sexta-feira, 31 de agosto de 2018

AQUELA BLUSA, de Zilda Costa

Um a um, os botões são desabotoados.
O tecido macio, escorrega-me pelos ombros.
Numa carícia desejada!

Fica no chão esquecida.
Assistindo: o fogo, a paixão
A volúpia incontida.

Aquela blusa vejo agora no varal.
Recebendo a carícia do vento.
Trazendo de volta aqueles sentimentos.

O sorriso sombreia meu rosto
Que é só felicidade
Você é a minha verdade!



Referência: O livro dos sentimentos: coletânea. Organização da Editora. São Paulo: Editora Delicatta, 2018. Página 220.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CADÊ VOCÊ?, de Maria do Carmo Bomfim

Te criei na memória
e no meu desejo.
Tudo se desfez,
não te reconheço.
Vejo apenas uma sombra,
disforme, sem expressão.
Não há nada mais triste
Que a morte de um amor
que nem existe.



Referência: O livro dos sentimentos: coletânea. Organização da Editora. São Paulo: Editora Delicatta, 2018. Página 139.

domingo, 26 de agosto de 2018

VIDA, de Ana Ortiz

Tudo na vida acontece
Sem ao menos esperar
Hoje estamos a sorrir
Amanhã podemos chorar.
A incerteza da vida
Nos ensina a viver
Apanhamos e aprendemos
Ou choramos até morrer.
Ser correto é pecado
Pois iremos vegetar
Ser mau é ser errado
O inferno é teu lugar.
Como viver nesta dúvida
Que matéria infernal
Nesta escola da vida
Difícil é ser profissional.



Referência: O livro dos sentimentos: coletânea. Organização da Editora. São Paulo: Editora Delicatta, 2018. Página 28.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

TERREMOTO

Imagem: philosophicaldisquisitions.blogspot.ca, 19/11/2013


e de repente a terra treme
quem tá vivo, teme
parado não se firma
o susto é vítima

um abrigo se procura
do medo não se cura
tudo vale, menos ponte
o que já uniu, se parte

o que se vê é desespero
a morte ganha terreno
quem se salva, chora
os que não, ora

na falha todos estamos
porém, nos esquecemos
tudo perece, tem seu fim
a nossa natureza é assim

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CHICK-LIT

Imagem: www.spot.ph, 14/08/2013 (www.etsy.com, 29/05/2012)


sou mulher
sou jovem
minha vida
é show

se pareço
me mostro
se esqueço
me coço

vivo drama
vivo comédia
em romance bobo
sou mestra

príncipe procuro
em meio ao caos
que é
essa minha vida de paus

quem me lê
se entretém
comigo é assim
sou do bem

prezo o meu trabalho
rezo pra ele ser bom
se não for
deixo-o sem dolor

sou fofa
atrevidinha
com orgulho sou
literatura de mulherzinha

terça-feira, 21 de agosto de 2018

GERAÇÃO BOLHA

Foto: www.keepinspiring.me, 12/02/2010

Não provoque
Senão ela estoura
Essa é
A Geração Bolha
Que gosta de aparecer
Mas
Se você se mete
Explode
Fazendo fuzuê na net
Eles se acham
Flutuam pelo ar
Sem se importar com a sorte
Trabalham duro pra se expor
Tudo lá na rede compartilham
A mente é sem juízo
Geração Bolha ganha os céus
Porém
Quando se esvanece
Vira réu

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

AO ENVELHECER

Foto: No age for a kiss, www.crazyleafdesign.com, 03/10/2009

ao envelhecer
os dentes
caem

a boca
murcha
mas o sorriso
ainda sai

ao envelhecer
a vista
embaça

os olhos
diminuem
mas brilham
ainda mais

ao envelhecer
todo o corpo
dói

as costas
corcundam
mas os jovens
saúdam

ao envelhecer
a vida
cansa

quem é velho
é chato
mas se ativo
tudo é permitido

ao envelhecer

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O MUNDO ACABARÁ EM MERDA

Imagem: Apple/iOS Picture

Não adianta se estressar
Por tão pouco neste mundo
Irritado se faz de surdo,
Procurando se extravasar.

Tem gente que acha melhor casar
Do que comprar bicicleta no livre mercado
Não importa! Tá tudo errado!
Se a batata tá quente, vai assar.

A Bomba H já estourou
Um tal de Trump foi eleito
Genocídio virou direito

De gente eleita que vociferou
A extinção os jovens herda
O mundo acabará em merda.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

REINAÇÕES DE JUIZINHO

Imagem: www.diariodocentrodomundo.com.br

Agora é figura garantida
Dos altos papos do povão
Prende tudo que é podrão —
Com a lei não há medida.

Dá aula, ganha prêmio; é festa? Participa
Tá na Veja, IstoÉ, é capa de revista
Faça as contas: são dezenas de entrevista
É CartaCapital? Sai fora! Desce a ripa!

Tá prendendo todo mundo
Até quem não se imagina
Fala sério! Olhe a cara cretina:
Na direita não tem bandido?!

