quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Do meu processo (4)

Partindo da necessidade de fazer alguma coisa, escrevo. Escrevo não só pra me ocupar, matar o tempo, mas sim pra descobrir alguma coisa. E essa coisa pode ser qualquer coisa mesmo, sem restrições, o importante é escrever pra depois entender. Não quero aqui me comprometer, quero desenvolver. Escrever é desenvolvimento; é a busca por algo que está oculto e que precisa, no texto, ser revelado, mostrado graficamente em palavras, frases. Então, tudo é um processo, que corre ligeiro, às vezes, e que também rasteja, às vezes. Tudo depende do espaço, do momento, do ambiente e da ideia. Se tenho ideia clara, o desenvolvimento, o processo corre que nem o Bolt. Se não, se a ideia que tenho é abstrata, nebulosa, a sua concretização é mais demorada, custosa. E isso, claro, sofre influência, do espaço aonde me ponho a escrever. Se me encontro numa biblioteca, por exemplo, o trabalho é mais focado; se estou no trabalho, em um dos momentos de ociosidade, as interferências atrapalham, faz parte, o marasmo não dura para sempre. Agora, outro ponto, para eu começar a fazer tudo isso, o momento tem que ser propício. E quando digo momento me refiro a duas coisas importantes: a vida física e a vida psíquica. Vida física é a vida em si, os contatos que a gente faz diariamente, as notícias e relatos que vemos, ouvimos e lemos por aí. Já vida psíquica é como eu entendo, absorvo essas coisas do entorno; é como penso e ajo diante dessas coisas. Então, sendo assim, momento é disposição; é o querer escrever com alguma coisa em mente, ou não. Continuando, para escrever, um suporte se faz necessário. Isso é o espaço. Meu espaço é um caderninho de brochura, geralmente. Nele boto, rascunho todos os meus textos em prosa, como este que estou escrevendo agora. De lá, passo-o para o Word, onde faço uns ajustes e tal, se necessário, daí só depois o publico aqui no blog. Percebeu? É tudo um processo. Um processo de escrever, escrever e reescrever. Já os poemas que eu arrisco fazer, se você me lê há algum tempo, já sabe aonde eu os faço, se não, clique aqui e descubra já. Viu só? Escrever, pra mim, é um passatempo divertido, é um hobby, não é um ofício oficial remunerado, é um lazer, uma ocupação pra manter a minha mente funcionando bem. Espero continuar assim. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

ISTO NÃO QUER DIZER NADA

Se não estamos bem,
Dizemos muito.

Se bem,
Pouco.

Mas, como o mundo anda estranho,
Parecendo assim meio torto,

Se estamos mal,
Não dizemos nada.

Se bem,
Dizemos tudo.
E mais um pouco.

Neste mundo invertido,
O mais divertido
É dizer tudo aquilo
Que ninguém quer
Ou gostaria de saber.

É como se,
Ao dizer,
Tudo aquilo que sai,
Preenchesse um nada inexistente.

Palpite?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

DAS TRÍADES

Pergunte à Eco
Quem é você e
Você ouvirá: eu.

Pergunte também
Quem sou eu e
Você ouvirá: ele.

Pergunte, por fim,
Quem é a gente e
Você ouvirá: nós.

Pergunte sempre
E você não será Narciso.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

MUDANÇAS ECONÔMICAS

Compras à vista
Pagas a prazo
Se você tem dinheiro,
Guarde-o,
Pois
Irá gastá-lo,
E muito!
Para isso não acontecer,
Não se esqueça:
Não dê gorjeta,
Muito menos aumento;
Em época de crise,
O que dá lucro é
Ser subserviente.
Taí de prova o atual presidente...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PEQUENEZ

