quinta-feira, 30 de julho de 2015

A PRIMEIRA VIAGEM (JUNTOS) A GENTE NUNCA ESQUECE

Começo de namoro é sempre uma maravilha. O casal está sempre sorridente, alegre e com aquela cara abobalhada de bêbado apaixonado. Coisa linda de ver. Os pombinhos estão sempre juntos, bem grudados, tipo, um não vive sem o outro e, se separam, nem que seja por uns segundinhos só, o dengo mútuo enrola, pasta sem pressa até que alguém, com raiva ou inveja de tamanha doçura diabética, os separe de vez.

Nesse clima primaveril, nada mais natural para um recém-casal do que combinarem uma viagem juntos, certo? Pois bem, eu e minha namorada tínhamos combinado um rolezinho. Nada assim de tão longe ou muito perto. Não queríamos descer pro mar, mas queríamos vê-lo, então, nós dois, como típicos paulistanos atípicos, decidimos “dar um pulo logo ali” em Paranapiacaba. Para quem não sabe, informo: Paranapiacaba é um distrito do município de Santo André, que fica a 50 km de São Paulo. Contudo, para nós, para minha pequena e eu, Paranapiacaba é uma vila. E toda vila tem alguma sina, alguma coisa sinistra, mística e/ou fantasmagórica. Paranapiacaba tem tudo isso. Meu love e eu queríamos ir lá para ver o que ainda restava dos casebres de madeira ao estilo inglês. Sem dúvidas, se você for para lá, certamente se sentirá mais em terras do chá das cinco do que do cafezinho com leite. Paranapiacaba é um charme. Coisa linda para inglês ver e se deliciar, se enternecer.

Entretanto, essa vila também nos faz tremer. Lá, a névoa se faz presente. O clima é mais pro frio do que pro quente e, se não chove, parece que vai chover. O friozinho lá é convidativo, já a névoa instiga os nossos mais primitivos sentidos: dá medo sim! Só indo lá para entender.

Enfim, eu e minha guria estávamos na vibe de colar por lá. Curtir um friozinho a dois é sempre bom. Encontramo-nos na estação da Luz e partimos, devidamente agasalhados e coladinhos. No meio do caminho, senti um certo desconforto na região da barriga. A princípio, ignorei-o, pois deduzi que era uma dor comum quando se exagera nos comes e bebes desabituais – realmente, no dia anterior, eu tinha sim me esbaldado pra valer na janta da minha avó.

Não comentei nada com a minha namorada sobre isso por achar que era algo desnecessário, coisa banal. Afinal, eu acreditava que, no decorrer da viagem, eu iria melhorar. Só que não. A cada estação que passávamos, a dor preenchia e se intensificava mais na minha barriga.

Desembarcamos na última estação da linha. Rio Grande da Serra era o seu nome. De lá, pegamos um ônibus que nos levou direto para a vila de Paranapiacaba. Chovia fino ainda. A viagem foi rápida. E a dor se demorava dentro de mim. Descemos num terreno elevado próximo à vila e, de lá do alto, vislumbramos a cena de baixo: casebres engolidos pela névoa. Era lindo. As vielas eram de paralelepípedo. Caminhamos com cuidado sobre eles, pois o chão estava molhado. Eu caminhei com mais cuidado ainda, meio que sem jeito até, pois a dor me consumia, mesmo ela não sendo nos meus pés.

Fomos descendo o morro até chegar numa ponte montada sobre os trilhos do trem. Essa ponte era longa, comprida, ao fundo não se via seu fim. Só havia névoa. O lugar todo estava envolto em serração. Nós a cruzamos excitadíssimos. Parecia que estávamos num filme de terror! A cada passo, que dávamos sobre a ponte, ela rangia um rangido agudo, abafado de velhos tempos; não dava para ver o que tinha do outro lado dela, a neblina ficava cada vez mais e mais densa à medida que íamos penetrando na antiga vila.

