ouço gemidos escondidos
na chuva que cai... são gemidos tímidos, femininos, sutis a cada milhar de gota
pequenina que cai... a noite, esta noite, de verão está fria. vejo gotículas no
vidro embasado da janela do meu quarto. o vento sibilante balança a árvore frondosa
num ninar tenebroso... suas folhas cintilam prata a todo vai-e-vem... a sombra
fantasmagórica desse ser vegetal impregna minha cama; toma todas as paredes
brancas do meu quarto solitário. não vejo o luar. só ouço gemidos escondidos na
chuva... e esses grunhidos me dilaceram aqui dentro; esses sons incomodam
minhas entranhas vazias e desgastadas... não são gemidos de prazer esses que
estou ouvindo agora. são mais gemidos de dor. a desgraçada que atirei a pouco
pela janela do meu quarto teima em gemer nua e ensanguentada no chão encharcado
e lamacento dos fundos da minha morada. lá se vai mais uma ex-namorada.
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