A vontade faz a necessidade.
E quando a vontade é muito
grande, coisa doida fora deste mundo, a gente têm mesmo é que aplacá-la de uma
vez, mesmo que tenhamos de desembolsar uns bons trocados para isso.
Assim, não deu outra, pro
negócio rolar gostoso, tivemos que abrir um escritório.
Ela e eu tínhamos um caso
antigo, do tipo rolo, sabe? Nossa sociedade era bem instável. Ficávamos bem
durante uns meses, do tipo bem intenso mesmo e, logo em seguida, nosso ritmo
caia drasticamente. Nossas ações desvalorizavam rápido demais.
Contudo, éramos teimosos, ou
uns apaixonados não assumidos, e reatávamos donde tínhamos parado - talvez na
esperança boba de que o negócio, dessa uma vez mais, desse certo enfim.
Pois bem, dessa última mais
uma vez, concordamos em montar um escritório fixo, uma lugar concreto e
definitivo, uma primeira sede. Optamos por um lugar bem discreto, depois de
muito pesquisar nos classificados aí à mão; a região parecia tranqüila e, o
mais importante, era bem distante de nossas respectivas moradas oficiais.
Nós dois tínhamos outros
casos. Nós dois éramos complicados: ela, dois filhos pequenos, eu, uma
ex-esposa encrenqueira e nós dois, um e outro parente e vizinho xeretas.
Lugar escolhido faltava
mobiliá-lo adequadamente Levamos um bom tempo nisso, mas foi até divertido fazer
esse projeto juntos, sabe? O escritório estava ficando com a nossa cara. Um
lugar elegante, prático e com tudo que precisávamos para realizar os despachos
diários numa boa.
O dia da inauguração foi
inesquecível. O escritório de arrumadinho ficou bem bagunçado, mas acho que é
sempre assim quando dois sócios ficam deveras empolgados com o negócio enfim
ganhando forma, corpo por meio do nosso próprio suor e esforço físico. Nossas
progressões iam muito bem durante vários meses. O escritório estava nos dando
bons lucros e satisfações visíveis. Estava tudo indo bem e certinho.
Porém, sempre um porém,
minha sócia me apareceu um dia com umas idéias estranhas...
Nós dois sempre fomos
transparentes um com o outro, nunca escondemos nada de ninguém, sempre
jogávamos o jogo seguindo as regras e criando as nossas entre a gente mesmo, um
bom negócio só dá certo dessa maneira, com respeito, intimidade e sinceridade
sobre a mesa.
Mas, nesse dia, a
sinceridade me bateu na cara duma forma inesperada e implacável: minha sócia
sugeriu terceirizar os serviços do escritório.
Aquela idéia dela me abalou
geral. Seria até compreensível essa idéia dela se estivéssemos enfrentando
alguma crise e tal. Mas, ao contrário, estava tudo indo bem, as contas fechavam
direitinho, algumas surpresinhas aí desagradáveis no meio do processo
apareciam, porém tudo dentro da nossa estimativa traçada e discutida. Aquela
idéia dela foi muito descabida e inoportuna.
O argumento dela era de que
precisávamos expandir nossas relações, nossos departamentos; ela me dizia que
eu estava muito sobrecarregado e que não estava mais dando conta de tudo como
deveria estar.
Fiquei puto com aquilo,
lógico.
Como assim não dando conta?!
Porra, eu estava
administrando tudo e todos muito bem!!
Pelo menos, era o que eu
achava.
Contra-argumentei, mas não
adiantou muito. Minha sócia é foda, quando põe algo na cabeça, dificilmente dá
pra arrancar, nem a força dá, já tentei isso uma vez e deu merda, deu um
processo do caralho.
Enfim, pedi a ela um tempo
pra pensar direitinho nas implicações dessa fusão surpresa sugerida, mas,
óbvio, eu já tinha uma resposta pronta, eu já tinha uma decisão definida na
mente, só não queria ali expô-la para ela: eu ia quebrar aquela empresa.
Mas não dando prejuízo,
pedindo falência, veja bem, eu estava pensando num esquema de superfaturação.
Explico: se a minha sócia
queria terceirizar, incluir um terceiro elemento nessa nossa transação
paralela, eu ia triplicar a oferta.
