quarta-feira, 8 de junho de 2011

Paquera reflexiva

Sou homem de muitos hábitos, não de óbitos, e um desses hábitos que eu mais aprecio praticar é a arte de paquerar. Curto xavecar moçoilas pela rua e, principalmente, de dentro de transportes públicos. Recentemente, vagão de trem virou meu boteco de todos os dias. Mesmo que dentro dele sofro um bocado, pago duras penitencias mesmo, dou um jeitinho de flertar. Até porque as moças, finas moças, que pegam o mesmo transporte que eu, o trem, são deveras atraentes, mui charmosas e interessantes. Adoro uma assalariada! Por exemplo, esta que estou admirando neste instante. Moreninha linda dos olhos castanhos claros e pequeninos. Veja como ela está toda envolvida em lã. Ela é uma graça assim toda felpudinha, na certa está bem quentinha. O frio aqui tá brabo! Essa calça jeans escura bem justa que ela usa é que nem legging, é um convite ao toque, uma boa tentação. Essa moça é quase uma amazona, pois par de botas já tem, só falta um puro-sangue entre as pernas. Sou voluntário. Aquele par de coxas renderia qualquer alazão orgulhoso. Cá estou de pé, e ela lá sentada. Acompanhamos juntos o balanço do trem. Eu a bisbilhoto de esguelha, e ela dedilha timidamente no aparelho celular. Parece que ela não notou meus olhares oferecidos, descaradamente oferecidos – agora eu a fito diretamente. Não deu resultado prático. Parto pra outra estratégia, contato direto não tá dando certo. Miro seu reflexo. As luzes de fora, da cidade, que passam velozmente pela janelinha, só emolduram, só realçam tamanha belezura cá próxima de mim. Hummm... Ela olha às vezes pra janelinha. Todo mundo curti uma janelinha. Logo, logo ela reparará no meu reflexo ereto e curioso. Batata! Ela se tocou. Percebeu enfim meus olhares cobiçosos. E, não sei bem ainda, mas acho que sou correspondido. Ela, agora, olha pra janelinha mais e mais vezes, mas, infelizmente, seu celular teima em atrair sua preciosa atenção. Se eu me aproximar mais dela, será que conseguirei algo mais direto? Se eu me aproximar mais, quase estarei me encostando nela. Melhor não. Ela pode se sentir ofendida, e até me acusar de atentado ao pudor! Não, definitivamente, vou continuar aqui mesmo onde estou. Distância segura devo manter. Que interessante: posso ver nitidamente a telinha do celular dela. Ela tá trocando mensagens. Mas com quem? Amiga? Irmã? Mãe? Ou pior, namorado?! Droga! Sempre me interesso por belas mulheres comprometidas. Calma, rapaz, calma. Você está exagerando, como sempre. Ela tá te dando mole agora, isso é fato, calma, mas ela não tá toda atirada, ela tá é bancando a difícil. Nem aquele seu reflexo me engana, ela tá é dissimulando. Mulher alguma é facinha. Bem, melhor assim. Olha, ela bem que poderia me passar o número dela via telinha do celular. Consigo ver bem os caracteres grandes que ela digita. Vai, filha, me mostra seu número! Ah, ela não vai fazer isso. Ela não parece ser tão maliciosa assim. Tenho que fazer algo logo, vou desembarcar em instantes. E ela teima com o celular... Maldito aparelhinho tecnológico! Acho que vou tacar o meu celular nela. Quem sabe assim ela me nota. Isso ainda é exagero. Ah, desisto. Paquerar hoje em dia requer outras manhas, outros apetrechos. Chegando em casa vou aprimorar cá uns macetes.

2 comentários:

  1. É, utltimamente, a atenção está voltada às tecnologias. Há quem queira se relacionar só por msm. Pessoalmente não flui...
    Será, tbm, o motivo desses aparelhinhos vibrarem? rsrsrs

    Ótima crônica, Xará!!

    Esse jeito observador e sarcástico, é uma combinação fantástica...

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  2. Eh, vai ver é por isso mesmo que esses aparelhinhos vibram! Vou usar essa ideia, hein!

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