Imagem: dvdsofaepipoca.blogspot.com |
Parece até coisa de anime japonês (Neon
Genesis Evangelion) ou coisa de filme norte-americano de ficção científica (2001:
Uma Odisseia no Espaço), mas, fato é: enormes torres, grandes monólitos, estão
surgindo do chão, ou do nada mesmo, em todos os cantos da cidade.
As estruturas de metal e o concreto
armado de numeração raspada estão pipocando geral no horizonte da cidade cinza,
tornando-a ainda mais cinza e cada vez mais sem horizonte algum.
Pode ver aí: prédios e mais prédios,
enormes condomínios simplesmente aparecem em cada quarteirão megavalorizado, ou
não, da cidade de São Paulo.
Existe
até um padrão. Repare bem: a cada mercadinho da Oxxo que surge, ou da
franquia-cubículo da The Coffee que se concretiza estrategicamente numa rua, ou
numa esquina, ou num beco, uma “nova oportunidade de negócio”, ou “o lançamento
do ano”, ou “o empreendimento imobiliário de que todo mundo tá falando”, tá lá
também lhe desejando boas-vindas com uma maquete bonitinha, ou um vídeo virtual
de realidade aumentada, ou com aquela minhoca de pano fino que se retorce toda
com um jato de ar quente que mais parece aquele bonecão de posto de gasolina à
lá Cristo Redentor, porém, sem os braços.
E
como são esses novos prédios? E como são esses novos condomínios prometidos?
Ora, você aí já sabe! São empreendimentos direcionados para quem pode pagá-los.
Quem realmente precisa de moradia digna, e é muita gente, viu, não têm essa “sorte”.
Mas
repare bem nesses futuros condomínios. Um ou outro tem porteiro físico; tem um
cara ou uma mina lá de prontidão. Contudo, a tendência é portaria remota, isto
é, quem tá ali é um aparelho tipo interfone que te conecta com alguém que tá
sabe-se lá onde, que te escuta mó mal e que tá pouco se lixando se você é
cadeirante ou se você até tá cadastrado no sistema deles e tal, mas, se a sua
digital não tá funcionando direito, isso é um problema só seu, compreendes? E ainda
tem aquelas caixas de vidro, aqueles aquários humanos de quando você se adentra
pelo portão do prédio e fica lá esperando que abram o próximo portão e passa
por esse para depois passar por um outro, sabe? Segurança sempre em primeiro
lugar é claro.
Enfim, acho que estou me estendendo por demais
nesta crônica. É necessário concluí-la. Tudo isso aí dito é preocupante. A cidade
inteira está se fechando. Tem muito condomínio por aí que se fecha inteiro para
uma rua e que se fecha em si mesmo, sabe? Você aí deve conhecer um. Mas aí te
pergunto: isso é civilidade? Isso é realmente um sinal de progresso? Até hoje
acho estranho, quando tô ali no metrô sentido estação Corinthians-Itaquera e,
da Patriarca ao Artur Alvim, à esquerda eu vejo aquele morro repleto de
casinhas, sobrados e, de repente, bem no meio desses, um troço estreito, que
mais parece uma imensa barra de chocolate do Willy Wonka lá fincada destoando
geral da configuração local. Vejo aquilo e penso: tem coisa muito errada aí.
Será uma invasão extraterrestre? Será?
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