domingo, 11 de julho de 2010

As quedas

Quem pega o EXPRESSO LESTE diariamente sabe: desmaios são comuns. Mas, se você, caro leitor leigo, não sabe, vou desde já informá-lo sobre uns casos. Tais fatos ocorrem na parte da manhã, no primeiro horário de pico (entre às seis e oito horas), quando a peãozada dos bairros dormitórios vão cansados e abatidos ao trabalho. As principais vítimas são as mulheres. Até a conclusão do presente texto, não tive conhecimento do mesmo envolvendo homens. Caso tu, leitor amigo, saibas de algum caso, por favor, comente cá abaixo. Voltando: as mulheres desmaiam e, curiosamente, são as mulheres de baixa estatura, popularmente, as baixinhas, que mais sofrem desse mal. E vou esboçar aqui a minha teoria desenvolvida in loco. Os vagões vêm e vão sempre abarrotados de gente. Lá as leis da física não se manifestam: bem mais de dois corpos ocupam o mesmo espaço (paráfrase de piada infame ouvida no local). Lá, a presença carnal alheia não só é sentida tactilmente, como também, certo asco e repugnância são desenvolvidos entre os usuários do transporte coletivo. O corpo de outrem, por mais delineado ou robusto que seja, é considerado uma carcaça incômoda, desprezível. Lá, tu ficas íntimo de alguém sem querer. E os baixinhos, as baixinhas, como já disse, são os que mais sofrem. Explico: dada a pressão forçada entre os corpos e a necessidade indispensável de se segurarem assim que adentram a composição, quase em desespero, pois, precisam garantir a própria integridade física e a pontualidade exemplar no trampo, os corpos de baixa estatura são obliterados pelos de porte médio e alto. Os baixos batem, mais ou menos, no peito desses. E como no trem, e em outros transportes públicos, há a necessidade de se segurar em algo, as axilas alheias são fatidicamente “a vista” diária dos baixinhos, das baixinhas. E, juntando a substância sudorípara que daí secreta, mais um agravante físico da vítima de baixa estatura, pressão baixa, por exemplo, ela, conseqüentemente, capota, cai envolta pelos gigantes assalariados... Carência de alimento também pode ser um agravante, afinal, muitas dessas vítimas madrugam e não se alimentam adequadamente. Outras nem sequer ingerem alimento algum; saem de suas casas em jejum para chegarem pontualmente ao trabalho. E, quando desmoronam entre a massa trabalhista, o que se deve fazer? Como agir?! Tu sabes? Aqui entramos num ponto delicado. Já presenciei muitos desmaios, infelizmente. E, confesso, não dá pra se fazer muito perante esses casos. No máximo, erguemos o corpinho inerte rapidamente e exigimos, desesperados, o assento mais próximo – só assim para a massa homogenia se mexer. Nós abanamos a desmaiada com o que tivermos em mãos; revista, livro, bíblia, boné... Outros dão pequenos tapinhas nas bochechas, com o intuito de fazer com que a vítima recupere a consciência logo. Outros, mais cívicos, gritam por ajuda aos funcionários da CPTM. Esses, teoricamente, pouco mais habilidosos, e com rádios em mãos, socorrem “melhor” tais vítimas. Aquelas cadeiras de rodas, espalhadas pelas plataformas das estações, são utilizadas especialmente para esses casos. Pena que o atendimento às vítimas demore um bocado... É um que fala com outro, que fala com outro até que um outro acolha a vítima desmaiada. Há exceções, claro. Mas são tão raras... E assim a desmaiada sai do caos, do vagão lotado, amparada por um de fora. Não sabemos pronde vai. E a que fica, amparada pelos seus iguais, também não sabemos como ficará, se estabelecerá, pois, nós, a massa, precisamos chegar ao trabalho no horário. Quem será a vítima de amanhã? Somos todos vítimas. Desmaiaremos algum dia. Amanhã talvez, de manhã.

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