Após a ponte, nos vimos numa espécie de “ponto de encontro”, com lojinhas de comes e bebes bem quentes. Decidimos parar por lá a fim de nos prepararmos bem para o dia de intensa caminhada, que planejávamos ter.

E foi aí que eu não aguentei mais a minha dor.

Em vez de café, pedi um chá. Aí a minha fiel companheira começou a desconfiar de que eu não estava bem - pedir chá não é um bom sinal.

Bebi a infusão e nada. Não melhorei. Fui ao banheiro e, também, nada, a dor não saia de mim. Passado alguns minutos, comecei a suar frio, tive calafrios. Eu estava ficando pálido. Foi aí que fui convencido a procurar um posto de saúde. Paranapiacaba não tem hospital.

Pedimos informações por ali no local que estávamos e fomos andando. Chovia grosso já. Minha namorada foi me amparando com um braço, com o outro ela empunhava um guarda-chuva. Eu caminhava com dificuldade junto dela. Eu caminhava todo curvado, a dor se tornara insuportável. Durante o trajeto até o posto, vomitei. Lembro-me que fiquei envergonhado ao fazer isso a seu lado. Era a primeira vez que eu vomitava em sua presença. Isso não era lá uma coisa linda de se ver, não.

Fomos andando. Ela me amparando com um braço, eu ocasionalmente vomitando pelas sarjetas e a neblina nos envolvendo a cada passo.

Já no posto, fui atendido rapidamente. Só havia eu de doente por lá. O médico de plantão me avaliou e me receitou remédios. Fiquei de observação por um bom tempo. Fiquei muitas horas por lá. E, de hora em hora, o médico vinha me ver, me reavaliar, para depois me receitar mais e mais remédios, todos esses para a dor abdominal.

Minha namorada estava sempre do meu lado, velando-me, cuidando, esperando que eu melhorasse. Lembro-me que a vi preocupada quando comecei a tremer convulsivamente sobre a maca que me colocaram.

Custei a melhorar. Mesmo me picando, dando soro e outras drogas via veia e via oral, a dor se mostrou persistente, teimosa pra valer. Eu ficava lá deitado, sendo medicado, e ficava vendo a neblina de fora por umas janelas próximas ao teto da sala de medicação. A neblina também se persistia, não arredava pé do lugar. E eu também via, do meu lado, a minha namorada, cada vez mais cansada, exausta de ficar do meu lado me olhando. Ela também olhava para as janelas, de vez enquanto, e ela também via a neblina se espalhando, tomando conta do ambiente, tomando conta das casas, das ruas e das pessoas que por lá se aventuravam.

Passou muitas horas até eu enfim melhorar o suficiente para ganhar alta. Ganhei-a. A dor interna diminuíra, eu conseguia, enfim, andar ereto, mas, mesmo assim, ainda sentia uma dorzinha do lado direito da barriga.

Saímos de lá já era quase noite, fim de tarde. Não tínhamos comido nada o dia inteiro. Eu e ela estávamos cansados. Não sei dizer se mais cansada estava ela ou eu. Estávamos acabados. Tanto que nem comemos por lá. Desejávamos ir logo para casa.

Voltamos pelo caminho vindo. O clima apaziguara, mas a neblina, nem sinal de se dissipar. Ela estava firme. Ela cobria ainda mais por inteiro a ponte por nós atravessada antes. Deu medo. Na minha cabeça, pensei que não ia conseguir seguir em frente, mas segui, minha namorada estava comigo. Pegamos o ônibus de volta à estação. Pegamos o trem. De volta à nossa área, à nossa cidade, nos despedimos. Cada um morava num canto. Foi uma despedida triste, mas acalentadora, eu me desculpava por ter estragado o nosso dia e ela me dizia, com a expressão mais calma e terna possível: “Não se preocupe. Você vai melhorar. Hoje, não deu, mas outro dia a gente volta. Tá bom?”.

