sábado, 25 de setembro de 2010

Bancando o Rubem Fonseca (ou parafraseando o Mário Bortolotto)

Abro os olhos lentamente. Percebo que já amanheceu – tá um puta sol lá fora. O lençol velho, que chamo de cortina, não consegue bloquear satisfatoriamente os raios ultravioletas, mas é o único troço que tenho pra usar como tal e, sabe, dá até um charme cá pro ambiente. Ah, estou só. Certamente a puta já escafedeu. Não a sinto cá no quarto. Não ouço aquele ronco desgraçado que só ela dá. Não sinto aquele odor azedo que ela insiste em me dizer que é “afrodisíaco”. Puta engraçadinha. Foi embora e levou consigo suas essências, além do meu dinheiro, claro. Puta mesquinha. Sento na lateral da cama, com dificuldade, meu corpo jovem dói, meus pés tocam o chão frio. Acendo um cigarro, o primeiro do dia. Trago-o com calma, com prazer, cada pitada é um deleite. Bem diferente quando traço aquela puta. Sou agressivo, ela gosta, toda mulher gosta, e tenho muito gosto em fazer desse jeito, em trepar desse jeito, com força e avidez. A boceta dela fica quente. A boceta dela é quente. Esse quarto tá quente. Merda! Tô suado. O pano de cama tá úmido, sujo, amarelado. A puta não lavou a porra dos cabelos. Desgraçada. Os travesseiros tão zoados, tão cheios de fiapos loiros ensebados. Eh, ela deixou provas, evidências de sua presença. Ah, foda-se. Amasso a bituca no cinzeiro velho da cômoda. Levanto. Vou ao banheiro. Merda! Puta-merda! A desgraçada defecou dessa vez. Merda! E não deu descarga. Merda! Comé que pode um cuzinho daquele expelir esses troços grossos?! Até a boceta dela é apertadinha, porra! Comé que pode?!? Pego aquela escovinha, aquele bagulho utilizado pra limpar o vaso. Amasso o monte de merda. Amasso... Quebro, esmigalho em pedacinhos... Amasso... Dou uma, duas, três descargas seguidas, mas aquela massa escura não desce, não some. Meu receio é: o troço entupir. Merda! A escovinha quebrou. Merda! Vou ter que enfiar a mão lá dentro. Olho fixamente pro vaso quase transbordando de fezes, urina, pêlos pubianos e pêlos plásticos – algumas cerdas da escovinha se soltaram. Olho praquilo uns bons minutos. Pego outro cigarro – em cada cômodo do apê há um maço à mão. Acendo-o. Trago-o lentamente, pachorradamente, cá mesmo no banheiro. Cheiro familiar. Curioso. Dou um sorrisinho. Cuspo a bituca no vaso fétido. E a observo. Ela fica lá boiando, rodopiando... até fixar-se num montinho de merda. Aquela bituca sou eu, ou parte de mim, algo assim. Eh, o jeito é enfiar a mão lá dentro mesmo. Empurrar com os dedos a merda dura da puta. E enfio quase o antebraço direito inteiro, duma vez, com o rosto de lado, claro. Retiro a metade da escovinha, assim que minha mão a sente, jogo-a pro lado do chuveiro. Mergulho a mão imunda no vaso novamente. Forço a merda naquele buraquinho. Tudo flui, enfim. Tudo quase limpo. Dou descarga. Tudo flui; só que, a bituca não. Ela some-se no buraco e depois volta, emerge, e fica lá boiando, rodopiando... e suja. E fico olhando aquela bituca suja boiando, rodopiando... em meio a brancura do vaso sanitário... e a minha mão direita cá suja, pingando merda alheia...

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