quão pequena é
a vida humana
comparada ao Universo

quão irrisória é
os problemas pessoais
diante da Morte
logo atrás

quão diminuta é
a felicidade falsa
encontrada nas telas de celular caro

quão insignificante é
tudo isso
que vivemos até aqui

a Humanidade perece
a cada dia
enquanto
um homem só
apenas cobiça

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

MEDUSA NÃO USA WI-FI

Passava o dia inteiro de olho nele, querendo saber tudo a seu respeito. Se tinha dinheiro, se era popular, se era bom-partido. Até que um dia, enfim, ele a olhou de volta. Celular dela se desligou e nunca mais se deixou ligar. Ela não era 4G.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ATA MEIO DADAÍSTA DE FIM DE ANO

a quem interessar possa:
dias difíceis virão
não é joça
é a mais pura constatação
se este ano foi horrível,
o próximo será pior
nem a Dior
tampouco o novilho
se salvará
alvará
faça a sua parte,
pois eu farei a minha
pra amenizar
Oxalá!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

RATO MORTO

Passeando a pé pela rua,
Eu o vejo lá estatelado,
Parecendo panqueca, imprensado,
Criatura descomunal está nua.

Perdera tudo que fora sua,
Só o rabo se faz notado,
Bucho, crânio esmagado
Em noite escura, noite de lua.

Vejo suas tripas ao relento;
Não vejo ninguém em sofrimento;
Só o nojo paira sobre o asfalto...

Rato morto não causa comoção.
Restos desse tipo não tocam o coração.
Sigo reto. Pode ser armação.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

LIXO VIVO

Descartada por quase todos
Que nela vivem,
A cidade,
Grande cidade,
Agoniza sozinha na sarjeta e
Enquanto uns e outros
Dizem defendê-la
(Salve! Salve!),
Na culatra,
O negócio,
Mau negócio,
Anda torto, capenga,
Dando lucro àqueles que
Nela dizem morar,
Ocupar.

A cidade,
Grande cidade,
Só reflete os que nela vivem, sobrevivem.
Se ela está suja, imunda e feia é por que
Nela sobra gente altiva
E falta gente digna.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

GORDO, VELHO E BROCHA

O pau já não vê mais,
A barriga bloqueia a visão.
Se duro fica,
Já nem mais sente,
Ereção é coisa ausente.
Prazer sente mesmo é quando come.
Seja um petisco, um crustáceo vivo
Ou uma bandeja cheia de salgadinhos!
Por passar de certa idade,
Nem mais se importa com isso ou aquilo outro,
Quer mais é beber, se empanturrar
Até o cinto da calça estourar!
Ser gordo não é problema,
Problema é querer ficar magro.
Porém, disso, não sofre, é enfado.
Agora, do pau não levantar...
No início, sofreu,
Mas, se viu sozinho,
Então, se esqueceu.
Ser homem, hoje em dia, não é mais isso.
Ser homem, atualmente, é ter muito di$$o, muito daquilo...
E de tudo ele tem.
“Não preciso de ninguém!”, ele diz.
Ele é desses que você vê na rua.
Você o vê e o vê feliz,
Mas quem em sã é assim sendo
Gordo, velho e brocha?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

EMENDAS DA MEIA-NOITE

Do calvário alegam vir
Pra por em ordem um país,
Mas, o que se vê, faz rir
Pra não chorar chafariz.

Tudo parece por um triz;
Todos eles temem cair.
Afinal, tem gente aí que se faz juiz.
Porém, desencanto morno, vão ruir...

Na calada da noite fazem acordos,
Delações premiadas ganham fórum;
Tudo é encenado em grandes auditoriums!

O que se vê só se vê cacos, quebrados.
O verdadeiro espetáculo não é arbitrário!
Lá, o jogo é jogado sem estagiário.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

VERMES

Vejo-os ao meu redor
Em estado vil de decomposição,
Criaturas peçonhentas em ação,
Fazendo o que fazem de melhor:

Extinguindo a carne até o pó,
Impregnando o ar sem consideração,
Apenas o fedor há em elevação.
Condenado estou e na pior.

