Capa do livro Quaisqualigundum, de Roger Cruz & Dani Calil. Dead Hamster, 2014 / Foto: Bruno Oliveira |
Adoniran
Barbosa é o sambista mais paulistano que existe. Mesmo morto, sua obra vive e
permanece relevante até os dias de hoje. Apesar de suas músicas possuírem
aquele traço regional e datado, as mensagens que transmitem são universais.
Assim sendo, a cidade de São Paulo, mais
precisamente ali no Centro, no Bixiga e na Zona Leste, bem ali na Mooca, é
apenas o cenário, o ambiente teatral, trágico e cômico, propício para seus
personagens peculiares populares.
É fato, toda sua obra, ou grande parte
dela, conta uma história. E é aí que entram Roger Cruz & Dani Calil neste álbum intitulado Quaisqualigundum.
Não tem como não caracterizar este
trabalho gráfico de outra forma. É um álbum sim, senhor! E já começa no tamanho:
tem um palmo por um palmo e meio o quadrinho! É como se você, ao segurá-lo para
ler, estivesse segurando um LP. Quem aí, que tem menos de dezoito anos, sabe o
que é isso? Enfim, não é só por causa de como você segura o quadrinho que dá
essa sensação de capa de disco de vinil, não senhor! O que tem no recheio dá
essa ideia.
Vejamos, o álbum tem quatro músicas,
opa, melhor dizendo, quatro histórias do universo do músico Adoniran Barbosa.
São elas: Maloca, A Saga do Ernesto, Mané e Marinez e Cipolla e Bracholas. Cada
uma tem um tom próprio, cada uma abarca um personagem ou um grupo de
personagens, porém, todos são do mesmo universo. Exemplificando: um personagem
faz bico na história do outro e vice-versa!
Há uma unidade nessas histórias, há uma
linha de continuidade cronológica ou não que permeia este trabalho da dupla. E isso
é genial, pois, quem conhece o mínimo da obra de Adoniran Barbosa, artista
inspirador, sacará o barato numa bolada só, manja?
Sobre as histórias, não convém resumi-las
aqui, pois tiraria a graça da experiência em tê-las diante dos próprios olhos. Entretanto,
vale mencionar alguns pontos.
Da primeira, Maloca, repare bem no
painel das páginas 12 e 13. É o resumo da vida do personagem Doca no muro, e em
graffiti! Repare também no detalhe da
página 19, é o desenho arquitetônico típico dos galpões das antigas fábricas do
Brás e, na página 27, você vê o quão os prédios, símbolos de novos tempos,
estão cada vez próximos da Maloca!
Páginas 12 e 13 / Foto: Bruno Oliveira |
Detalhe da página 19 / Foto: Bruno Oliveira |
Detalhe da página 27 / Foto: Bruno Oliveira |
Da segunda, A Saga do Ernesto, temos o
inconfundível topete do típico malandro paulistano! Ficamos cientes de jogos
secretos de dominó! — licença poética dos autores ou fato fidedigno? A página
41 é muito boa! Ernesto é tão malandro que salta entre os quadros! Ele quebra
qualquer parede para se safar.
Página 34 / Foto: Bruno Oliveira |
Página 41 / Foto: Bruno Oliveira |
Já a terceira, Mané e Marinez, temos uma
história muito triste. Nada de detalhes! Porém, repare nas páginas 53 e 59. A
chuva é pesada; veja o volume das gotas. O clima da história pede isso. Algo muda,
se transforma, contudo, fica a pergunta na cuca: o que fazer na solidão?
Página 53 / Foto: Bruno Oliveira |
Página 59 / Foto: Bruno Oliveira |
Por fim, a quarta história, Cipolla e
Bracholas, é a apoteose! Aqui, tudo é festa. Mas isso não quer dizer que tudo
vai ser só alegria e diversão. Não, meu irmão! Uns moderninhos lá batem cartão.
Procure pelos hipsters. Até lá eles
estão. Mas quem provoca a confusão é um alemão. Só vendo. Uma coisa é certa:
quando as bracholas caem, dá merda!
Página 71 / Foto: Bruno Oliveira |
Detalhe da página 73 / Foto: Bruno Oliveira |
Pra encerrar, vale dizer, que Quaisqualigundum é o colorido que há no
meio desse monstro de concreto chamado São Paulo; é o samba paulistano que pega
pelos zóios essa nova geração de admiradores do Adoniran Barbosa.
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