É domingo. Já passa das três da tarde. E faz um
puta sol lá fora, na rua. Eu cá acabei de almoçar; estou só curtindo o
movimento da Rua Augusta enquanto dou uns goles na minha cervejinha
geladíssima. Domingo é sempre assim: sem nada de estressante, ou que enche o saco,
pra se fazer; eu cá só de boa numa mesa de um bar amigo. E que se foda todo
mundo! Tô aproveitando, do meu jeito, este dia vagabundo. Fico só dando uns
goles na breja e fico vislumbrando as bundas femininas que sobem e descem
satisfeitas a minha querida Rua Augusta... Às vezes descem uns skatistas rumo à
Praça Roosevelt, às vezes sobem uns ciclistas em direção à Avenida Paulista...
Agora a pouco desceu a ciclista escarlate. Se tu, amigo leitor, não sabe quem ela
é, fique tranquilo, já lhe digo, deixe-me dar só mais um gole... Pronto! Bem, o
causo é o seguinte: cá nas proximidades, no Centrão, a figurinha da ciclista
escarlate é sempre visível. Aliás, não tem como não vê-la. Montada naquela bike
rubra seu rabo piscante é visto de longe – ela tem uma luzinha vermelha
acoplada no selim da magrela, e ela, a luzinha, fica piscando constantemente,
isso é uma medida de segurança, tu tá ligado, mas isso não deixa de ser algo
parecido com um vaga-lume com o cu avariado, cê não acha? Pois bem, não é só a bicicleta
e a luzinha sanguínea que chamam a nossa atenção. A ciclista é escarlate e,
como tal, cobre-se toda de vermelho, desde os mimosos tênis até o capacete
estiloso. Até suas coxinhas são vermelhinhas – coisa tenra de se ver, rapaz. Seu rostinho
é todo coradinho, uma tentação para um velho beberão como eu. E olhe que ela
passou agorinha por mim, coisa de segundos; e como eu pude ver esses detalhes,
tu, amigo leitor, deve de estar se perguntando, né? Ora, meu caro, sou um
observador nato! Não mosco diante do prazer passante, esfuziante de se ver. Enfim,
a ciclista escarlate desceu a Augusta a toda. Ela não reparou em mim, mas eu me
derrapei nela. Talvez você aí, leitor desconfiado, não esteja me botando fé;
talvez ache que eu estou delirando por causa da birita. Digo-te: relaxe, é
domingo, se quiser ver a ciclista escarlate um dia desses, não carece d’ocê vir
cá onde estou. Não. Basta acompanhar os noticiários, eles sempre anunciam um
ciclista acidentado. A ciclista escarlate é toda aquela, ou aquele, que pega a
bike e sai pedalando pelas ruas hostis da cidade grande com a cara e a coragem.
Isso é fato.
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