Danado assim sem me mexer,
Penso no que fiz pra acabar ali
E não consigo entender o exercer

Que é agir livre até aqui
Pra acabar assim sem esperança
Enquanto os sem cabeça enchem a pança.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

AQUILO MARAVILHOSO

Se pequeno,
Acham bonitinho,
Uma gracinha
Até o verem erigir.

Se grande,
Adoram,
Fazem fila,
Mas incomoda um pouco,
Dizem as sinceras feministas.

No mais, o que importa
É a resistência do bicho.

Se pouca,
Ficam chateadas,
Fingem compreender;
Não satisfazer
Não é poder.

Se muita,
Nem tem o que dizer,
Só sorrisos,
Pedem bis por mais foder.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

ATUALIDADES DE SEMPRE

sobre a sociedade de hoje:
não há sociedade
só sociedades



o Amanhã nunca vem
até você ir atrás dele
e pegá-lo com os dentes



comer faz bem,
foder também;
a vida só faz sentido
quando você não tem
isso ou aquilo

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

PRESTE ATENÇÃO AGORA

pare e pense em
um segundo
e descobrirá que
um segundo
não é suficiente


...


“ouça com atenção”,
dizem pra você
quando querem que
você aprenda

“você não prestou atenção”,
dizem pra você
quando você questiona
o que você aprendeu

atenção —
palavra empregada
sem atenção

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A VERDADE NUA E CRUA

visível sempre está
para quem quer ver

basta não relevar
e A verá toda nua

a Verdade não se esconde,
encobrem-Na

incomoda,
dói e
fere a fogo

tem um gosto
amargo
para quem A oculta

tem gosto de
açúcar
para quem A revela

Verdade plena,
Verdades secretas;
é tudo Verdade no
País dos Banguelas!

e enquanto Ela tá bem ali
à sua frente,
se mostrando, se entregando,
você aí fica se enganando,
visualizando e dando likes
na Mentira instantânea,
gorda de filtros bacanas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

ÁGUA PODRE

Das arestas de grandes rios,
Que hoje margeiam megacidades,
A podridão abunda em quantidade,
Alastrando-se fedorenta e sem brio.

Ao seu redor, nada brota; só ruindade
Se vê de longe, feito um fastio,
Que segue serpenteando a verdade
Triste de uma terra febril.

A água podre fede a mijo,
Bile e a secreção anal.
Quem por ela passa, passa mal.

Imagine para quem vive ali.
Incrível! Veja! Há gente ali:
Em meio à água podre, esconderijo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

TÔ VELHO

Tô velho. E isso implica pensar mais em coisas que normalmente eu não me dedicava a pensar com frequência. Me explico: saúde. Antes, admito, eu não tinha essa dedicação de agora em prezar, acima de tudo, a minha própria saúde. E de saúde aqui não só me refiro à física, mas à mental também. Parece que, ao ficar mais velho, as dores e os probleminhas físicos surgem e permanecem com mais facilidade e teimosia. Uma dorzinha aqui hoje não é mais só mais um mau jeito de ontem. Qualquer coisinha aí que aparece pode ser uma coisona que permanece. Cuidar mais de si mesmo se tornou uma coisa necessária, coisa de vida ou morte até. Pareço aqui um exagerado, porém, é a mais pura verdade empírica. Ficar mais velho, e bem, requer mais e mais cuidados. A minha alimentação, por exemplo, deu uma guinada drástica ao submundo descolado da alimentação saudável e sustentável. A princípio, soa modinha dizer isso, mas se muitos aí a sua volta já fazem isso e há muito tempo, você então, meu caro, tem que seguir o fluxo, para não ficar pra trás cardíaco e incapaz. Cuidar da própria alimentação, praticar atividades físicas com mais afinco e alimentar a mente com bons e instigantes prazeres artísticos é a nova ordem mundial! Então, saia mais de casa. Dê um rolezinho pelo próprio bairro. Leia mais. Ouça mais. Converse mais com os amigos, com as pessoas ao seu redor. Desligue o celular. Pense positivo. Em qualquer tempo, seja ele de crise ou não, é sempre bom fazer alguma coisa que te faça bem sem prejudicar a si ou outrem. Eh, eu sei, tô velho. E a vida me parece mais vida do que nunca. Comer bem faz parte da minha vida hoje. E sugiro que isso faça parte da sua, que me lê, também. Coma alguma coisa diferente em um dia da semana. Vá àquele restaurante que todos aí você vê indo. Experimente comer bem e com prazer. Isso é possível, acredite. É engraçado eu dizer isso, mas, poxa, ultimamente só o cheiro de comida boa me faz muito feliz! Sério mesmo. Hoje, eu acho que a comida típica de cada cultura é a substância mais substancial da felicidade de um povo, de uma nação, ou, se preferir, da própria humanidade. A redundância aqui soa estranha, mas o diferente, o outro é bom e faz muito bem! Ficar mais velho é sempre uma novidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Dica de filme:


