terça-feira, 1 de outubro de 2019

SOBERANO: O PLANETA DA FOME_PARTE II_INDIGO_CAPÍTULO XIII

"Então, em desespero, medo e dor, choraram."

Indigo não era nada, a princípio. Muito tempo antes da lua de sangue e do sol escaldante ganhar os céus, sequer se imaginava o seu surgimento. Indigo era pura vontade. Quando se deu a quase aniquilação humana, os humanos remanescentes se sentiram perdidos, desprotegidos; eles não se sentiam amparados por nada nem ninguém. Então, em desespero, medo e dor, choraram. Esse choro era a verdade, era a condição humana compactada, límpida e pura numa só gotinha de lágrima. Os humanos ainda vivos que, naquele tempo atrás, ainda chegavam quase aos milhões por todo o planeta, choraram ao mesmo tempo. Bilhões de lágrimas salgadas atingiram o solo infértil e, tamanha foi a vontade desses chorões, que suas gotas penetraram fundo na terra estéril. Essas gotas da condição humana se convergiram em um ponto subterrâneo, atingindo um lençol freático e, lá, uma reação químico-física se sucedeu: nas proximidades da montanha, que hoje abriga Heliópolis, um gigantesco escorpião azul-profundo se ergueu das profundezas da terra. Era Indigo.

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