quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu sou mesário

Tenho a pachorra de fazer experiências, de pôr em prática idéias doidas que me vêem ao acaso. Por isso, quando vi o cartaz ‘Seja um Mesário Voluntário’, anos atrás, pensei: - Por que não? Essa última eleição foi a minha quinta, e haverá segundo turno, né (?), legal... Já trabalhei em duas sessões diferentes, mas numa só zona. O trabalho é tranqüilo, sem grandes desafios físicos ou intelectuais, os que dão dor de cabeça mesmo são os fiscais das coligações que lá pousam, querendo mostrar serviço e autoridade irreal. Alguns eleitores também dão dor de cabeça, aparece cada figura. Uns dizendo que votam naquela sessão, insistem, gritam e depois se tocam, vêem que estão enganados e saem bufando do recinto. Têm uns engraçadinhos querendo ‘causar’, pois estão com seus amiguinhos, e como todo dia de eleição é domingo, feriado, querem zoar o quanto puderem. E têm os bêbados. Sim, nessa última, por exemplo, pintou por lá, na minha sessão, uns três. O primeiro foi o mais extrovertido, cumprimentava todo mundo e soltava piadinhas sem-graça toda hora – um saco. Os outros dois se portaram com mais discrição, exalavam álcool, verdade, mas não mexiam com ninguém, ficaram na deles. Há também os analfabetos. O que dizer sobre isso? Eles são minoria, sim. Mas me causam preocupação, reflexões. Parecem tão frágeis, tão afoitos e tão fortes por estarem lá, diante da urna-eletrônica. Curioso: uns são tão carrancudos, outros tão maleáveis. E o que dizer então das digníssimas senhoras? Umas dão beijos em todo mundo, ti chamam de rapaz bonito, gato e tiram uma casquinha de você descaradamente. E tu ainda sorris, satisfeito e vexado. E outras, sobreviventes de um derrame recente, vão lá, na sessão, e te abraçam, logo que votam, auxiliadas por uma parenta sorridente. Isso é sensacional! Coisa que amanteiga cá a alma imortal, sabe?... Encontrar amigos, conhecidos da época do colégio é saudosismo puro! Revejo uns aí, sempre. E isso é mó legal. Batemos um papo rápido, agradabilíssimo e nos despedimos quase satisfeitos. Já quanto aos outros componentes da mesa receptora, os colegas de trabalho, o negócio é mais paliativo. Dependendo de você e da turma, dá até pra surgir uma amizade honesta, uma cumplicidade passageira dali. Mas tem vezes que não dá, não rola. Nessa última fui o Presidente, fui simpático, cúmplice, mas também banquei o chato, admito. Não adianta, eu sou assim, exigente eu sou, pois o trabalho que nós, mesários, realizamos lá é um trabalho sério. Garantimos a ordem, o sigilo do voto, exercemos a democracia afinal, não é mesmo? Pois então, aproveitando o ensejo, companheiras de trabalho (só tinha eu de homem na mesa e mais quatro mulheres!) aceitem minhas sinceras desculpas. Perdoem-me! Se eu as chateei, se eu as aborreci, não foi intencional, juro. Só quis ser competente, fazer tudo certinho, sem erros grosseiros. E a nossa mesa foi dez, convenhamos! Agilizamos tudo. Nossa sessão não teve filas por muito tempo, não. Só elogios, só elogios... Ah, quanto ao voto, o voto de mesário, bem, digamos que é uma rapidinha. Durante essa grande festa da democracia, é só o que dá pra fazer, entende?

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