A Cidade do
Prefeito Doria
para
Crianças Defeituosas

01.01.2017


Comentário: queria eu um Photoshop agora para pôr em prática essa ideia instantânea.

DATABASE

ACE
SABE
QUE O
CUNHA
ABRE

SE NÃO
TEMER
HAVER-SE-Á
PODER
ATÉ LÁ

EM
2018
BOTA
PRA
QUEBRAR

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

PAREIDOLIA

Foto: NASA


Ela vem e vem com força,
Antes que os pobres vão à forca.
Ela vem rasgando a torto e a direito,
Como se cavoucassem ninho de vespeiro.

Milhares caíram mortos a seus pés,
Com a Morte não tem revés.
Ela tem nome de homem;
Matthew a chamam os crédulos.

Passou pelo Haiti, Caribe e Flórida
E até hoje não se sabe a resposta:
Será ela um monstro ou o capeta?

Criaturas vis se engalfinham nesse dilema
E se esquecem de ver a realidade:
A Natureza só está fazendo a sua parte.

SUSSUARANA

Posava nua todo dia. Os vizinhos sempre a viam de calcinha e toalha molhada pela janela escancarada da sala. No prédio, era a mais falada, julgada e admirada. Seu apê vivia cheio de gente. Via-se com frequência homens e mulheres, muitas mulheres, em seu recinto. Amizades coloridas batiam ponto. Porém, um dia, ninguém a viu mais no condomínio. Sua janela estava fechada há dias! Houve certa comoção e alívio por parte da geral, quando o comunicado foi oficial:

“A Senhora Josefa de Aguiar Venâncio, do 7104, teve um derrame e seu corpo será velado no Cemitério do Araça, dia 06 próximo, às 09h”.

