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“Aceita um canudo?”, pergunta o atendente simpático do restaurante pé-sujo daqui do bairro. “Não. Obrigado.”, respondo com a mão espalmada tipo stop. Nunca fui de utilizar essa ferramenta curiosa e prática pra sugar o líquido, geralmente gelado ou frio, da vez. Hoje em dia então, nem morto uso um troço daqueles de papel. Sim! Canudo hoje é só de papel. É mais biodegradável, certo? Ecologicamente correto, aliás. Isso é bom. Mostra uma sincera evolução no mercado capitalista selvagem. E quem aí não se enquadrar no esquema, sofrerá sanções ou coisa pior: linchamento virtual.
Termino
o meu refresco e procuro o palito pra palitar os dentes. Cadê? Só saquinhos de
sal e adoçante milimetricamente enfileirados numa caixinha sobre a mesa ao lado
dos guardanapos de papel tipo celofane. Chamo o mesmo atendente simpático de
antes. Faço do meu dedo indicador um exemplo visual, e muito idiota, do que eu
estou precisando no momento. Ele me responde: “Ih, chefia! Não trabalhamos mais
com isso, não”. Solto um: “Ah, tá! Valeu.” e um joinha meio murcho de
decepcionante.
Levanto.
Pago a conta. Da porta do estabelecimento, quase na calçada, pego um cigarro
inventado no bolso (eh, eu não fumo), procuro o isqueiro igualmente inventado
no outro bolso (repito: eu não fumo) e não o encontro. Dou meia volta e peço,
por obséquio, à moça do caixa se ela tem fósforos. Ela é jovem e me responde
com uma pergunta: “Fósforos? O que é isso?”. Engulo o cigarro imaginário junto
com o peso da minha idade e saio para a rua ensolarada.
Na
rua, suando feito um porco pururucado de Minas, lembro que tenho que passar na
farmácia, ou numa perfumaria qualquer, pra comprar cotonetes de ouvido. Entro em
várias e em todas não têm, tá em falta, e todas as atendentes sorridentes que
me atendem me lembram que os especialistas no buraco do ouvido não recomendam o
uso desse objeto arcaico e vilanesco do nosso meio-ambiente global globalizado.
Muito traumatizado e triste pra caramba, percebo que a minha bexiga está cheia (eh, bebida diurética é dose, ou é efeito colateral de algum remédio aí renal). Vou num banheiro público e susto, horror: NÃO HÁ NADA ALI PRA PEGAR!!! Sumiu! Cadê? Onde foi parar??
E assim termina mais um dia neste mundo do além da imaginação.
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