quinta-feira, 7 de outubro de 2021

BRANCO E VERMELHO

Imagem: terra.com.br

Pálida

A estranha figura caminha

Caminhos de sangue

Descalça

Os pés vermelhos ficam pretos

Com a sujidade da cidade

Centro

Centro velho

Perambulando pela metrópole

Cosmopolita, desigual, bárbara

A civilidade é só fachada

Brutal

Animal

A estranha figura trajada de branco

Ainda caminha

Devagar

Vagando pelo centro

À noite

Madrugada

Somente às sextas

Sexta-feira treze

Meia-noite já é vista

Entre à água-podre

Entre as torres de marfim luxuosas

Entre os mendigos, os ladrões, as prostitutas

Entre as crianças, os desempregados, os estudantes, os baladeiros

A estranha figura caminha

Não pára

Nem no sinal fechado

Abre caminho

Branca

Vermelha

Quem tenta falar com ela

Logo vê

Sua boca

Sangue

Jorrando, vomitando

A sua essência vital

Ancestral

É por ali

Liberdade

Glicério

Cambuci

Bixiga

Bela Vista

A estranha figura

Sempre caminha

E caminhará

Deus algum está com ela

Só demônios

Todos os nossos

Numa estranha figura só

Pandemônio

Branco

E vermelho

Branco

E vermelho

Branco

E vermelho

...

 

2 comentários:

  1. Por alguns segundos durante a leitura me lembrei de quando precisava passar de onibus, à noite, pelo o centro da cidade, aqui em Fortaleza. Eu via quase tudo isso que você pôs no texto. Era uma vitrine, um turismo, daqueles que vivem à margem e eu me sentia muito mais conectada com eles, apesar de ser do ''mundinho'' acima.


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    1. Nossa, PW! Fico feliz por meu poema ter te causado esse gatilho na memória. Muito obrigado! E apareça mais, viu! Tá sumida por aqui. :)

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