Dona Josefa tinha 84 anos.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

OS IDIOTAS

Vivemos tempos difíceis. De uns anos pra cá, a coisa anda preta e mal falada. Sobreviver custa caro e quem recebe salário não o vê durar até o fim do mês. Estamos em crise, dizem. Estamos vivendo uma crise financeira (e política) sem precedentes, afirmam. Porém, pior do que isso só mesmo a falta de respeito. Explico: você aí, certamente, anda vivendo no limite, no limite do mau humor. Se você aí anda calmo, parabéns, você faz parte da exceção que vive bem fora da tal recessão. Mas, se você aí faz parte da grande maioria que vive numa dificuldade a cada esquina, sabe bem que os ânimos estão à flor da pele. Se você aí não está irritado com a situação atual, conhece alguém que está. Há muita gente exaltada na rua e em casa. Há muita gente enfezada com tudo e todos até alta madrugada. E não dá pra negar que isso faz a gente penar. É um verdadeiro martírio lidar com esse tipo de gente; gente que nem respeita a si e nem quem está à sua frente. Rugir um para o outro se tornou prática comum. E nem de bruxismo estamos aqui falando. Nós aqui estamos tentando pôr às claras que a humanidade está em desgraça. Somos uns desgraçados! Se antes o que nos atingia era uma marolinha de picuinhas, a onda de agora nos atinge feito tsunami. Estamos prestes a vivenciar um colapso mortal (moral?) em cidadela, seja você aí coxinha murcha empapada de óleo velho ou mortadela vencida. Vivemos em meio a um apocalipse zumbi! Estamos rodeados de smart-zombis que só olham pras pequeninas telas com o intuito de se divertir. E, enquanto esses aí ficam deslumbrados com as besteiras seguidas que veem, o mundo real ao redor se desintegra e some, não deixando rastro nem migalhas para quem está com fome. Na moral? Vivemos em um mundo de idiotas. E cada vez mais eles se revelam, seja ao lado de casa, dentro da própria família e até mesmo na repartição, na empresa do ganha-pão! Tem muita gente idiota por aí. Para identificá-las é fácil. Basta reparar bem nas pessoas que dizem que isto, não aquilo, é melhor para todos, sem exceção. Gente assim se acha melhor do que você, que pensa diferente e, apesar dela dizer que está sempre aberta ao diálogo, na verdade não está. Gente assim tem muita aí na praça hoje em dia. Essas se travestem de defensoras da moral, dos bons costumes, da família e da gramática normativa! Essas pensam que só é mais valia investir em certos grupos sociais e segregam os restantes por demais. Não há consenso humanitário entre elas. Aliás, notam-se apenas resquícios do que já fora humano nessas criaturas... O que estamos vendo é a regressão do bicho homem, infelizmente.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

IDEOLOGIA DE GÊNERO

Enquanto muitos perdem seu tempo criticando o “põe e tira saia”, graúdos de idade avançada armam arapucas assassinas para os próximos 2, 4 e 6 anos. Pai que é pai não anda ensinando nada! Mãe que é mãe tá de papo-furado na escada. E assim a criança que esses aí dizem proteger e zelar, fica a deus-dará vendo bobagens sem graça no WhatsApp da vida.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A MÃO DIVINA DO ESTADO LAICO

Moldo a ti
Como argila:
Pressionando,
Apertando,
Formando uma vida.

Faço isso porque posso,
Distorço,
Sem esperar de você
Alguma revolta óbvia.

Satisfaço meu ego burguês
Neste Estado de Direita,
Enquanto você aí discute futebol,
Novela e merenda.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

À MARGEM DO CÓRREGO

Dobrou a esquina como se fosse gente fina, nariz empinado e olhos semicerrados. Andou a calçada toda sem olhar pros lados, o horizonte era o seu foco; ele não fixava as vistas em ninguém. Ao atravessar a rua, não viu o motoboy vindo em alta e periculosa velocidade! Não deu outra: o motoboy passou por cima, sem dó, sem piedade...


E é por isso que a gente nunca ouviu falar de um Rato de Botas. Tem coisas que não entram nas estatísticas.

domingo, 25 de setembro de 2016

JUVENTUDE MUTANTE

Corria em desespero, jovem raquítico feito de madeira encantada. Adentrou a floresta e não olhou mais para trás, seu medo lhe dava gás. Desembestou a correr que nem doido, quando, quem o seguia, quase o agarrou com a farinha! Jovem-menino não queria se tornar carne, não. Ser de madeira era melhor. Ele era quase um X-Men.

sábado, 24 de setembro de 2016

EDIFÍCIO JANE

Saltou do último andar, na esperança vã em poder voar. Estatelado no chão, ainda pôde ver pés descalços a se entreter. Tarzan civilizado não fora criado por pássaros.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

NEON

Foto: @brianskerry


Em meio a cores naturais,
Vejo a ti remoendo ais.
Vejo você triste e sozinho,
Lamentando a falta de carinho.

Não sei de nada a seu respeito;
Não sei nem se você é direito,
Mas sinto o mesmo que você.
Vejo você em mim, eu em você.

Em meio a esta prisão colorida,
Sozinhos estamos e, sem despedida,
Imóveis ficamos de tanto pranto.

