terça-feira, 21 de dezembro de 2021

EFEMÉRIDES (5)

Nesta

Sociedade do Vazio

A única coisa que enchem

É o meu saco

 

 

 

 

 

Não existe lugar

Nesta cidade

Bom pra se viver

Em todo lugar

Desta cidade

Há merda animal

E humana

Empesteando as calçadas

 

 

 

 

 

Fumar maconha

Não é nada demais

O que realmente dói de ver

Hoje em dia

É gente com cachimbo de mentira

Jogada e com fome em toda esquina

 

 

 

 

 

É a mais pura mentira

Quando dizem por aí

Que comprar traz felicidade

Balela!

Toda compra é uma perda

A perda da própria dignidade

 

 

 

 

 

A relação mais sincera

Que você vai ter na vida

É com uma prostituta

Ou prostituto

Ali, tudo já é combinado antes do ato

E, ao seu fim,

Vai cada um pro seu lado

 

 

 

 

 

A verdade só machuca os que já sabiam dela

 

 

 

 

  

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

TOURO DE OURO

Imagem: gauchazh.clicrbs.com.br

Foi lá posto sem aval

Era uma homenagem, diziam

Mas pegou mó mal...

Era uma propaganda mesmo, tipo SPAM

 

Os cientes, corretíssimos, protestaram

Os EXPERTS até negaram o caso venal

Mas pra todos ficou claro o afã:

Bem no meio do Centro a pena capital

 

Gente, muita gente, bem ali no seu entorno

Passando fome, mó paulistano desgosto!

Enquanto o brutamontes de ouro,

 

Ali parado, mais parecia um burro,

Empacado e dourado assim era fiel retrato

Dos que não veem o ser humano.

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

CHOQUE DE REALIDADE

Imagem: br.freepik.com


E nessa ânsia

De nos encaixar

Em doutrinas

Que se cria com crina

Acabamos não fazendo nada de importante:

Quem têm fome

Ainda passa fome;

Quem não têm emprego

Ainda não trabalha;

Quem vive

Ainda morre sem viver.

 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

SOBRE OS CONHECIDOS QUE DESCONHEÇO

Imagem: istockphoto.com

Sei não quem são

Ou foram

O que fizeram

Ou fazem

Não sei de nada

Nem a porcentagem

 

Desconheço a procedência

A decência

E a vassalagem

 

Se “todo mundo” aí os conhecem

Sabem bem quem são

Eu aqui nem faço questão —

 

Só conheço o meu coração

  

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

MORGUE


É uma salinha

Quase um depósito

 

Quem tem a chave

O abre

 

A luz é logo acesa

 

Antes em pleno escuro

Um grande embrulho é revelado

 

De lençóis brancos

De hospital

Ele é feito

 

Ao desatar os nós

(Quem coragem tem ao fazer isso)

Se depara com um plástico

 

Há um zíper ali

Abri-lo é o fim


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

OS TITÃS ESTÃO VOLTANDO...

Imagem: "O Fim do Mundo" (1851-53), de John Martin

O clima anda louco

Desregulado pra geral

Culpa nossa, óbvio

Aquecimento global

 

Perdidos nesse meio

Meio-ambiente terreno

Percebemos o erro

Tarde demais desespero

 

E

De repente assim

Numa toada

Ou notícia de desgraça

 

Ficamos cientes

Dumas paradas

Que extrapolam o nosso imaginário:

Diacho!

 

Seres ditos extintos

Começam a aparecer

Doenças erradicadas

Voltam a nos fazer morrer

 

Furacões, erupções, enchentes

Tornam-se coisa comum

Assunto trivial de telejornal

Como as inúmeras mortes em hospital

 

Tudo isso aí dito

São sinais do Novo Espírito

Que retorna já causando pranto

Eh, os titãs estão voltando...


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

BUBO SHELLEY

Foto: @robsrw / canaltech.com.br

Parecia outra coisa à vista,

Mas não, era Ela mesma: risca!

Emprenhada em selvas da África

A Coruja-Águia enfim se agiganta!

 

Se mostrando por inteira, atesta

Nossa grande ignorância-jeca.

Em 150 anos não A viram: eca!

