quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A FLOR SUICIDA



À Érica, essa minha amiga assassina do romantismo



Mijada foste no elevado
Quando aberta as primeiras pétalas
Na primeira aurora da Primavera,
Flor branca maculada.

Sua sina foi sinistra
Sem sequer atrair beijos afoitos voadores
Teve seu entorno e seu íntimo
Violado pelo dejeto úrico fálico.

E, ali parada,
Sem entender nada,
Pois acabara de despertar,
De se abrir ao mundo,
Percebeu-se suja, imunda
Em meio às suas irmãs,
Ainda botões,
Todas elas bem branquinhas, limpinhas
Sem sinais de violação.

Daí não se conteve
Diante da sua desgraça:
Arrancou-se do grosso galho
E atirou-se do elevado...

Sua queda foi rápida –
Corpo encharcado de desejo.
Seu pequenino corpo se estatelou no asfalto da avenida movimentada,
Seu pequenino corpo foi despedaçado por centenas de carros apressados.

E ninguém se deu conta
Da tragédia ali à vista
E sem pompa.

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