Entretanto, se a gente assim se vai,
Qual é o sentido da vida, ora meu pai?!
Um dia, tudo se apaga, até o encanto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

ANUNCIAÇÃO

Sentia que não era bem-vinda,
Criatura dita de família.
O desdém era geral,
Todo mundo ali lhe metendo pau.
Porém, a criatura não se constrangia,
Tava nem aí pras picuinhas;
Ficava só ali observando,
Ouvindo despropérios,
Praticamente os ignorando.
Numa pausa da fala brava,
A criatura revidou:
Se abriu toda em amostra —
A Verdade é límpida e causa dor,
Seja você quem for.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

OGRO INTELIGENTE

O ogro se dizia muito inteligente, tão inteligente que vivia dizendo a quatro ventos que não precisava de ninguém. Até quando caiu de cama, o ogro insistiu, vociferou, que sozinho estava melhor. Seu grande intelecto o salvaria, mesmo sentindo muita dor. Segundo o ogro, seus conhecimentos seriam suficientes e ele, certamente, sairia sobrevivente. Dito e feito, o ogro não morreu! Porém, toda manhã ele chora ao sentir na pele o calor da hora.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

JOÃO E O CU DE OURO

Do alto do pé de feijão, João se via num impasse: descer aquilo tudo com uma gansa gorda no lombo ou ficar por ali mesmo, só no aguardo do gigante irritado. João pensou, pensou e fez justo aquilo que não se pensava: deu uma grande gargalhada ao postar uma selfie dele fazendo biquinho ao lado do cu da ave. João só não se ligou na mão do gigante bem próxima deles...


João perdeu a vida, mas ganhou mais de um milhão de likes.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

REVISA-TE A TI MESMO

Acho natural essa volta a textos meus de outras épocas. É como se eu estivesse passando por uma revisão pessoal (ou textual) antes de engrenar de vez em novos projetos de cunho literário. Sei bem que sou só uma formiguinha neste vasto universo de pessoas que escrevem e que tentam viver só disso exclusivamente. É difícil. Mais difícil ainda se você não corre atrás, se dedica com afinco nesse projeto. Eu, por exemplo, admito que não estou tanto assim focado nisso. Passado vários anos desde o início neste passa-tempo, ainda o encaro como um passa-tempo. Já vi que há bons cursos aí em voga pra me profissionalizar e tal, mas, não sei, ainda acho que é muito cedo pra dar um passo maior em direção a isso. Até tenho uma coisa aí escrita e um punhado de poesias minhas reunidas pela metade, porém, parei com isso, não dei prosseguimento, encostei de vez até ter vontade novamente para tal. Não sei o que há realmente comigo (medo?). Acho que estou esperando algo que eu nem sei bem o que é. Essa volta aos textos antigos talvez seja um sinal de alerta. Talvez isso signifique um ponto de virada. Não sei. Não tenho certeza de nada. Ando vendo por aí que um bom escritor é sempre muito consciente no que faz, no que escreve. E eu não sou assim! Ao contrário, muito do que escrevo é meio inconsciente, inconsequente até. A espontaneidade faz parte do meu estilo, mesmo que tende para o bom ou para o mau. Admito que há coisas ali pensadas, bem pensadas às vezes. Porém, na maioria das vezes em que me proponho a escrever, deixo a minha mente seguir o seu próprio fluxo e fazer suas próprias conexões. Só depois que o “eu” entra pra por ordem na coisa toda. Vai ver é por isso que meus textos não são tão visualizados e comentados. Vai ver eu escrevo mal pra caralho mesmo! Ou vai ver eu não tenho um bom marketing pessoal, quem sabe? Enfim, tudo isso aí é devaneio, coisa boba. Mais vale continuar sendo eu mesmo e continuar escrevendo pra solucionar o grande mistério que é a vida. Escrever ainda é isso, não é?!