Chegando em casa, contei o ocorrido a meus pais. Eles ficaram preocupados, lógico, até brigaram comigo por eu não ter ligado para eles e tal. Foi todo aquele drama habitual.

No dia seguinte, meu pai me levou ao hospital. A dor voltara forte, visceral. Lá, não tiveram dúvida, era apendicite. Fui internado rápido e, lá, sozinho no leito, deitado sobre outra maca, aguardando ser levado para a cirurgia, só fiquei pensando na névoa que tinha me abandonado.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Perdido na volta do parafuso

Perdido na volta do
Parafuso,
Penso:

Eu bem que poderia
Esquecer de vez aquela
Fístula.

Contudo, sem nada de crédito,
O jeito é pôr no débito.
Empréstimo não faço!
Se eu fizer, nego.
Se calhar, vocifero:

Perdi o
Parafuso.
Não tem mais volta.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

“O sol nasce para todos"

“O sol nasce para todos”,
Porém, são poucos os que sabem aproveitá-lo.
Escondidos nas sombras, esses preferem o intervalo,
Pois não querem saber de outros métodos.

Querem porque querem ser malévolos.
Não por necessidade, mas sim por crédulo.
Eles não desejam a alcunha dos benditos,
Gozam e se divertem sendo os malditos.

Porém, redito sem pesar:
O sol nasce para todos.
Até mesmo a lua se faz luar

Graças aos raios desse astro solar.
Então, mesmo os noturnos são agraciados
Pela luz diurna de bom grado.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Meu processo retroativo na confecção de poemas

Escrevo ao acaso
Em busca de inspiração...

Que tolice.
Tem coisa que não tem explicação.

Escrevinhar só não adianta.
É preciso ter alguma ideia em mente,
Alguma coisa de envolvente,
Alguma coisa assim de parar o transito,
Entende?

Mas que bobagem essa minha...
Tem poema que é melhor deixar em banho-maria.
Deixá-lo ali de molho às vezes é melhor do que dizê-lo 'pronto!'.

Tem poema que só fica bom de um dia para o outro,
Tipo bolo, tipo torta e não tipo pastel.
Tem poema que necessita ficar de repouso sobre o papel.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Estado Laico

O mundo em si é um encanto,
Se você estiver disposto, não em prantos,
Pois o tudo sofrido faz parte do nosso ensino.
Ninguém é feliz apenas sorrindo.

Dispor todos podem,
É a gente que se resolve
Ou encolhe
Diante daquilo que nos reprime.

Estar, nesse estado constante, é difícil.
Todo mundo sabe disso!
Porém, se prender a ele é suicídio.

Às vezes, é mais sabido deixar fluir,
Deixar escorrer o pranto, todo o lodo do desencanto
Pra enfim voltar mais uma vez a sorrir.

sábado, 18 de julho de 2015

DILEMAS PÓS-MODERNOS

Soado o alarme de incêndio,
O que você salva:
O seu notebook
Ou seu kitkat??

No meio de uma grande enchente,
O que você faz:
Abandona a casa ou fica nela mesmo assim
Com receio dos saques que hão de vir??

Se seu filho recém-nascido fica preso na sua BMW novinha,
Qual é o seu instinto:
Quebra a janela e o resgata
Ou o deixa lá e não faz nada??

Nesta Era do Caos, em que vivemos,
Tais perguntas não são problema
Diante das respostas dadas sem dilema.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vaidade

Em um universo paralelo,
sou belo.

Em uma suruba,
sou castelo.

O que é isso que retumba
cá no cenho
quando me vejo
no espelho??

Neste mundo feio, sujo e fétido,
sou concreto, dialético e fresquinho;
sou a resposta encontrada de mansinho.

