terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A BÚSSOLA INTERIOR

quem age, não percebe
a própria sabotagem,
fica irritada e se embebe
toda de falsa coragem

aí, enfezada, sai da margem,
se achando a imberbe;
perdida na miragem,
se frustra à toa e bebe

quem entra nessa,
sofre à beça
por própria opção

quem vê cara,
não vê coração
quem vê, pára

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

NOSSO TEMPO

em tempos
em que
todo mundo é
especialista
em tudo,
ninguém põe
a mão na
massa

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

NO RUMO

nadando
lentamente
abaixo da
superfície
a baleia balança
a cauda mordida —
mesmo mutilada
a baleia balança
a cauda

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A NOVA ONDA

a nova onda
agora anda
onde anda
a nova onda?
anda toda
anda tola
anda tonta
de tanto andar
a nova onda
não é nada nova
tampouco sabe nadar!
a nova onda
é a mesma onda
dando onda

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

x

marca o tesouro
que é roubado
e foi enterrado
por piratas homeopatas

indefine o sexo
ou o aglutina
nesta onda de politicamente correto
de modinha

é sinal de errado
ou de conferido
depende muito da pessoa
patroa ou professora?

cruzamento
de duas retas
que não são setas
mas marcam um ponto em comum

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

NAVEGANTES DE ONDAS SONORAS

quem vê de fora
pode não entender
a graça que é
se entreter
durante uma viagem
de hora
ouvir música
gostosa
e na melodia da letra
se perder
até ao destino
chegar
e
com um sorriso no rosto
aportar

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

ONZE MIL VIRGENS

Andando em meio às pessoas, a tentação é clara: explodir-se. Contudo, antes do aperto fatal no pequeno botão, a pretensa suicida avista sua mãe (!) vindo reto de encontro a ela. Essa, pega-a pelas orelhas e a tira a força do meio da multidão. Num beco, dá-lhe uma boa surra e, ao notar as bisnagas de dinamite, encosta sem querer no pequeno botão acionador... Ninguém, além das duas, morreu no último Carnaval.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

PRESENTE ATEMPORAL

nunca é tarde
pra viver
dizem as línguas experientes

sempre é cedo
pra morrer
pensam as mentes irreverentes

entre o meio
não há dúvida
quem não entende, escuta
quem aprende, luta

a vida e a morte andam juntas
quem sente
é resiliente
e não se culpa



Obs.: poema NÃO selecionado para o Prêmio Poesia Agora Verão-2018 da Editora Trevo.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

SABOREANDO A SOLIDÃO

só o vazio preenche o ser sozinho





só ficamos para sempre
até o para sempre se tornar
nunca mais





só há solidão
naquele que
se sente
ausente
de todos





só ao pó
nem a Fênix
se ressuscita





sábio é o solitário,
pois não carece de solução





o vazio
só cresce
à medida
que você
se esquece

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

CARNAVAL É FICÇÃO QUE ATRAI A SATISFAÇÃO

Criar se faz necessário
Quando a realidade
Se torna horário.
Fora da naturalidade,

Quem cria, não é otário;
É alguém na tranquilidade
Que preza o próprio antiquário,
Que não quer só a verdade.

Cria-se mundos paralelos
Com o intuito do zelo
E, claro, também com certo desprezo...

Nada é perfeito!
Nem mesmo a fantasia.
Por isso, é fácil entrar no clima.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

AXIOMA

Pairam sobre as cabeças
Asas sujas de fuligem
Quem as observa
Não repara
No baile que elas fazem
Sobre as cabeças
Dançam durante o dia todo
Aguardando
Pacientemente
O vacilo das mentes
Aí, quando se dá a merda,
As asas logo se fecham
Numa única investida
Garras agarram a vítima
Levando-a para longe
Aterrorizada
Ela é devorada
Por pequenos bicos cilíndricos

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

JOANA D'ICK

No chão, o pedaço de carne sangra; fora do plástico, a carne amolece, esfria, não agrada. Seu dono, ao lado, ainda treme mudo de dor. Ele, um estuprador, fora surpreendido com o canivete na bolsa da vitima. Essa, meio em pânico, meio satisfeita, passa um lenço umedecido entre as pernas. Ainda suja de sangue alheio, a vítima deixa a cena e caminha de volta ao seu ponto para aguardar o próximo eunuco.