segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Chegue mais, não se avexe.
Este corpo já é teu.
Só lhe resta conquistar o meu coração.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Hanseníase

você me faz querer ser alguém melhor.
você me faz duvidar de mim mesmo:
já não sei mais se
tudo o qu’eu sabia era
tudo o qu’eu sabia ou só
tudo o qu’eu sabia...

mas sei que de você eu gosto!
por ser tão anormal assim é qu’eu te curto!

e se pra você tudo é relativo,
pra mim, tudo é aditivo.

nada dura para sempre - legal
nada do qu’eu diga te convence - porra!
se cada um se fode a sua própria maneira,
por que você me fode assim?!?

eu te conheci ontem
e já não sei mais se continuarei te conhecendo amanhã
e depois
e depois de amanhã
e depois?
não há nada depois,
apenas o presente poema ao por do sol
e nada mais
a noite avançada atropelou o nosso caso prematuro
e fico aqui sem futuro
deformado e sem afeto
efeito de mais uma dermatose
por osmose
por você

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Traído sim, mas ainda apaixonado

Há pouco tempo atrás, eu enfiava o pé na lama por você.
Há pouco tempo atrás, eu cruzava cidades só pra te ver.
Faz pouco tempo, eu sei, por isso ainda penso em você.
Penso: um dia, em breve, vou te rever?

Lá atrás, esses dias, todos os dias, eram Felicidade!
Cá à frente, os dias, todos os dias, são de saudade
E de carência, penitência, só a sua ausência...

Bebo com os meus camaradas, mas aninhado não me sinto;
Procuro um novo amor pela vila, mas só colho lembranças.
Nas ruas e nas esquinas não planto esperanças.
Dos caquinhos faço migalhas e os misturo com absinto!

Com cada mulher qu’eu me envolvo, há algo de você,
Seja no jeito de arrumar a casa ou me beijar,
Você está lá, encarnada, a me provocar!
Você, parasita, insiste em renascer...

Maldita! Desgraçada!! Vagabunda!!!
Como posso ainda te amar assim???

De mim dizia gostar muito
E tudo acabou num sinto muito...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MINHA ARTROSE SEM CONDIMENTO

olhando firme no meu caleidoscópio pardo não vejo Anis
dos pés sonolentos que tenho só um é dorminhoco
não tenho câimbra no pau da canela
de coxo fui pra colcha
só vêem um queixo,
só ouvem várias queixas de gueixa
minha panela de inox aposentei
reumatismos só uns sortidos sobre a mesa
no quarto vago só resta um quarto de hora
o agora é viral
estou cada vez mais próximo do letal
meu varal perdeu peso
minha cara chupada ossificou
amargura lunar
ou revelação solar??
essência cálcica do nada
e ponto final sem prato final
ou pronto afinal
três pontinhos

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

BIGORNA ESPELHADA

:

caído no teto me vejo suspenso no chão

com a mão direita faço a conversão à esquerda

do trapézio pulo fulo até o centro da alfazema

maizena não se escreve com z

maisena com s é mais gostosa

é no umbigo sujo que orbita a língua assassina

sou mais feliz na lama do que na fama em dias quentes

se for pra morrer na neve que seja numa nevasca de alcaçuz

posso ser realista mas é a fantasia que me seduz

estão dizendo por aí que ela não está assim tão afim de mim

digo apenas:

passa pra cá o lubrificante, pois vocês estão carecendo dum aipim!

na falta da dita cuja atinjo e tinjo em cheio o estofado rubro da vizinha ruiva

turvo, uivo,

madorra

e passar bem

Alice

sem alicerce

apenas chafariz

...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

((nas ondas mansas do marasmo desgraçado))

subi aos céus para beijar um dente de leão
desci ao mar para buscar uma pétala duma anêmona
cruzei desertos na esperança cega em ti ver novamente
mas no oásis combinado só havia formigas carnívoras

torrão de açúcar não dá com grão de areia
numa garoa eu me desmancho todo
e você, numa tempestade, se faz de movediça

alecrim não há mais
orégano tá em falta

e do concreto antes armado
nem estruturas de aço há
este nosso poemeto não passa de escombros