Auxílio-moradia tem
E como tem, meu bem
A gente aqui só se diverte,
Porque das leis já fizeram confete.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

TOME PARTIDO

Foto: Francisca Harlijanto, National Geographic Photo Contest 2012

largue o celular
e puxe uma cadeira
vamos conversar
sobre a política brasileira
parece perda de tempo
uma baita besteira
mas vale a pena
se tua alma não é pequena
vamos discutir sobre os candidatos
tem um que é do seu agrado?
se não, vamos melhorar?
que tal ouvir, se há, as propostas de cada um?
é meio enrolado
mas não desista!
teu e meu futuro
estão à vista
não jogue fora esta oportunidade
muitos morreram
pra você aí usar o dedo!
use a cabeça
seja, como no futebol,
artilheiro
faça o gol da vida
pois, se bobear,
o adversário toma
e o juiz rouba
tome partido logo
não perca mais
o que há muito se perdeu

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

VIVO NO VALE DA MORTE

Dante Gabriel Rossetti, Beata Beatrice, 1863, óleo sobre tela, 66 x 66 x 86,4 cm, Coleção Tate, reprodução fotográfica de autoria desconhecida


atendendo ao desejo
de partir
foi sem beijo
de despedida

lá chegando
não chegou
aqui caiu
e foi sofrendo

vivo estava
e querendo
a morte rejeitava
só vendo

no resgate
nada disse
sonhando apenas
com o beijo de Beatrice


Obs.: poema inspirado em uma notícia do Terra.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

PLANALTO

Imagem: www.fontanka.ru

Muitos correm para lá,
Afinal, lá querem estar
Nem tão difícil é pra chegar
Basta mandar bala!

O tiroteio a todos cala,
Pois ninguém se diz barbeirar
Tudo lá é tipo lupanar
De vermes em vala.

Acaso tu vês solução?
Tu crês no poder do voto?
Pare e pense, coração.

Tudo isso é tipo loto
Quem ganha não é façanha;
Se ganha, é barganha!

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

FRIO

Foto: www.distance-fromto.com

Na inércia da vida
Quem treme, tudo a teme
Se dor sente, geme
Solidão é ferida

Da dor não há saída
Pensa quem não tem crime
Se culpado(a), some
Prisão não, se cuida

É mera tentativa
De se mostrar quente
Na real, dente

Sangue na gengiva
É de frio que bate
Sozinho, até late

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PROJETO JOIA

Há muito gesto uma ideia. Uma ideia de respeito e admiração. Essa ideia, como todas que costumo ter, custa a se desenvolver. Toda ideia tem um tempo. E eu respeito esse tempo. Assim, quando eu percebo que a ideia quer finalmente sair e ganhar o mundo, eu a deixo ir. Essa, que agora sai, é a mais recente, isto é, tem só uns dois anos de gestação. A ideia em si não é nova, é resenha. Resenhas existem aos bocados aí no continuum do play das redes sociais. Tem muita gente boa por aí soltando o verbo e os emojis sobre os livros que leem ou vão ler. Isso é bom! Jovens falando de livro é coisa sempre interessante de se ver. Contudo, a ideia que libero agora tem outro enfoque. Primeiro, a resenha não será em vídeo. Eh, cara, não adianta. Eu não dou pra coisa. Prefiro a boa e velha escrita. Se todo mundo posta vídeo ou foto, eu posto texto. Sou assim. Acho que me saio melhor assim. Segundo, não é qualquer livro que será resenhado por mim. Não senhor! É uma joia. Daí o nome do projeto. Acho que o nome é auto-explicativo, por isso não vou enrolar tanto sobre isso aqui. Meus objetos de trabalho serão livros que contém aquilo que não se costuma encontrar com facilidade por aí. São obras raras, singulares em seus temas e conteúdo. Curiosamente, as primeiras três que quero aqui resenhar tratam sobre a cidade de São Paulo — cidade querida e odiada onde vivo e morro todos os dias. São obras que conheci de vista ou de falar a muito tempo, mas só agora bateu aquele desejo e oportunidade de dividir a minha visão sobre elas. São verdadeiras joias e eu quero que você entenda o porquê.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Poetrix: Safra (6)

A RESPOSTA: CASO

fazia pouco caso
fez graça na praça
coçado, se casou



LUPA

via a desculpa
não percebeu a mentira
enganado por traíra



ENGANO

fulano era o tal
procurado foi, negou
beltrano deu um show
  


VIDA FÁCIL

deu e se envolveu
deu no que deu:
perdeu o laço



TACITURNO

encostado num canto
na cabeça, chifres faustianos
desce a lágrima e o pano



ERRO

sem querer, querendo
faz do certo, errado
por dinheiro



RATO

come a sopa
bebe a teta
do leite, faz emenda



AVESTRUZ

esconde a cabeça
o corpo, mostra-o nu
quem passa, só vê o cu



BOLOTA VAI DORMIR

acolcheia a cama
dá duas voltinhas
dorme bem sem pedigree

  

DUALINA

não se engane, trouxa
se és o escolhido, pegue
Voldemort não é sereia




Obs.: poetrix NÃO selecionados para o VIII Concurso Internacional de Poetrix do MIP - Movimento Internacional Poetrix.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

VENENO

das bocas tolas
escorre a bancarrota
de fala torta
cheia de querelas

quem diz chorumelas
acha-se a proveta
mas é veris capeta
das páginas amarelas

quem assim insiste
perece antes da hora,
pois, se abre, não resiste

e perde de vez a cura
se engasga toda e morre
do próprio toma porre