- Na verdade, não sei bem
ainda o que é um poeta, o que é SER um poeta. Não sei se é profissão ou um bico de verão.
Sei apenas que cada poeta canta sua própria voz, e quando essa sua voz única
ressoa na gente, pobres mortais, é sinal de que o poeta alcançou o universal.
Vai ver poeta é meio filósofo. Se
esse ama o saber, aquele não só ama a mesma musa como apela pro sentimental.
Mas não falo aqui de joguetes de caráter emotivo, falo daquilo mesmo que a
gente sente a flor da pele ou aparentemente, entende? Entretanto, ser poeta
também é ser meio picareta. Nem
sempre o que ele canta é aquilo mesmo que a gente ouve. Poeta é fingidor, finge até a dor que deveras
sente, como já muito bem disseram. Poeta também pode ser trambiqueiro. Ele pode nos dar algo que não é verdadeiro. Nem
sempre o que ele sente é realmente o que ele sente. Aliás, hoje em dia, os
poetas bancam os dissimulados. Nem
sempre fica claro o que eles estão entoando. A arte de poetar ficou oculta,
praticamente restrita a um determinado grupo. E esse grupo é quem consome esse
tipo de poesia. Se hoje o verso é livre ou metrificado, quem o lê é abastado.
Tá certo, o poema de antigamente, dos tempos áureos, era cultivo de cidadãos,
não era cultura pra qualquer um, não. E o que lemos atualmente é corrente desse
pensar. E desse pensar eu não concordo. Poesia, pra mim, tem que ter uma pegada popular. Poeta que usa é abusa
de vocábulos rebuscados, extravagantes ou específicos demais, mais encuca do
que educa. Tá certo, poeta que preza o conhecimento insere preciosismos no poema esquelético. Claro, assim, quem sabe, quem o
lê fica curioso e procura o ditoso num dicionário próximo. Mas, às vezes, meu
caro, isso não acontece, não rola, e o leitor frustrado, meio amuado, chateado
pra valer, põe de lado o poema segregado.
Poesia, pra mim, tem que libertar! E não só quem a escreve, mas quem a lê
também. Certo, aí estaremos entrando em assuntos de ordem sócio-econômica. Mas o popular é área fértil, área transitável por
muitos intelectos. Taí um caminho essencial pra poesia atual. Mas aí, tu dirás
que estou me contradizendo. Ora, meu querido, se o poeta canta a sua
própria voz, quem és tu pra palpitar na voz alheia? Direi apenas, meu
camarada, que a individualidade aqui não deve ser almejada, mas sim a nata,
mesmo desgastada ou reajustada, deve ser conquistada. A poesia salva! E o poema
feito é oração, às vezes imaginado, às vezes do coração. O poeta é apenas um
instrumento do divino, e o divino pode ser do fogo ou do fogão. Não importa o
credo, mas o crédito é bem-vindo! Poesia não dá dinheiro, a gente tá ligado,
mas enriquece quem a lê, produz e canta aí mundo afora, isso é fato! O poeta
brinca com o óbvio, e é desse óbvio que ele se alimenta, mas ele vai além, do
óbvio, e alcança o inimaginável, o imagético, o suprassumo da ideia. Assim, o
poeta, vira gênio ou mais um atrevido bancando o engraçadinho. E
isso não lhe tira o mérito, pois poeta é ousado,
quebra a perna, se necessário for, mas não perde a inspiração fugaz. Poeta é párea da sociedade. Mas ele não liga. A
poesia o consola. Amém!!
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