Não imaginava existir abrigo mais
seguro.
Eu estava em apuros!
Desesperado por uma Nova Era,
Desesperado por uma centelha
pra ser só minha.
Porém, no fim, foi tudo mentira.
Cruzei céus, arranha-céus, em
poucas horas,
Atravessei nuvens sem pudor,
incolores
E, quando a chuva desabou,
Matei a sede gratuitamente –
Tem vezes que a gente fica
contente
Só por se sentir presente.
Em território seu, quando
pousei,
Logo fui atacado por
hematófagos,
As bestas-feras me arrodearam –
Fui atacado sem dó!
De mãos nuas me defendi,
Sempre pensando nela, em seus
possíveis odores
E no seu alento prometido...
Foi isso que me deu sustento.
Graças a essa ilusão saí quase
ileso –
Poucas feridas apresento.
Em território seu, território
hostil, retirei-me.
Retirante me tornei,
Peregrinei na terra desolada
dela.
Terra quente e abafada essa,
Mas encantada era.
Linda mesmo de se ver.
Quando uma idéia alimentada –
Uma previsão de estação –
É constantemente invocada
Na cachola tola de um herói
solitário
(ou mais um otário de
passagem),
Tudo é lindo e colorido!!
Bobagem.
Fiz reciclagem, bati perna
adoidado
Pra não esmorecer até ver o sol
nascer,
Crescer
E renascer...
Fome quase passei,
Não me alimentei assim tão bem.
Sim, sacrifícios foram feitos...
Não teve jeito, partes de mim
ficaram
Pelo caminho...
Muito sangue derramei também,
Por ela, sempre por ela, e
Por mim, e do meu, muito do meu
também.
O desejo me estimulava;
Minhas provisões, escassas
começavam.
Eu queria estar nas graças
celestiais logo!
E quando me postei diante da
Sua Fortaleza de Sol, mesmo
Cego, suspirei.
De alívio, óbvio, sem remorso ou
ódio no coração.
Mas a visão era ilusão,
O prometido não existia,
O que vi eram cinzas...
Eu ainda estava sozinho;
Eu estava diante dos escombros
de um romance bobo.
A miragem que alimentei se fez
presente,
Minha esperança se fez ausente,
E minhas forças me abandonaram:
Caí de joelhos sobre os
destroços de um sonho em ruínas.
Meu corpo, desidratado, começou
a vazar...
Pequeninas lágrimas escorreram
Sobre a minha face batida –
lágrimas doces,
Iludidas.
E quando a primeira gotícula
atingiu
O solo
Uma coisa estranha se sucedeu:
Um buraquinho foi se formando,
Minha lágrima, solidificada,
Pesada,
Foi se afundando...
De repente, uma tromba d’água!!
Fui arremessado longe.
A água não parava de jorrar,
Uma água doce e fria me
envolvia rápido –
Eu estava muito cansado pra
fazer algo,
Deixei a água me acalentar.
Boiando me deixei.
Eu não queria nadar;
Eu não estava assustado;
Eu estava é muito cansado –
O cansaço tinha superado o meu medo.
E sem medo e previsão alguma
A visagem apareceu.
A princípio pensei que fosse o
Sinal da Morte.
Meus olhos marejados estavam
semicerrados,
Bem abertos nessa hora ficaram.
O que vi, acima de mim, não
tinha corpo,
Era um troço luminoso e
vaporoso,
Que se deitou sobre o meu corpo
boiante,
Ondulante,
Não mais um retirante.
A sensação era de conforto,
Um gozo delicado que me revigorava
lentamente.
Esse troço tinha me penetrado
pelos poros,
Sentia isso muito bem;
Sentia-me flutuar sobre o mar
que se formara...
Adormeci além.
Quando dei por mim, parecia
madrugada ainda.
Pude ver, ao me levantar, bem a
minha frente, um filete
De Sol
Sobre a linha
Do Mar...
Sobre a linha
Do Mar...
Olhei ao redor.
Estava numa terra amanhecida,
Aparentemente fértil e intrigante,
Havia Silêncio por todos os
lados.
Só ouvia a mim mesmo:
Eu ouvia claramente meus
pensamentos;
Eu ouvia minha respiração
limpinha;
Eu ouvia as batidas calmas do
meu coração...
O Sertão, onde me refugiei,
Tornei-o Mar –
O Mar das Dores Manifestadas.
Agora, o que me vier daqui pra
frente encararei de
Alma lavada.
Quem eu sou agora já me basta.
O Novo Mundo é uma (a)ventura
inesperada!!
É engraçado, me senti na história, um lugar surreal, inimaginável...
ResponderExcluirSenti saudade.
Então não é engraçado, é fantástico!! Obrigado pela visita, Bu. Beijo.
ResponderExcluirMaravilhoso texto, torno-me repetitiva...
ResponderExcluirSenti uma dor profunda, um vazio imenso, uma vontade sobre-humana de amar e se afogar de felicidade, é por isso que vc sobreviveu, ainda mais forte e interessante. Excelente recomeço pra vc.
Obrigado pela visita e pelo comentário, amiga Lu. Você captou bem o sentido do poema. Toda experiência traumática é inesquecível. Ainda bem que esse troço tem algo de bom. Evoluir não é fácil - ainda bem! Beijo.
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