quarta-feira, 3 de agosto de 2022

VERTICALIZAÇÃO

Imagem: dvdsofaepipoca.blogspot.com

        Parece até coisa de anime japonês (Neon Genesis Evangelion) ou coisa de filme norte-americano de ficção científica (2001: Uma Odisseia no Espaço), mas, fato é: enormes torres, grandes monólitos, estão surgindo do chão, ou do nada mesmo, em todos os cantos da cidade.

        As estruturas de metal e o concreto armado de numeração raspada estão pipocando geral no horizonte da cidade cinza, tornando-a ainda mais cinza e cada vez mais sem horizonte algum.

        Pode ver aí: prédios e mais prédios, enormes condomínios simplesmente aparecem em cada quarteirão megavalorizado, ou não, da cidade de São Paulo.

Existe até um padrão. Repare bem: a cada mercadinho da Oxxo que surge, ou da franquia-cubículo da The Coffee que se concretiza estrategicamente numa rua, ou numa esquina, ou num beco, uma “nova oportunidade de negócio”, ou “o lançamento do ano”, ou “o empreendimento imobiliário de que todo mundo tá falando”, tá lá também lhe desejando boas-vindas com uma maquete bonitinha, ou um vídeo virtual de realidade aumentada, ou com aquela minhoca de pano fino que se retorce toda com um jato de ar quente que mais parece aquele bonecão de posto de gasolina à lá Cristo Redentor, porém, sem os braços.

E como são esses novos prédios? E como são esses novos condomínios prometidos? Ora, você aí já sabe! São empreendimentos direcionados para quem pode pagá-los. Quem realmente precisa de moradia digna, e é muita gente, viu, não têm essa “sorte”.

Mas repare bem nesses futuros condomínios. Um ou outro tem porteiro físico; tem um cara ou uma mina lá de prontidão. Contudo, a tendência é portaria remota, isto é, quem tá ali é um aparelho tipo interfone que te conecta com alguém que tá sabe-se lá onde, que te escuta mó mal e que tá pouco se lixando se você é cadeirante ou se você até tá cadastrado no sistema deles e tal, mas, se a sua digital não tá funcionando direito, isso é um problema só seu, compreendes? E ainda tem aquelas caixas de vidro, aqueles aquários humanos de quando você se adentra pelo portão do prédio e fica lá esperando que abram o próximo portão e passa por esse para depois passar por um outro, sabe? Segurança sempre em primeiro lugar é claro.

 Enfim, acho que estou me estendendo por demais nesta crônica. É necessário concluí-la. Tudo isso aí dito é preocupante. A cidade inteira está se fechando. Tem muito condomínio por aí que se fecha inteiro para uma rua e que se fecha em si mesmo, sabe? Você aí deve conhecer um. Mas aí te pergunto: isso é civilidade? Isso é realmente um sinal de progresso? Até hoje acho estranho, quando tô ali no metrô sentido estação Corinthians-Itaquera e, da Patriarca ao Artur Alvim, à esquerda eu vejo aquele morro repleto de casinhas, sobrados e, de repente, bem no meio desses, um troço estreito, que mais parece uma imensa barra de chocolate do Willy Wonka lá fincada destoando geral da configuração local. Vejo aquilo e penso: tem coisa muito errada aí. Será uma invasão extraterrestre? Será?

 

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