sábado, 17 de setembro de 2016

DÉJÀ VU À LA MONTAIGNE

Engraçado... Após ler tantas notícias dos mais variados assuntos em mais variados veículos mediáticos, percebo que algo ali não me é estranho e tampouco assim dito novo. Sinto que ao ler tantas coisas aí impudicamente publicadas algo se repete e não se disfarça. Sinto um recorrente déjà vu eclodindo a cada página e a cada tela visualizada. É como se o futuro repetisse o passado; é como ver um museu de grandes novidades, entende? Parafraseio a música do Cazuza aqui e isso não é gratuito. Talvez confuso a princípio, mas, certamente, preocupante. Explico: vendo e lendo tanta coisa por aí posta, sinto que estou de volta ao começo deste blog; sinto que estou de volta a 2009! Naquele ano, eu estava desempregado procurando emprego, cursando a pós e nada mais. Era meados da Segunda Era Lula e a Crise atingia o país em forma de marolinha. Mesmo assim, foi um ano difícil, havia muito atrito entre os pares e a incerteza pairava sobre as nossas cabeças — da minha principalmente! Este blog nasceu justamente nessa época. Eu estava à toa com desejo de produzir, de me sentir útil e assim vivo. Comecei timidamente a escrever aqui. Postei pouca coisa naquele ano. Contudo, ao perceber este nosso estado caótico atual, digamos assim, um texto antigo meu veio a mim de forma natural. Ele é de 2009 e, ao me lembrar dele e relê-lo, confirmei que aquilo que eu estava percebendo hoje, eu já havia percebido ontem. A Era do Caos está de volta! Ou vai ver ela só deu mais uma volta, uma maior. As coisas, hoje em dia, estão mais extremadas, bipartidas, polarizadas. Noto e anoto aqui a falta de Ordem e Progresso que uns aí dizem querer cumprir. Só ando vendo o Caos pra tudo que é lado! Da esquerda à direita, todos centrifugados. Parece que as pessoas estão mais irritadiças, mais intolerantes e cheias de gracinha. Tá difícil de conviver com essa gente xiita! Parece até que estão sendo controlados, de remoto e de cordinha. Teimo em não acreditar que as pessoas são assim de verdade verdadeira, de mente e coração. Espero realmente que tudo isso seja só verdade inventada pra sobreviver nesses tempos cáusticos de fachada. As pessoas são mais parecidas do que pensam pensar. É o que eu acho. Em todo caso, deixo aqui o link do texto meu que comentei antes. Ao lê-lo, você verá que ele mais se parece deste nosso tempo presente tratar — assustador.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

RAPUNZEL E O GIGANTE

Erguendo estruturas sólidas, o gigante de músculos trincados enfim vislumbrava o seu prêmio a duras penas conquistado: a jovem e pálida criatura, virgem de nascença até a última lua, tremia-se toda ao ver, horrorizada, o porte de seu salvador de prisão perpétua.

Queria ela apenas um nude do Paulo Zulu agora.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

BLACK BLOC PENSADOR

Envergado em si mesmo, o Homem de preto pensava:

“Como ser mais produtivo em um mundo cada vez mais imediatista, mesquinho e tedioso?”.

Pensava o Homem nisso há muito pouco tempo e sem resposta.

Até que, num estalido reflexivo, ela, a resposta, veio firme em forma de pujança:

RESET.

“Destruir este mundo imundo e, dos escombros, erguer um novo pra não perder mais tempo nesse jogo bobo”.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

DIVAGO SEM EGO FRESCO

Pensando cá no que fazer,
Acabo não fazendo nada
Enquanto o tudo
Passa por mim
Sem aviso prévio.

E nesse bacamarte chato
Me entrego
Sem plano algum nos bolsos
Pra sequer comer um ovo.

Ovo?!

D’onde vem esse papo-furado de ovo?
Estarei com fome
Ou isso é coisa de alarmante preocupante
Com a tal crise galopante?