Não sou a Verdade,
mas tento chegar perto.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Coaxos de um sapo sobre régia

às vezes eu acho
que o mundo é chato
às vezes eu imagino
que a gente não passa de simples girinos

este mundo é tão normal,
carece de tanto, mas todos
querem mais e mais,
sem se preocupar com o lá trás...

este mundo de superfície é estafante,
pior do que elefante
empacado na porta do metrô

às vezes eu acho que é melhor sentir a dor
e se afundar nas lágrimas de vez
do que ficar boiando nessas ideias idiotas de vocês

terça-feira, 14 de julho de 2015

QUATRO QUADRAS NUM QUADRO NEGRO

Tem gente que vive de dividendos;
Tem gente que sonha com um aumento
E tem gente que não sabe o que fazer direito
Nem mesmo com o pouco que ganha sofrendo...

“Viver é perigoso”,
Já dizia lá o Tinhoso...
Contudo, e mais um pouco,
Viver ainda é gostoso quando não se é oco.

Fortuna alguma ganha, garante
O verdadeiro conhecimento.
E eu não tô falando daquele tipo acadêmico.
Esse, claro, também é relevante,

Mas é o prático que nos dá levante.
É com ele que a gente vê se dá certo ou não.
Estudar faz um bem danado, é fato!
Viver é danação, com e sem opção.

terça-feira, 7 de julho de 2015

INVERNO NA CAMA

Nas noites de inverno,
O frio reina junto ao breu.
Porém, quem ama, camafeu:
Sobre a cama, olhos ternos,

Pele nua
Em pelo
Sob a lua,
Firmamento.

Pólo antártico,
Satélite orgástico:
Pélvis, fricção,
Toques tântricos com ou sem pressão.

O sexo em chamas brandas
Sob as cobertas revoltosas
Se revolta e se atiça, reviravolta:
Na insanidade dos movimentos,
Macho e fêmea ganham fama
Enquanto a luxúria se machuca, chuca.

Gemidos contidos,
Perseverantes,
Perceptivos
Dão mais ânimo
E menos juízo:
Tora na toca, toca no fiofó –
Tudo no todo sem dó,
Mas com xodó e num instante
Pra pegar de surpresa,
Nada de alarmante.

Amorzinho assim é gostoso,
Ainda mais num friozinho
Assim é delicioso!

Amor aquece, queima e esmorece
Depois de duro, amolece...

Ah, o inverno na cama é um verão sacana,
Serelepe
E sem vergonha!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Uma dose de positividade

Num mundo rico de possibilidades,
As pessoas se fecham em grandes cidades.
E elas não se importam tanto no que você faz.
Nada disso! É muito mais interessante o que você tem, meu rapaz.

O que você tem, o que você esbanja
É mais notório do que você é, com ou sem franja.

A vida assim na cidade grande é toda carente de esperança,
Pois, se você tem o que todos desejam ter, os que não têm
Vão querer também!
E cada vintém!

A vida é bem mais simples do que isso aí.
Se você tem algo do seu gosto, ótimo!
Só não o ostente a tira colo
Ou o descarte na rede de esgotos.

Valorize o que você é!
Não se deixe levar por modinhas do momento.
Peça aumento!
Valorize o seu dinheiro.
Não se curve diante dele.
Tenha mais respeito com os outros e consigo mesmo.
Seja uma pessoa legal, sempre,
Com ou sem dinheiro.
Se dê por inteiro àquilo que te faz bem sem prejudicar alguém.
Se abra ao mundo de fora;
Não se feche a todo hora
No seu mundinho interior.
Goze, chore e se machuque.
Viva sem se preocupar com a idade
Ou as entidades de praxe.
Vá à luta!
Tome um nocaute sem açúcar.
Mostre a si mesmo, e a seus amigos, conhecidos
Que isso aí que você é,
É muito mais importante do que você tem.
Seja e veja de tudo.
Não estacione no mundo.
Se mova, seu puto!

A vida é muito linda pra ficar só nos retoques.