Hoje, vi o meu reflexo e
não gostei. Não gostei das saliências bem ali visíveis. Não gostei dos exageros
possíveis que ali eu permiti depositar. Também não gostei das marcas ali
ocultas, não marcas da idade, sabe, essas são bem escrachadas, falo das marcas
de intimidade, entende? Pois bem, dessas também me desagradou ver ali naquele
meu reflexo, pois essas marcas são indícios, são provas de um crime físico. Um
crime donde eu sou a única inocente. E inocentes há poucos por aí soltos; sou
uma das últimas que ainda persiste, e não resiste à apaixonante perdição.
Entreguei os sentidos ao carrasco, não disfarcei, nem deixei de decapitá-lo.
Meu querido animal me entendia, sabia satisfazer a minha fome, sabia sapecar como
ninguém. E ele refletia em mim aquilo que me agradava, aquilo que me fazia ser
uma mulher melhor; eu era outra quando estava com ele, só com ele. Mas ele
também exagerou. Não gosto do que eu estou vendo ali naquele reflexo. Não gosto
daquela imagem. Não gosto daquilo que há ali e daquilo que vai ser. Ele, meu
animal, não se deixa mais ver. Ele sabe bem o que me fez, sabe o que arranjou
pra si. Ele teve ciência da mágoa, dos hematomas, da farsa e da criada. O
animal não mais verei e a criatura não vou querer ver. Definitivamente não
gosto daquele reflexo e das idéias que ele tem.
Interessante, dá até vontade de ver as tais marcas.
ResponderExcluirbeijo
lu
Sério mesmo?? Cuidado: essas marcas são perigosas...
ResponderExcluirBeijo pra você também, cara Lu!