Não sei.
Só sei que a crise é coisa tipo golpe de estado.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

CORRE HOMEM, CORRE

Faz tempo desde a última vez que escrevi em prosa. A poesia, ultimamente, anda me requerendo mais atenção. Porém, hoje, vejo-me disposto a escrever em prosa depois de nove meses (!) ausente nesse estilo. Bora lá então. Não sei você aí, mas eu aqui ando reparando num troço muito doido que anda rolando pela cidade. Não é o Pokémon GO, não. Tampouco a falta de educação que impera nas pessoas da metrópole. O que ando vendo é mais algo físico. Explico: é muito comum, hoje em dia, ver gente pela rua correndo adoidado pra qualquer lado. O tal do Crossfit é a moda atlética do momento. Vira e mexe você esbarra num praticante dessa modalidade aí pela calçada do seu bairro ou do seu trabalho. Contudo, não é desse aí que eu quero aqui comentar. Não. O causo é: gente normal, isto é, gente de roupa comum, não vestida de trajes típicos de academia correndo que nem louco aí e aqui pela rua! Você já viu?! Se não, tenho certeza que um conhecido seu já e há pouco tempo atrás. Pode perguntar pra qualquer um aí a seu lado. Um ou dois vão confirmar o meu relato. Imagine: você tá lá de boa pela rua, indo ou voltando do trampo e, do nada, você vê um cara correndo afoito à sua frente. E esse cara tá de terno e gravata! Ele tá todo arrumadinho e correndo a toda como se estivesse na São Silvestre!! Imaginou? Bom, aí você pode pensar que o cara tá atrasado para uma reunião importante ou tá mesmo é com frio — nada disso! Ultimamente ando vendo gente assim em qualquer dia da semana — até nos fins de semana — e em qualquer horário — até mesmo depois do tal horário comercial — e em dias até mais amenos. Então, qual será o motivo desse alarido? Você certamente se (e me) perguntará isso. Vamos lá. Vem comigo. Tentaremos cá resolver esse mistério. Pergunte-se isto: por que um cara, em trajes civis, correria em carreira pela rua? Pense: será que ele deve algo? Será que ele teme alguém? Não sabemos de nada disso, mas uma coisa é certa: quem corre se preocupa. E isso é válido pra qualquer um aí que corre. Quem corre pra ter um bom condicionamento físico, corre porque se preocupa com a própria saúde. Quem corre se preocupa em não chegar atrasado ao trabalho. Quem corre da chuva se preocupa em se molhar. Quem corre da polícia se preocupa em ser pego após o flagrante num assalto e por aí vai... Deu pra entender, né? Agora, e quem corre aí que nem louco? O que preocupa esse ser? Quem ou o que lhe faz agir assim tão desesperadamente ao ponto de correr, desembestado, pela rua? Penso. Penso. E uma palavra só me parece justificar tudo isso: mulher. Sim! E ainda faço um complemento semântico sugestivo: medo da mulher. Em época de empoderamento feminino, que aqui soa feio feito um pleonasmo, mas é, na verdade, só um friso, o homem, boboca por natureza, viu-se reles só mais um diante da força monumental da fêmea que, por ele, fez aliança eterna, ou seja, o homem de hoje se viu no limiar da sua própria ruína quando a mulher descobriu que tinha mais o que fazer do que depender de um babaca escroto que não sabe respeitá-la como mulher. Entendeu agora, cara? Não?! Peraí então. Deixe-me ser mais direto: o fulaninho lá que corre, corre porque tem horário certo pra chegar em casa. E ai dele se ele não chegar no horário em casa, pois, sua mulher, sua única deusa, sabe bem o que fazer com um cabra que não respeita seu coração. Captou a mensagem?

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Aqui se fez um poeta

Começou assim por acaso,
Tentando pôr de lado
O tudo antes atrasado
Para não ficar de caso.

De repente, virou um tarado
Por querer dar uma de Tasso,
Mas, na verdade, queria Picasso —
Nem sempre com bom resultado...

A ideia era matar o tempo,
Se entreter torto e a direito
Pra não ficar só de lamento.

E foi assim nesse campo,
Do despretensioso ao de esteta,
Que o aqui se fez um poeta.