinistras, horrendas e famintas emergiram aos montes – o formigueiro, enfim, tinha ganhado a superfície. Os demônios se espalharam à caça desenfreada por carne humana e de outros seres-vivos que respiravam. Após a grande erupção, Trônus se tornou um lugar quase deserto, poucos demônios se mantiveram ou voltaram para lá. A Grande Fenda não tinha muito a oferecer. O planeta Soberano inteiro, mesmo em ruínas e em desespero, ainda era melhor opção de saciamento. Safir ia se desenvolvendo, prosperando, porém, nem a vida no Paraíso dura para sempre, Uióp tinha nascido, sem cabelo, olhos e gênero.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_SAFIR E TRÔNUS_CAPÍTULO XXIX

"Safir se enchia de anjos enquanto Trônus borbulhava de proto-demônios."

Coisinhas cintilantes cintilavam sobre a nuvem que era Safir, organismos celestes começavam a ganhar forma conforme a nuvem ganhava mais e mais altitude. Criaturas aladas foram se formando, se organizando em comunidades. Safir parecia próspera, os seres que lá se criavam se alimentavam de ar e plantas-arbóreas - a nuvem se solidificara ao ponto de desenvolver a própria flora-fluorescente num terreno flutuante sobre os desertos de Soberano. Safir, nesse período, era o verdadeiro Paraíso! Lá, não existia morte, o reino era de vida, um reino pairante sobre a desgraça advinda. Safir se enchia de anjos enquanto Trônus borbulhava de proto-demônios. Trônus se desenvolvia diferente, lá, os seres se comiam, se devoravam cientes da sua ruína. Um reino de sangue sujo e magma se foi formando nas profundezas do planeta.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_SAFIR E TRÔNUS_CAPÍTULO XXVIII

"... separando em dois aquilo que sempre fora um só."

Reino algum surge do nada. Safir e Trônus sempre existiram. Porém, quando a fome se tornou uma constante, as paragens ocultas abaixo do solo se revolveram quando esse solo se tornou infértil. Safir e Trônus eram um todo compartilhado, um algo unido em simbiose que crescia e se desenvolvia junto, uniforme. As movimentações das placas tectônicas ocasionaram uma ruptura, separando em dois aquilo que sempre fora um só. Uma parte decaiu mais a fundo no núcleo do planeta, sofrendo pressão e danação constantes; a outra parte desprendida se deparou com um amontoado de gases compactados sob o solo empobrecido e foi ficando cada vez mais leve, desprendida e livre da terra-mãe-morta. Safir surgiu num gêiser ácido a quilômetros de altura numa nuvem efervescente de esperança. Trônus se foi gerando coberto de magma, rancor e trevas.

sábado, 2 de novembro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_PÉTROS, QUINDJIN E RASTAFANNY_CAPÍTULO XXVII

"O espaço interno era amplo..."

Pétros e Rastafanny salivaram ao mesmo tempo ao verem a Quindjin. A baba de ambos tornava a cena a mais nojenta já vista, pois os dois estavam empapados de sangue e secreções deles mesmos e dos seres mortos por eles até ali. Já o cenário interno tinha outro aspecto. O espaço interno era amplo, dava para ver que alguém, ou coisa, utilizava aquela caverna como uma moradia de guerra – poucos objetos e instrumentos não muito distantes um do outro para serem recolhidos às pressas e de uma vez só. A última Quindjin estava repousada numa espécie de ninho improvisado com panos velhos e encardidos sobre um pequeno altar de sucata igualmente improvisado, mas, aparentemente, estável. Pétros e Rastafanny adentraram na caverna correndo. Pegaram na última Quindjin ao mesmo tempo. E ficaram se estranhando... Um olhando torto para o outro. Suas armas eles sacaram logo; lançaram, um no outro, projéteis sujos e enferrujados de munição. A luta corporal foi feia e sem moral – eles se mutilaram brutal e rapidamente quando as balas se extinguiram. Pétros e Rastafanny se mataram sem dó. Durante a luta, e até a morte, não perceberam Omotep, espremido e trêmulo, enfiado no teto.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

HIERARQUIA DIVINA

Foto: Patagonia, The Temple of Nature, de Kiran Khanzode, National Geographic Travel Photo Contest 2019

sabe-se lá como é
esse troço espiritual
que é mais uma espiral
do que só coisa de fé
há muitos mais muito acima
não só esses aí a cada esquina
há toda uma Plêiade
coisa assim tipo reunião
cada um lá é responsável
por algo daqui de baixo
então, não se espante
cada cultura
cada povo
têm lá seu deus particular

quanto ao meu
eu não conheço
ainda não o inventei
nem consultei um organograma

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE III_PÉTROS, QUINDJIN E RASTAFANNY_CAPÍTULO XXVI

"Trônus era a fenda..."

Próximo a Trônus, Pétros e Rastafanny foram. Trônus era a fenda por onde os primeiros demônios da fome saíram desembestados, ávidos por carne humana ainda em pânico. Essa fenda era a passagem subterrânea que dava acesso ao Reino dos Demônios. Por lá, Pétros e Rastafanny se meteram. Eles não tinham medo de demônios. Os dois já tinham eliminado vários durante vários anos. Entre pedras e cavernas eles se enfiaram. Os humanos, os anjos e os demônios que trombavam com eles eram rapidamente assassinados e deixados ao léu – os dois estavam empenhados em conseguir logo a última Quindjin que se tinha notícia. Na cabeça de cada um, desejos gastronômicos despudorados povoavam-nas avidamente num turbilhão crescente de gula e fúria. Numa caverna toscamente encoberta por tralhas de um passado moderno extinto, eles encontraram, solitária e de brilho fraco, a última Quindjin.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

SOMOS TODOS ABORÍGENE

Foto: Mother Ganga, de Deleigh Hermes, National Geographic Travel Photo Contest 2019

têm gente que não consegue
assim se relacionar
com o que não se vê
mas sente
na pele
na mente
para essas, meus irmãos
digo apenas:
não se preocupem, não
tudo e todos têm
uma razão, um sentido
satisfação
não precisa não afobação
agora,
para os outros
esses que sentem tudo
e mais um pouco;
para esses que creem
e não arredam
e se entregam totalmente
peço, só um obséquio:
creem também no Homem,
pois é ele que têm fome;
é ele que sofre
como você também
morte
faz dele um deus
quem sabe assim
esta nossa raça vingue —
somos todos aborígene