quarta-feira, 9 de março de 2022

GUERRA AO FÁLICO

Imagem: pt.vecteezy.com


“Aceita um canudo?”, pergunta o atendente simpático do restaurante pé-sujo daqui do bairro. “Não. Obrigado.”, respondo com a mão espalmada tipo stop. Nunca fui de utilizar essa ferramenta curiosa e prática pra sugar o líquido, geralmente gelado ou frio, da vez. Hoje em dia então, nem morto uso um troço daqueles de papel. Sim! Canudo hoje é só de papel. É mais biodegradável, certo? Ecologicamente correto, aliás. Isso é bom. Mostra uma sincera evolução no mercado capitalista selvagem. E quem aí não se enquadrar no esquema, sofrerá sanções ou coisa pior: linchamento virtual.

Termino o meu refresco e procuro o palito pra palitar os dentes. Cadê? Só saquinhos de sal e adoçante milimetricamente enfileirados numa caixinha sobre a mesa ao lado dos guardanapos de papel tipo celofane. Chamo o mesmo atendente simpático de antes. Faço do meu dedo indicador um exemplo visual, e muito idiota, do que eu estou precisando no momento. Ele me responde: “Ih, chefia! Não trabalhamos mais com isso, não”. Solto um: “Ah, tá! Valeu.” e um joinha meio murcho de decepcionante.

Levanto. Pago a conta. Da porta do estabelecimento, quase na calçada, pego um cigarro inventado no bolso (eh, eu não fumo), procuro o isqueiro igualmente inventado no outro bolso (repito: eu não fumo) e não o encontro. Dou meia volta e peço, por obséquio, à moça do caixa se ela tem fósforos. Ela é jovem e me responde com uma pergunta: “Fósforos? O que é isso?”. Engulo o cigarro imaginário junto com o peso da minha idade e saio para a rua ensolarada.

Na rua, suando feito um porco pururucado de Minas, lembro que tenho que passar na farmácia, ou numa perfumaria qualquer, pra comprar cotonetes de ouvido. Entro em várias e em todas não têm, tá em falta, e todas as atendentes sorridentes que me atendem me lembram que os especialistas no buraco do ouvido não recomendam o uso desse objeto arcaico e vilanesco do nosso meio-ambiente global globalizado.

 Muito traumatizado e triste pra caramba, percebo que a minha bexiga está cheia (eh, bebida diurética é dose, ou é efeito colateral de algum remédio aí renal). Vou num banheiro público e susto, horror: NÃO HÁ NADA ALI PRA PEGAR!!! Sumiu! Cadê? Onde foi parar??

E assim termina mais um dia neste mundo do além da imaginação. 

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