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"Então, em desespero, medo e dor, choraram." |
Indigo
não era nada, a princípio. Muito tempo antes da lua de sangue e do sol
escaldante ganhar os céus, sequer se imaginava o seu surgimento. Indigo era
pura vontade. Quando se deu a quase aniquilação humana, os humanos
remanescentes se sentiram perdidos, desprotegidos; eles não se sentiam
amparados por nada nem ninguém. Então, em desespero, medo e dor, choraram. Esse
choro era a verdade, era a condição humana compactada, límpida e pura numa só
gotinha de lágrima. Os humanos ainda vivos que, naquele tempo atrás, ainda
chegavam quase aos milhões por todo o planeta, choraram ao mesmo tempo. Bilhões
de lágrimas salgadas atingiram o solo infértil e, tamanha foi a vontade desses
chorões, que suas gotas penetraram fundo na terra estéril. Essas gotas da
condição humana se convergiram em um ponto subterrâneo, atingindo um lençol
freático e, lá, uma reação químico-física se sucedeu: nas proximidades da
montanha, que hoje abriga Heliópolis, um gigantesco escorpião azul-profundo se
ergueu das profundezas da terra. Era Indigo.
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