terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

KOSMOS (2)


Há quem veja o meteorito

Como o resto de algum planeta,

Poeira cósmica,

Detrito alienígena.

Eu, contudo,

Vejo-o como o embrião,

A arca-mãe

De uma futura civilização —

Estrela-cadente

Pra mim,

Sempre foi o sinal

De recomeço.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

KOSMOS (1)

Pillars of Creation (foto tirada pelo telescópio espacial James Webb em 2022) 

Todos somos filhos de uma Estrela;

A partir dela,

É que vieram os elementos químicos,

Cósmicos

Que nos fazem ser o que somos.

Por isso,

A nossa Vida,

Que é tão única, tão rara, tão estatisticamente impossível

É de uma preciosidade imensurável.

 

É uma pena lastimável

Que muitos de nós

Sequer sabem,

Ou que, simplesmente,

Se esqueceram,

Disso.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O BATER DE ASAS DA BORBOLETA


Para ver o invisível

Não carece ver;

Apenas perceber

O além do impossível...

 

Se deus existe,

É tema inútil.

Existe sim, acredite!

Não seja fútil.

 

Deuses e deusas

Envolvem todos nós.

Basta se abrir

 

A eles; não estamos a sós!

Há de se ouvir

Insistentemente as suas asas...


terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

AQUI JAZ OS ESQUECIDOS


A maioria pensa que é bem assistida.

Porém, se enganam, nenhum plano existe

De fato. Tudo aqui foi um chiste

Pra ocupar gente desocupada.

 

Deus algum existiu por essas bandas.

Todos foram por nós mesmos inventados;

Por gente assim cheia de enfados,

Que queriam amenizar as próprias charadas.

 

E até hoje somos levados a acreditar,

Que acima de nós há um ser superior

A nos reger a todos a ele inferior,

E assim creiando e recreiando o creiar...

 

Besteira tamanha com eira camelô

Sem beira complô é a nossa condição:

Abandonados somos e com razão,

Até quem criamos nos abandonou!

 

Desamparados somos e estamos há tempos.

O juízo já veio e cá estamos só farrapos...

Nos suportando já querendo nos matar,

Pois nem a gente mesmo se faz atar!

 

Planeta azul: arca esférica saliente;

Terceiro mundo reduto pequenino

De uma raça que se acha inteligente

Demais, mas seu tempo não é eterno...

 

Cedo logo se acabará de toda,

Afinal, nem de pé mais se aguenta!

Um e outro sempre se chateia!

Por que és tão tola Humanidade, querida?

 

Aqui jaz os esquecidos...

Os deuses nos abandonaram.

Inventamo-nos, mas nos deixaram...

A Humanidade é de vencidos.

 

 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

CABELOS BRANCOS NA JANELA

Imagem: Freepik

Quando subo a São Joaquim

Eu não os vejo

É de manhã logo cedo

Janelas fechadas só se veem

Vou a pé pro trabalho

 

Quando desço a São Joaquim

Eu, às vezes, os vejo

É fim de tarde quase noite

Janelas escancaradas se permitem ver

Vou a pé pra minha casa

 

Quando paro pra vê-los

O que eu vejo?

 

Primeiro, não é o que é quem

Segundo, tudo dura menos dum segundo:

 

Lá de cima de um prédio

Terceiro ou quarto andar

Um narizinho se projeta da janela

Dois olhinhos fitam cá embaixo a rua desperta

Mas são os cabelos brancos que mais se fazem ver

 

Lá de cima

Será que me veem?

Pois, cá de baixo

Eu os vejo

 

E nesse ínterim terno quase eterno

Eu enfim percebo só vendo

Que a vida assim à vista

É muito mais vívida, e vivida

Quando é assim bem quista:

Despretensiosamente na rotina


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

VOVÔ SORRISO


Há muito tempo estava só.

Tinha se isolado, autoexílio.

Os filhos pouco apareciam.

Já estava habituado à solidão.

 

Porém, um dia, grande dia,

Os filhos voltaram multiplicados:

Quatro netos lhe exigiam atenção;

Dois em cada perna, todos com ele encantados.

 

A princípio, foi um choque!

Rostinhos parecidos consigo

Queriam porque queriam seu carinho.

 

Aí, se vendo não mais só, sorriu.

Se vovô era, vovô se assumiu!

E até hoje é lembrado pelo sorriso.