sábado, 17 de novembro de 2018

[RESENHA]: QUAISQUALIGUNDUM, DE ROGER CRUZ & DANI CALIL

Capa do livro Quaisqualigundum, de Roger Cruz & Dani Calil. Dead Hamster, 2014 / Foto: Bruno Oliveira


Adoniran Barbosa é o sambista mais paulistano que existe. Mesmo morto, sua obra vive e permanece relevante até os dias de hoje. Apesar de suas músicas possuírem aquele traço regional e datado, as mensagens que transmitem são universais.

        Assim sendo, a cidade de São Paulo, mais precisamente ali no Centro, no Bixiga e na Zona Leste, bem ali na Mooca, é apenas o cenário, o ambiente teatral, trágico e cômico, propício para seus personagens peculiares populares.

        É fato, toda sua obra, ou grande parte dela, conta uma história. E é aí que entram Roger Cruz & Dani Calil neste álbum intitulado Quaisqualigundum.

        Não tem como não caracterizar este trabalho gráfico de outra forma. É um álbum sim, senhor! E já começa no tamanho: tem um palmo por um palmo e meio o quadrinho! É como se você, ao segurá-lo para ler, estivesse segurando um LP. Quem aí, que tem menos de dezoito anos, sabe o que é isso? Enfim, não é só por causa de como você segura o quadrinho que dá essa sensação de capa de disco de vinil, não senhor! O que tem no recheio dá essa ideia.

        Vejamos, o álbum tem quatro músicas, opa, melhor dizendo, quatro histórias do universo do músico Adoniran Barbosa. São elas: Maloca, A Saga do Ernesto, Mané e Marinez e Cipolla e Bracholas. Cada uma tem um tom próprio, cada uma abarca um personagem ou um grupo de personagens, porém, todos são do mesmo universo. Exemplificando: um personagem faz bico na história do outro e vice-versa!

        Há uma unidade nessas histórias, há uma linha de continuidade cronológica ou não que permeia este trabalho da dupla. E isso é genial, pois, quem conhece o mínimo da obra de Adoniran Barbosa, artista inspirador, sacará o barato numa bolada só, manja?

        Sobre as histórias, não convém resumi-las aqui, pois tiraria a graça da experiência em tê-las diante dos próprios olhos. Entretanto, vale mencionar alguns pontos.

        Da primeira, Maloca, repare bem no painel das páginas 12 e 13. É o resumo da vida do personagem Doca no muro, e em graffiti! Repare também no detalhe da página 19, é o desenho arquitetônico típico dos galpões das antigas fábricas do Brás e, na página 27, você vê o quão os prédios, símbolos de novos tempos, estão cada vez próximos da Maloca!

Páginas 12 e 13 / Foto: Bruno Oliveira

Detalhe da página 19 / Foto: Bruno Oliveira

Detalhe da página 27 / Foto: Bruno Oliveira

          Da segunda, A Saga do Ernesto, temos o inconfundível topete do típico malandro paulistano! Ficamos cientes de jogos secretos de dominó! — licença poética dos autores ou fato fidedigno? A página 41 é muito boa! Ernesto é tão malandro que salta entre os quadros! Ele quebra qualquer parede para se safar.

Página 34 / Foto: Bruno Oliveira

Página 41 / Foto: Bruno Oliveira

        Já a terceira, Mané e Marinez, temos uma história muito triste. Nada de detalhes! Porém, repare nas páginas 53 e 59. A chuva é pesada; veja o volume das gotas. O clima da história pede isso. Algo muda, se transforma, contudo, fica a pergunta na cuca: o que fazer na solidão?

Página 53 / Foto: Bruno Oliveira

Página 59 / Foto: Bruno Oliveira

        Por fim, a quarta história, Cipolla e Bracholas, é a apoteose! Aqui, tudo é festa. Mas isso não quer dizer que tudo vai ser só alegria e diversão. Não, meu irmão! Uns moderninhos lá batem cartão. Procure pelos hipsters. Até lá eles estão. Mas quem provoca a confusão é um alemão. Só vendo. Uma coisa é certa: quando as bracholas caem, dá merda!

Página 71 / Foto: Bruno Oliveira

Detalhe da página 73 / Foto: Bruno Oliveira

        Pra encerrar, vale dizer, que Quaisqualigundum é o colorido que há no meio desse monstro de concreto chamado São Paulo; é o samba paulistano que pega pelos zóios essa nova geração de admiradores do Adoniran Barbosa.

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