Já faz um tempo. Todos sabem. O Centro
de São Paulo anda abandonado.
Seja ali nos arredores do Terminal
Parque Dom Pedro II ou, ao lado, nos arredores do Mercadão ou, mais pra cima,
ali na Praça da Sé e adjacências ou, mais pra baixo, no Glicério ou, voltando,
na Santa Ifigênia, na Luz ou no Bom Retiro mesmo, tá tudo uma tristeza só. Tudo
sujo, maltrapilho, caindo aos pedaços e muitos outros mais adjetivos
pejorativos ou ofensivos demais para se pôr aqui nesta simples crônica.
Lojas fechadas, prédios invadidos,
megalojas falidas tentando vender os produtos megacaros que ainda têm e poucas,
poucas pessoas naquele vai e vem característico dos grandes centros comerciais
das capitais. E o que fazem essas parcas pessoas? Trabalham, dizem. Ou melhor,
tentam trabalhar. As que trabalham, insistem em estar ali encarando a violência
armada crescente e a falta de gente com dinheiro disponível pra gastar. Já as
que não trabalham, estão lá tentando arranjar um trabalho ou estão lá por
estar, não fazendo nada de importante mesmo, ou estão lá pra roubar o pouco dos
que ainda têm muito pouco pra roubar, entende?
O Centro de São Paulo já não é o mesmo
há muito tempo. A pandemia só escrachou mais a fatídica situação. Hoje em dia,
muito mais gente faz as suas próprias compras on-line, as coisas de supermercado
e até roupas as pessoas estão comprando mais na internet, em lojas virtuais
oficiais ou de fachada. As pessoas que insistem em ir às lojas físicas e
compram o que querem comprar e veem e pegam essas coisas, estão diminuindo. A
praticidade venceu, e o sedentarismo também.
Quer um bom exemplo? Pois bem, dia
desses dei um rolê ali pelo Centro. Meti na cabeça que eu precisava de uma
torradeira nova e na cor vermelha (não me julguem). Aonde fui? Na 25 de Março, claro!
Encarei metrô lotado em um dia de sábado e bati perna praqueles lados. Entrei e
saí de várias lojas, mas não encontrei a bendita da torradeira vermelha. Vi
muita gente por ali, mas aquele epicentro de gente comprando já foi mais
movimentado, mais abarrotado de gente. A Ladeira Porto Geral, por exemplo,
tinha mais gente gritando, vendendo sei-lá-o-quê do que comprando. Passei pela
General Carneiro também, essa estava mais vazia do que costumava ser quando eu
era pequeno, lá pros anos 1980 e 1990; procurei pela torradeira vermelha e
nada. Só vi umas sanduicheiras e fritadeiras, a famigerada e tão deseja
ultimamente air fryer; e uma torradeira preta. Passar a pé ali pelo Centro Histórico
de São Paulo é ver uma cidade que morre; que está morrendo aos poucos. Como eu
disse antes, muitas lojas fechadas, ruas sujas e gente aos trapos; as pessoas
passam por ali apressadas, preocupadas, muito preocupadas com algo (salário,
saúde, roubo ou tudo isso junto e misturado?). Passei ali em frente à
Prefeitura, pelo Teatro Municipal, entrei numa dessas galerias da Barão de
Itapetininga e, enfim, encontrei uma torradeira vermelha! Paguei mais de cem
paus numa que fora fabricada na China, acredita?!
Mas que raios quero eu aqui dizer com
tudo isso?
Oras,
as coisas mudam.
E o Centro de São Paulo merece mudar. O
lugar precisa de mais moradia. Gente atrai gente que atrai mais comércio, mais
serviços e, consequentemente, mais segurança e bem-estar.
Duvida?
Por que você acha que foi anunciado mais
uma unidade do SESC bem ali aonde era a loja das Casas Bahia que, antigamente,
era a loja do mítico Mappin? O SESC 24 de Maio, que fica ali próximo, por
exemplo, tomou o lugar da Mesbla, lembra? Essa era outra grande loja de
departamentos que faliu, tá ligado. Então, o futuro é cultural, cara! Mais e
mais livrarias estão se abrindo ali no Centro, restaurantes hypados estão
surgindo ou se persistindo por ali, bares também, até o Edifício Martinelli vai
virar café, pô!
Percebes?
O
comércio de rua está em derrocada. O que você compra já fica em galpões, o item
sai do estoque direto pra sua casa, mano. Por que você acha que essas empresas
de entregas só crescem?
Falta
humanidade no Centro da cidade. E serão eles, nós, os seres humanos, e não os
reptilianos, que farão dele um verdadeiro Centro de acolhimento para as nossas
necessidades mais básicas.
Você
acredita nisso também? Ou não? Comente-se.