Dolores toma todas as dores do
parto
E parte encapuzada carregando a
desgarrada
Nos corredores limpos ninguém vê os
maltrapilhos
Já na calçada a desgraçada vai de
graça
Em casa a cria é desembrulhada
O fruto do fruto proibido é
bem-vindo e bem servido
Não recebe maus-tratos o
recém-nascido
Ao contrário, o sonho roubado é
sonho almejado
Ali já havia um quarto vago
Só restava ser preenchido por um
ente querido
Mesmo que este não fosse sanguíneo...
A mentira dita antes se torna
verdade
Verdade surrupiada ainda quente de
um leito qualquer
Quem chora agora é a mulher que não
é mais mãe
Quem sorri sorridente neste instante
é a Dolores usurpadora
A criança era inocente
A mãe impotente
E Dolores não carrega mais dores
Dolores é só felicidade
Enquanto a que foi mãe num instante
Quase sofre um enfarte
Anos se passam
O caso trágico não é solucionado
Até hoje a que foi roubada não sabe
que foi roubada
A mãe verdadeira chorou muito sua
perda
Aliás, ainda chora sua perda,
primeira primogênita
Mas era fértil, teve mais dois
depois
E Dolores joga arroz sobre sua
filha escolhida...
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