quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma questão de tempo

Ah, o tempo!... Saber de sua existência já nos toma tempo precioso. Aliás, o tempo é algo supervalorizado hoje em dia. Quem diz que o tem, sem dúvida, é alguém que conhece o bem-estar, o bem-viver; é alguém que tem, além dele, a tal da qualidade de vida. E quem não tem tempo? Ou seja, como vivem esta grande maioria que diz, grita não ter tempo pra nada? Bem, esse nada, sabemos bem, é tudo fora do trabalho, é o tal do lazer, do ócio. Eh, esses, vivem atarefados, estressados, conseqüência direta deste mundo globalizado, informatizado, conectado. Mas será mesmo que não temos mais tempo? Credo! Essa pergunta soou apocalíptica. Reformulando: o tempo anda escasso? Sabe, dizem por aí que ele, o tempo, passa muito rápido, passa cada vez mais e mais rápido. Será?... Será que não estamos nos ocupando com atividades ordinárias? Tudo que fazemos é realmente essencial? Será que não estamos desperdiçando tempo? O que é realmente importante? Isso é subjetivo, certo. Bem, por exemplo, tenho tara por livros. Eh, às vezes até pareço uma mulher diante de uma vitrine de sapatos e sandálias. É algo curioso de se ver. Enfim, voltando, dou um duro danado no meu trampo e, em vez de gastar parte do meu suado salário com os amigos, com bebida ou com mulheres oferecidas, gasto-o com livros. Prefiro os literários, mas se eu ler um título instigante ou uma sinopse idem, em alguma das prateleiras da livraria, compro-o, assim, no impulso. Entretanto, ultimamente, ando vislumbrando um problema (mais um!): minha leitura não acompanha a quantidade de livros adquiridos. Ainda estou lendo os livros que eu comprei na Bienal deste ano! E o impulsivo aqui, pra completar, ainda comprou, recentemente e à vista, uma coleção de livros imprescindíveis de um jornal aí. A pilha de leituras pendentes só cresce, cresce, daqui a pouco, eles, os meus queridos livros, bloquearam o meu acesso à minha própria residência, que nem um conto aí exemplifica. Desculpe-me, caro e ávido leitor, mas não me lembro do título e nem do autor do conto. Ou seria uma crônica?... Puxa, estou cercado de livros! Minha casa ficou pequena para eles e eu. Ou eu tenho que me mudar, para uma casa maior, ou me livrar duns livros aí. Quê?!? O que estou dizendo? Livrar-me dos meus queridos e únicos amigos? Jamais! Que insanidade estou a dizer. Cruzes! Mas, assim, bem que poderíamos comprar junto com os livros, ou qualquer outra coisa aí que nos dá prazer, um bocadinho de tempo, né não? Pense bem: tempo-livre como brinde, ou como amostra grátis, por que não? Hummm... Pensando mais um bocadinho, talvez nossas remunerações profissionais devessem levar em consideração o tempo no qual dedicamos ao trabalho trabalhado. Tá. Bem sei que existem as tais cargas horárias e os tais bancos de horas. Pois então, se o tempo vale ouro e se até as horas têm banco, por que não um salário mais atraente, mais condizente com o nosso tempo contemporâneo pra gente? Eh, isso tiraria o tal do prestígio de certas profissões, de certas funções aí em voga, mas a utopia que defendo aqui é realmente uma utopia? Tempo... Tempo... Tudo é uma questão de tempo, e espaço. Perdi o meu tempo (e o meu espaço) escrevendo o presente texto? Bem, caro tempo, só tu me dirás. Desembucha!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando não sobram mais pétalas

- Estou farta. Já não agüento mais. Insisti em um relacionamento que eu suspeitava ser promissor, mas se revelou decepcionante. Não vi reciprocidade. Não vi o mesmo carinho que eu lhe dedicava diariamente de sua parte. Quando estávamos sós, lindinho, era tudo ma-ra-vi-lho-so, perfeito. Quando você estava ao meu lado, sentia que a Felicidade existia, era real, palpável e de face apaixonante. Você era apaixonante, especial, até te pedi de presente de Natal. Eu ti adorava, e muito! Mas você se revelou egoísta, sombrio... Você foi negligente com meus sentimentos, com o meu coração. E daí que eu ti ligava três vezes ao dia? E daí que eu sempre ficava esperando você sair de casa primeiro, do seu apartamento, pra depois eu sair do meu e ti encontrar no corredor? Sentia sua falta. Queria você a todo instante, e você não demonstrava o mesmo. Parecia até que eu estava ti aborrecendo, ti atrapalhando, ti enchendo