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Violação

- Não sei por que estou aqui a te dizer isso, mas espero, sinceramente, que você me compreenda. Não me leve a mal. Sou só mais um caso passional. Na verdade, se você pensar mais um pouco, chegará à conclusão qu’eu não fui o culpado. Foi ela que começou. Foi ela que me provocou. E eu apenas reagi. Agi como ela realmente queria. Não sou amante de mentirinha. Felizmente, ou infelizmente, me vendo onde estou agora, costumo deixar minhas impressões em minhas amantes – provas físicas do meu verdadeiro amor. Na verdade, não curto muito isso, não. Só faço o que elas me pedem. Só faço o que tenho que fazer, entende? Na primeira vez que me pediram isso, achei muito estranho. Engraçado mesmo, sabe? Mas conforme as outras foram aparecendo, constatei que isso é atividade muito comum entre elas. Aliás, estatisticamente dá quase 100% de média. E isso é assustadoramente curioso. Apenas uma, que nem é 1%, me pediu mais agressividade. Somente ela, até hoje, me provocou terrivelmente enquanto eu trabalhava. Não qu’eu não goste de ser provocado, acho isso muito divertido até. É o lado lúdico da minha labuta diária. Mas ela exagerava. Me pedia mais e mais e mais. E eu tinha que obedecê-la. Ela era especial. Se eu me arrependo? Não, senhora. Jamais. Como eu já lhe disse, fiz o qu’eu tinha que fazer. Fiz direitinho o meu serviço. Comigo a garantia e a satisfação é 100%. Não quero e nem posso decepcionar. Isso não é bom para os negócios. E não estou sendo cafajeste. Posso estar amarrado, mas continuo sendo sincero. E espero que a senhora também esteja. Se eu tive cúmplice? Olha, eu tenho o hábito de trabalhar sozinho. Até por que o meu trabalho é perigoso, não dá pra confiar em qualquer um. E com o meu físico, eu me garanto e sempre me garanti sozinho. Mas, no tal dia, eu tive cúmplice sim, senhora. Na real, o leitor é o meu cúmplice. Ele estava lá quando ela me ligou. Ele estava lá quando ela chegou. Ele viu a gente se pegando bonito. Ele nos viu nus. Ele deu um sorrisinho quando ela me chupou gostoso. Ele viu a fome libidinosa dela, e até se assustou. Ele ouviu seus gritinhos abafados de prazer. Ele me viu metendo fundo nela. Ele conheceu todas as posições prediletas dela. Ele foi íntimo conosco. Só ele e eu sabemos que ela chupa o polegar quando é arrombada por trás e de quatro. Ele ouviu os palavrões que ela gritou. Ele viu aqueles olhinhos castanhos de desdém – pura provocação maliciosa feminina! O desgraçado viu quando eu tapei a boca dela com a minha mão direita. Ele estava lá quando eu dei tapas naquele rostinho cheio de pó com a minha mão esquerda. Ele viu satisfeito quando eu mobilizei aquelas pernas soltas pelo ar com as minhas coxas. Ele também gemeu quando eu a penetrei com mais força. Ele também urrou quando eu a penetrei com mais agressividade. Ele ouviu as estocadas de vingança. Ele também se contorceu de dor quando dei o primeiro soco. Ele sentiu a respiração falhar quando eu a esganei com uma mão; com a outra eu agarrava e puxava aquele cabelo liso artificialmente. Ele já estava ao pé da cama quando saí de cima dela; e ficou do meu lado, igualmente nu e mudo, sempre mudo, quando admirei aquele corpo branco como a neve mais pura e recém caída todo sovado, cheio de nódoas e hematomas, inerte e com uma gosma pegajosa ainda quente escorrendo timidamente entre as pernas... Ele também tentou pentear com os dedos aquele cabelo negro todo descabelado empapado de sangue e sem pedaços do coro. Ele também tocou e notou que aquele corpo ainda estava quente. Ele também viu, espantado, quase horrorizado, um sorrisinho satisfeito naqueles lábios absurdamente vermelhos... Pronto. Eu já lhe disse tudo. Agora me desamarre, sim? Faz esse favor. Essa cadeira de madeira está me incomodando. E meus punhos, aqui atrás, já estão começando a ficar doloridos. Essa brincadeirinha já tá me cansando... Eu nu aqui e assim já tá perdendo a graça. E por que a senhora tá aí de pé, ainda de lingerie e me apontando essa arma?