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"Omotep caminhava sozinho pelo deserto." |
Há
quem coma de tudo e se sinta muito bem, há quem não come de nada e se sinta
muito mal e há quem nunca comeu nada de tudo e se sinta inexplicavelmente normal.
Omotep caminhava sem fome pelo deserto. Ele também não sentia sede. Omotep era
um velho seco sem estômago. Já havia muitos anos que ele vivia. Omotep vinha de
antes de tudo. Até antes do nada ele vinha. Seus semelhantes humanos, quando o
avistavam passar, avaliavam-no e chegavam a mesma conclusão: “Velho demais. Não
deve ter carne de valor ou qualquer coisa que nos sirva de alimento.”. Os
demônios da fome o ignoravam. Os anjos com asas e os caídos também. Omotep era
o excluído, o destinado a ver o começo, o meio, o fim e o recomeço de tudo, de
novo, de novo e de novo, sem descanso. Omotep caminhava sozinho pelo deserto,
vendo as ruínas do que antes era o retrato fiel da vida. Omotep só via morte ao
seu redor, mas, dentro de si, Omotep carregava em seu coração a última
Quindjin.
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