Todo mundo aqui conhece o SESC, certo?
Ah! Peraí. Tem gente aqui que é diferenciada, que não conhece nada do famoso
Terceiro Setor. Esse pessoal de clubes exclusivos não conhece direito o próprio
país. Melhor deixá-los de lado, por ora.
Voltemos ao SESC. Quem os conhece, quem
os frequenta sabe que é mó barato aquela estrutura, certo? Tem quase tudo por
lá. Excelentes exposições, peças de teatro, shows e atividades esportivas e
culturais que dão orgulho de ver e participar, correto? As piscinas então são
um grande chamariz em dias muito quentes, que até tevês de helicópteros adoram
exibir em seus telejornais da hora do almoço, não é mesmo? Sempre mostram
aquele horror de gente ali fora ou dentro das piscinas se divertindo a valer
naquele caos aquático típico de paulistano bem ou mal pago. É um programa
democrático, convenhamos. Eu, por exemplo, adoro praticar a minha natação
obrigatória em qualquer piscina semiolímpica do SESC. E comer aquela comidinha
de seus restaurantes, comedorias, lanchonetes é um programa baratíssimo,
saudável e muito bom de conhecer, desfrutar.
Infelizmente, ultimamente, coisas muito
estranhas estão acontecendo em todas as unidades desse empreendimento do
chamado Terceiro Setor. Hoje, pra entrar em qualquer unidade aí é obrigatório o
tal do Passaporte da Vacina. Até aí, tudo bem. O ambiente é fechado e, com a
pandemia, não dá pra vacilar, não é? Porém, se você deseja usufruiu melhor das
atividades lá existentes, você é obrigado a baixar no seu celular de estimação
ou no do ladrão, um aplicativo específico. E é por ele, somente por ele, que
você faz tudo: agendamento de exames dermatológicos, agendamento pra renovar a
credencial plena e pra agendar algum horário pra praticar a atividade física do
seu gosto. Aliás, é justamente esses agendamentos o pior problema do SESC
ultimamente: você tem que ficar ligadão nos dias e horários específicos pra
poder pegar, literalmente, os dias e os horários que melhor se enquadrem na sua
atribulada rotina. E já aviso, viu: é muito difícil! É mais fácil ganhar
sozinho na mega sena acumulada do que conseguir um dia e um horário bons pra você.
E tem mais! Se você, por milagre, consegue marcar um agendamento, você é mais
uma vez obrigado a levar o celular (àquele mesmo de estimação ou do ladrão) até
a unidade para que, na entrada, eles lá possam ler o QR Code que é disponibilizado
no APP deles quando você enfim conquista um horário disputado! E, olhe: nem
toda unidade têm o dispositivo pra ler o tal do código, viu. Se você não sabia,
agora saiba: o SESC é uma rede, mas cada unidade trabalha de um jeito, cada
unidade têm uma administração própria; se numa têm uma coisa, numa outra pode não
ter, entendeu?
Essa parada tecnológica parece legal
coisa e tal; surgiu aí por causa da pandemia e isso e aquilo, porém, na
prática, é uma tecnologia excludente. Você não vê mais os tios e as tias
avulsos, isto é, você não vê mais o pessoal da melhor idade que não estão
inscritos em algum curso, os que usavam o SESC livremente, pelas unidades. E o
uso obrigatório do celular favoreceu mais àqueles que têm um celular parrudão (aquele
modelo bem mais caro mesmo) e os que têm uma internet top, ultra-mega-blaster
de rápida.
E, enquanto isso, a grande maioria da
população, que já não têm acesso a essas boas estruturas de lazer e cultura,
fica, cada vez mais, mais segregada, impossibilitada de usufruir o pouco do bom
que ainda existe nesta cidade, neste país cada vez mais exclusivo de uns
poucos.
É realmente lamentável.
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