o saco. Não sou carente! Vai à merda. Não sou possessiva ou paranóica, como você maliciosamente, e de certa forma até que infantil, me dizia que eu era. Palhaço. Desgraçado! Só estava expondo meus reais sentimentos a você. Eu aqui com o coração sangrando e você aí fazendo piadinha! Faz favor, foda-se, querido. Você persistia em uma aventura e eu torcia por um final feliz. Você dizia que toda aventura é imprevisível, e por isso mesmo instigante e apreciável, concordei, mas agora lhe dou uma definição: acabou. Chega de ilusões contigo. Quero sentir borboletas em meu estômago, e você não me faz sentir isso. Com outro sim, sem dúvida. E com você não, sem dúvida. Você me fez sofrer muito com esse seu jeito desencanado de ser. Às vezes, lindinho, a gente tem que ser firme, entende? Não veja aqui uma indireta ao seu desempenho sexual. Sei bem o quão dramático você é. Quero dizer apenas que planos você deve fazer. Planos concretos, tá? Possíveis. Chega de sonhar, rapaz! E de chorar. Siga em frente. Levante essa cabecinha tonta e doida. Caia na real, homem! Isso tudo me dá uma gastura, um siricutico cá no peito, sabe? Por isso, estou ti dispensando. Escafeda! Arreda! Cai fora! Vou pros braços de outro e você aí vai ficar chupando o dedo, literalmente. Você mereceu, você se merece. Volte pro colo frio da Solidão e não dê noticias. Não me ligue. Não quero nada contigo. Não banque o choramingas. Calhorda! Pulha! Filho-da-puta! Sai da minha vida, e não volte nem como fantasma de alcova. Tchau! Passe bem. Cuide-se. Adeus!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Imprescindíveis e reles certas mulheres com estresse!

O que anda acontecendo com estas mulheres de hoje? Ultimamente elas estão tão estressadas! Estão ficando cada vez mais parecidas com nós, homens. Por que será? Um exemplo: umas aí andam falando mais e mais de futebol! Isso é muito estranho... Brigam e fazem piadinhas por seus times do coração. Não que eu seja machista, veja bem, cara leitora feminista, só acho essa tendência meio que incomum, uma espécie de novidade curiosa, entende? Mas, o caso sério é o seguinte, pra ser direto: dias desses presenciei duas cenas impressionantes, quatro mulheres brigando, e feio, duas no trem, Expresso Leste, e mais duas no Metrô, da Linha 2-Verde! A primeira dupla foi assim, por volta das 19h, horário de retorno ao lar doce lar, entre as estações Tatuapé e Corinthians-Itaquera da CPTM, duas mulheres maduras, na faixa dos quarenta anos, discutiram entre si, lado a lado. Cada uma empunhava um guarda-chuva, entretanto uma mantinha, em suas delicadas mãos, uma sombrinha florida, dessas que cabe direitinho na bolsa, sabe? Já a outra sustentava um negro guarda-chuva, desses pontiagudos, enormes, praticamente um guarda-sol portátil. Se ouvi bem, as duas começaram o duelo após uma cochilar, isso mesmo, sem querer, no ombro da outra – as duas estavam de pé na composição. Uma era baixinha e a outra de estatura mediana, digamos, visualmente maior que a outra, entende? E, assim, começaram a discutir, a trocar comentários ácidos entre si. Foi lamentavelmente curioso. Ao sacarem respectivamente suas “espadas”, o pessoal ao redor, gritava, gritava, entoando comentários de ordem e chacota. Caos! As duas até partiram pro corpo-a-corpo, mas não durou muito, o pessoal conseguiu separa-las, com dificuldade, é verdade, mas sem mortos ou feridos graves, nenhum guarda-chuva saiu danificado. Quando desci, na estação José Bonifácio, as duas pareciam mais calmas, ou igualmente feridas no ego feminino, caladas, um cadinho envergonhadas, acho, e ainda uma do lado da outra! Surreal. Já o atrito entre as duas fêmeas no Metrô, foi mais um debate de plenário. Foi assim: ao adentrarem o metrô recém estacionado na estação Paraíso sentido Vila Madalena, por volta das 7h30, parece, não vi bem, pois eu já tinha entrado na composição, uma empurrou violentamente a outra. Do corredor donde estava, pude ver que uma estava de costas para a outra e, enquanto batiam boca, todas as brigas começam assim, a que estava na frete nem sequer se virou pra encarar sua “agressora”. Não houve arranhões, puxões de cabelo ou qualquer agressão física direta, o embate foi no gogó mesmo, foi entre línguas. E essas, muito bem afiadas, posso lhes dizer. Cada coisa suja e loquaz que se