Rodei atrás dessa gente
farta. Enfiei-me nesse negócio sujo do submundo corporativo e, após muitas
negociações sinistras, consegui arranjar dezessete cacetes pra satisfazê-la,
todos saudáveis e bem dotados de porte – sempre faço bons negócios.
Numa sexta-feira, fim de
expediente, soltei-lhe o memorando. Quero dizer, comuniquei-lhe que na segunda
já lhe entregaria a papelada para acertarmos de vez a nossa expansão no
organograma.
Minha sócia se mostrou
satisfeita enfim, eu a enrolei por muito tempo mesmo, bem mais do que o de
costume.
E ela se despediu de mim
toda eufórica, dizendo que eu estava sendo muito inteligente e profissional em
admitir mais um homem no nosso negócio. Ela me deu um beijo na testa quando
terminou de me dizer essas coisas.
No dia dito e no horário de
sempre, ela foi pontual. Vestia um vestido novo todo vermelho e vinha
acompanhada de um cara bem mais novo de terno todo branco do seu lado esquerdo.
Sorri o sorriso mais amarelo que eu tinha quando ela o apresentou a mim.
Em seguida, eu disse a minha
sócia para ela ir subindo na frente, pois precisava trocar umas palavrinhas com
esse novo funcionário; acertar detalhes, limites e tal. Também lhe instiguei a
curiosidade dizendo que tinha dezessete grandes surpresas lhe aguardando no
escritório.
Minha sócia me olhou intrigada,
mas sorriu pra mim quando lhe pisquei um olho.
Quando ela sumiu de vista,
interrompi o que sei lá o que o camarada ia começar a me dizer o estrangulando
ali mesmo. O rapaz era forte, vale aqui mencionar, mas o fator surpresa sempre
se sobressai quando a vítima não espera o inesperado. E eu tava puto, então, já
sabe.
Deixei o corpo inerte
daquele traste ali mesmo e, conforme o elevador subia, eu ia me ajeitando e montando
o arsenal que eu trouxera numa pasta preta executiva.
Quando o elevador parou e
abriu as portas, pude de cara ver a cena grotesca por mim orquestrada: minha
sócia estava rodeada por dezessete homens nus. Seu vestido não mais existia. Só
havia farrapos pelo chão e umas tiras do ex-vestido vermelho grudados no seu
corpo em pelo.
Ela estava de quatro sobre a
grande mesa de vidro. Tinha um cara debaixo dela. Outro a enrabava sem dó, todo
agressivo. Mais dois eram chupados por ela de forma revezada, primeiro engolia
um, depois engolia o outro, sempre afoita, na fome do cio. E mais um cara em
cada mão era agraciado com uma bela punhetinha. Os demais estavam por ali
também. Ora eles a enrabavam, iam pra de baixo dela, ora eram chupados, ora
recebiam uma punheta, ora lhe puxava os cabelos, ora a batia, a esganava; era
um rodízio muito organizado, pode-se dizer. Contudo, não era uma coisa muito agradável
de se ver.
Ninguém deu por mim quando
sai do elevador e caminhei bem em direção deles, o negócio lá estava frenético!!
Uma horrenda orgia do caralho!!
Vi o quadro e não gostei:
saquei logo as armas quando me vi num ângulo e numa posição favoráveis para
eliminar a todos.
Desembestei a disparar sem
parar.
Teve sim uns caras que
conseguiram correr ao ouvir os primeiros disparos, mas não se distanciaram
muito de mim, fuzilei a todos, sem dó, misericórdia ou pena.
Descarreguei toda a munição
que tinha levado. Certifiquei-me que todos estavam mortos: dei mais cinco tiros
em cada crânio estatelado nu no chão de sangue.
No corpo da minha ex-sócia,
não fiz essa barbaridade. Não tive coragem de deformar aquele rostinho de puta.
Então, enquanto eu me
ajoelhava em direção a seu corpo inerte, eu ia desabrigando do meu bolso a
minha faca nova recém adquirida.
Com essa faca, acariciei-lhe
a face, o rosto empapado de sangue sujo. Fiquei bons minutos fazendo isso...
Para, em seguida, cravá-la no seio esquerdo e arrancar-lhe o coração morto.
Admirado fiquei quando o
removi, ele ainda estava quente! E ele era lindo. Todo lisinho e brilhante... Não
resisti: devorei-o ali mesmo.
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