Já logo A julgaram extinta!

 

E Ela assim nos olhando...

De costas nos encarando...

Com olhos peludos e sombrios...

 

Nos faz perceber tão pequenos

Perante a fauna dos Eternos,

Que não vêem mais nossos brios.


terça-feira, 19 de outubro de 2021

QUANDO A CAÇA VIRA CAÇADOR

Imagem: O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida Como O Sol (1803), de William Blake


Toda a sua estrutura óssea muda

Os músculos ficam tensos, visíveis a olho nu

A mandíbula se destaca, fica maior, projeta-se à frente

Os olhos ficam mais vivos,

As pupilas dilatam-se com facilidade

O olfato é mais aguçado

A sua percepção espacial também

Todo o corpo vira outra criatura

Que não é

Nem de deus nem do diabo

Todo o bullying sofrido é convertido em ódio

Fome avassaladora

Sangue, sangue e suor

A arcada dentária aberta espuma

Jorra, jorra uma baba viscosa e transparente

O corpo é bestial

A natureza, animal

A alma é toda de vingança

O mundo todo vira do avesso

Quando a caça vira caçador


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

DESASSOSSEGO GLOBAL

Imagem: correiobraziliense.com.br

Não tá fácil pra ninguém

Tá tudo muito caro

Boleto atrasado

E o salário

Não acompanha a inflação

Muita gente com fome

Disputando subemprego aos montes

E brigando por ossos

Pra não perecer que nem eles

Tá um desespero só

A violência aumentou

As discussões também

Parece que ninguém mais se entende

Ou realmente quer se entender

Desculpa não é mais desculpa

Ela, coitada, perdeu o verdadeiro sentido

Motivo

É a Era do Caos

Todo mundo tá bem mal

E a Pandemia não dá sossego

Desassossego global

É tanta angustia

É um medo danado

Generalizado

Ninguém mais se ajuda

E se ajuda outrem

É duramente criticado

Cancelado

Não há mais empatia

É só dor dor dor

Nem a chuva vem mais

A água tá acabando

O planeta tá se implodindo

Nem mais das cinzas surgiremos

É só tormento

Medo

Desespero

É o fim

Cada vez mais próximo

.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

BRANCO E VERMELHO

Imagem: terra.com.br

Pálida

A estranha figura caminha

Caminhos de sangue

Descalça

Os pés vermelhos ficam pretos

Com a sujidade da cidade

Centro

Centro velho

Perambulando pela metrópole

Cosmopolita, desigual, bárbara

A civilidade é só fachada

Brutal

Animal

A estranha figura trajada de branco

Ainda caminha

Devagar

Vagando pelo centro

À noite

Madrugada

Somente às sextas

Sexta-feira treze

Meia-noite já é vista

Entre à água-podre

Entre as torres de marfim luxuosas

Entre os mendigos, os ladrões, as prostitutas

Entre as crianças, os desempregados, os estudantes, os baladeiros

A estranha figura caminha

Não pára

Nem no sinal fechado

Abre caminho

Branca

Vermelha

Quem tenta falar com ela

Logo vê

Sua boca

Sangue

Jorrando, vomitando

A sua essência vital

Ancestral

É por ali

Liberdade

Glicério

Cambuci

Bixiga

Bela Vista

A estranha figura

Sempre caminha

E caminhará

Deus algum está com ela

Só demônios

Todos os nossos

Numa estranha figura só

Pandemônio

Branco

E vermelho

Branco

E vermelho

Branco

E vermelho

...

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

EU SOU UM FRACASSADO (ou A Revolta do Tiozinho)

Imagem: icon-icons.com


Eu sou um fracassado

Não tenho conta no Instagram

Nunca tive Facebook

Uso o WhatsApp por obrigação

Mas não mando vídeo,

Foto, figurinha ou o meme do momento

Só escrevo mesmo

 

Não faço curso on-line

Nem vendo um aí no YouTube

Meu celular é até um smartphone

Touch screen e essas porras todas

Mas mais ligo, falo com os outros

Uso a voz

Não só uso os dedos

 

Tenho mais de quarenta

E ainda moro com a minha mãe

Mas trabalho, ajudo em casa

Não fico parado em frente à tela televisão

 

Sou saudável

Tenho convívio social

Real, não virtual

Conheço os meus vizinhos

Amigos e parentes vejo, falo com freqüência

Não alimento treta

Só a minha gata perneta

 

Não sou chefe

Não tenho negócio próprio

De startup alguma sou sócio

Sou um funcionário apenas

E não me venha com esse papo-furado de colaborador!