ouviu ali antes das oito horas da manhã... Não reproduzirei nada do que ouvi lá aqui, digo isso desde já para meus leitores mais pervertidos – meus caros amigos! Digo apenas que, ambas aparentavam ter uns vinte e poucos anos. Jovens, sem dúvida, e lindas, mui atraentes! Uma loira e a outra morena. Uma de vestido colorido e a outra de terninho sóbrio, acho que é assim que se diz. Umas graças. Umas grossas. E não gritaram, mantiveram foi mais um diálogo, um tom mordaz entre si. Uma desceu na estação Brigadeiro, a outra na Consolação. E o pessoal ao derredor nem meteram colher, só ficaram olhando, olhando, apreciando o espetáculo gratuito e meio que fantástico assim de camarote. Curioso isso tudo. Outro caso, que agora me alembro, não presenciei, apenas ouvi falar, foi duma colega de trabalho, recém contratada, e novata nesse negócio de transporte público. Na Linha 3-Vermelha do Metrô, estação Sé, horário de pico, ela deu uma bela bocetada - relativo à bolsa e não à outra coisa chula que tu aí, amigo pervertido, estás pensando - num cabra que relou o cotovelo áspero no braço nu e viçoso dela. Coisa espantosa essa! Até mesmo pro cara agredido. Não sei se foi intencional ou sem querer, não estava lá pra averiguar, não fui testemunha, mas achei tamanha atitude bocetória dela um puta exagero. Ela tem gênio forte, percebi, mas não precisava partir pra porrada peremptória. Ai, ai, essas mulheres estressadas...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ponto de convergência

- Não sei ao certo o que anda acontecendo comigo ultimamente. Só sei que não me sinto bem, não como antes. Estou diferente, isso é certo. Estou mais pensativo, mais melancólico; ando sofrendo de pequenos lapsos de saudosismos. Espero que, ao ti revelar certas coisas, caro amigo, eu finalmente possa me sentir melhor e resignado. Vamos lá então. Bem, sabe, ando pensando em como eu vim parar aqui, ou seja, em como sobrevivi até este presente momento. Como cheguei até aqui? O que fiz ou deixei de fazer até agora? Por que sou quem sou? Ou por quem sou que sou? Às vezes me pego pensando em quando eu era garoto e Mamãe me arrastava pelo braço, pelas lojas do centro da cidade. Sou filho único, tu sabes, e não é nada fácil de criar um quando se é mãe-solteira. Mamãe deve de ter sofrido horrores. E, percebo hoje, que eu sofri também. Eu não gostava nada de ser arrastado, de ser obrigado a ir com ela pra tudo quanto é lugar. Ela entrava numa loja e eu tinha que segui-la, pra cima e pra baixo, até próximo aos provadores (!), só pra não me perder dela. E eu carregava sacolas, e entrava em outras lojas, e ficava de canto, esperando até que ela voltasse. Era um saco. Ou eu era um saco. Na escola até que eu era um bom aluno. Desses quietinhos, sabe, que toda professora adora e que todo colega acha inteligente, ou um puta dum CDF. Eu freqüentava a escola por freqüentar mesmo, cresci indo pra lá, então, não achava estranho acordar cedo pra ir pra lá. Apesar dos pesares, agüentei. Duro mesmo foi quando eu fazia o Ensino Médio. Cara, de repente você começa a ouvir que tem que ir à escola pra arranjar um trabalho bom, um emprego decente – o que seria isso? -, pois um bom salário mensal é o que importa, mas, claro, sem esquecer que tu deves fazer o que gosta. Pergunto: quê?! Como? Se nem eu mesmo sei ao certo o que gosto. Então, qualquer coisa aí que pague bem serve, né? Certo. Aí me vi procurando emprego. Estudava e consultava classificados, imprimia currículos e mais currículos apáticos, pois não tinha a tal da “experiência profissional”. Preenchia fichas de cadastro esdrúxulas. Participava de entrevistas e dinâmicas desconfortáveis, vexatórias, estranhíssimas... Os trabalhos feitos na escola não serviam – têm coisa errada aí, dizia a mim mesmo. Mas era obrigado a procurar, Mamãe exigia isso de mim. Consegui uns aí, mas não foram lá muito duradouros não, um que fiquei mesmo um bom tempo foi quando eu já estava na faculdade. Sim, consegui fazer uma. Uma licenciatura, é verdade, mas não deixa de ser um Ensino Superior, né? Entrei numa universidade particular graças há um programa social – posso dizer isso? – do Governo Federal. Antes fiz um cursinho comunitário, durante um ano (2004), prestei vestibulinhos e vestibulares públicos, mas não passei em nenhum... Ah, o curso