quinta-feira, 24 de março de 2022

UM SESC CADA VEZ MAIS PARA POUCOS

Imagem: g1.globo.com

        Todo mundo aqui conhece o SESC, certo? Ah! Peraí. Tem gente aqui que é diferenciada, que não conhece nada do famoso Terceiro Setor. Esse pessoal de clubes exclusivos não conhece direito o próprio país. Melhor deixá-los de lado, por ora.

        Voltemos ao SESC. Quem os conhece, quem os frequenta sabe que é mó barato aquela estrutura, certo? Tem quase tudo por lá. Excelentes exposições, peças de teatro, shows e atividades esportivas e culturais que dão orgulho de ver e participar, correto? As piscinas então são um grande chamariz em dias muito quentes, que até tevês de helicópteros adoram exibir em seus telejornais da hora do almoço, não é mesmo? Sempre mostram aquele horror de gente ali fora ou dentro das piscinas se divertindo a valer naquele caos aquático típico de paulistano bem ou mal pago. É um programa democrático, convenhamos. Eu, por exemplo, adoro praticar a minha natação obrigatória em qualquer piscina semiolímpica do SESC. E comer aquela comidinha de seus restaurantes, comedorias, lanchonetes é um programa baratíssimo, saudável e muito bom de conhecer, desfrutar.

        Infelizmente, ultimamente, coisas muito estranhas estão acontecendo em todas as unidades desse empreendimento do chamado Terceiro Setor. Hoje, pra entrar em qualquer unidade aí é obrigatório o tal do Passaporte da Vacina. Até aí, tudo bem. O ambiente é fechado e, com a pandemia, não dá pra vacilar, não é? Porém, se você deseja usufruiu melhor das atividades lá existentes, você é obrigado a baixar no seu celular de estimação ou no do ladrão, um aplicativo específico. E é por ele, somente por ele, que você faz tudo: agendamento de exames dermatológicos, agendamento pra renovar a credencial plena e pra agendar algum horário pra praticar a atividade física do seu gosto. Aliás, é justamente esses agendamentos o pior problema do SESC ultimamente: você tem que ficar ligadão nos dias e horários específicos pra poder pegar, literalmente, os dias e os horários que melhor se enquadrem na sua atribulada rotina. E já aviso, viu: é muito difícil! É mais fácil ganhar sozinho na mega sena acumulada do que conseguir um dia e um horário bons pra você. E tem mais! Se você, por milagre, consegue marcar um agendamento, você é mais uma vez obrigado a levar o celular (àquele mesmo de estimação ou do ladrão) até a unidade para que, na entrada, eles lá possam ler o QR Code que é disponibilizado no APP deles quando você enfim conquista um horário disputado! E, olhe: nem toda unidade têm o dispositivo pra ler o tal do código, viu. Se você não sabia, agora saiba: o SESC é uma rede, mas cada unidade trabalha de um jeito, cada unidade têm uma administração própria; se numa têm uma coisa, numa outra pode não ter, entendeu?

        Essa parada tecnológica parece legal coisa e tal; surgiu aí por causa da pandemia e isso e aquilo, porém, na prática, é uma tecnologia excludente. Você não vê mais os tios e as tias avulsos, isto é, você não vê mais o pessoal da melhor idade que não estão inscritos em algum curso, os que usavam o SESC livremente, pelas unidades. E o uso obrigatório do celular favoreceu mais àqueles que têm um celular parrudão (aquele modelo bem mais caro mesmo) e os que têm uma internet top, ultra-mega-blaster de rápida.

        E, enquanto isso, a grande maioria da população, que já não têm acesso a essas boas estruturas de lazer e cultura, fica, cada vez mais, mais segregada, impossibilitada de usufruir o pouco do bom que ainda existe nesta cidade, neste país cada vez mais exclusivo de uns poucos.

        É realmente lamentável.

  

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