 

Não sou doutor,

Sou mestre

Em viver com o que dá

Com o que tem

 

Não sou rico

Nem pobre

Mas, segundo vocês,

Eu sou um fracassado!


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Somos Paulistano

Imagem: br.depositphotos.com

Estamos sempre de cara fechada

Amarga

Não dizemos bom dia

Nem boa tarde

Tampouco boa noite

Não somos educados

Mal-encarados

Por favor, nunca falamos

Obrigado então...

Somos medrosos

Covardes

Um medo da porra nos toma

De todo

Quando imaginamos ser assaltados

O bem privado vale mais

Bem mais

Do que um copo d’água grátis

Batemos em mulher

Assassinamos homem todo dia

Somos uns desgraçados

Folgados

Nos achamos superiores

Somos atores

De uma comédia-dramática-pornográfica

Sem-graça

Somos uns trouxa

Bobalhões

Idiotas

Tomamos uma média

E comemos pão na chapa

Prensado

Amassado

Às vezes sem miolo

Desmiolado

Somos de direita

A maioria

Uns puxa-saco da Dorinha

Carochinha

E pra não alongar por demais

Essa merda

Cocaína

Crack

Uma tabacaria a cada esquina

Deixo cá um otimismo:

Apesar dos pesares malditos ditos

Ainda assim evoluímos

Quando enfim tomamos consciência

Do bem coletivo;

O bom senso é lindo!


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

HABOOB

Imagem: Reprodução de vídeo / @ConexaoGeoClima


Do noroeste paulistano,

Ele vem encobrindo tudo!

Assim d’uma vez vasto mundo,

Tornando o céu, noturno.

 

Para os não acostumados, medo:

— Parece até o fim dos tempos, menino!

— Corre! Desembesta! É o castigo divino!

Mas para os cientes: nem credo...

 

Clima seco. Baixa umidade.

Fatores climáticos dão o alarme:

Se o ser humanozinho continuar no disparate,

 

Sua casa, seu mundo todo assim some

Numa nuvem de poeira vai e pode

Extinguir a si próprio, e não por falta de sorte!


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

TRÊS MINICONTOS BOBOS, MAS TÃO REAIS QUE DÃO ATÉ MEDO

Imagem: uol.com.br

Com a espada enriste, o herói vacila: diante de si, uma horda assassina; desejando sangue e espumando vingança. O herói recua, um passo para trás é sinal de fraqueza. A horda então avança, lanças pontiagudas empunham e facas de osso nas bocas. O herói é massacrado. Seu grito é logo abafado, esquartejado. Os antropófagos carregam seus troféus alegres enquanto a menina violada ainda chora.

 

 

Isolado de todo mundo, o pai contempla o filho. Esse, pequenucho, não entende direito o pai ali sozinho, separado de si e dos demais da casa. O pai tá de castigo? Pensa o filho. E o pai, ainda de olho no filho, chora um choro mudo. Eh, o paizinho fez malcriação.

 

 

Sozinha, com a cabeça encostada na parede, a garota espera. Com a tela iluminada na mão direita, ela contabiliza os likes e os dislikes. Seu rosto, lindo, perfeito, fica, a cada segundo, mais pálido; a maquiagem escura borrada dá-lhe um aspecto de máscara mortuária... Seu pulso esquerdo não pára de sangrar.


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

FELIZ, SAUDÁVEL E DESCANSANDO

Imagem: pxhere.com

Parado no tempo

Ou vendo o tempo passar

Apenas

Ficar parado

Assim

Meio deitado sentado

Só de zóio meio morto meio tonto

Quase se rendendo ao sono

Sorrindo também

Óbvio

Tudo vai bem

Tudo está bem, meu bem

Enquanto os sinos tocam