universitário que fiz não era a minha primeira opção, era a quinta e última (!), mas foi o único em que passei, então, resolvi faze-lo mesmo assim. Não me arrependi, até curti o curso. Logo em seguida emendei uma pós, mas até hoje, quase dois anos depois, não produzi a tal da Monografia. Estou com ela cá empacada. Mó vergonhoso isso, né? Por que fiz essa pós? Por que tinha que fazer uma ou, sei lá, vi seu currículo e gostei, taí, vou fazê-la? Ou por que muitos colegas de graduação já estavam fazendo uma? Não sei bem... Também não me arrependi, curti igualmente. Enfim, naquele emprego fiquei mais de quatro anos – um bom tempo mesmo, vai. Não cresci lá profissionalmente, hierarquicamente, não tinha isso lá. Depois fiquei uns meses desempregado, fazendo a pós e mais nada, ou melhor, procurando também trabalho na minha área de formação. Tentei, tentei, tentei, mas não deu certo. Não consegui nada atraente, só experiências estranhas e suspeitas. Hoje, faz quase sete meses, estou trabalhando numa pequena empresa. Ganho bem, um pouco a mais do que na anterior, tenho vários benefícios, fiz alguns colegas, mas, sei lá, sabe, não estou empolgado, entusiasmado. Estou lá só de passagem, por necessidade, digo isso a mim mesmo sempre. Não sei bem até quando ficarei lá. Uns dois anos? Talvez. Mas e depois? E agora? Fazer o quê da minha vida? Gosto de ler, de escrever, de curtir programas culturais, do tipo cinema, teatro, exposição, essas coisas, não sou lá de baladas mais frenéticas, mas as freqüento, quando há convites e disponibilidade. Sei bem hoje em dia o que me faz bem. Contudo, ando negligente. Minha leitura anda atrasada. Meus textos, cada vez mais, ou melhor, menos. E os tais programas culturais, mais raros. Ando cansado. O trabalho obrigatório diário me cansa, me desgasta e o transporte público de ida e de volta também. Sinto que estou perdendo tempo, sei lá. É estranho, meio que incômodo isso tudo. Quero ficar sozinho, mas não posso, não consigo. Quero companhia, mas não a tenho, não a encontro mesmo insistindo inconsequentemente. Sozinho na multidão? Eh, vai ver é isso mesmo. Preciso definir certas coisas, ser mais descarado, sem esquecer o respeito, claro, ser mais espontâneo, mais atraente, mais eloqüente, mais misterioso, mais sereno, mais e mais eu mesmo, mesmo não sabendo muito bem quem eu sou deveras. Preciso de planos. Preciso de um rumo! Careço de sonhos... Agradecido por me ouvir, meu velho, mais uma vez.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Carência

Eu poderia falar sobre um domingo ensolarado e romântico no Parque do Ibirapuera, eu poderia descrever uma noitada boa lá no Bar Lisboa do Tatuapé, ou, até mesmo, comentar minha própria impossibilidade crônica e obrigatória de beber bebida alcoólica, mas não, não vou escrever nada dessas coisas. Por quê? Não sei bem. Não quero, talvez. Eu poderia deixar aqui registrado o meu desejo libidinoso em ver, apreciar os desenhos do Manara que estão descaradamente expostos na Oficina Oswald de Andrade? Eu poderia revelar o quão quero almoçar lá no Bom Retiro? Faz tempo que não bato perna por lá... Aquele restaurante de esquina, na Rua José Paulino com a Júlio Conceição, ainda existe? Os funcionários de antes, de quando eu trabalhava naquele bairro, ainda trabalham lá? E aquelas senhoras, simpáticas senhoras, da Casa do Pão de Queijo, da Rua dos Italianos, ainda servem quentes cafés por lá? Como estará o Bom Retiro que eu deixei? Estará ainda sujo e mui movimentado? A bomboniere que eu freqüentava quase que diariamente, da Rua Anhaia, ainda tá em plena atividade ou se fechou? E o Liceu Coração de Jesus, onde fiz meus estágios obrigatórios, como estará? O SESC que estavam construindo ao seu lado estará quase concluído? Ainda há moradores de rua adjacentes? Vícios e viciados perambulando pelas vielas? E a Doce Graça continuará doce quase de graça? E a Rua Prof. Cesare Lombroso, rua em que trabalhei, como estará? As mulheres lindas ainda desfilam por lá após às 13h? Sinto saudades dessas coisas. Careço de inspiração. Eh, definitivamente preciso revisitar o bairro do Bom Retiro. Quem sabe assim, colhendo lembranças por lá, dou de cara com as Ninfas. Essas me andam tão em falta ultimamente... Eh, tá decidido! Vou lá, neste sábado, dia 11/12. Quem quer ir comigo?!?